Casa do Morgado de Fontão Seco / Casa do Fontão / Casa do Brasão

IPA.00022539
Portugal, Viseu, Tabuaço, Tabuaço
 
Casa nobre maneirista, barroca e oitocentista, de planta rectangular irregular, composta pelo corpo principal, central e corpos anexos, adossados lateralmente, um deles constituindo o antigo lagar. O corpo principal é maneirista, de planta rectangular, evoluindo em dois pisos, marcados por friso na fachada principal simétrica, delimitada por pilastras da ordem colossal romana e cornija saliente, com pórtico principal, definido por pilastras e remate em frontão interrompido com volutas e centrado por pedra de armas, ladeado por janelas e portas com molduras simples e janelas de sacada no piso nobre. O interior é oitocentista, com escadaria central com arcadas de madeira, a que se acede por átrio amplo, iluminada por clarabóia colorida, e que acede às várias dependências, as viradas a S. intercomunicantes, correspondentes ao primitivo núcleo barroco, e com coberturas em tectos octogonais em madeira, com decoração barroca.
Número IPA Antigo: PT011819140170
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre    

Descrição

Casa nobre composta pelo corpo principal, rectangular, central, corpo anexo quadrangular, adossado a NO., e edifício do lagar rectangular, adossado a E., com disposição horizontalista das massas, coincidência entre exterior e interior e coberturas de uma água no anexo e cinco no corpo principal com clarabóia central. O corpo principal evolui em dois pisos, divididos por friso, com fachadas rebocadas e pintadas de branco, circunscritas por cunhais apilastrados da ordem colossal romana e remates em friso e cornija na principal. Esta encontra-se voltada a S., de composição simétrica, com eixo central definido, no piso térreo, por pórtico principal rectilíneo de moldura saliente, delimitado por pilastras e encimado por entablamento com cornija saliente onde assenta um frontão interrompido centrado por pedra de armas com brasão esquartelado, sobrepujado por elmo cerrado, virol e cruz entre asas como timbre, com paquife desenvolvido em ornatos volutados e concheados; no segundo piso, define o eixo central uma janela rectangular moldurada, cuja verga se confunde com o friso do remate. De cada lado do piso inferior, rasgam-se porta e janela de molduras rectilíneas de cantaria saliente, que, no caso das janelas, se prolongam ligeiramente formando brincos. Correspondentes aos vãos do piso inferior, quatro janelas de sacada de formas rectilíneas, com consolas graníticas, ao nível do friso divisório dos dois registos, com guardas de ferro, apoiadas em mísulas recortadas. O corpo da direita, ligeiramente recuado, é rasgado por porta de verga recta no piso térreo e por quatro janelões que compõem um alpendre envidraçado. Fachada O. composta pelo corpo do anexo, rasgado, no piso superior, ao qual se acede por escadaria, por porta de verga recta, e quatro janelões que compõem o alpendre envidraçado, rasgando-se, à sua esquerda, duas janelas jacentes, e, em plano recuado e mais à esquerda, outros dois vãos, uma janela e uma porta. O volume é rematado por cornija saliente de alvenaria rebocada. À fachada E. adossa-se o corpo do lagar e este a várias casas de habitação. A fachada posterior é rasgada, no corpo principal, por duas janelas jacentes e duas portas de verga recta, no piso térreo, correspondendo-lhes, no superior, quatro janelas rectilíneas e folha dupla, sendo o corpo rematado por cornija de alvenaria saliente. No extremo