Forte de São Francisco

IPA.00012019
Portugal, Vila Real, Chaves, Santa Maria Maior
 
Arquitetura militar, seiscentista. Forte de planta em estrela regular, com quatro baluartes pentagonais destacados nos ângulos de um retângulo, com reparo de escarpa exterior em talude, reforçada parcialmente por sapata, em alvenaria de granito de aparelho irregular e em cantaria de aparelho regular nos cunhais, rematada por cordão e parapeito liso, com o topo em rampa, tendo nos ângulos flanqueados guaritas, circulares, em cantaria, assentes em mísulas circulares, rematadas por cornija e cobertas por domo. Portal principal em arco de volta perfeita, flanqueado por pilares suportando segmento de frontão, encimado por espaldar, com escudo nacional e terminado em frontão interrompido, e guarita hexagonal, com coberta piramidal, precedido por ponte levadiça e com trânsito abobadado e seccionado por tripla porta. Possui estrutura semelhante ao vizinho Forte de São Neutel (v. IPA.00024096), edificado durante as Guerras da Restauração, e integrava-se no sistema fortificado abaluartado da cidade de Chaves, onde fechavam as cortinas da praça de armas, constituindo como que um reduto. Destacam-se as guaritas assentes em mísulas circulares compostas por vários toros sobrepostos, semelhantes à mísula da troneira da muralha medieval da cidade, e em especial a que se dispõe sobre o portal principal, de talhe mais cuidado, que é facetada, com frestas molduradas e cornija avançada sustentando a cobertura. De referir ainda o postigo disposto numa das fachadas laterais, para serviço dos frades do convento, de grande simplicidade, e o da frente oposta, que deverá ser muito recente e cuja construção interrompeu o reparo.
Número IPA Antigo: PT011703500100
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Forte    

Descrição

Forte com planta em estrela regular, composto por quatro baluartes pentagonais destacados nos ângulos de um retângulo. O reparo levantado, apresenta escarpa exterior em talude, parcialmente percorrida por sapata, em alvenaria de granito de aparelho em fiadas irregulares, e em cantaria de aparelho regular nos cunhais, rematada em cordão, inexistente a N. e O., e parapeito liso, com o topo em rampa. Em alguns ângulos flanqueados tem guaritas, de planta circular, em cantaria de granito, assentes em mísulas também circulares de toros escalonados, rematadas por cornija e cobertura em domo. Fachada voltada a S. com cortina central rasgada por portal em arco de volta perfeita, de aduelas dispostas em cunha, enquadrado por possantes pilares que suportam fragmentos de cornija, tendo ao centro espaldar alteado, com as armas de Portugal, terminado em frontão interrompido por bola, e sobrepujado por guarita hexagonal, seccionada inferiormente pelo cordão, rasgada por frestas molduradas e terminada em cornija, sobre a qual assenta a cobertura piramidal coroada por pináculo também piramidal; ladeiam o espaldar os sulcos verticais para recolher as traves de ferro de suporte da ponte levadiça que a precede, em madeira, sustentada por duas correntes de ferro. A cortina na frente lateral virada a O. é rasgada, junto ao baluarte SO., por portal em arco de volta perfeita, de chave saliente, sobre falsas pilastras toscanas, enquadrado por moldura retangular terminada em friso e cornija reta, coroada por brasão com as armas de Portugal. A cortina na frente lateral virada a E. é rasgada, junto ao baluarte SE., por portal em arco de volta perfeita, sendo acedida por escadaria de pedra. O principal acesso ao INTERIOR do forte é feito pelo portal virado a S., que possui transito coberto por abóbada de berço, seccionado em dois espaços por pilares, conservando os vestígios de tripla porta, com pavimento empedrado, tendo o portal na face interna arco de volta perfeita, chave saliente, sobre pilastras toscanas; à direita do transito, uma porta de verga reta acede a casamata, adaptada a taverna. À saída do trânsito estrutura-se uma ampla avenida, arborizada e ladeada por muros de pedra, desembocando num largo de distribuição para os diferentes edifícios que constituem a Pousada, composta por vários núcleos: a E. o antigo Convento de São Francisco e o primitivo hospital do forte, interligados atualmente por novos corpos que se adossaram para ampliação do espaço; ainda neste quadrante, no terrapleno dos baluartes NE. e SE., existe a piscina e corte de ténis e amplas áreas ajardinadas, interligadas com passeios, fontes e pias de pedra; na metade poente, dispõe-se edifício em L, invertido e irregular, ampliando e interligando os antigos edifícios militares, com salões de banquete, salas comuns, receção, foyer, quartos, arrumos e uma galeria de arte.

