Palácio das Ratas / Palacete do Chafariz d'El-Rey

IPA.00011848
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Palácio eclético, de planta compacta composta pela articulação de 2 corpos rectangulares, um deles correspondente a mirante, destacado em alçado. A essência romântica do edifício encontra-se patente em vários aspectos, entre eles, a sua implantação, sobranceiro a um dos mais antigos chafarizes de Lisboa, retirando proveito da mesma, através do tipo de solução arquitectónica adoptada, com recurso a mirante. Paralelamente, outro aspecto interessante e associado ao espírito do imóvel encontra-se no tipo de tratamento das fachadas, com recurso a vãos de morfologia diversificada que, juntamente com o revestimento murário em cantaria de aparelho ciclópico contribuem para um resultado diferente, especialmente no tipo de malha urbana em que se integra, genericamente alheio a este tipo de soluções arquitectónicas e decorativas. As soluções decorativas adoptadas no interior complementam e reforçam os aspectos focados, uma vez que prosseguem com os propósitos românticos de conciliar num mesmo espaço, soluções decorativas referentes a diferentes momentos cronológicos e estilísticos, recorrendo para tal, a grande variedade de materiais e técnicas decorativas
Número IPA Antigo: PT031106520668
 
Registo visualizado 1783 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  

Descrição

Planta rectangular, volumetria escalonada, cobertura efectuada por telhado a 4 águas perfurado por clarabóia, em terraço e em coruchéu. Panos de muro animados por revestimento em cantaria de aparelho ciclópico e juntas vermelhas, e cunhais de cantaria, o edifício é composto por 5 pisos (2 deles parcialmente enterrado), marcados pela abertura de vãos de morfologia variada com emolduramento simples de cantaria, a ritmo regular. Reconhece-se Alçado principal a N. *1, composto por 2 corpos separados por pilastra de cantaria, um deles a E., de 3 pisos, estreito e coincidente com o acesso principal e outro, a O., com a superfície murária a acompanhar o acentuado declive do terreno em que se implanta, resultando num total de 4 pisos. No corpo a E. reconhece-se porta de verga recta articulada com tabela de remate inferior em pirâmides invertidas encimada pela sucessão de 2 janelas de peito, uma de verga recta destacada, ao nível do 1º andar e outra, inscrita num semicírculo cujo vão corresponde ao prolongamento da pilastra que separa os 2 corpos constituintes do alçado. O corpo a O., apresenta pisos rasgados por janelas de peito - de verga curva no piso parcialmente enterrado e de verga recta , nos restantes - e no caso do 3º e 4º andares, separados dos pisos inferiores por friso de cantaria. O alçado posterior a S., apresenta-se sobranceiro ao chafariz d'El-Rei, e articulado com zona ajardinada. É composto por 3 pisos separados por frisos de cantaria e 3 corpos separados por pilastras pétreas, sendo 2 deles correspondentes aos corpos identificados no alçado principal e o 3º, no extremo E., a mirante de planta rectangular. O corpo a O., mais extenso e ao qual adossa no seu extremo O. uma guarita de planta circular e cobertura em coruchéu cónico, exibe superfície murária ritmada por pilastras superiormente rematadas por plintos com bola, e animada pela abertura de vãos com diferentes morfologias - entre elas, abertura de módulo palladiano ao nível do piso térreo, de janelas de peito inscritas em arcos de volta perfeita, duplas janelas de peito rematadas por arcos polilobados, ou óculos em quadrifólios. O alçado é superiormente rematado por platibanda. Destaca-se o corpo extremo E., de 4 pisos, com andar térreo avançado em planta e rematado, ao nível do 1º andar por cobertura em terraço articulada com balaustrada em cantaria, que serve de varanda a janela de sacada . O último piso é guarnecido por varanda com guarda metálica de varas, contígua aos 4 lados do corpo e superiormente rematado por guarda análoga, com os ângulos curvos. No INTERIOR merece atenção galeria de triplo pé-direito e cobertura em clarabóia de vidros coloridos, que se desenvolve em função de eixo longitudinal definido pelo acesso principal e se prolonga até ao alçado posterior. Esta apresenta muros laterais rasgados, ao nível do piso térreo, por módulos palladianos suportados por colunas de fuste liso e capitéis jónicos, e topos articulados com corredores de passagem articulados com balaustradas de madeira. Além da galeria, reconhecem-se do lado E., e do lado O., 2 escadas em caracol que asseguram o acesso a todos os pisos e que, no caso da do lado O., se articula com entrada localizada ao nível do sub-solo (piso -2)