esquerdo, no corpo que se encontra adossado, rasga-se um vão de portada de moldura simples de acesso ao lagar. No extremo direito, fazendo ligação com o corpo anexo, rasga-se, em plano recuado e ao nível do piso superior, porta de moldura simples, acedendo-se-lhe através de escadaria de cantaria com oito degraus. O corpo anexo, na sua face E. é rasgado por duas portas de verga recta com acesso por dois degraus, a que correspondem, no superior, duas janelas. As fachadas N. e O. encontram-se adossadas a edifícios habitacionais. INTERIOR do corpo principal composto por largo átrio, rebocado e pintado de branco, com azulejo monócromo azul, formando silhar, com pavimento lajeado e tecto de madeira corrida *2, com apainelados pintados de brancos com molduras azuis e florão central, assente sobre cornija do mesmo material. Dois pórticos de madeira laterais permitem o acesso a duas suites. Um pórtico rasgado no pano do fundo, ao qual se acede por dois degraus semi-circulares, encontra-se delimitado por moldura de cantaria saliente, impostas salientes e arco de volta perfeita com pedra do fecho proeminente, composto por porta de duas folhas e bandeira com vidros coloridos dispostos em losangos. Através deste acede-se a pequena antecâmara onde se rasgam dois vãos de arco ligeiramente abatido semelhantes ao anterior, em madeira, compondo o da direita uma porta de duas folhas e bandeira com dois pinázios, de acesso a divisão de arrumos, acedendo o da esquerda à escadaria que liga ao andar nobre, esta guardada por varanda composta por arcadas de madeira e balaustradas do mesmo material, pintadas a imitar marmoreados. Revestimento a azulejo industrial padrão formando silhar nesta divisão e nos corredores envolventes. Diversos vãos rasgam-se nos panos desse espaço central, que é iluminado por clarabóia quadrangular com vidros coloridos *3. Neste piso, surgem várias divisões, destacando-se três salões: o primeiro, central e localizado na ala voltada a S., correspondendo ao salão nobre, é composto por tecto octogonal, de forma quase piramidal, com panos delimitados por molduras pintadas de branco e rosa, com florões e mísulas lavrados com motivos fitomórficos policromados, destacando-se o medalhão central pela profusão de lavores. No interior da janela central, duas conversadeiras laterais, actualmente cobertas por madeira. Pórticos que se rasgam no centro das paredes laterais permitem o acesso a outros dois salões: a sala do brasão, correspondente à biblioteca, localiza-se a E., com tecto de forma octogonal, idêntico ao anterior, pintado de branco e verde, sendo o florão central substituído por medalhão octogonal onde se vislumbra um brasão semelhante ao da fachada principal; o salão que se localiza mais a O., a sala de jogos, ostenta o mesmo tipo de tecto e decoração, variando na cor (branca e creme), e nos motivos, que se encontram mais simplificados. Uma porta acede à marquise, que, por seu turno, liga às instalações sanitárias, localizadas no corpo adossado. A partir da escada central, à direita fica uma dependência, a casa de jantar, ligada à cozinha, surgindo, no lado esquerdo vários quartos; com acesso apenas pela fachada posterior, duas salas destinadas à adega, no primeiro piso. No ANEXO, com acesso pelo exterior e pela sala de jantar, uma suite. Este tem, no piso inferior, vários quartos. LAGAR rectangular, rebocado e pintado de branco e vermelho com pavimento em soalho e cobertura em vigamento de madeira, sendo visíveis os tanques rectangulares, em granito.

