Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo

IPA.00001322
Portugal, Faro, Faro, União das freguesias de Faro (Sé e São Pedro)
 
Arquitectura religiosa, barroca, rococó. Igreja carmelita de planta longitudinal composta por nave única antecedida por nartex incorporando duas torres sineiras, quatro capelas laterais reentrantes e capela-mor quadrada, sacristia a E. e outras dependências em torno da igreja; pátio a N., com acesso a várias dependências. Fachada principal apresentada como autêntica fachada-retábulo, simétrica, ladeado por duas torres sineiras com acessos individualizados por porta munida de verga curva; a fachada dispõe-se em três registos e três panos, com pórtico principal monumental sobreposto de janelão e ladeado por dois nichos com estátuas; no registo intermédio, rasgam-se axiais aos vãos e nichos inferiores, janelas de varandim e frontões contracurvados encimadas, no pano central, por óculos trilobados; no terceiro registo janelas de peitoril com molduras lavradas d e motivos rococó; remate em balaustrada. Cobertura da nave em abóbada de berço com ornatos de estuque, lambril de azulejos com motivos vegetalistas da época pombalina e cornija envolventes; capelas laterais reentrantes com retábulos em talha dourada de planta côncava, barrocos os do lado do Evangelho já com novidades rococó os da Epístola. Capela-mor com a mesma largura e altura do que a nave, coberta com tecto com pintura em perspectiva; retábulo-mor do estilo nacional em talha dourada com planta côncava, expondo grande tribuna e monumental trono piramidal. Tem como paralelos dentro desta tipologia a igreja conventual carmelita de Évora (v. PT040705210094), apresentando um espaço semelhante no que respeita à planta rectangular de nave única e capela-mor rectangular com a mesma largura da nave, capelas laterais e cobertura em abóbada de berço; o arquitecto carmelita responsável pelo traço desta igreja talvez fosse um dos arquitectos do convento eborense (LAMEIRA, 2004).
Número IPA Antigo: PT050805040010
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de Confraria / Irmandade  

