Convento dos Caetanos / Conservatório Nacional

IPA.00014263
Portugal, Lisboa, Lisboa, Misericórdia
 
Convento teatino construído no séc. 17 e transformado em escola de ensino artístico marcada por uma fachada ecléctica e classicizante do tipo "beaux-arts", identificada pelo desenho do embasamento, mansardas, frontão triangular com conjunto escultórico e balaustrada. A leitura global da fachada principal não se identifica na totalidade com esta tipologia, identificando-se nela duas fachadas distintas correspondentes a diferentes épocas de construção. Tem um salão de concertos com plateia, balcão e tribuna, dispondo de entrada independente para a rua, foyer e espaços de apoio. O salão é configurado por um único espaço contínuo, sendo a relação do palco com a zona do público de cena contraposta e apresenta uma planta em "U". Tem uma lotação de 287 lugares. Para além do seu valor arquitectónico e das memórias de carácter histórico que encerra, o edifício assume um valor cultural destacado pelas funções artísticas que as escolas do Conservatório Nacional têm desempenhado na formação nos diversos campos da música e da dança e, anteriormente, também do teatro e do cinema, contribuindo assim para a criação de um ambiente cultural que caracteriza esta zona do Bairro Alto desde o séc. 19. Destaca-se do conjunto a fachada N. que, seguindo a composição da fachada principal, apresenta uma escala mais monumental devido não só ao seu comprimento, como também à acentuada inclinação da Rua João Pereira da Rosa.
Número IPA Antigo: PT031106280715
 
Registo visualizado 2105 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Caetano - Caetanos ou Teatinos

