Igreja Paroquial de Aldeia Viçosa / Igreja de Santa Maria

IPA.00001354
Portugal, Guarda, Guarda, Aldeia Viçosa
 
Igreja de fundação medieval, de que não subsiste qualquer evidência, exceto, talvez, na estrutura diminuta do templo, com capela lateral instituída por particular no séc. 16, que integra túmulo do fundador, totalmente reedificada no séc. 17, altura em que é adaptada às normas de Trento, surgindo novos vãos e a estrutura que mantém, decorada no início do séc. 18, com a introdução de retábulo-mor, retábulos colaterais e revestimento do arco triunfal a talha dourada, tudo do estilo barroco nacional. No final do séc. 18, sofre nova intervenção, com a introdução de novas capelas laterais e respetivos retábulos, rococós, bem como a reforma das modinaturas dos vãos, alguns com ornatos concheados. Assim, as janelas da nave e capela-mor apresentam diferentes perfis, revelando feituras em épocas distintas, esta em capialço e as da nave retilíneas, rematadas em cornija e ostentando aventais com brincos, as primeiras com pinturas murais decorativas no interior. Destaca-se a manutenção de painéis pintados e bustos-relicário nas ilhargas da capela-mor.
Número IPA Antigo: PT020907040031
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta retangular composta por nave, capela-mor mais estreita, torre quadrangular e sacristia adossadas à fachada lateral esquerda, de volumes articulados e escalonados, tendo cobertura homogénea na nave e capela-mor em telhado de duas águas, de uma água na sacristia, sendo em coruchéu bolboso na torre sineira; os telhados rematam em beiradas simples. Fachadas em alvenaria e cantaria de granito aparente, de aparelho irregular, sendo isódomo no corpo da capela-mor, com as juntas pintadas de branco, sendo percorridas por socos salientes, flanqueadas por cunhais apilastrados, firmados por pináculos piramidais com bola, e rematadas em frisos e cornijas. Fachada principal virada a ocidente, rematada em empena, com cruz latina sobre plinto no vértice, rasgada por portal de verga reta, com moldura simples e ladeado por pilastras de fustes almofadados que sustentam friso também almofadado e frontão triangular, vazado por óculo circular com moldura simples; o portal está flanqueado por duas janelas retilíneas com grades de ferro, moldura simples e remate em cornija pouco saliente. No lado direito e em nível ligeiramente recuado, a torre sineira *1, de dois registos definidos por frisos e cornijas, flanqueada por duas ordens de pilastras toscanas, as inferiores sobre altas bases paralelepipédicas. O primeiro registo é rasgado por óculo quadrilobulado nas faces principal e posterior, onde se rasga porta em arco abatido, sendo visível o antigo lintel, de acesso às escadas em caracol interiores; no segundo registo, quatro ventanas de volta perfeita que arrancam de pequeno friso; a estrutura remata em friso, cornija e platibanda balaustrada, com pináculos galbados nos ângulos. Fachada lateral esquerda rasgada por porta travessa de verga reta e moldura simples, flanqueada por pilastras toscanas de fustes almofadados, que sustentam friso, cornija e frontão interrompido por concheado e palmeta; surgem, ainda, duas janelas retilíneas com grades de ferro, rematadas por cornija interrompida em volutas e concheado e formando avental de perfil recortado e brincos. O corpo da sacristia possui janela quadrangular com grades de ferro, de moldura simples e remate em pequena cornija, tendo, na face virada a ocidente, porta de acesso em arco abatido e moldura simples, antecedidos por degraus de cantaria. Fachada lateral direita rasgada, no corpo da nave, duas janelas semelhantes às da fachada oposta, surgindo, no da capela-mor, uma janela retilínea, em capialço. Fachada posterior rematada em empena cega com cruz latina no vértice, tendo, no lado direito, ligeiramente recuado, o corpo da sacristia em meia-empena, marcado por escadaria de granito e guarda metálica, de acesso a porta de verga reta. INTERIOR da nave rebocado e pintado de branco, cobertura em falsa abóbada de berço de madeira pintada de azul, assente em friso e cornija de madeira, pintados de marmoreados fingidos, e com tirantes metálicos, tendo pavimento em ladrilho cerâmico e corredor central em lajeado de granito. Portal axial protegido por guarda-vento de madeira e vidro simples, flanqueado por duas