Convento e Igreja de Santiago de Palmela / Pousada de Santiago

IPA.00002157
Portugal, Setúbal, Palmela, Palmela
 
Arquitectura religiosa, gótica, manuelina. Igreja conventual, integrada no convento da Ordem Militar de Santiago, com 3 naves escalonadas; grande despojamento decorativo (ausência de capitéis e de decoração supérflua) característico do gótico do séc. 15. As naves laterais estreitas e elevadas sustêm a abóbada central, permitindo a ausência de contrafortes exteriores. Igreja gótica, mantendo a estrutura primitiva. O interior do templo, que foi totalmente coberto de pinturas de brutescos no séc. 18, conserva ainda algumas, nomeadamente no sub-coro e na nave lateral esquerda, num programa decorativo típico do barroco. Azulejos polícromos de padrão seiscentista decoram as enjuntas dos arcos da capela-mor e azulejos setecentistas, do chamado período dos mestres, na nave e no arco que sustenta o coro alto. Salienta-se o arcossólio onde está colocado o ossário de D. Jorge de Lencastre de decoração manuelina, embutido no pano murário da nave lateral esquerda. Capela-mor com arcos decorados com embutidos de expressão maneirista. A nível epigráfico destaca-se o tipo de letra utilizado na inscrição nª 6: uma combinação de capitais quadradas e góticas minúsculas caligráficas. Destaque para o alto nível de execução plástica dos brasões de armas esculpidos nas tampas sepulcrais onde foram gravadas as inscrições nºs. 1 e 3. Curiosa é a semelhança entre a inscrição nº 4 e a inscrição nº 12 existente na Igreja de São Domingos, em Elvas (PT041207010003), por ter a mesma composição e idêntico formato do campo epigráfico, que imita uma almofada com quatro borlas nos cantos.
Número IPA Antigo: PT031508020001
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino (casa-mãe)  Ordem Militar de Santiago da Espada - Espatários

Descrição

Planta longitudinal, composta pelos rectângulos justapostos da nave e cabeceira, este de menores proporções; a S., a todo o comprimento da igreja dependências várias adossadas à muralha; volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhado de 2 e 1 águas, sobre a nave, cabeceira e sacristia, em terraço sobre restantes dependências. Fachada principal de um pano, rasgado por portal inscrito em alfiz, com 3 arquivoltas e colunelos sem capitel, encimado por óculo com igual molduração, remate em empena triangular coroada por merlões; fachada lateral N. rasgada por 5 frestas em arco quebrado sem moldura e por porta em arco quebrado, na nave, por 3 janelões rectangulares, alternando com 2 contrafortes escalonados, um deles encostado obliquamente, na cabeceira; nave e cabeceira coroadas por fiada ininterrupta de merlões poligonais; torre sineira prismática no ângulo NO. da nave. INTERIOR: 3 naves desiguais separadas por arcos quebrados, com 5 tramos cada com cobertura em abóbadas de berço ligeiramente quebrado, com as enjuntas decoradas com azulejos azuis e brancos, setecentistas; pilares cruciformes com colunelos adossados sem capitéis; no pavimento seis tampas de sepultura epigrafadas; coro-alto eleva-se sobre arco em asa de cesto com guarda assente em merlões, apresenta tribuna sobre a porta lateral; abóbadas de cruzaria de ogivas no subcoro, rebaixada e com nervuras sob a tribuna, com arcos descarregando sobre mísulas e decoradas com brutescos de composição vegetalista e cartelas figurativas com legendas. Na parede N. a arca ossário de D. Jorge de Lencastre, prismática em brecha da Arrábida, dentro de arcossólio em arco cairelado com pequenas rosetas emoldurado por toro de troncos podados torsos sobre bases facetadas e com capitéis vegetalistas onde assenta arco conopial rematado por capitel; no pano de fundo o escudo de armas de D. Jorge de Lencastre; Arco triunfal quebrado, sem capitéis, dá acesso à capela-mor com abóbada artesoada descarregando em mísulas, apresentando nas enjuntas dos arcos azulejos polícromos de padrão seiscentista; pavimento cerâmico, preto e branco, de figuração geométrica. Porta de comunicação entre a capela-mor e a sacristia com pilastras e verga de embrechados; rasgamento e decoração idênticos da edícula na parede oposta, tendo no fecho do arco uma voluta. Sacristia de planta quadrada, com lavabo em brecha da Arrábida, seguida por capela com abóbada rebaixada em cruzaria de ogivas; o longo corredor que conduz à saída mostra abóbada de quarto de canhão, com um último tramo em cruzaria de ogivas.