Acessos

Largo da Pedisqueira; Largo da Lapa; Largo da Acrópole; Rua da Aliança

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto nº 28 536, DG, 1.ª série, n.º 66 de 22 março 1938 *1

Enquadramento

Urbano, adaptado ao declive do terreno, num outeiro aplanado denominado Alto da Pedisqueira, na parte N. da cidade. Implanta-se isolado, possuindo exteriormente a N. e a E. amplos logradouros relvados e tendo a S. e a O. praças. Junto à frente principal desenvolve-se na esplanada jardim formal, relvado e com buxos recortados, tendo duas peças de artilharia no acesso ao portal principal do forte. No interior, ergue-se o Convento de São Francisco e os edifícios do antigo hospital militar, atualmente interligados e adaptados a Pousada (v. IPA.00035279). A S., ergue-se a Capela de Nossa Senhora da Lapa (v. IPA.00006911).

Descrição Complementar

Numa placa de bronze à direita do portal principal do forte existe a inscrição "NO DIA 25 DE MARÇO DE 1809 O GENERAL SILVEIRA, COM AS TROPAS E MILÍCIAS / TRANSMONTANAS DO SEU COMANDO, ASSALTOU E TOMOU A PRAÇA DE CHAVES, / GUARNECIDA POR TROPAS FRANCESAS DO EXÉRCITO DE SOULT, AS QUAIS, / REFUGIANDO-SE NESTE FORTE, FORAM OBRIGADAS A RENDER-SE À DISCRIÇÃO NO DIA / 25, APÓS RENHIDOS COMBATES NOS DIAS 21 A 24. / CELEBRANDO O FEITO NOS DIAS DO SEU 1º CENTENÁRIO, O MUNICÍPIO, O POVO / E A GUARNIÇÃO DE CHAVES DEDICAM ESTA LÁPIDE À MEMÓRIA DOS HERÓIS QUE / COMBATERAM PELA LIBERTAÇÃO DA PÁTRIA".

Utilização Inicial

Militar: forte

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Cedido a título precário à Câmara Municipal de Chaves, por auto de 16 de Janeiro de 1989

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETOS: Eduardo Coimbra Brito (1994); Pedro Jalles Ferreira (1994). EMPREITEIRO: Saúl de Oliveira Esteves (1926).