pias de água benta, hemisféricas e embutidos nas paredes, criando um pequeno nicho de volta perfeita superior para depósito. No lado do Evangelho, batistério com acesso por vão de arco em asa de cesto, assente em pilastras toscanas e com fecho marcado por voluta; integra pia batismal em cantaria de granito, composta por plinto circular e taça hemisférica; no lado do Evangelho, nicho quadrangular para guarda de alfaias. Confrontantes, sucedem-se, dois confessionários embutidos nas paredes, cada um deles com vão de verga reta e moldura simples de cantaria, protegidos por portadas de madeira. A porta travessa é ladeada por pia de água benta embutida e concheada. Está encimada pelo púlpito de bacia quadrangular, assente em mísula de cantaria, e guarda plena de talha dourada, com elementos concheados e acantos, com acesso por porta retilínea, sublinhada por sanefa de lambrequins e espaldar recortado. Fronteira, nicho de volta perfeita, assente em pilastras toscanas de fustes almofadados, assentes em plintos ornados por florões e com fecho concheado, contendo túmulo com inscrição e pedra de armas e constituindo capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição, com o orago sobre mísula de cantaria. Sucedem-se as duas capelas laterais à face, confrontantes, inseridas em vão semelhante ao anterior, onde se erguem retábulos de talha dourada e policroma, dedicados à Sagrada Família (Evangelho) e às Almas (Epístola). No lado da Epístola, nicho semelhante aos anteriores. Arco triunfal de volta perfeita assente em pilastras toscanas e flanqueado por dois retábulos colaterais, dispostos em ligeiro ângulo, de talha dourada, dedicados ao Sagrado Coração de Jesus (Evangelho) e a Nossa Senhora da Conceição (Epístola); a talha prolonga-se sobre o arco triunfal, envolvendo-o, numa decoração de acantos e cartela central. Capela-mor elevada por dois degraus de perfil curvo, com cobertura em falsa abóbada de berço abatido de madeira, assente em friso e cornija de talha, tendo pintura decorativa, imitando brocados, que enquadram as figuras centrais da Virgem com o Menino, flanqueadas por quatro figuras representando os Quatro Doutores da Igreja, São Tomás de Aquino e São Gregório Magno, no lado do Evangelho, surgindo, no oposto, São Jerónimo e Santo Agostinho; pavimento em lajeado de granito. As ilhargas da capela são forradas a talha, exceto uma pequena zona no lado da Epístola, onde se rasga uma janela retilínea, em capialço, ostentando pinturas murais decorativas; a talha, na forma de acantos e molduras entrelaçadas, enquadram três tábuas pintadas e duas ordens de nichos formando arcos de volta perfeita. Ao centro, a mesa de altar, em cantaria de granito composta por dois pilares e tampo simples. Junto ao arco triunfal, no lado da Epístola, ambão de cantaria. No lado do Evangelho, porta de verga reta de acesso à sacristia. Na parede testeira e elevado por um degrau, o retábulo-mor, de talha dourada e policroma, de vermelho e azul, imitando lacado, assente em sotobanco de cantaria, com corpo côncavo e três eixos definidos por quatro colunas torsas, decoradas por pâmpanos, assentes em consolas e por quatro pilastras com os fustes ornados por acantos, assentes em plintos paralelepipédicos, que se prolongam em quatro arquivoltas, duas torsas, unidas no sentido do raio, formando o ático, de apainelados de acantos, tendo, no fecho, a figura de Deus Pai. Ao centro, tribuna de volta perfeita com a boca rendilhada, tendo o fundo pintado com drapeados falsos, vermelhos, e cobertura em oito caixotões com cenas da vida da Virgem: "Adoração dos Magos" e uma "Adoração dos Pastores", "Quatro Doutores da Igreja", "Virgem com o Menino"; Santa Ana a ensinar a Virgem a ler", "Anunciação", "Sagrada Família" e "Passamento da Virgem". Nas ilhargas, quatro painéis pintado com os Evangelistas. A tribuna integra trono de três degraus com peanha expositiva. Os eixos laterais formam apainelados retilíneos de acantos, contendo mísulas com imaginária, tendo, na base, as portas retilíneas de acesso à tribuna, ornadas por acantos, dispostos simetricamente. Altar em forma de urna com decoração de acantos e concheados, encimado por sacrário embutido na estrutura, envolvido por acantos e dois anjos de vulto, que sustentam a pomba do Espírito Santo e uma coroa fechada; a porta é decorada por um "Agnus Dei".