Acessos

Rua Cais de Santarém; Travessa do Chafariz, n.º 4 - 4 A

Protecção

Categoria: MIM - Monumento de Interesse Municipal, Edital n.º 219/2017 da Câmara Municipal de Lisboa, Boletim Municipal n.º 1243 de 14 dezembro 2017 / Incluído na Zona de Proteção do Castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa (v. IPA.00003128)

Enquadramento

Urbano, destacado, flanqueado, em zona de acentuado declive e em posição altimétrica dominante sobranceira ao rio Tejo, parcialmente assente sobre o chafariz d'El-Rei (v. PT031106520456 ) e sobre a denominada cerca moura. Integrado na malha urbana irregular do bairro de Alfama. Na proximidade do Palácio Coculim (v. PT031106360660).

Descrição Complementar

No interior merecem atenção algumas soluções decorativas de alguns compartimentos, designadamente, aqueles contíguos ao lado E. da galeria e directamente articulados entre si, por meio de porta inscrita em vão de morfologia característica da arquitectura arte-nova, animado pela aplicação de vidros pintados: trata-se do antigo salão, ritmado a eixo, por 2 colunas de fuste canelado, que ostenta muros animados por emolduramentos em boiserie e aplicação de espelhos (*2) e tectos com medalhões pintados; o outro espaço corresponde ao escritório e apresenta muros e tecto revestidos a estuque de gosto neo-mourisco. No lado oposto reconhece-se a biblioteca, e a sala de jantar, a 1ª desenvolvida ao longo do alçado principal e a 2ª, ao longo do alçado posterior, onde, do exterior (extremo O.), se regista a presença de uma fonte com muros animados pela técnica dos embrechados cerâmicos (*3). Também no lado O. se pode observar uma casa de fresco animada por cascata. Ao nível do 1º andar, localiza-se s capela, integrada num compartimento de planta rectangular com muro de topo animado por retábulo com espaldar em talha pintada com marmoreados, cujo o remate, em cornija, é suportado por balaústres de madeira

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Serviços: edifício de escritórios

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

1838 - era proprietária do edifício a marquesa de Chaves, D. Francisca Xavier da Silva (filha dos 5os. Marqueses do Alegrete e senhora muito influente nos meios políticos da época) ; 1872 - 1909 - o imóvel encontrava-se na posse dos "brasileiros" João António dos Santos (que a mandara construir) e Augusto Vítor dos Santos (*4) ; 1909 - o estado de conservação do edifício ameaçava a segurança pública ; 1933 - era proprietário do edifício Armando Dias da Cruz ; 1971 - o imóvel estava na posse de Maria Christina Nogueira Duarte (filha e herdeira de Armando Dias da Cruz) ; 1980 - por falecimento de Maria Christina Nogueira Duarte o edifício passa para a posse de Francisco da Cruz, deixando então de ser habitado pela família e arrendado

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria mista, reboco pintado, cantaria de calcário, estuque, ferro forjado, madeira, vidro, azulejos

Bibliografia

ANTUNES, Vitória M. B. e LEITÃO, Ana Maria de C., O Edifício da Travessa do Chafariz d'el Rei, Lisboa, 1989 (trabalho policopiado e elaborado no âmbito da Licenciatura em História / História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Llisboa)

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; CML

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Procº nº 15.011

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1907 - obras de completa reconstrução do imóvel (substituição integral cobertura, passando a trapeira a terraço, melhoramento dos muros e paramentos interiores); 1927 - obras de conservação e beneficiação geral (limpeza de infraestruturas); 1933 - limpezas e reparações exteriores e interiores; 1937 - obras de limpeza e pinturas das pedras rústicas; 1944 / 1945 - pinturas de janelas e portas; 1956 - limpeza da fachada posterior.

Observações

*1 - considerou-se este como o alçado principal uma vez que é nele que se localiza o acesso principal ao interior; contudo, aquele que mais se afirma é o alçado posterior. *2 - segundo o proprietário de origem belga. *3 - cujas cantarias aplicadas foram encontradas no terreno da propriedade e contemplam um arco com parte de uma pedra de armas. *4 - sendo que João António dos Santos terá construído na estância balnear de Poços de Caldas, em Minas Gerais, um edifício muito idêntico (apresentando o recurso a soluções afins, designadamente a galeria).

Autor e Data

Teresa Vale, Maria Ferreira e Sandra Costa 2001

Actualização

 
 
 
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