Acessos

Em Tabuaço, na Avenida Macedo Pinto

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, a meia-encosta, parcialmente adossado a edifícios de habitação dos sécs. 18 e 19, nas fachadas NO. e E.. Flanqueado a SO. por edifício de habitação e comércio incaracterístico, integrado no perímetro da propriedade. Implantado no centro de quarteirão *1, com logradouro e jardim definido pelos muros que delimitam a antiga quinta, definidos pelas R. Conde de Ferreira e Macedo Pinto, e beco na fachada posterior, de acesso ao Lg. 5 de Outubro, onde se situa a Igreja Matriz de Tabuaço (v. PT011819140020), a NE, bem como a casa Macedo Pinto e dependências agrícolas (v. PT011819140018), a E., encontrando-se por perto o Palacete do Fundo de Vila (v. PT011819140021), a SE.. Com acesso por caminho calcetado central, formando ligeiro declive. Uma escada adossada à fachada lateral esquerda acede à fachada posterior do imóvel. Adossada ao muro, uma fonte de espaldar, decorado com painel de azulejo azul e branco, envolvido por cercadura polícroma, com remate em cornija curva; tanque rectangular.

Descrição Complementar

Brasão esquartelado, possuindo, na aparência, as armas dos Pereira, no 1.º quartel, dos Mota, com banda carregada de três flores-de-lis, no 2.º, dos Cardoso, no 3.º, e dos Gouveia, no 4.º, sobrepujado por elmo cerrado, com paquife e virol, e como timbre uma cruz entre duas asas dos Pereira. Um grande móvel em madeira de castanho, localizado no salão O., datável do séc. 19 e composto por corpo dois registos e três eixos, delimitados por pilastras rematadas por capitéis lavrados com motivos vegetalistas, e duas portadas com vidraça e pinázios formando cruzamento de losangos.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Comercial e turística: casa de turismo de habitação

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 (conjectural) / 18 / 19 / 20 / 21

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 17 - instituição em Alvelos do morgadio de Fontão Seco, representado por António Cardoso da Mota, falecido a 12 de Janeiro de 1669; 1688 - o filho, André Ferreira da Mota Pereira de Gouveia (Leão), une-se em matrimónio, em Fontão de Alvelos, com D. Clara Maria de Albuquerque, natural da vila de Távora, e irmã do Padre Miguel Rebelo de Albuquerque, e dela teve os seguintes filhos: Cajetana, baptizada em Novembro de 1688, sendo padrinho o tio padre; André, em Dezembro de 1691, sendo padrinho João Cardoso de Meneses, de São Cosmado; Miguel, baptizado na igreja da Várzea, em Julho de 1697; séc. 17, último quartel - provável época de edificação do solar, talvez sobre estruturas mais antigas; 1725, 4 Setembro - através de escritura assinada pelo tabelião João Baptista, de Lamego, é feita a renovação de prazo de diversas propriedades a favor de André Ferreira da Mota Pereira de Gouveia, morgado de Fontão Seco, em Alvelos, lugar onde se situavam as terras, cuja quinta era foreira aos capelães da Sé; o antigo foro de 700 réis e 2 galinhas ficou acrescido de 100 réis; residia em Tabuaço e era casado com D. Isabel Maria Pereira de Távora; 1726, 25 Abril - falecimento de D. Clara Maria, já viúva; 1727, 29 Julho - provisão do Bispo D. Nuno, passada em Lamego a favor de um irmão de André Ferreira da Mota, devido ao morgadio *4; 1744, Dezembro - num baptizado presidido pelo reitor de Sendim, André Ferreira da Mota e D. Isabel Maria foram padrinhos de Isabel Maria Eufrásia, filha de António Soares de Távora e de D. Maria Eufrásia, neta paterna de Manuel da Costa Soares e de Isabel Soares de Távora, de Tabuaço; 1758 - nas Memórias Paroquiais de Távora aparece a referência a "André Ferreira da Motta de Tabuaço", que administra a ermida de Santo António em "Cazal Tello"; 1759 - nas demarcações do vinho do Porto aparece a referência a André Ferreira da Mota como capitão-mor de Tabuaço e detentor de diversas vinhas de vinho de feitoria; 1790 - data do nascimento de D. António de Amorim da Gama Lobo, senhor da Casa do Fontão e senhor da Casa da rua Escura, nascido neste ano e casado, em data desconhecida, com Maria do Carmo de Portugal e Menezes, nascida em 1792, de que houve descendência; séc. 19, finais - obras de remodelação no interior, com a construção de nova escada interna e corredores de acesso às várias dependências, bem como da clarabóia que ilumina o interior; 1881 - Pedro Ferreira, na obra Portugal Antigo e Moderno, refere ter existido em Tabuaço o oratório dos herdeiros de António da Motta, provavelmente um dos membros da família que deteve o morgadio do Fontão Seco nos sécs. 17 e 18; refere, ainda, que o edifício, anteriormente da casa do Fontão, se encontra na posse do marechal de Campo Pedro Maria Pinto Rebelo Guedes de Carvalho, nascido em Tabuaço em 1801 e falecido em Lisboa em 23.9.1882 *5; séc. 20, 1.º terço - o edifício encontra-se na propriedade de Luís de Freitas, que foi presidente da Câmara Municipal de Tabuaço; 1996 a 2002 - obras de restauro e remodelação, com vista à utilização com unidade de turismo de habitação.

Dados Técnicos

Estrutura autónoma e paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura em granito; coberturas exteriores em telha cerâmica; vigas de aço; azulejo industrial; janelas com vidro simples ou vidro fosco; ferro forjado; ferro fundido; bronze; madeira de castanho; madeira de carvalho; madeira de pinho; madeira pintada; talha dourada e policromada.