Acessos

Aldeia Viçosa, Largo 25 de Abril. WGS84 (graus decimais): lat.: 40,578753; long.: -7,317647

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Portaria nº 148/2005, DR, 1ª série - B, de 7 fevereiro 2005

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado no centro da povoação, que se encontra situada entre o sopé da Serra da Estrela e o Vale do Mondego. Está num amplo largo, conformado por casas de habitação unifamiliares e rodeado por vias pública, formando, na zona central, um adro amplo, em ligeiro declive, adaptando-se ao desnível do terreno, e parcialmente vedado por muro baixo e de alvenaria rebocada a cimento; está pavimentado a cubos de granito com réguas em lajeado do mesmo material, formando apainelados retilíneos, e pontuado por várias árvores de médio porte. Junto às fachadas lateral e principal, surgem canteiros delimitados por sebes, com vários arbustos, entre os quais roseiras, o frontal formando um pequeno jardim com lago circular, ao centro, em cantaria de granito com bordo boleado e repuxo central. Adossado à torre sineira, surge um banco de cantaria e, junto à entrada do lado norte, no pavimento, aparece uma lápide com a seguinte inscrição: "AQUI JAZ / O NOSSO / AMIGO / O SENHOR / SIMAO / DAO(...) / (...) / MORREO 4 DE MARÇO (...) / 186(…)". As casas que rodeiam o largo são de habitação unifamiliar, uma ostentando a data de "1722" e elementos fitomórficos na verga da porta, surgindo uma segunda, com interesse patrimonial, na rua da Cerca, com a data "1858". Adossado ao muro do adro, no ângulo nordeste, surge uma fonte de espaldar, em cantaria de granito, rematada por coluna jónico-toscana e por pináculo galbado.

Descrição Complementar

No friso do PORTAL AXIAL, a data incisa "1768". Na PORTA TRAVESSA, as datas incisas "1768" e "1878". Na CAPELA DA CONCEIÇÃO, surge túmulo paralelepipédico com a seguinte inscrição: "AQUI JAZ ESTEVA DE MATOS E SUA MOLHER / ISABEL GILL O QUAL FOI CRIADO DOS RE / IS DO(m) MANOELL E DO (m) JOM TERCEIRO E FO / I SEU CHA(N)CERELL E PROMETOR DA IUST / IÇA NESTA COREIÇAO E GUARDA O Q(ua)LL FALECE / O NA ERA DE MIL 5 E SESENTA ANOS". Os RETÁBULOS LATERAIS são semelhantes, cada um deles de talha dourada e policroma, de marmoreados fingidos de castanho, cinza e azul, de corpo reto e um eixo definido por duas colunas coríntias, de fuste liso, assentes em consolas. Ao centro, nicho de perfil contracurvado, sobre banco ornado por cartela envolvida por acantos, o do Evangelho com painel fundeiro pintado com motivos florais sobre fundo azul claro e integrando três mísulas, tendo, no do lado oposto, painel pintado a representar as Almas do Purgatório, resgatadas por anjos. A estrutura remata em fragmentos de frontão, encimados por anjos de vulto, pintados a imitar cantaria, que enquadram espaldar recortado, rematado em cornija e com resplendor a envolver glória de querubins. Altar em forma de urna com ângulos ornados por "ferronerie" e cartela central de acantos e concheados. Os RETÁBULOS COLATERAIS são semelhantes, cada um deles de talha dourada e lacada de vermelho, de corpo reto e três eixos definidos por quatro colunas torsas ornadas por pâmpanos, assentes em consolas, que se prolongam em duas arquivoltas torsas, unidas no sentido do raio, tendo, no fecho, cartela com atributos dos oragos, o do Evangelho com uma grela e o do lado oposto com um rosário encimado por cruz. Ao centro, nicho pouco profundo de volta perfeita, com os fundos pintados a imitar brocados, com mísula contendo imaginária. Cada um dos eixos laterais possui apainelados de acantos dispostos simetricamente, contendo mísulas. Altar em forma de urna, com decoração semelhante aos dos retábulos laterais, encimado por painéis de querubins e acantos e, ao centro, sacrário embutido, envolvido por moldura de acantos e querubins, com porta decorada pela cruz envolvida por vide.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR: Escola de Viseu (1530-1540).