Acessos

Castelo de Palmela

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG n.º 136 de 23 junho 1910 (Igreja) / ZEP / Zona "non aedificandi", Portaria n.º 62/2010, DR, 2.ª série, n.º 12 de 19 janeiro 2010

Enquadramento

Urbano, cimo do monte, adossada. Dentro das muralhas do castelo de Palmela, encostando a ilharga S. à muralha e a cabeceira ao edifício dos Paços dos Priores, com a fachada principal antecedida por átrio, com acesso por arco rasgado no muro que liga a igreja ao convento e a fachada lateral deitando para o terreiro do castelo (v. PT031508020002).

Descrição Complementar

INSCRIÇÔES: 1. (AICP nº. VI) Inscrição funerária gravada numa tampa de sepultura em campo epigráfico relevado emoldurado por uma cartela encimada por brasão de armas (184,3x112); Descrição Heráldica: escudo redondo com uma estrela de oito raios, encerrada numa caderna de crescentes (Carvalho); ornatos exteriores: correias do escudo e elmo com virol e paquife; sobre as duas cadernas superiores, debaixo de um peixe, inscrita a palavra ROMBVS(=ROMBO); moldura dupla; apresenta várias fracturas; calcário; Dimensões:201x132; Campo Epigráfico:25x90; Tipo de Letra: capital quadrada; Leitura: SEPULTURA DE ÁLVARO DE CARVALHO CAVALEIRO DA ORDEM DE SANTIAGO E DE MÉCIA ROMBA SUA MULHER E DE SEUS HERDEIROS FALECEU ELE A 21 DE FEVEREIRO DE 1564 E ELA A 10 DE DEZEMBRO DA MESMA ERA. 2. (AICP nº. VI) Inscrição (que conclui o texto da inscrição nº. 1) indicativa do encomendador, da conclusão de uma obra e da porta de entrada para o carneiro, gravada numa laje ladeada por outras duas colocadas no enfiamento da tampa sepulcral superior; sem moldura nem decoração; apresenta erosões e um orifício no centro; calcário; Dimensões: 50,4x80,5; Tipo de Letra: capital quadrada; Leitura: A QUAL MANDOU FAZER FRANCISCO ROMBO DE CARVALHO SEU FILHO A QUAL SE ACABOU A 2 DE NOVEMBRO DE 1589 ANOS. PORTA. 3. (AICP nº. VIII) Inscrição funerária gravada no topo superior e na base de uma tampa de sepultura; entre os dois campos epigráficos um brasão de armas (129,6x85) relevado em campo escavado emoldurado por filete; Descrição Heráldica: escudo posto à valona, esquartelado no I e IV: um cardo florido de duas peças, uma sobre a outra, e sustido por dois leões afrontados (Cardoso); no II e III: leão armado e lampassado e carregado de três faxas xadrezadas; bordadura carregada de seis coelhos (Coelho); ornatos exteriores: correias do escudo e elmo com virol e paquife; timbre: uma cabeça de leão segurando um cardo na boca; o canto superior esquerdo encontra-se restaurado com uma outra qualidade de pedra que omitiu a