Centro Social de São Boaventura

IPA.00022917
Portugal, Lisboa, Lisboa, Misericórdia
 
Arquitectura residencial, pombalina e revivalista. Palacete urbano pombalino de planta em "U" desenvolvido à volta de logradouro central, com fachadas de dois pisos, separados por friso, terminadas em cornija, e mansarda, com cunhais apilastrados e vãos rectilíneos de moldura com pequeno recorte superior. No primeiro piso rasgam-se portas de verga recta e janelas de peitoril e no segundo janela de sacada com guarda de ferro. Interior com vestíbulo central rectangular, a partir do qual partem corredores laterais de distribuição e, frontalmente, escadas de acesso ao andar nobre. Neste, as várias salas apresentam decoração revivalista, com tectos de estuque ou de madeira, pintados em vários estilos.
Número IPA Antigo: PT031106281066
 
Registo visualizado 2696 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  Tipo planta em U

Descrição

Planta em "U", estruturada em torno de pátio murado, de massa disposta na horizontal, de volumes articulados e cobertura diferenciada em telhados de quatro águas no corpo central, três águas na ala N. e terraço na ala oposta. Fachadas rebocadas e pintadas a amarelo, de dois pisos separados por friso de cantaria, terminadas em cornija de cantararia, moldurada, encimada por um terceiro piso de mansardas, formado por corpo rectangular e águas-furtadas, terminadas em cornija sobrepujada por beiral, com cunhais apilastrados, embasamento de cantaria e moldura dos vãos com ligeiro recorte na zona superior das jambas e verga. Fachada principal voltada a E., com o cunhal direito coroado por urna, marcada pela abertura de vãos de verga recta, a ritmo regular, rasgando-se no piso térreo duas portas com bandeira e seis janelas de peitoril, cada uma das portas a interligar as janelas duas a duas, as quatro da esquerda com grade em ferro de colunelos seccionados por três frisos; no segundo piso abrem-se oito janelas de sacada, integrando bandeira, com guardas em ferro forjado; no terceiro piso, recuado, apresenta cinco corpos avançados, separados por platibanda plena, rasgando-se no da esquerda três janelas de peitoril, e nas águas-furtadas uma única. Fachada lateral direita voltada a N., idêntica à anterior mas apenas com uma porta e três janelas no piso térreo, gradeadas, e um janelo quadrado junto ao portal, sobrepujadas no segundo piso por quatro janelas de sacada; o terceiro piso tem duas águas-furtadas e o corpo rectangular rasgado por três janelas de peitoril. Fachada posterior voltada a O., com dois panos, o da esquerda mais elevado, com três pisos, o térreo rasgado por amplo portal abatido, de moldura convexa e chave relevada, o segundo por duas janelas de peitoril e o terceiro, rasgado por duas janelas de sacada; o pano da direita, tem um só piso, terminado em cornija a diferentes níveis, encimada por platibanda plena de alvenaria coroada por cornija de cantaria; é rasgado, nas extermidades, por duas portas, uma de verga recta e outra em arco de volta perfeita, e três vãos centrais entaipados, duas janelas, uma delas formando falso nicho, e uma porta. INTERIOR de 5 pisos, um dos quais intermédio, entre o 1.º e o 2.º, na zona central do edifício, aproveitando a elevação do pé-direito do 1.º piso. O 1.º e 2.º pisos têm planta idêntica, em "U", atravessados por um corredor que os percorre no sentido S. / N., enquanto o 3.º piso e sótão são mais pequenos que os anteriores, sem a ala S., ou seja, de planta em "L". Pavimentos em cerâmica no vestíbulo, cozinhas, instalações sanitárias e corredores e soalho nas restantes dependências. Piso térreo com vestíbulo de planta rectangular e tecto de estuque decorado com florão, ao centro; à esquerda, corredor de acesso ao ginásio, balneários, lavandaria, elevador, escadas de acesso a piso intermédio e escadas de serviço que ligam os 5 pisos; à direita, gabinetes de trabalho e atelier de carpintaria, este com uma porta de acesso ao pátio; em frente, escadaria nobre do edifício, de acesso ao segundo piso, antecedida de porta em arco de volta perfeita, com moldura em madeira escura, decorada, com duas folhas, em vidro pintado com jarrões, elementos vegetalistas, possuindo bandeira com brasão. Escadaria nobre, em madeira, com 2 lances de escadas e patamar intermédio, guarda em ferro trabalhado, com elementos vegetalistas, e corrimão em madeira com embutidos de madre-pérola. No topo da escadaria rasga-se vão em arco de volta perfeita sobre pilastras, com moldura em madeira escura e intradorso pintado, em tons de castanho e dourado, com elementos vegetalistas e 2 anjos a tocar violino, que abre para corredor do segundo piso. O piso intermédio, ao centro do edifício, a O. do corredor que atravessa o piso térreo, do qual se encontra separado por pequena escada, de um lance, é ocupado pela cozinha que abre para o pátio. No segundo piso, localizam-se o bar, copa e refeitório, a S., o primeiro com o tecto decorado *1; a N., uma pequena sala-de estar e salão nobre, ambos com tectos decorados; o salão nobre, de planta rectangular, é dividido em três zonas distintas, as duas primeiras separadas por amplo vão rectangular, as duas últimas por três arcos, em madeira pintada de branco e decorados com pequenas bolas vermelhas, os laterais de volta perfeita, e o central, maior, abatido. Instalações sanitárias, a E. Entre o bar e o salão nobre, ligando-os, varandim voltado para a escadaria principal. Paralela à escadaria principal, e ao lado do bar, escada de serviço, em madeira, de acesso ao terceiro piso. Neste, localiza-se a Ludoteca a S., gabinetes de trabalho e "quarto da Menina" a N., ambos com os tectos decorados *2. O sótão amplo, serve de arrumos. Pátio interno limitado por muro a O. e fachadas do edifício a N., E. e S., as duas primeiras com três pisos e a última com um. A fachada N. tem o 1.º piso rasgado por uma porta, antecedida de escada, e por uma janela de peitorial, os 2.º e 3.º pisos por três janelas, respectivamente de sacada e peitoril. A fachada E. tem o 1.º piso rasgado por duas portas, antecedidas de escada, e uma janela, ao centro, e o 2.º e 3.º pisos, rasgados por quatro janelas, respectivamente, três de sacada e uma de peitoril e quatro de peitoril, respectivamente. Na fachada S., abrem-se duas janelas de peitoril ladeando um nicho com moldura em arco de volta perfeita. Muro O., rasgado por uma porta e dois nichos que albergam fontes decoradas com conchas e, uma delas, com cerâmica da Companhia das Ìndias embutida (duas taças e um prato).