Descrição

Planta composta por igreja de planta longitudinal, de nave única, coro-alto integrado em nartex de planta elíptica, com duas torres sineiras, quatro capelas laterais reentrantes, capela-mor quadrada, sacristia a E., dependências anexas em torno da igreja e de pátio a N. da igreja e a Capela dos Ossos a O. da capela-mor, aberta para o pátio. Volumes articulados, massas dispostas na horizontal em dois pisos. Cobertura diferenciada em terraço sobre o coro-alto e telhado de duas águas na nave, capela-mor e dependências que se encontram no mesmo eixo, de uma só água sobre as restantes dependências, com um passadiço a dividir o telhado da igreja do telhado das dependências a E.. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, com cunhais, pilastras, molduras, cornijas e campanários em cantaria de pedra calcária. Fachada principal a S., de 3 registos definidos por frisos simples, e de 3 panos, sendo os laterais correspondentes às torres sineiras, delimitadas por monumentais cunhais e pilastras assentes sobre plintos que sustentam pesado entablamento ao nível do segundo friso; no pano central portal de verga recta ladeado por colunas pseudo-salomónicas sobre plintos altos, rematadas no registo superior por fogaréus; de cada lado do portal nicho munido de baldaquino com as estátuas do Santo Elias, à esquerda e de Santa Teresa de Ávila, à direita; sobre o portal, no segundo registo, janelão com verga de volta perfeita rematado por frontão apontado com cartela ao centro com as insígnias da Ordem de Nossa Senhora do Monte do Carmo; sobre os nichos janelões rematados por frontões contracurvados; sobre estes abrem-se 3 óculos trilobados e no registo superior 3 janelas a anteceder a balaustrada, que remata o pano central; estas posuem molduras com trabalho de massa pintado de amarelo, tal como a balaustrada. Os panos laterais, correspondentes às torres sineiras dispõem, cada um, de porta com verga recta, rematada por frontão curvo e encimado por um pequeno óculo; no segundo registo rasgam-se duas janelas de sacada assentes sobre duas mísulas com guarda de ferro e com frontão apontado; no terceiro registo do pano lateral esquerdo mostrador pétreo de relógio, e no pano direito um círculo preenchido a amarelo; campanários com quatro olhais e cupulins profusamente trabalhados. Fachada O. com 4 corpos correspondentes, da direita para a esquerda, ao coro-alto, à nave, à capela-mor e às dependências anexas, sendo estes corpos gradualmente recuados em relação ao corpo anterior, excluíndo as dependências anexas ao piso térreo desta fachada que acompanham toda a sua extensão, contribuindo para a definição do rectângulo do conjunto edificado; o primeiro corpo apresenta à direita o alçado O. da torre O., idêntico ao seu alçado S., mas sem rasgamento de vãos; ao lado abre-se um amplo vão com verga em arco abatido encimado por janela de sacada com frontão curvo; no topo deste corpo surge de forma recuada, dando lugar a um pequeno terraço, o corpo do coro-alto apresentando uma janela rectangular sem moldura; o corpo correspondente à nave da igreja cego; o corpo da capela-mor rasgado por janela rectangular; o corpo das dependências anexas apresenta no cimo uma janela jacente com moldura em cantaria. A fachada E. apresenta à esquerda os mesmos elementos descritos para o primeiro corpo da fachada O.; delimitado por pilastras de alvenaria e rodapé pintados de amarelo, seguem dois registos definidos por friso simples, o superior com 9 janelas de sacada com guarda de ferro e rematadas por cornija; o inferior com portal situado debaixo do 5º vão superior, ligado a este