Castelo de Albufeira / Castelo e cerca urbana de Albufeira

IPA.00015571
Portugal, Faro, Albufeira, Albufeira e Olhos de Água
 
Castelo islâmico almorávida, de planta poligonal, originalmente com nove torres, uma das quais albarrã, e quatro portas, dotado de alcáçova rectangular e cisterna. Torre quadrangular de protecção de uma das portas da cidade, construída com grandes silhares bem aparelhados, com ténica de socalco na base. A Porta Norte, designada da "Porta da Praia", compunha-se de uma entrada em cotovelo, protegida por duas torres, uma das quais mais avançada, sistema característico de algumas construções análogas de Silves do período almorávida (GOMES, 2001). A Torre Norte constitui o único vestígio coerentemente conservado da cronologia islâmica do castelo, sendo, por isso, um dos mais importantes testemunhos do passado medieval da cidade. Castelo integrado na rede de castelos islâmicos do Algarve central, a meio caminho entre Faro e Silves, as duas mais importantes cidades de época islâmica. Castelo de frente marítima, como os de Cacela (v. PT050816010002), Alvor (v. PT050811010010) e Porches (v. PT050806040001). A Torre do Relógio é, ainda hoje, o mais imponente monumento da cidade, verdadeiro ex-libris que chegou a funcionar como edifício-memória da autarquia, sendo mesmo o que possui maior impacto urbanístico em todo o núcleo antigo.
Número IPA Antigo: PT050801010013
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo e cerca urbana    

Descrição

Castelo de planta poligonal, originalmente defendida por nove torres *2, com alcáçova rectangular adossada à porta O., formando uma linha paralela à linha de costa. TORRE NORTE ou TORRE DA PRAIA: planta quadrangular regular. Massa simples disposta verticalmente, não restando vestígios da cobertura. Restos da torre definindo uma planta quadrangular, subsistindo grande parte das secções S. e O., parcialmente ocultadas por heras e outros arbustos. Secção E. desapareceu quase por completo, inflectindo os vestígios para o interior da torre, que se conserva ao nível da cota média do terreno. Secção N. parcialmente conservada ao nível dos cunhais O., mas destruída na sua quase totalidade para E., conservando-se apenas ao nível da cota do terreno. Aparelho: cunhais e fundações realizados à base de blocos de cantaria, bem aparelhados e dispostos horizontalmente em aparelho plenamente isódomo; grosso da torre com pedras miúdas, em aparelho pseudo-isódomo, unidas com argamassa. PORTA DE SANTA ANA: resta o topónimo, assinalado por um painel de azulejos alusivo *3. PORTA DA PRAÇA e TORRE DO RELÓGIO: anexa à muralha, junto à antiga porta de armas da cidade; torre quadrangular, parcialmente integrada no Hospital da Misericórdia (v. PT050801010002); eleva-se a uma altura de quatro andares, em tantos outros registos; dois registos inferiores não visíveis, integrados em edifícios de construção posterior; o terceiro registo, alçado O. compõe-se de uma janela em arco de volta perfeita, com moldura policromada; último registo aberto nas quatro faces por janelas de arco de volta perfeita semelhantes às do terceiro piso, com impostas bem marcadas; na face O., imediatamente antes da janela, figura um relógio circular; torre termina em empena triangular, sobre a qual se ergue uma estrutura de ferro que suporta o sino e eleva ainda mais em altura o conjunto. Alcáçova, de planta rectangular (GOMES, 2001), de que não se conserva qualquer vestígio, ocuparia o espaço imediatamente a E. da Torre do Relógio. A Cisterna, integrada no Museu Municipal de Arqueologia (v. PT050801010015), possui planta rectangular simples, com abóbada de berço, com paredes bem construídas por cantaria bem aparelhada.

Acessos

Rua Joaquim Pedro Samora (torre N.), Rua Bernardino de Sousa (Porta da Praça e Torre do Relógio)

Protecção

Incluído na Zona de Proteção da Igreja, Hospital e antiga Hospedaria da Misericórdia (v. PT050801010002).