Cronologia

1644, 26 maio - sendo Governador das Armas da Província D. João de Sousa da Silveira, é assentada a primeira pedra na construção do novo forte de Nossa Senhora do Rosário, no local onde a Ordem de São Francisco está a erguer um novo convento; 1647 - conclusão da muralha do forte; 1658 - D. Rodrigo de Castro, Conde de Mesquitela, chega a Chaves como Governador das Armas da Província de Trás-os-Montes; 1663, 08 fevereiro - sendo governador da Província o Conde de São João Luís Alves de Távora, principia-se a fortificação moderna da vila, com três baluartes e dois meios baluartes, a qual fechava no Forte de São Francisco ou de Nossa Senhora do Rosário, bem como o horneveque da Madalena; 1681 - pela ocupação dos terrenos no Alto da Pedisqueira, os frades recebem indemnização de 119$000 e é-lhes deixado na muralha virada a nascente um postigo que lhes permita aceder à cerca vizinha, denominada "o olival"; 1809, 25 março - depois de alguns dias de luta renhida, o general Silveira expulsa do forte as tropas francesas de Soult; 1811 - é governador do forte Vicente José Ferreira; séc. 19 - a Praça de Chaves e as fortalezas de São Francisco e da Madalena estão minadas pelos inimigos de duas em duas braças na superfície de seu alicerce; torna-se necessário reparar a ruína que ameaça, porque abatendo a terra ia-se demolindo a muralha, como já sucedida em alguns; manda-se suster as obras que decorrem na construção do Forte Madalena de Chaves, defronte do Quartel da 3ª Companhia do Regimento de Cavalaria, para que ali se fazer um logradouro público; 1822, 06 novembro - consta que o terreno em que se achava no Forte da Madalena, defronte do Quartel da 3ª Companhia do Regimento de Cavalaria nº 6, era muito próprio para horta deste corpo, mas é aplicado para logradouro público, por se julgar mais conveniente; construção de casas com pedra da muralha e abertura de poços por vários particulares; o Rei manda pela Secretaria d' Estado dos Negócios da Guerra que o juiz de fora proceda a averiguações; 1824, fevereiro - Bacharel João Manuel Pimentel e Sousa obtém emprazado nos fossos do Forte da Madalena a que falsamente deu nome de baldios; 1872 - o Forte, com quatro baluartes, mais bem conservados do que as obras da praça, apresentam brechas e demolições parciais feitas pelos espanhóis em 1762; 1974 - cedência a título precário do forte para instalar o Ciclo Preparatório de Chaves e para alojar 17 famílias de retornados das ex-colónias; 1977, 21 dezembro - ofício da Câmara Municipal de Chaves apresentando pretensão de aquisição do forte; 1978, 09 fevereiro - a Câmara Municipal manifesta a sua concordância com a adaptação do Forte e Convento de São Francisco a Pousada; refere que num prazo de dois anos as instalações ocupadas parcialmente com o Ciclo Preparatório e com os retornados das ex-colónias ficam livres; 05 dezembro - despacho do Secretario de Estado do Turismo, Licínio Cunha, para dar início ao estudo do projeto de adaptação do Forte de São Francisco a Pousada; 1979, 19 junho - pedido para o exército dispensar o Forte e seus anexos para Pousada; 1982, 10 agosto - em resposta a um alerta sobre o abandono a que estava votado o convento de São Francisco e sobre escavações clandestinas realizadas no seu interior, a DGEMN informa não prever realizar obras no conjunto dado aguardar a definição do destino a dar ao mesmo, sabendo-se que a Direção de Turismo se encontra interessada na sua recuperação; 1988, 15 dezembro - referência à instalação do Hotel de São Francisco, em Chaves, pela Sociedade Forte de São Francisco, Hotéis Lda.; 1989, 16 janeiro - o forte é cedido a título precário à Câmara Municipal de Chaves; 1994 - construção de uma unidade hoteleira no interior do forte e nas instalações do antigo convento e hospital militar, obra realizada pela Sociedade Forte de São Francisco, Hotéis, Lda., e com projeto do arquiteto Eduardo Coimbra Brito e Pedro Jalles Ferreira; 1997 - conclusão da recuperação e adaptação do Forte e convento de São Francisco a Pousada; maio - inauguração da Pousada.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Paramentos das muralhas em alvenaria e cantaria de granito; placas e estruturas de betão; portas e ponte levadiça de madeira; traves e correntes que sustentam ponte levadiça, em ferro.

Bibliografia

ABREU, Thomé de Távora e - Notícias Geographicas e Historicas da Provincia de Tras dos Montes, ms. 221 da BNL, transcrição de Júlio Montalvão Machado. In Revista Aquae Flaviae. Chaves: 1989, vol. 2, p. 24-25; AIRES, Firmino - "Incursões autárquicas III, 1911-1925". In Revista Aquae Flaviae. Chaves: 1996, nº 15, pp. 67-146; ALMEIDA, José António Ferreira de (org.) - Tesouros Artísticos de Portugal. Lisboa: 1976, pp. 198-199; CARVALHO, Augusto C. Ribeiro de - Chaves Antiga - Monografia. Lisboa: 1929, p. 48-49; "Forte de São Francisco Hotel: As mil e uma transformações". VIA AR, 01 setembro 2002, p. 12; GOMES, Rita Costa - Castelos da Raia. Trás-os-Montes. Lisboa: 2003, vol. 2; MACHADO, Júlio M. - Crónica da Vila Velha de Chaves. Chaves: 2000; VERDELHO, Pedro - "Na Rota dos Castelos". In Chaves. Chaves: 1993, pp. 16-20