por bandeira, outro portal situado debaixo do 9º vão, janelas de peitoril debaixo do 1º, 2º, 3º e 7º vãos superiores, e frestas debaixo do 4º e 6 vãos; no alinhamento, à direita da fachada, a fachada de uma das dependências, sendo delimitada a N. por um cunhal de alvenaria e rematado por pequena cornija, abrindo-se ao centro desta uma janela jacente com moldura em cantaria. Fachada N. com duas portas e duas janelas correspondentes a dependências do conjunto. INTERIOR: igreja com alçados rebocados e pintados de branco, com pavimento em mármore e madeira e lambril de azulejos envolvente; guarda-vento de madeira, acedendo directamente ao nartex de planta elíptica que sustenta, através de uma abóbada de aresta e dois arcos formeiros e um toral de cantaria, o coro-alto; neste espaço abrem-se a E. e a O. dois portais com frontão triangular que integra a cornija de pedra que envolve este espaço; encontram-se nas paredes destes 10 dos 14 painéis dos Passos, dois confessionários, dois painéis de azulejos com texto, duas pias de água benta em mármore e duas imagens recentes assentes sobre pilares, representando a Nossa Senhora e Jesus Cristo. Coro-alto com pavimento em ladrilho cerâmico, cornija de alvenaria envolvente com pequenos modilhões e cobertura em abóbada de aresta com o brasão em estuque da Ordem ao centro; arco do coro-alto em cantaria; apresenta dois portais, um a E. e outro a O., apresentando ambos vários elementos decorativos no remate, como motivos antropomórficos, zoomórficos, fitomórficos, concheados e volutas; a ladear os portais encontram-se quatro nichos rematados por uma cartela suspensa por um par de anjinhos; a iluminação do coro-alto é fornecida pelos 3 janelões e pelos 3 óculos da fachada e por mais dois óculos situados a E. e O. sobre os portais, sendo estes emoldurados por trabalho de massa com concheados, apresentando alguma figuração nos janelões; a balaustrada do coro é em madeira pintada. Nave com cobertura em abóbada de berço, pintada de branco e azul, com trabalhos em estuque e lustre ao centro, que arranca de cornija em talha dourada; alçados simétricos: do lado do Evangelho, da esquerda para a direita, dois dos 14 painéis dos Passos sobrepostos por uma tela representando a Virgem do Leite; sobre estes elementos, eleva-se ao nível do coro-alto, um orgão positivo com pintura ornamental; seguem-se dois retábulos muito semelhantes, intermediados por um púlpito, o retábulo da capela de Santo António e o retábulo da capela de Santa Teresa; segue-se um vão emoldurado rematado por cornija. Alçado da Epístola com dois dos 14 painéis dos Passos, sobrepostos por tela figurando Nossa Senhora; seguem-se os retábulos da capela de São Simão Stock e o da capela de São José (antiga capela de São Vicente Ferrer), quase idênticos aos do alçado oposto, com elementos decorativos diversos no prolongamento da talha pelo arco da capela e pelo frontispício; entre os retábulos grande tela de pintura; segue-se vão idêntico ao do alçado oposto. Arco triunfal em talha dourada com elementos decorativos em todas as faces deste, apresentando no fecho uma cartela suspensa por dois anjinhos esvoaçantes com a representação ao centro das insígnias da Ordem. Capela-mor com quase a mesma altura e largura do que a nave da igreja, com um pavimento em mármore dispondo de vários degraus e plataformas distintas, com lambril de azulejos, cornija em talha dourada e com o tecto de madeira em abóboda de berço com pintura em perpectiva com a cartela da Ordem ao centro; alçados laterais com duas janelas com moldura em talha dourada, apresentando a janela do alçado do