Descrição

Edifício de planta quadrangular composta, de traçado oblíquo a N. e integrando no ângulo SE. um corpo de planta em "L". É vazado por pátio de planta rectangular e saguão de planta triangular e desenvolve-se em quatro pisos, com o térreo parcialmente ocupado - a aproveitar o desnível do terreno - e o último projectado em mansarda. A volumetria é horizontal e as coberturas, diferenciadas e escalonadas, são em telhados de duas e três águas. A O. levantam-se construções anexas de igual volumetria, onde se destaca um edifício paralelepipédico de composição idêntica à fachada posterior do edifício principal. A frontaria, onde se rasga o acesso principal (E.), a extensa fachada lateral N. e o edifício anexo a O. datam da reconstrução de 1911 e correspondem à área ocupada pelo antigo convento, onde se instala o Conservatório em 1837; a fachada contígua, para S., de cércea inferior e composição distinta, corresponde ao corpo em "L", levantado no séc. 19 para prover o Conservatório de uma sala de espectáculos. A composição das fachadas resultantes da remodelação do séc. 20 assentam num conjunto de elementos comuns como: embasamento de pedra; panos rebocados e rasgados por fenestração regular, de vãos alinhados e distribuídos a espaçamentos iguais - janelas de verga curva no piso térreo, de verga recta com moldura saliente no primeiro piso e de sacada no segundo piso, com guarda de ferro forjado; cornija saliente na linha inferior do pavimento em mansarda, sendo esta revestida a ardósia, rasgada por sacadas e coroada por lambrequim em ferro. A fachada principal recebe um tratamento mais elaborado, embora dentro destas linhas e elementos. É caracterizada pela definição de distintos panos com superfícies que avançam e recuam, sendo dado particular destaque ao pano central, integralmente de cantaria: porta principal de verga arqueada, ladeada por duas janelas de peito; no piso superior, vão tripartido com guarda em balaústres, encimado por entablamento e com frontão triangular com tímpano esculpido no alinhamento da vão central; para o remate da empena, um frontão triangular à dimensão de todo o pano e a ocultar a mansarda, interrompido na base para receber uma composição escultórica. Os panos dos extremos E. e N. e os que ladeiam o gaveto boleado, apresentam revestimento de cantaria até ao segundo piso e sacada com balaustrada de cantaria e vão encimado por frontão curvo com decoração escultórica no tímpano. O corpo S. da fachada principal corresponde à intervenção oitocentista e tem apenas dois pisos, possui maior simplicidade, com vãos de leitura semelhante à restante fachada e idêntica preocupação de simetria. A fachada posterior possui leitura distinta das restantes: de maior austeridade, é rebocada e pintada a tinta de cor amarela, sendo a fenestração efectuada por janelas de peito emolduradas a cantaria. INTERIOR - o edifício é constituído por diversas alas, organizadas em redor de pátio central quadrangular usado pela escola, com pavimento em calçada. Este determina a organização dos espaços de circulação, pavimentados a pedra de lioz polida e pintados a tinta de cor beje; e possibilita a sua iluminação natural. Possui um núcleo de escadas junto ao átrio principal com cobertor revestido a pedra de lioz amaciado, com guarda em ferro e outro junto à fachada N. de igual composição. As salas de aula encontram-se todas alinhadas junto aos alçados E., N. e O., são de reduzida dimensão (uma vez que o ensino da música exige aulas de treino individual) e, sempre que possível, encontram-se agrupadas pelo tipo de instrumento leccionado. Para além destes espaços, o edifício conta com outras instalações, tais como uma biblioteca, uma sala para a realização de audições e o chamado "teatrinho" situado no último piso. De especial destaque é a existência de um salão de concertos (designado também salão nobre), que ocupa a totalidade da ala S. do edifício, com plateia, balcão e tribuna, dotado de órgão e dispondo de entrada independente para a rua, foyer e espaços de apoio. A sala é configurada por um único espaço contínuo, sendo a relação do palco com a zona do público de cena contraposta e apresenta uma planta em U. Tem uma lotação de 287 lugares distribuídos por plateia (246)*1, balcão (33) com subdivisão para 2 camarotes com 2 lugares cada e tribuna (4). A plateia possui uma ligeira pendente, coxias longitudinais central e lateral e coxias transversais de boca e de fundo. As cadeiras são fixas de madeira, forradas a tecido verde-seco, na zona da tribuna e camarotes as cadeiras são soltas e forradas a tecido bordeaux. O pavimento é forrado a alcatifa de cor beije. As paredes são de alvenaria, rebocadas e pintadas a tinta de cor beje e possuem lambril de madeira com almofadas; as guardas do balcão são de estafe com reboco, com base e topo em madeira e com capeamento em tecido aveludado. Na sala ganha especial destaque a decoração da tribuna, em talha, e a pintura do tecto. O palco, com uma largura de 4,6 m e uma profundidade de 2 m, possui soalho de madeira, paredes de cor idêntica à da sala e é dotado de órgão. A iluminação é feita por dois lustres. De apoio ao salão, um átrio de entrada com comunicação directa para a rua feita através de dois guarda-ventos em madeira, um foyer térreo com bengaleiro e um foyer no 1º piso, todos com pavimento, lambril e pilares forrados a pedra de lioz polida. As instalações sanitárias são acessíveis através da escada que faz a comunicação entre os dois foyers. O acesso de carga ao palco faz-se através de uma sala contígua ao mesmo e é dificultada pela existência de escadas e pela reduzida largura da porta.

Acessos

Rua dos Caetanos, n.º 23 - 29

Protecção

Incluído na classificação do Bairro Alto (v. IPA.00005019)

Enquadramento

Urbano. Integrado na malha do Bairro Alto, no seu quadrante SO., ocupa um terreno de gaveto e de acentuada inclinação, rodeado por construções com a mesma cércea. A fachada de maior extensão, a N., volta-se à Rua João Pereira da Rosa que, juntamente com as travessas dos Inglesinhos e Queimada, constitui eixo fundamental de circulação transversal no Bairro. No tecido urbano envolvente destacam-se, a N., a Igreja de São Pedro e São Paulo (v. PT031106150422), e, a O., o Palácio Pombal (v. PT031106280172) e as antigas instalações do jornal "O Século" (v. PT031106280255).