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN; IGE

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN; IGE

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN; IGE; Arquivo Histórico Militar: 3ª divisão, 9ª Secção, Cx . 24, nº. 26, nº 33, Cx. 27, nº 8 e nº 30; IAN/TT: Livro - Junta de Crédito Público - 3ª Repartição - Lº 1 das Requisições

Intervenção Realizada

DGEMN: 1957 - Obras de conservação, pelos Serviços de Construção e Conservação; 1961 - reconstrução dos troços da muralha que ruíram no baluarte SE., junto do cunhal extremo do lado O.; 1962 - continuação das obras de reconstrução e consolidação da muralha do forte; 26 janeiro - relatório de visita às obras em execução no baluarte nascente e no apeamento de paredes das antigas cavalariças, para desafogo da entrada principal do mesmo; 23 fevereiro - novo relatório de visita às obras refere a execução da sapata dos alicerces da muralha, no baluarte nascente; 28 março - auto de concurso de empreitada de prosseguimento das obras de reconstrução do baluarte nascente e consolidação parcial da muralha do forte ganho por Saúl de Oliveira Esteves, por 95.320$00; 30 outubro - auto de concurso limitado de empreitada de prosseguimento dos trabalhos de reconstrução e consolidação parciais das muralhas do forte e junto ao quartel dos bombeiros, com a base de licitação de 37.350$00; 14 dezembro - relatório refere terem sido demolidas as paredes das antigas cavalariças do lado poente da entrada principal do forte; 1963 / 1965 - construção da nova vedação do Lg. da Lapa para desafogo do forte; 1964, 30 março - proposta para apear o edifício que serviu de cadeia comarcã, existente no interior de Forte de São Neutel, sendo a pedra aproveitada nas obras de recuperação do Forte de São Francisco e do muro de suporte do Largo da Lapa; 04 dezembro - auto de demolição de dois prédios para desafogo da muralha do forte e arranjo do Largo da Lapa; 1965, 15 março - abandonada a hipótese de aumentar um andar ao Liceu de Chaves por colidir com a remodelação do Largo da Lapa e a valorização do Forte de São Francisco; 25 setembro - auto de demolição da casa que pertenceu a Ana da Conceição Alves Montalvão e marido Dr. José Maria Ferreira Montalvão para desafogo da muralha do forte e arranjo do Largo da Lapa; 1966 - conclusão da nova vedação do Lg. da Lapa; 17 dezembro - demolição da "ilha do cavaleiro" existente sobre o baluarte; 1970 - consolidação das muralhas, construção de maciço de enchimento e seu revestimento com cantaria de fiada em elevação parcial do cunhal desmoronado do baluarte E. sobre o terreno particular; recalçamento da parede do baluarte SO. voltado ao Largo da Lapa, incluindo a regularização de terras junto da base e limpeza das cantarias exteriores; 29 junho - comparticipação do Estado de 15 contos para consolidação da muralha; 1971 - prosseguimento dos trabalhos de restauro e limpeza do amuralhado do forte; 31 maio - concurso para prosseguimento dos trabalhos de restauro e limpeza da muralha voltada ao largo da Lapa, sendo a base de licitação de 40 contos; 16 junho - informação comunicando que faltavam apenas demolir seis casas encostadas ao baluarte, pelo lado poente; 01 julho - Estado comparticipa com 19.950$00 para prosseguimento dos trabalhos, sendo o prazo de execução até 31 de agosto do mesmo ano; 1972 - expropriações e demolição de prédios expropriados para valorização do Lg. da Lapa; 1973 - trabalhos de valorização do baluarte SE. do forte; 1987 - beneficiações diversas no forte.

Observações

*1 - O Forte de São Francisco foi classificado conjuntamente com o Castelo de Chaves e restos da fortificação abaluartada na cidade (v. IPA.00005693) e o Forte de São Neutel (v. IPA.00024096).

Autor e Data

António Dinis 2005

Actualização

 
 
 
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