lado do Evangelho vitral recente com várias cores. Retábulo-mor em talha dourada de planta côncava, composto por sotobanco, banco, dois corpos, três tramos com quatro colunas, duas salomónicas e duas variantes de salomónicas, expondo ao centro grande tribuna delimitada por dois pares de colunas sobrepostas e um arco pleno; monumental trono piramidal em degraus com a imagem da padroeira; ático inscrito entre dois arcos plenos apresentando ao centro grande cartela com a Senhora do Carmo a entregar o escapulário a São Simão Stock; mesa de altar um pouco afastada do retábulo; em cima da banqueta sacrário em forma de templete. SACRISTIA: pavimento em mármore, alçados rebocados e pintados de branco, com lambril de azulejos envolvente; tecto com diversos caixotões de madeira decorados com pintura de brutescos: diversos enrolamentos de folhagens de acanto, uma cartela central com a representação alegórica dos diversos epítetos da Virgem Maria; no alçado S. lavabo, em pedra calcária e em mármore, ladeado por dois vãos emoldurados por cantaria, o primeiro de acesso à capela funerária, ao coro-alto e às salas do piso superior; o segundo de acesso ao hall que liga a igreja à sacristia; os restantes alçados apresentam sete nichos envidraçados com molduras pintadas com motivos de chinoiserie; no alçado E. abre-se vão que comunica com o cemitério e uma fresta; no alçado N. vão que comunica com pequeno corredor que desemboca no pátio; este possui pavimento em mosaico, rodapé em pintura marmoreada; no seu alçado O. um par de vãos emoldurados, comunicantes com o corredor de acesso à capela-mor e a arrecadações, ambos com mosaicos e abóbada de berço; no alçado E. vão para a secretaria, pavimento alcatifado e cobertura em abóbada de berço. A biblioteca situa-se no piso superior sobre a sacristia; CAPELA FUNERÁRIA: pavimento em mosaico, paredes revestidas a azulejo distinguindo-se um lambril, e cobertura em abóbada de berço em arco abatido, tendo o reboco da cobertura sido removido, deixando à vista o tijolo. SALA DE REUNIÕES: com acesso pelo pátio, possui pavimento em mosaico, paredes revestidas a azulejo distinguindo-se um lambril, e cobertura em abóbada de berço em arco abatido, tendo o reboco da cobertura sido removido, deixando à vista o tijolo. SALA DE EXPOSIÇÃO SACRA: no segundo piso a E. da igreja, com acesso ao coro-alto; apresenta planta rectangular com pavimento de ladrilho cerâmico com alguns mosaicos alicatados, cobertura em abóbada de aresta. PÁTIO : dividido por um muro, formando-se a E. um corredor com pavimento em pedra com acesso a várias dependências, entre estas a sala de reuniões, e uma zona ajardinada a O., pontuada por árvores e lápides sepulcrais; a N. do jardim Capela com fachada rematada por frontão triangular e ornamentada em torno do arco de entrada com ossadas; pavimento em pedra e cobertura em abóbada de berço, sendo o fundo preenchido com ossadas; ao meio um nicho envidraçado expondo Cristo Crucificado; a mesa de altar é igualmente revestida com ossadas. CAPELA DOS OSSOS: acedida pela porta travessa aberta para o pátio, é de planta rectangular, orientada a E., com cobertura em abóbada de berço; apresenta duas portas travessas e no eixo principal, todas com verga em arco de volta-perfeita; pavimento com lápides sepulcrais e um altar situado numa reentrância terminado em arco de volta perfeita, expondo ao centro um nicho envidraçado; todo o interior da capela é revestido por ossadas e caveiras, dispostas de forma ordenada. SALA DO DESPACHO: tecto de madeira aplicada ao tecto abobadado com nervuras, e pintura a têmpera, decorativa, séc. 18.