abreviatura da palavra "sepultura"; calcário; Dimensões:281x137; Tipo de Letra: capital quadrada; Leitura: [SEPULTURA] DE FRANCISCO COELHO CARDOSO E DE BEATRIZ GOMES SUA MULHER E DE TODOS SEUS DESCENDENTES QUE DENTRE AMBOS NASCEREM O QUAL SERVIU AS ORDENS DE SANTIAGO E DE AVIS EM TEMPO DO MESTRE DOM JORGE E DOS REIS DOM JOÃO O 3º DOM SEBASTIÃO E DOM HENRIQUE DE SECRETÁRIO NOS CAPITULOS GERAIS QUE EM SEUS TEMPOS FIZERAM ESTES PRÍNCIPES E ASSIM DE VISITADOR DAS ORDENS. 4. (AICP nº. IX) Inscrição funerária gravada no terço inferior de uma tampa de sepultura em campo epigráfico relevado, imitando uma almofada com borlas nos cantos, e encimado por um brasão de armas (142x92,5); Descrição Heráldica: escudo de ponta partido no I: dobre-cruz acompanhada de seis besantes (Melo); no II: nove lisonjas apontadas e firmadas nos bordos, postas 3, 3 e 3, cada lisonja carregada de um leão; ornatos exteriores: correias do escudo e elmo com paquife; timbre: um leão do escudo; apresenta várias fracturas, tendo o canto inferior esquerdo sido reconstituído com outra qualidade de pedra; moldura tripla (); calcário; Dimensões: 219x109; Campo Epigráfico: 52,5x82,5; Leitura: ESTA SEPULTURA É DE JOÃO DE BRITO DE MELO E DE SUA MULHER DONA ISABEL DE BARROS COELHA E DE SEUS FILHOS E DESCENDENTES. 5. (AICP nº. VII) Inscrição funerária gravada no terço inferior de uma tampa de sepultura em campo epigráfico relevado, e encimado por um brasão de armas (136x84); Descrição Heráldica: escudo de ponta sobre cartela com cinco lobos passantes dispostos em aspa (Lobo), sobre uma cartela de onde pendem as correias do escudo; apresenta erosões; calcário; Dimensões:196x98,5; Tipo de Letra: capital quadrada; Leitura: SEPULTURA DE MANUEL LOBO TEIXEIRA E DE SUA MULHER DONA JOSÉ RIBEIRA. 6. (AICP nº. II) Inscrição funerária gravada ao redor de uma tampa de sepultura; ao centro esculpido um brasão de armas (71x38); Descrição Heráldica: escudo de ponta com três mosquetas e chefe partido com um castelo e com quatro palas (Góios ou Góis); calcário; Dimensões: 202,5x103; Tipo de Letra: capital quadrada e gótica minúscula; Leitura: AQUI JAZ PEDRO LOPES DE GÓIS FIDALGO DA CASA DO SENHOR MESTRE DE SANTIAGO DUQUE DE COIMBRA FILHO D'EL REI DOM JOÃO FOI CAVALEIRO DA ORDEM DE SANTIAGO E SE FINOU A 5 DE SETEMBRO DE 51.

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Comercial e turística: pousada

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Câmara Municipal de Palmela

Época Construção

Séc. 14 / 16 / 17

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTORES: Estevão de Sousa e Sequeira Freire (brutescos).