Enquadramento

Urbano, planalto, adossado. Restos da torre N. localizados em pleno centro histórico da cidade, numa zona onde o planalto em que se implantou o núcleo medieval começa a descer para cotas mais baixas, encontrando-se hoje adossados a edifícios mais recentes: um muro bastante elevado a S. e uma habitação de três pisos, a O.. Restos integrados numa secção da malha urbana caracterizada por edifícios maioritariamente a dois registos, mas onde a dinâmica construtiva faz-se já sentir, como o edifício adossado a O. (Casa do Tradutor), composto por um terceiro piso directamente assente sobre as paredes da torre, implantação verdadeiramente desaconselhável à solidez destes vestígios da antiga muralha. Localiza-se ligeiramente para NE. do complexo de edifícios góticos da Igreja da Misericórdia (v. PT050801010002) e no mesmo espaço urbano que os Antigos Paços Municipais (v. PT050801010015) e a Bateria (v. PT050801010014) implantados dentro do perímetro amuralhado *1.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: castelo e cerca urbana

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 09 / 11 / 13

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 10 a.C. - Primeira ocupação da cidade por fenícios *4; Séc. 01 - identificação de cetárias perto da actual cidade de Albufeira. A cidade é conhecida como Baltum; 716 - conquista árabe de Albufeira, passando a cidade a designar-se como Al-Buhera; séc. 09 - provável datação da Alcáçova ( GOMES, 2001) ; Séc. 11 - Provável (re)construção de troços da muralha, em particular a Porta Norte ( GOMES, 2001); 1189, 03 setembro - conquista da cidade por D. Sancho I; 1189, Dezembro - D. Sancho I doa a cidade ao Mosteiro de Santa Santa Cruz de Coimbra ( V. 0603170004 ); 1190, Maio - Reconquista do Castelo pelos muçulmanos, chefiados por Iacub al Mansur; 1249 - conquista definitiva da cidade por D. Afonso III e pelos cavaleiros da Ordem de Santiago; 1250, 1 de Março - D. Afonso III doa Albufeira à Ordem de Avis; 1257, 8 de Maio - Afonso X de Castela confirma a doação da cidade à Ordem de Avis; 1271 - nova confirmação de D. Afonso III da doação do Castelo à Ordem de Avis; 1305 - Doação de D. Dinis do Castelo à Ordem de Avis; 1319 - Carta de quitação de D. Dinis a D. Gil Martins, mestre de Avis, "das dívidas suas e de seus antecessores em atenção às despesas que fez em arranjar os castelos da Ordem de Avis, entre os quais o de Albufeira" (AMADO, 1995 ) ; 1363 - Restauro do Castelo e das muralhas pela Ordem de Avis; 1479, 13 de Agosto - D. Afonso V concede perdão a Luís Vaz, morador de Albufeira, por este ter fugido do Castelo; 1483, 5 de Dezembro - D. Lopo da Cunha é nomeado alcaide-mor do Castelo; 1504, 20 de Agosto - D. Manuel concede novo foral à cidade; 1534 - A Comenda de Albufeira pertence a D. João de Meneses e rende anualmente 500$000 réis; 1548 - Incursão muçulmana no Algarve, levando alguns captivos; duas galés saem então de Albufeira ao seu encontro não conseguindo, todavia, alcançá-los; 1550 - Albufeira tem então 320 moradores; 1572 - Diogo de Azevedo recebe o cargo de alcaide-mor da vila; 1573, 30 de Abril - Visita de D. Sebastião para acompanhar as obras de adaptação do Castelo à artilharia; 1577 - Fr. João de São José caracteriza a vila como "bem cercada"; 1607 - Henrique Fernandes Sarrão diz-nos que a cidade "é cercada de muro fortíssimo, no qual tem três portas uma para o norte, outra para o levante, e outra para o poente. Está torreada de nove torres, e tem seu castelo com duas torres muito fortes, e dentro uma cisterna de água; e assi fica a vila inexpugnável" ( GUERREIRO e MAGALHÃES, 1983 ). Aqui viviam então c. de 500 pessoas; 1640, após - restauro da fortaleza e construção de outros fortes complementares, Forte de São João (v. PT050814020004) e Forte da Baleeira; 1719, 6 de Março - O terramoto danifica muitos edifícios; 1722, 27 de Dezembro - grande terramoto tendo sido Albufeira uma das povoações mais fustigadas do Algarve; 1755, 1 de Novembro - estragos provocados pelo terramoto salientando-se a invasão da zona baixa pelo mar, a ruína da maior parte dos edifícios e a destruição da Capela de Santa Ana, anexa à Porta de Santa Ana do Castelo; 1805 - O Príncipe regente D. João assina um alvará declarando que o Forte de Quarteira (v. PT050808050008), o Forte de Valongo, a Bateria de São João, a Bateria de Albufeira (PT050801010014), a Bateria da Baleeira e o Forte de Santo António de Pera (v. PT050813030010) passam a depender da praça de Albufeira; 1813 - Data de uma gravura inglesa de Albufeira, vista de E., de autoria de J. Hill, revelando ainda alguns troços do Castelo, como torres e a Porta de Santa Ana; Séc. 19, primeira metade - coroamento de ferro da Torre do Relógio que suporta o sino; 1833 - Batalha em Albufeira durante as lutas liberais; 1841 - João Baptista da Silva Lopes refere restos da fortaleza; 1846, 6 de Maio - Câmara delibera que o ordenado da pessoa encarregue da manutenção da torre do relógio seja de 10$000 réis anuais; 1858, 30 de Agosto - Projecto de reconstrução de parte do Castelo, da responsabilidade de José Frederico Amado Júdice, com plantas e alçados; Séc. 20, anos 60 - construção do Hotel Sol e Mar, no local da antiga Porta do Ocidente; 1963 - Data de descoberta de uma placa apotropaica no local da construção do Hotel Sol e Mar, datada do séc.10, e que fazia parte da torre SO. do Castelo; 1993 - Projecto camarário de embelezamento dos marcos históricos relacionados com o castelo; 2000 - primeira escavação arqueológica no edifício dos antigos Paços do Concelho (v. PT050801010015).