Acessos

Largo do Carmo

Protecção

Categoria: MIP - Monumento de Interesse Público, Portaria n.º 740-U/2012, DR, 2.ª série, n.º 248, de 24 dezembro 2012

Enquadramento

Urbano, planície, isolado, destacando-se no limite do centro de Faro, com zona envolvente dominada pelo contraste entre prédios recentes e casas antigas de um ou dois pisos; vias de circulação automóvel com piso empedrado. Fachada principal aberta para amplo largo calcetado, precedida por átrio acedido por larga escadaria, denunciando uma supressão do desnível do terreno no sentido S.; fachada E. voltada para pequeno largo arborizado utilizado como parque de estacionamento, separada deste por um muro rematado por gradeamento que resguarda cemitério de planta rectangular junto à fachada; fachada O. separada da envolvente por alto muro que define pátio de planta irregular usada pelo Jardim de Infância de Nossa Senhora do Carmo; fachada N. confrontada com edifícios térreos que antecedem amplo espaço de estacionamento; a S. do imóvel a Igreja Matriz de São Pedro (v. PT050805040039). Acesso ao público pelo portal principal, não dispondo de acessos para deficientes motores.

Descrição Complementar

Destacam-se do conjunto vários elementos, entre estes os trabalhos de massa existentes no coro-alto da igreja, com a tentativa de criação de uma fachada interior no verso da fachada exterior do templo; este tipo de trabalhos de massa aparecem em outras obras conduzidas pelo mestre canteiro Diogo Tavares e Ataíde, como o conjunto de obras que este realizou para o Desembargador Veríssimo Manuel de Mendonça, entre estes o conjunto da Horta do Ourives (v. PT050805040015) e o Celeiro de São Francisco (v. PT050805050005). Ainda deste autor é a obra do nartex, onde é procurado um efeito ilusionista e um efeito surpresa, tão ao gosto da retórica artística barroca. Em termos de retabulística, encontramos elementos de grande relevância como o retábulo-mor, tido por Robert Smith como uma das três obras primas da talha algarvia (SMITH, 1963), concebido pelo "maior entalhador e escultor setecentista algarvio" (LAMEIRA, 1991), o mestre tavirense Manuel Martins; também o arco do retábulo de São Vicente Ferrer, actualmente de invocação de São José, marca a fase de transição para o Rococó, sendo esta obra a primeira manifestação da talha Rococó no Algarve. Na sacristia destaca-se o tecto em caixotões de madeira, decorados com pintura de brutescos, obra atribuída ao pintor Clemente Velho de Sarre, da 1ª metade do séc.18. O tecto da capela-mor presenteia-nos com outra pintura em perspectiva assinada por um pintor farense de nome José Ferreira da Rocha. Destacaque ainda para Capela dos Ossos, obra oitocentista de inspiração barroca de proporções equilibradas, sendo uma das seis capelas deste tipo recenceadas em Portugal até ao momento. AZULEJOS: no nartex, ao lado da entrada para a nave, dois painéis de azulejos da década de 1990, apresentando texto com letrais capitais a azul num fundo branco, moldura recortada com vários motivos vegetalistas, como as folhagens de acanto, e por motivos arquitectónicos contorcidos. INSCRIÇÔES: painel azulejar a O. do nartex: "ESTA IGREJA É PATRIMÓNIO DA VENERAVEL ORDEM TERCEIRA DE NOSSA SENHORA DO MONTE DO CARMO / LANÇOU-SE A SUA PRIMEIRA PEDRA A 22 DE FEVEREIRO DE 1713 SENDO PRIOR PROTECTOR E FUNDADOR DA MESMA ORDEM O BISPO DO ALGARVE D. ANTÓNIO PEREIRA DA SILVA DE VENERANDA MEMORIA"; Leitura do painél da parte E. do narthex: NESTA IGREJA SE INICIOU EM 19 DE JUNHO DE 1808, A REVOLTA DE FARO CONTRA O DOMINIO FRANCÊS E NAS SALAS DA ORDEM SE ELEGEU O SUPREMO CONSELHO DE REGENCIA DO REINO DO ALGARVE QUE ASSUMIU O GOVERNO DA PROVINCIA / COMEMORANDO O HONROSO FACTO A MESA DE 1945 FEZ INAUGURAR ESTA LAPIDA."; a meio da balaustrada que remata a fachada principal, na face voltada para o terraço, lápide rectangular de mármore branco, com letras capitais: "1875 BALAUSTRADA E CONCERTO DA VARANDA". TALHA: retábulos da capela de Santo António e da capela de Santa Teresa de planta côncava, constituídos por sotobanco, banco, corpo único, três tramos com quatro colunas, trono piramidal em degraus com a imagem do orago, peanhas com imagens nos intercolúneos, ático inscrito entre dois arcos plenos tendo uma cartela central; a talha destes prolonga-se pelo arco da capela e pelo frontispício, sobressaíndo uma cartela ao centro e no remate um frontão com a imagem de vulto perfeito de um anjo.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade / Cultural e recreativa: galeria de exposições

