Igreja Paroquial de Santo Isidoro / Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Linhares

IPA.00001435
Portugal, Guarda, Celorico da Beira, Linhares
 
Arquitetura religiosa, medieval, seiscentista e barroca. Igreja paroquial de construção medieval adaptada a misericórdia no séc. 16 e reformada no 17. Apresenta planta retangular composta por nave e capela-mor, mais estreita, interiormente pouco iluminada e com cobertura em madeira. A fachada principal termina em empena e é rasgada por portal em arco de volta perfeita e janela e as laterais são rasgadas por fresta na capela-mor e por porta travessa na lateral esquerda, em arco apontado sobre impostas, com uma arquivolta ornada de motivos vegetalistas; a fachada posterior é cega e termina em empena. No interior possui coro-alto de madeira, sobre colunas seiscentistas, integrando pias de água benta, púlpito no lado da Epístola, arco triunfal de volta perfeita sobre pilastras, ladeado por dois retábulos colaterais de talha em barroco nacional, de planta reta e um eixo, e retábulo-mor também nacional, de planta côncava e três eixos.
Número IPA Antigo: PT020903080026
 
Registo visualizado 477 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta retangular composta de nave única e capela-mor, mais estreita e da mesma altura, tendo adossado à fachada lateral esquerda sacristia retangular e corpo do campanário, criando pequeno pátio descoberto com escada de acesso ao mesmo. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na igreja e de uma na sacristia, rematadas em beirada simples. Fachadas em alvenaria de pedra aparente, as da igreja e do corpo do campanário terminadas em cornija. Fachada principal virada a a O., terminada em empena coroada por cruz latina, trevada, sobre acrotério, e rasgada por portal em arco de volta perfeita, de duas arquivoltas, tendo a chave da interior data inscrita; encima-a janela de verga abatida, gradeada e com moldura terminada em cornija. As fachadas laterais são rasgadas na capela-mor por fresta de capialço, gradeada, abrindo-se ainda na lateral esquerda da nave porta travessa de verga reta, integrada em arco apontado, de uma arquivolta, assente em impostas, possuindo o tímpano decorado com motivos geométricos; a imposta exterior esquerda encontra-se parcialmente oculta pelo corpo da sacristia. Esta é rasgada a N. por duas portas de verga reta e a E. por janela retangular jacente, gradeada; no corpo do campanário abre-se uma outra porta, moldurada e com porta gradeada, a partir da qual se desenvolvem as escadas de dois lanços. Fachada posterior da capela-mor cega e terminada em empena, e o corpo do campanário, definido por pilastras toscanas, em cornija reta, sobre o qual tem dupla sineira, com arco de volta perfeita, sobre pilares, albergando sinos, terminado em empena com cornija truncada, coroada por dois pináculos laterais e cruz latina central, de braços biselados; sobre os vãos possui folhagem relevada. INTERIOR com as paredes em alvenaria de pedra aparente, pavimento parcialmente rebaixado em lajes de cantaria e cobertura de masseira, em madeira. Coro-alto de madeira assente em duas mísulas e duas colunas, integrando no terço inferior pias de água benta cilíndricas, de bordo marcado, sendo acedido por escada de cantaria de dois lanços e guarda em falsos balaústres torneados, disposta no lado do Evangelho. Porta travessa com três degraus para vencer o desnível, ladeada por pia de água benta. No lado da Epístola dispõe-se púlpito de bacia retangular sobre mísula, com guarda plena em talha de marmoreados fingidos a rosa e azul, com as faces decoradas por elementos fitomórficos dourados e, na central, cartela vermelha; é acedido por escada de madeira com guarda em balaústres planos recortados. Arco triunfal de volta perfeita almofadado, sobre pilastras toscanas, ladeado por dois retábulos colaterais, dispostos de ângulo, o do lado do Evangelho dedicado ao Senhor dos Passos e o da Epístola ao Senhor da Cana Verde. Capela-mor com as paredes seccionadas em dois registos, tendo no inferior cadeiral de madeira, com bancos corridos divididos em dois, com o espaldar ornado por almofadas quadrangulares côncavas sobrepostas, encimado por três painéis pintados com motivos vegetalistas. No segundo registo surge apainelado de madeira, pintado de bege, integrando quatro painéis pintados, com representações Marianas e dois Santos, separados por friso vertical de acantos dourados. Cobertura em falsa abóbada de berço, de madeira, formando caixotões, com painéis pintados de azul celeste e molduras a vermelho, com frisos de acantos e florões nos encontros a dourado. Sobre supedâneo de cantaria, dispõe-se o retábulo-mor, em talha pintada a vermelho, azul e dourado, de planta côncava e três eixos, definidos por quatro pilastras decoradas de acantos, as exteriores sobrepostas por anjos e as interiores por querubins, e quatro colunas torsas, ornadas de pâmpanos e aves, assentes em dupla ordens de plintos e de mísulas, respetivamente, e com capitéis coríntios, que se prolongam pelo ático em igual número de arquivoltas, unidas no sentido do raio, o qual integra ainda apainelado de acantos enrolados com querubins; ao centro, abre-se tribuna, em arco de volta perfeita, interiormente com o fundo pintado de vermelho e com cobertura em cúpula, decorada com apainelados de acantos, albergando trono expositivo, de degraus facetados com acantos; a boca apresenta estreito drapeado a abrir em boca de cena; nos eixos laterais surgem nichos de perfil curvo, com fundo de apainelados de acantos e albergando imaginária; banco de apainelados de acantos e querubins, integrando ao centro sacrário tipo templete, rematado em cornija encimado por anjos de vulto, com lambrequim e drapeados a abrir em boca de cena, porta decorada por cruz e elementos vegetalistas, ladeado por anjos. Banco com portas de acesso à tribuna e altar paralelepipédico, com frontal pintado de cinzento decorado por elementos vegetalistas e geométricos.