Descrição Complementar

Pintura do tecto do salão de concertos executada por Eugénio Cotrim, com painel ao centro e medalhões pintados por Malhoa representando alguns dos directores do conservatório, entre eles Almeida Garrett e João Domingos Bomtempo. Painéis existentes no átrio de entrada para o salão de concertos representando Almeida Garrett e João Domingos Bomtempo. Peças de mobiliário pertencentes ao antigo convento existentes no átrio de entrada do edifício.

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Educativa: conservatório / escola superior de música

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: Guarino Guarini (séc. 17); Raul Tojal (séc. 20); Valentim José Correia. DESENHADOR: Carlos Monsão (séc. 20). PINTOR: Eugénio Cotrim.

Cronologia

1650 - o hospício dos Caetanos é fundado pelo Padre António Ardizone, e delineado por um padre Teatino, Guarino Guarini, de Modena, arquitecto do Duque de Saboia Carlos Manuel; 1681 - o hospício é transformado em convento por licença concedida por D. Pedro II; 1698 - foi edificada a igreja; 1755, 01 novembro - a igreja fica completamente arruinada com o terramoto, tendo sido reconstruída; 1757 - dá-se início à reparação dos estragos feitos no convento pelo terramoto; 1758, 26 abril - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo pároco das Mercês, Joaquim Ribeiro de Carvalho, é referido que existe a casa de Nossa Senhora da Divina Providência, dos Teatinos, se encontra algo arruinada; tem várias relíquias; 1834 - a Ordem Religiosa dos Teatinos é extinta pelo decreto de Joaquim António de Aguiar, que ordena a extinção das ordens monásticas e dos estabelecimentos de ensino ligados a estruturas religiosas; 1835 - João Domingos Bomtempo (Lisboa. 1771-1842) funda o primeiro Conservatório de Música; 1836 - Almeida Garrett é nomeado por D. Maria II para elaborar um plano para fundação e reorganização do Teatro Nacional. É no âmbito desta nomeação que Garrett elabora um plano que vem a reformular todo o ensino artístico. Surge assim o Conservatório Geral de Arte Dramática, constituído por 3 escolas: a Escola de Declamação, a Escola de Dança e a Escola de Música. Por decreto de D. Maria II, o estabelecimento passa a designar-se Conservatório Real de Lisboa; 1837, 12 janeiro - por iniciativa de Almeida Garrett, o edifício do convento é destinado a sede do Conservatório Real de Música e Teatro; 1838 - o Conservatório inicia a sua actividade lectiva apenas com a Escola de Música; 1839 - são iniciadas as aulas da Escola de Dança e da Escola de Declamação; 1848 - o Conde de Farrobo (Inspector Geral dos Teatros) manda estudar a edificação de uma sala de concertos e teatro no terreno contíguo ao convento; 1856 - reedificação da igreja, sendo as obras executadas sob a direcção do arq. Valentim José Correia; 1873-1874 - dá-se início à construção do salão de concertos sob a direcção do arq. Valentim José Correia, autor do projecto, contando-se com a colaboração de Eugénio Cotrim para a ornamentação do tecto e com a de José Malhoa para a pintura figurativa, igualmente destinada ao tecto da sala; 1892, 28 agosto - inauguração do salão de concertos; 1911 - início das obras de reconstrução do antigo edifício que transformaram radicalmente tanto o interior como o exterior, sob orientação do Eng. Vieira da Cunha, com projecto realizado pelo desenhador Carlos Monsão; 1912 - demolição da igreja (o que havia de representativo do antigo convento desaparece); 1919 - a instituição desdobra-se em dois organismos autónomos, o Conservatório Nacional de Música e o Conservatório Nacional de Teatro; 1930 - as duas escolas fundem-se e passa a existir uma secção de Dança; 1942 - obras de remodelação e modernização do edifício, projectadas pelo arq. Raul Tojal e que resultaram na conservação da sala de concertos, na modificação do átrio do salão de concertos e na substituição da escadaria principal, entre outras obras; 1947 - É incluída a planta do Convento na Exposição 15 Anos de Obras Públicas; 1955 - adaptação do topo Norte do edifício a serviços escolares, projecto do arq. Raul Tojal; 1971 - projectos de reforma que se traduziram na integração de mais uma Escola, a de Cinema, e de outra de Educação pela Arte; 1983 - divisão do Conservatório em Escola de Música do Conservatório Nacional e Escola de Dança do Conservatório Nacional; as escolas de Cinema e de Teatro deixam as instalações do convento; 2002, dezembro - elaboração da Carta de Risco do imóvel pela DGEMN; 2005, 23 julho - Despacho de encerramento do processo de classificação; 2006 - projecto de recuperação do Salão Nobre; 2014, 03 dezembro - publicação da recomendação da Assembleia da República ao Governo, para que promova as medidas necessárias para a requalificação do Salão Nobre, em Resolução da Assembleia da República n.º 101/2014, DR, 2.ª série, n.º 234.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Alvenaria mista, betão armado, cantaria de calcário, ferro forjado, madeira, reboco pintado, cortiça, tapeçarias, estafe, talha, alcatifa, tecidos diversos