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

CARPINTEIROS: Gaspar dos Reis, Manuel de Oliveira e João Baptista; ENTALHADORES: Manuel Martins (mestre), Tomé da Costa e Francisco Xavier Guedelha e Manuel Francisco Xavier; MESTRES PEDREIROS: Frei Manuel da Conceição, Diogo Tavares e Ataíde, Francisco de Ataíde e Fonseca António Martins, António Nunes Gato, Manuel António, António Domingues, Domingos Alves, Feliciano José Galvão e Francisco Lopes do Rosário; PEDREIROS: Manuel Aleixo e António Moreira; ORGANEIROS: Pascoal Caetano Oldovini e João da Cunha; PINTORES: Clemente Velho de Sarre (tecto da sacristia), António Dias, José Ferreira da Rocha e Cristobal Gomez e Coello.

Cronologia

1712, 02 de Novembro - um alvará emitido por D. Mariana, mulher de D. João V e donatária de Faro, mostra a sua pretensão em edificar um templo dedicado a Nossa Senhora do Carmo, respondendo, por um lado, às reinvidicações da Ordem, e por outro a uma necessidade de uma consolidação do movimento religioso na sociedade farense, projecto que teve o apoio do Bispo D. António Pereira da Silva, que se fez prior perpétuo da Ordem; a obra visava inicialmente a fundação de uma capela e de um hospício; 1713, 12 janeiro - é lavrada a escritura notarial, celebrada no Paço Episcopal, em que o bispo D. António Pereira da Silva compra o terreno da Horta de São Pedro para aí ser edificada a igreja; 1713, 14 Fevereiro - em vésperas do início da construção, começa-se a discutir a possibilidade da edificação de um convento, algo que se afastava das intenções do bispo e da rainha em criar um movimento religioso mais propício à evangelização da população citadina; o projecto para o convento, iniciado pelo próprio arquitecto carmelita, acaba por malograr face às intenções dos meçenas desta obra; 1713, 22 de Fevereiro - a primeira pedra é lançada pelo bispo D. António Pereira da Silva; o templo é construído nos terrenos até então pertencentes à Horta de São Pedro, onde existia uma ermida de evocação a Nossa Senhora da Esperança, templo que acolheu a Ordem durante as obras; nesta data, este terreno já estaria a perder a sua condição de arrabalde; 1713, 05 Março - a irmandade elege os irmãos tesoureiros, escrivães, e procuradores responsáveis pelo acompanhamento da obra a nível económico-administrativo; o arquitecto responsável pela traça da igreja foi o arquitecto carmelita Frei Manuel da Conceição, trazido pelo Padre Provincial Frei José de Sousa aquando da sua visita a Faro; o bispo intentou sempre que as obras fossem conduzidas segundo as necessidades da Ordem e não as vontades do arquitecto; 1713, 28 Agosto - novo alvará da Rainha reevoca as intenções do primeiro alvará; 1713, 15 Novembro - determina-se que a igreja se fizesse a "cinco palmos fora dos alicerces, e que a Igreja fosse toda de abóbada e que tivesse cinco capelas com a maior"; a pedra é comprada à Misericórdia de Lagos; 1714 - D. João V determina o embargo da obra por se ter iniciado sem a sua autorização; no mesmo ano o monarca desembarga a obra; 1715 - morre D. António Pereira da Silva, bispo e meçenas da obra; as obras não são interrompidas, pois o Coronel Francisco Pereira da Silva, sobrinho do falecido bispo, dá continuidade à obra; 1718 - o prior da Ordem coloca a última pedra na abóbada; 1719, 23 Abril - após terminada a igreja neste ano, esta é benzida pelo seu futuro protector, o Cardeal D. José Pereira de Lacerda; é feita uma solene procissão, levando a imagem de Nossa Senhora do Monte do Carmo da ermida da Esperança até à nova igreja; a cerimónia contou com a participação do bispo, cardeal, a Mesa da Ordem, e outras individualidades religiosas e políticas da cidade, e moradores de Faro; nesta fase estariam concluídas a igreja, a sacristia e a casa do despacho; Séc. 18, 3ª década - início da construção do hospício, obra que contará com várias interrupções; nele trabalharam António Martins, António Nunes Gato, o mestre pedreiro Manuel António, o mestre António Domingues, o mestre pedreiro Domingos Alves, o carpinteiro Gaspar dos Reis, o oficial de serralheiro Manuel de Oliveira, o carpinteiro João Baptista e Clemente Velho de Sarre; 1720, 20 de Julho - D. João V institui uma feira em favor da Ordem; 1722, 22 de Maio - por alvará é transformada em feira franca; 1735 - é lançado a concurso a feitura de riscos para o retábulo-mor, tendo Manuel Martins sido o responsável pelos mesmos (um do trono, outro do sacrário); a imagem de Nossa Senhora do Rosário foi pintado e estofado pelo pintor António Dias; 1739 - conclusão do retábulo-mor; Séc. 18, 5ª década - após se ter realizado um acrescento no hospício nesta década, as obras deste terminam; inicia-se por outro lado uma segunda campanha de obras de edificação do templo, na qual teve como protagonista o mestre