Acessos

Largo da Misericórdia

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado à entrada da povoação, inserido em largo, pavimentado a paralelos e com lajes formando esquadria, a partir do qual se desenvolve a Rua da Procissão, de acesso à zona mais alta. Encostado ao corpo do campanário e da fachada posterior existe banco corrido de pedra. No mesmo largo ergue-se o edifício do antigo Hospital da Misericórdia (v. PT020903080027), uma casa com janelas manuelina e o Solar dos Cortes Reais (v. PT020903080012). Nas imediações do largo, para O. desenvolve-se a Estrada dos Almocreves (v. PT020903080028).

Descrição Complementar

Na fachada principal, a aduela de fecho do portal axial tem inscrita a data de "1622" e, junto à janela, do lado direito, existe integrada no aparelho pequeno silhar com friso decorativo de motivos enrolados. O pavimento da igreja integra duas lápides inscritas, uma delas com a seguinte inscrição "ESTA CE / PVLTVR / A MANDO / V FAZER / ANTÓNIO DA C / VNHA / .... ELE / E SEVS ERD / EIROS 1610". A outra lápide tem a inscrição muito delida, mas identifica-se o nome "VAZ". Retábulos laterais em talha pintada de vermelho e dourado, de planta reta e corpo côncavo, e de um eixo, definido por duas colunas torsas exteriores, decoradas com pâmpanos e aves, assentes em mísulas e de capitéis coríntios, e duas colunas interiores, ornadas de motivos vegetalistas, sobreposta por mísula com imaginária, assente em plintos paralelepipédicos, que se prolongam pelo ático em igual número de arquivoltas, de igual perfil, unidas no sentido do raio, e tendo no fecho escudo e cartela com palma, cruz e espada; ao centro possui nicho de perfil contracurvo, envolvido por painel e moldura em marmoreados fingidos, encimada por elementos vegetalistas e querubins, interiormente albergando imaginária. Altar paralelepipédico, com frontal pintado com motivos vegetalistas. Os painéis laterais da capela-mor, pintados sobre madeira de carvalho, representam, no lado do Evangelho, Repouso durante a Fuga para o Egito, Apresentação da Virgem no Templo, Morte da Virgem e São Fabião; no lado da Epistola Adoração dos Pastores, Visitação, Nossa Senhora da Misericórdia e São Roque.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 13 / 14 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR: Vasco Fernandes (atr., séc. 16).