Dados Técnicos

Paredes autoportantes

Materiais

Pedra aparelhada e miúda; argamassa

Bibliografia

AMADO, Adelaide, Cronologia do concelho de Albufeira, Albufeira, Câmara Municipal de Albufeira, 1995; AMADO, Adelaide, Roteiros histórico-monumentais da cidade de Albufeira, Albufeira, Câmara Municipal de Albufeira, 1998; AZEVEDO, J. M. Semedo, "Albufeira medieval", Bracara Augusta, vols. XIV-XV, Braga, Câmara Municipal de Braga, 1963, pp.41-44; GOMES, Mário Varela, "Castelo de Albufeira: novos contributos para o seu conhecimento" in Mil anos de fortificações na Península Ibérica e no Magreb (500-1500): Actas do Simpósio Internacional sobre castelos, coord. Isabel Cristina Ferreira Fernandes, Lisboa, Câmara Municipal de Palmela / Edições Colibri, 2001, pp.337-346; GUERREIRO, Manuel Viegas e MAGALHÃES, Joaquim Romero, "Duas descrições do Algarve do século XVI", Cadernos da Revista de História Económica e Social, nº3, Lisboa, Sá da Costa, 1983; LOPES, João Baptista da Silva, Corografia ou Memória económica, estatística e topográfica do reino do Algarve, Lisboa, Real Academia das Ciências de Lisboa, 1841, reed. 2 vols., Faro, Algarve em Foco, 1993; NOBRE, Idalina Nunes, Breve história de Albufeira, 2ªed., Albufeira, Câmara Municipal de Albufeira, 2000; PICARD, Christophe, Le Portugal musulman (VIIIe - XIIIe siècle). L'Occident d'al-Andalus sous domination islamique, Paris, Maisonneuve & Larose, 2000.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMA

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMA

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

CMA: 1993 - Embelezamento das estruturas conservadas do antigo castelo: ajardinamento da torre N.; colocação de painéis de azulejos junto aos principais vestígios.

Observações

*1 - O Castelo implantava-se numa península rochosa bastante elevada em relação ao nível médio das águas do mar, com acesso por terra apenas a partir de O., onde a cota dos terrenos também descia consideravelmente. Até ao assoreamento da ria de Albufeira, as secções E. e N. eram protegidas por um curso de água, que entrava pelo território a partir do mar, a S. No último século, o extraordinário desenvolvimento urbanístico da cidade, determinou a destruição de grande parte das muralhas, perdendo-se a memória das secções a E. e a O. e a maioria dos testemunhos a N., atenuando-se igualmente a diferenciação em altura da construção dentro do castelo e da que se localizava já fora das muralhas; *2 - De acordo com os estudos de Mário Varela Gomes, o perímetro amuralhado ocupava uma área de 13.000 m2 c., abarcando uma população de 1200 pessoas, para o séc. 13; *3 - Porta de Santa Ana assim designada por dar acesso à Capela de Santa Ana, destruída aquando do Terramoto de 1755; *4 - é esta a opinião "mais coerente" para Adelaide Amado ainda que nenhum vestígio arqueológico possa ser reclamado que garanta esta cronologia. "A construção do seu castelo deve remontar à épocas castreja, mas muitos autores consideram-no árabe" (AMADO, 1998).

Autor e Data

Paulo Fernandes 2002

Actualização

 
 
 
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