canteiro Diogo Tavares e Ataíde, filho de pais membros da comunidade carmelita; 1741 - 1744 - Manuel Martins executa o retábulo lateral de Santa Teresa de Ávila; esta obra foi concluída pela sua oficina, dirigida pelo seu genro Tomé da Costa e Francisco Xavier Guedelha; 1742, 07 Maio - o mestre canteiro, juntamente com o seu pai, Francisco de Ataíde e Fonseca, ajustam a obra de um portal, lavatório e um adro da igreja "tudo em pedra, a do portal, branca de São João da Venda, a do lavatório, branca e de cores, preta e vermelha, a do adro da Bordeira; 1743, 01 de Junho - o mestre canteiro é contratado pela Ordem para fazer o risco de duas torres *1; a obra respeitante à segunda campanha, estende-se de uma forma initerrupta até finais do séc. 19, possivelmente até 1878, procurando no seu curso cumprir o debuxo atrás mencionado; 1744 - feitura do órgão positivo por Pascoal Caetano Oldovini; a execução da talha da capela de Santo Alberto é interrompida; 1747, 14 Maio - Diogo Tavares de Ataíde e a Ordem Terceira realizam uma escritura na qual o mestre deixa de estar comprometido com a obra das torres com a condição de este pagar a pedraria que já tinha sido lavrada para esse fim; 1748 - a Irmandade usufrui de um empréstimo de Clara Josefa; Séc. 18, 2ª metade - edificação da fachada, que só será concluída no séc. 19; este período de tempo foi marcado por grandes dificuldades económicas resultantes da sobreposição das obras da segunda campanha e as do hospício; 1750 - data patente no fecho do arco do coro-alto, evocando os benefícios ganhos com os empréstimos de Beto de Araújo Barbosa e Gregório Pires Monteiro; 1751 - feitura do retábulo da capela de São Vicente Ferrer (actual retábulo de São José) pela a oficina de Tomé da Costa e Francisco Xavier Guedelha, sendo esta obra a primeira manifestação da talha Rococó no Algarve; devido às obras, durante a Quaresma não houve sermão no templo; 1755 - grandes danos provocados pelo terramoto, resultando na perda de metade da abóbada e de todo o coro; nesta data o largo que a fachada principal confronta passa a designar-se Largo do Carmo; 1757 - é retomada a obra de talha da capela de Santo Alberto, agora da incumbência do mestre Manuel Francisco Xavier; são contratados João Baptista e seu aprendiz, Rodrigo, Francisco Tavares e Francisco Xavier Guedelha para tapar o arco do coro; 1758 - 1759 - trabalhos de Manuel Aleixo e outro servente; 1759, 29 Maio - é gasto dinheiro em vigas para a obra do coro; 1762, 21 Janeiro - alvará régio que atribui à Irmandade os direitos de portagem da feira realizada por esta, durante 10 anos, para as reparações do edifício; Séc. 18, década de 70 - inícios de uma outra campanha no coro; 1775 - feitura do retábulo de Santa Efigénia, actual retábulo de São Simão Stock, por Manuel Francisco Xavier; é terminado o último piso do imóvel; 1776 - 1777 - António Moreira repara a cornija e a abóbada do coro; 1779 - 1780 - são pagas as imagens do coro e fachada; 1784 - conclusão da torre oriental do templo; 1788 - provável execução do órgão por João da Cunha; 1794 - pintura em perspectiva ilusionista do forro da cobertura da capela-mor, executada pelo pintor farense José Ferreira da Rocha; o mesmo pintor executou por esta altura a pintura decorativa da parte inferior do órgão; 1801 - 1802 - Mestre Feliciano José Galvão tira o risco da torre para se fazer outra a ocidente do templo; 1807 - data gravada no relógio da torre ocidental; 1816 - a capela dos ossos é construída com os ossos levantados das campas do pequeno cemitério que existia por detrás da capela-mor; 1875- construção da balaustrada da fachada principal e arranjo do terraço, segundo lápide existente nessa mesma balaustrada; é feito um carrilhão de nove sinos com o bronze dos quatro primitivos, tendo sido fundidos por Gregório José da Silva; 1877, 19 Agosto - a Ordem contrata Francisco Lopes do Rosário para finalizar a torre ocidental da igreja desde o ponto onde se acha uma lápide com a sua inscrição; 1878 - a obra da torre ocidental da igreja é terminada; 1918 - restauro do sacrário da capela-mor pelo dourador farense Joaquim Inocêncio Leiria;1927 - pavimentação da capela-mor com mármore vindo de Lisboa; 1998, 09 junho - proposta de classificação pela CMFaro; 1998, 15 julho propsta de abertura do processo de classificação pelIPPAR/DRF; 1998, 04 julho - despacho de abertura do processo de classificação pelo vice-presidente do IPPAR; 2003, 07 maio - Parecer do Conselho Consultivo do IPPAR a propor a classificação como IIP; 2003, 26 maio - Despacho de homologação de classificação pelo Ministro da Cultura; 2004, 10 de Fevereiro - abertura de concurso pela DGEMN - DREMS para obras de conservação na igreja.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes e estrutura mista.