Cronologia

Séc. 13 / 14 - construção da igreja paroquial de Santo Isidoro, pertencente ao bispado de Coimbra; 1320, 23 maio - bula do Papa João XXII concedendo a D. Dinis, por três anos, para subsídio de guerra contra os mouros, a décima de todas as rendas eclesiásticas do reino, sendo a Igreja de Santo Isidoro taxada em 55 libras; integra o termo de Seia e o bispado de coimbra; 1574 - a igreja pertence ao padroado real e integra a Diocese de Coimbra; 1575 - extinção da paróquia medieval de Santo Isidoro conforme indicado pelo pároco nas Memórias Paroquiais, unindo-se à igreja de Santa Maria, que estão era vigairaria; 1576 - fundação da Misericórdia de Linhares, pelos nobres e pessoas de merecimento da vila, dando-lhe a renda do terço dos cavaleiros e escudeiros, correspondendo a 12$000, e instala-se na Igreja de Santo Isidoro, conforme referido nas Memórias Paroquiais; 1577 - a Misericórdia recebia de renda 123 alqueires de centeio, 89 3/4 de trigo e 8,5 almudes de vinho; séc. 16 - feitura do primitivo retábulo que integrava os painéis pintados colocados nas paredes laterais da capela-mor, atribuídos por vários autores a Vasco Fernandes; 1610 - data inscrita numa das sepulturas integradas no pavimento da nave; 1622 - data inscrita na aduela de fecho da arquivolta do portal axial, indicando remodelação da igreja; séc. 17 - provável execução dos retábulos; 1756 - a Misericórdia tinha de rendimento anual 40$000; 1758, 20 julho - segundo o pároco nas Memórias Paroquiais da freguesia, a igreja tinha três retábulos, o retábulo-mor, o do Evangelho dedicado a São Pedro e o da Epístola a Santo Isidoro, e o rendimento anual de cerca de 40$000; o pároco tinha a obrigação de dizer missa semanal na igreja; 1897, cerca - a misericórdia tinha o rendimento de 174$000 e de capital mutuado 2:797$00; 1936, dezembro - a igreja carecia de grandes reparações, mas os seus rendimentos eram quase nulos e a verba fornecida pelo Estado era gasta com os pobres; 1958 - a bandeira real da Misericórdia esteve patente na Exposição Comemorativa do Nascimento da Rainha Dona Leonor.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra aparente; cornijas, molduras dos vãos, cruzes, bacia do púlpito, pia de água benta e pavimento interior em cantaria de granito; portas de madeira; vidros simples e martelados policromos; grades de ferro; teto de madeira envernizada ou entalhados; guardo do púlpito, retábulos colaterais e retábulo-mor em talha policroma e dourada; pinturas sobre madeira e tela; cobertura de telha.

Bibliografia

ABRANTES, Leonel, Linhares Antiga e Nobre Vila da Beira, Folgosinho, edição do autor, 1995; ALVES, Alexandre, Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu, Viseu, 2001, p. 320; BIGOTTE, José Quelhas, O Culto de Nossa Senhora na Diocese da Guarda, Lisboa, 1948; CASTRO, José Osório da Gama e Castro, Diocese e Districto da Guarda, Porto, 1902; FRANCO, José, Linhares, Terra Beiroa, Esboço Monográfico, Lisboa, 1944; GOODOLPHIM, Costa, As Misericórdias, Lisboa, 1897; MOREIRA, Maria da Conceição, Linhares, Aspectos Históricos, Lisboa, 1980; NEVES, Vítor M. L. Pereira, Três Jóias Esquecidas, Marialva, Linhares e Castelo Mendo, Castelo Branco, 1993; OLIVEIRA, Manuel Ramos de, Celorico da Beira e o seu Concelho, Celorico da Beira, 1939; RODRIGUES, Adriano Vasco, Celorico da Beira e Linhares, Celorico da Beira, 1979; SERRÃO, Joaquim Veríssimo - Livro das Igrejas e Capelas do Padroado dos Reis de Portugal - 1574. Paris: Fundação Calouste Gulbenkian Centro Cultural Português, 1971; TOJAL, Alexandre Arménio, PINTO, Paulo Campos, Bandeiras das Misericórdias, Lisboa, 2002.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, SIPA

Documentação Administrativa

IAN/TT: Dicionário Geográfico de Portugal, vol. 20, nº 90, pp. 673-686

Intervenção Realizada

Proprietário: 1980, década - obras de restauro da igreja e dos retábulos, que foram repintados; 1991 - obras de conservação, com substituição das coberturas, refundamento das juntas da cantaria e douramento dos retábulos.

Observações

*1 - A Misericórdia teve como benfeitores Nuno Fernandes, o Padre António Mimoso, Mano Dias, Maria Canária, o Padre Gil Cardoso Araújo, Leonor Sequeira, António Rodrigues Neto, Francisco o Amaral, Páscoa Rodrigues, José da Cunha Pacheco, Belchior Rodrigues da costa e Inês Pacheco.

Autor e Data

Margarida Conceição 1997 / Paula Noé 2012

Actualização

 
 
 
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