Cronologia

Idade Média - construção do templo; 11320, 23 maio - bula do Papa João XXII concedendo a D. Dinis, por três anos, para subsídio de guerra contra os mouros, a décima de todas as rendas eclesiásticas do reino, sendo a igreja de Santa Maria do Porco taxada em 60 libras; integra o termo de Celorico da Beira e bispado da Guarda; 1530-1540 - provável encomenda de pintura por Estêvão de Matos, promotor de justiça e correição da Guarda, criado e escudeiro de D. João III e vedor das obras da Guarda, talvez a Vasco Fernandes ou à sua escola (SERRÃO) *2; 1560 - falecimento de Estêvão de Matos, sepultado na igreja, em capela própria, atualmente dedicada a Nossa Senhora da Conceição; 1628 - compilado um manuscrito sobre os Usos e Costumes da Igreja de Aldeia do Porco, primitivo nome da povoação; séc. 18, inícios - feitura do retábulo-mor e da talha das ilhargas da capela, integrando as pinturas quinhentistas e pinturas dos Evangelistas do séc. 17; feitura dos retábulos colaterais e decoração do arco triunfal; provável pintura da cobertura da capela-mor; 1758, 11 maio - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco José de Almeida, é referida a igreja com o orago de Nossa Senhora e título de Santa Maria, tendo quatro altares, o mor, de Nossa Senhora, os colaterais de São Lourenço (Evangelho) e Nossa Senhora do Rosário (Epístola), surgindo, no corpo da igreja, o das Almas, com a imagem do Crucificado; tem três Irmandades, a das Almas, a de São Sebastião e a de São Pedro Mártir; o padre é prior colado, apresentado pelo rei e tem de renda 150$000; 1768 - data nos frisos do portal axial e lateral, revelando a sua feitura; provável feitura das janelas e respetivas modinaturas da nave; 1773 - mandada ornamentar pelo bispo da Guarda. D. Jerónimo Rogado, sendo feitas as capelas laterais; séc. 19, início - saqueada pelos franceses; 1883 - data no friso da porta travessa, revelando uma intervenção no imóvel; 1919 - compra de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição à paróquia de Vila Cortês do Mondego; 1939 - a povoação deixa de se designar Aldeia do Porco, passando a ser Aldeia Viçosa; 2000 - entra no IPPAR um processo de classificação, contestado pela Diocese da Guarda; 2001, março - o IPPAR confirma a Junta de Freguesia como legítima proprietária do edifício.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito, rebocada e pintada no interior; escadas, modinaturas, cruzes, plintos, pilastras, base do púlpito, sotobanco do retábulo-mor, pias de água benta e batismal e pavimentos em cantaria de granito; coberturas, guarda do púlpito, retábulos, confessionários, portas e estrados de madeira; retábulos de talha dourada e pintada; tirantes metálicos; janelas com vidro simples; coberturas exteriores em telha.

Bibliografia

«Ano em Revista» in Terras da Beira, 29 dezembro 2005; SERRÃO, Vítor - «Uma obra-prima em Aldeia Viçosa» in Público. Lisboa: 16-05-2000; SERRÃO, Vítor - «Le Tableau de Grão Vasco à Santa Maria de Porco» in Revue de l'Art. Paris: n.º 133, 2001-2003, pp. 57-70.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN/DREMCentro/DM

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMCentro/DM; Diocese da Guarda: Departamento do Património Cultural

Documentação Administrativa

DGLAB/TT: Memórias Paroquiais, vol. 29, n.º 221, fls. 1497 a 1504

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20, final - arranjo das coberturas; refechamento das juntas e pintura das mesmas; limpeza das cantarias.

Observações

*1 - no dia 26 de Dezembro, faz-se junto à igreja, a Festa da Velha, em que se atiram castanhas cruas da torre da igreja. *2 - esta atribuição foi muito contestada por Dalila Rodrigues, Pedro Dias e Adriano Vasco Fernandes, sendo atribuído por Pedro Dias, em 1978, a Gaspar Vaz.

Autor e Data

Paula Figueiredo 2018 (no âmbito da parceria DGPC / Diocese da Guarda)

Actualização

 
 
 
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