Bibliografia

LEAL, Augusto Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho, Tabuaço, in Portugal Antigo e Moderno - Diccionario, vol. IX, Lisboa, 1881; BOTELHO, Abel Acácio de Almeida, Obras de Abel Botelho, 2 vol., Porto, 1979; COSTA, M. Gonçalves da, História do Bispado e Cidade de Lamego, vol. 5 e 6, Lamego, 1986 e 1992; CORREIA, Alberto, Tabuaço - Roteiro turístico, Tabuaço, 1997; GENEA PORTUGAL, www.genealogia.sapo.pt, 30 Novembro 2002; ALMEIDA, Gustavo de, Casa do Brasão - Tabuaço, histórias da Casa do Morgado do Fontão Seco, in Notícia da Beira - Douro, ano XXIII, n.º 348, Porto, 10 Setembro 2003, pp. 10 - 11.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMTabuaço

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMT

Documentação Administrativa

CMT; DGA/TT: Diccionario Geographico, vol. 36, n.º 27, págs. 149-154, Sé de Lamego, 268, f. 45 v

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1996 / 1997 / 1998 / 1999 / 2000 / 2001 / 2002 - obras de restauro e remodelação, com vista à utilização como unidade de turismo de habitação, com redimensionamento dos interiores, novas coberturas, pavimentos, restauro da decoração dos tectos e da escada central.

Observações

*1 - Abel Botelho, em "O Cerro", um dos contos do livro "Mulheres da Beira", refere o edifício: "mais acima ainda, ao longe, a fita anegrada e estreita do casario de Tabuaço, com duas largas manchas brancas terminais - a capela do cemitério e a casa do marechal" (BOTELHO, vol. II, p. 435); *2 - os panos laterais eram cobertos por pintura em tromp l'oeil a imitar marmoreados rosados, tendo sido rebocados durante as recentes obras; *3 - anteriormente existia uma clarabóia de grandes dimensões e de forma octogonal, inserida na campanha de obras levada a cabo em meados do séc. 19; *4 - da qual consta que: "Por nos constar indigencia em que se acha o Senhor Miguel Carlos de Vasconcelos, por falta de meyos que a casa de seo irmão, o Senhor André Ferreira da Mota, tem para lhe assistir, tendo-nos interessado na amiguavel composissão e transacção que entre si querem fazer, e desejando paternalmente vellos compostos e ao dito Miguel Carlos suficientemente assistido para sua honesta sustentasão, lhe damos, a tittolo de esmola, como pede a nossa pastoral obriguaçam, sessenta mil Reis anno como ordinaria, pagos as mesadas de sinco mil Reis cada mes, que comessará a vencer do presente mes, de Julho, e nosso Thezoureiro Geral lhe fará bom e pontual pagamento da dita ordinária"; o bispo termina ordenando que fosse lançado no livro dos pagamentos aos "ministros" da mitra para todo o tempo constar "desta ordinária que lhe damos tam justa elo afecto que temos a seo irmão como bem merecida pella indigencia do mesmo Miguel Carlos (Sé de Lamego, 268, f. 45 v - 46, feito por Bernardo Leite de Lima, secretário do prelado); trata-se de um traslado pois o original foi entregue ao interessado que apôs a sua assinatura a par da do escrivão da câmara eclesiástica, José Luís do Desterro; existem recibos mensais assinados pelo pensionista até Janeiro de 1731 (idem, f. 49 - 49 v); prevalecia a intenção beneficente a favor de filhos segundos da nobreza, despojados da herança paterna a favor do primogénito senhor da casa (COSTA, pp. 437-438); *5 - era Senhor do Morgado e Capela de Santo André em Tabuaço, Senhor da Azinheira em Alvações do Corgo, Marechal de Campo, Cavaleiro da Torre e Espada, Comendador da Ordem de São Bento de Avis e condecorado com a medalha das Campanhas da Liberdade; casou, em 27.7.1836, com Maria do Carmo de Azevedo Coutinho da Gama Lobo, nascida em 3.2.1817 e falecida em 16.12.1841 (LEAL, p. 469).

Autor e Data

Gustavo Almeida 2002

Actualização

 
 
 
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