Materiais

Estrutura de alvenaria e cantaria; coberturas em telhas cerâmicas e ladrilho cerâmico, pavimentos em mármore, mosaico, ladrilho cerâmico, pedra, madeira, e alcatifa; coberturas interiores em tijolo ou madeira e ornamentação em estuque; azulejos; talha dourada; portas, janelas e caixilhos em madeira; ferro nas guardas, sinos e gradeamento dos muros e vãos.

Bibliografia

ALMEIDA, José A. Ferreira de (coord.), Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1976, p.260; AZEVEDO, José António Correia de, Arte Monumental Portuguesa, 5º vol., Porto, 1975, pp. 189-190; IDEM, Enciclopédia da Arte Portuguesa, vol. 2, s.l., 1976; IDEM, Algarve Monumental, s.l., 1977; AZEVEDO, José Correia de, Portugal Monumental, vol. 8, Lisboa, 1994; BALBRINO VELASCO BAYÓN, O. Carm., História da Ordem do Carmo em Portugal, 2001; BRITO, Salustino Lopes de, "Inventário do Arquivo Histórico da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo de Faro", Anais dos Município de Faro, XXIV, Faro, 1994; LAMEIRA, Francisco I. C., Itinerário do Barroco no Algarve, Portimão, 1988; IDEM, A Escultura Barroca Algarvia (texto policopiado - dissertação de Mestrado de Arte), Lisboa, 1989; IDEM, "As oficinas de talha no Algarve durante a época barroca" in Actas do VI Simpósio Luso-Espanhol da História de Arte-Oficinas Regionais, Viseu, 1991; IDEM, “O maior entalhador e escultor setecentista algarvio - Manuel Martins” in Actas do I Congresso Internacional do Barroco, Porto, vol. I, Porto, 1991; IDEM, Faro - Edificações Notáveis, Faro, 1995; IDEM, Inventário Artístico do Algarve - A Talha e a Imaginária, vol. XII, Faro, 1995 /1996; IDEM, A Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo (brochura), Faro, 1998; IDEM, Faro - A Arte na História da Cidade, Faro, 1999; IDEM, A Talha no Algarve durante o Antigo Regime, dissertação de doutoramento em História da Arte Moderna apresentada à Universidade do Algarve, Faro, 2000; IDEM, O Retábulo em Portugal, das origens ao declínio, Revista Promontório Monográfica História da Arte, Universidade do Algarve, n.º 1, Outubro, 2005; LAMEIRA, Susana A. Do Carmo Carrusca, A Igreja da Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo de Faro - um Estudo Monográfico (1713-1878), Dissertação de Mestrado em História da Arte Moderna apresentada à FCSH da Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, 2004; LOPES, João Baptista da Silva, Corografia (...) do Reino do Algarve, Lisboa, 1841; IDEM, Memorias para a Historia Eclesiastica do Bispado do Algarve, Lisboa, 1848; VALADARES, Álvaro de, Guia do Visitante das Igrejas de Faro, Faro, 1949; MELLO, Magno Moraes, Pintura do Concelho de Faro: Inventário, CMF, GGRP, Faro, 2000; PAULA, Rui M. e PAULA, Frederico, Faro - Evolução Urbana e Património, Faro, 1993; ROSA, José António Pinheiro e, Monumentos e Edifícios Notáveis do Concelho de Faro, Faro, 1984; IDEM, Passeando por Faro em 1740, separata do Algarve, 1984; IDEM, Guia do Visitante das Igrejas de Faro, Faro, 1987; SERRÃO, Vítor, O Barroco e o Rococó (...), in O Algarve da Antiguidade aos nossos dias, Lisboa, 1999; SERRÃO, Vítor, Pintura do Concelho de Faro Inventário, Faro, 2000; SERRÃO, Vítor, História da Arte em Portugal - O Barroco, Lisboa, 2003, pp. 176-178; SMITH, Robert C., Três Obras Primas da Talha Algarvia, Revista Shell, Outubro - Dezembro, 1963; VALENÇA, Manuel, A Arte Organística em Portugal, vols. I e II, Braga, 1990.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN / DSID, DGEMN / DREMS; CMF: Divisão do Centro Histórico

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN / DSID, DGEMN / DREMS

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN / DREMS; Arquivo da Ordem 3ª de Nossa. Senhora. do Carmo de Faro

Intervenção Realizada

DGEMN: 1989 - Reparação da cúpula de uma das torres sineiras.

Observações

*1 - o debuxo original foi encontrado por Francisco Lameira há uns anos atrás nas dependências da igreja.

Autor e Data

João Neto 1991 / Daniel Giebels 2005

Actualização

 
 
 
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