Cronologia

1443 - 1460 / 1470 - construção determinada pela transferência da sede da Ordem de Santiago de Alcácer do Sal para Palmela, durante os mestrados dos infantes D. João e D. Fernando; séc. 16, 1ª metade - coro-alto, tribuna lateral, capela-mor, coroamento de merlões e sineira; construção dos anexos a S., que vieram entaipar as janelas rasgadas nesse alçado; 22 de Jul. 1550 - morre D. Jorge de Lencastre, filho bastardo de D. João II e de D. Ana de Mendonça, sendo o seu corpo depositado numa sepultura aberta no pavimento da capela-mor e não numa capela funerária localizada no lado do Evangelho da capela-mor conforme seu último desejo; 5 de Set. 1551 - morte de Pedro Lopes de Góis, fidalgo da casa de D. Jorge de Lencastre e cavaleiro da Ordem de Santiago (inscrição nº. 6); 21 de Set. e 10 de Dez. 1564 - data das mortes de Álvaro de Carvalho, cavaleiro da Ordem de Santiago e de sua mulher Mécia Romba sepultados na nave central (inscrição nº. 1); 2 de Nov. 1589 - data da execução da tampa sepulcral de Álvaro de Carvalho e sua mulher, a mando de seu filho Francisco Rombo de Carvalho (inscrição nº. 2); séc. 17 - rasgamento de novas janelas na cabeceira; modificações na capela-mor e execução da arca ossário para guardar os restos mortais de D. Jorge de Lancastre colocada no arcossólio pré-existente na nave lateral do lado do Evangelho segundo B. Pereira (Silva, 1988); 1698 / 1700 - data do retábulo da capela-mor, actualmente desaparecido; 1712 - pintura dos brutescos pelos pintores Estevão de Sousa e Sequeira Freire; séc. 18 - data provável dos arcos com embutidos existentes na capela-mor. séc. 19 - foi executada a arca ossário que contem os ossos de D. Jorge de Lencastre e colocada no arcossólio pré-existente na nave lateral do lado do Evangelho. (SILVA, 1988); 1932 - pedido da comissão de iniciativa de Setúbal para proceder a obras de restauro na Igreja de Santiago; 1933 - o Conselho Superior de Belas Artes não concorda com o restauro da igreja, devendo fazer-se obras de consolidação e conservação; 1934 - levantamento da planta da igreja pelo preço de 140$00; 1985, 14 dezembro - portaria n.º 944/85, DR, 1.ª série, n.º 288, fixa a Zona Especial de Proteção e Zona "non aedificandi" do Castelo de Palmela, da Igreja de Santiago e do Pelourinho de Palmela; 2005, 18 outubro - proposta de alteração Zona Especial de Proteção da Câmara Municipal de Palmela; 2006, 28 junho - parecer favorável do Conselho Consultivo do IPPAR relativo à alteração da Zona Especial de Proteção; 2007, 26 fevereiro - despacho de homologação da Ministra da Cultura relativo à alteração da Zona Especial de Proteção; 2010, 19 janeiro - portaria fixa nova Zona Especial de Proteção e Zona "non aedificandi", revogando o diploma anterior.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Alvenaria de pedra e tijolo, cantaria, telha cerâmica, azulejo, madeira, vidro.

Bibliografia

A Ordem de Santiago - História e Arte, Palmela, 1990; CORREIA, Virgílio, A arte - o séc. XV, in História de Portugal, vol. IV, Porto, 1932; CHICÓ, Mário Tavares, História da Arte em Portugal, vol. II, Porto, 1948; SILVA, José Custódio Vieira da, A igreja de Santiago de Espada de Palmela, in História de Palmela ou Palmela na História, Palmela, 1988; SOUSA, J. M. Cordeiro de, "As inscrições do Castelo de Palmela" sep. da Revista de Arqueologia, Vol. III, Lisboa, pp. 3-14.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

1932 / 1939 - demolição de capela do lado N.; 1946 - concerto do sino; 1957 - reparação da torre sineira, construção de um cabeçote para colocação do sino; 1977 - substituição e beneficiação das coberturas; beneficiação do algeroz; substituição do pavimento do adro do lado N.; caiações exteriores limpeza e caiação do tecto da dependência à entrada da sacristia; 1989: colocação de guarda vento quando da exposição "O Castelo e a Ordem de Santiago na História de Palmela" e de uma porta de vidro no corredor lateral de acesso à sacristia.

Observações

*1 - DOF: compreendendo o túmulo de D. Jorge de Lencastre. *2 - A C.M. de Palmela e a Enatur projectam a utilização da igreja para a realização de actos culturais e a instalação de um restaurante panorâmico (1998).

Autor e Data

Isabel Mendonça 1992 / Cecília Matias e Filipa Avellar 2004

Actualização

 
 
 
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