Bibliografia

CALADO, Maria e FERREIRA, Vitor Matias, Lisboa: freguesia de Santa Catarina - Bairro Alto, Lisboa, 1992; CARITA, Helder, Bairro Alto. Tipologias e Modos Arquitectónicos, Lisboa, 1990; CASTILHO, Júlio, Lisboa Antiga - Bairro Alto, Lisboa, 1956, vol. III; Conservatório Nacional, Conservatório Nacional: 150 anos de ensino de teatro, Lisboa, 1988; COSTA, Jorge Alexandre Cardoso, A reforma do ensino da música no contexto das reformas liberais: do Conservatório de Arte Dramática de 1836 ao Conservatório Real de Lisboa de 1841, Braga, 2000; CRUZ, Ivo, Um projecto de reforma do Conservatório Nacional, Lisboa, 1971; MATOS, Alfredo, PORTUGAL, Fernando, Lisboa em 1758. Memórias Paroquiais de Lisboa, Lisboa, Câmara Municipal de Lisboa, 1974; MEEK, Harold Alan, Guarino Guarini, Milão, 1991; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1952, Lisboa, 1953; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério nos Anos de 1959, 1º Volume, Lisboa, 1960; RIBEIRO, António Lopes, Achegas para a história do Conservatório Nacional, Porto, 1972; SANTANA, Francisco, Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; www.em-conservatorio-nacional.rcts.pt, 13, Dezembro, 2002; 15 Anos de Obras Públicas (1931-1947), Lisboa, M.O.P, 2º volume Livro de Ouro.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco, DGEMN/DRELisboa/ DRC, DGEMN/DRELisboa/DEM, DGEMN/DSPI/CAM; Ministério da Educação: DREL

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco; CML: Arquivo Fotográfico

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, Carta de Risco, DGEMN/DRELisboa

Intervenção Realizada

DGEMN: 1923 - restauro das pinturas do Salão Nobre; 1925 - construção das mansardas; 1928 - instalação do órgão no salão de concertos, arranjo do palco, alargamento das portas laterais do palco; 1935 - modificação dos camarins de serviço ao salão de concertos: colocação de lavabos e de uma sala de estar; 1949 - instalação de um palco provisório na sala de teatro; 1959 - obras de interiores e exteriores pelos Serviços de Construção e Conservação; 1961 - obras de conservação do interior e do exterior: pintura de paredes e tectos, reparação de telhados e reparação do reboco das fachadas; 1963 - reparação da pintura do salão de concertos.

Observações

*1 - o nº conta o total de cadeiras existentes na sala, estando esta completa. Foram retiradas da plateia duas filas de cadeiras na zona central.

Autor e Data

Cláudia Morgado 2002

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login