Acessos

Rua de São Boaventura, n.º 111

Protecção

Incluído na classificação do Bairro Alto (v. IPA.00005019)

Enquadramento

Urbano, adossado. Integra-se harmonicamente no conjunto urbano do Bairro Alto (v. PT031106150275), a NE. do mesmo, de gaveto, no extremo direito de uma fiada de edifícios, de diferentes cérceas, que acompanham a R. de São Boaventura no sentido S. / N.. Abre, a E., para a R. de São Boaventura, a N. para a Tv. do Conde de Soure e a O. para a R. da Vinha. Nas traseiras do edifício desenvolve-se logradouro de planta rectangular, murado, com pavimento em "calçada á portuguesa", pontuado de canteiros e árvores.

Descrição Complementar

Salão nobre tendo cada uma das três zonas do tecto com decoração diferenciada. Na zona de entrada, tecto pintado a amarelo e decorado com elementos vegetalistas e flores a estuque branco; ao centro florão em estuque com alguns elementos pintados a dourado; dupla cercadura com folhas, a interior em estuque branco, a outra pintada a dourado e castanho sobre fundo ocre. Zona central com tecto em madeira, pintado a verde, estrelas em relevo nos cantos e centro, com moldura em madeira, pintada a branco e decorada com pequenas bolas vermelhas, e interior preenchido com espelho com flores pintadas; painéis rectangulares nos mesmos materiais entre as estrelas dos cantos; acompanhando os painéis friso pintado de flores. Terceira zona com tecto pintado a azul com pequenas estrelas prateadas e lua, ao centro. Sala-de-estar do 2.º piso com tecto pintado com elementos vegetalistas, em rosa, cinza, castanho e amareloe e dupla cercadura com motivos decorativos do mesmo tipo. O Bar tem tecto com estrutura em relevo, em madeira, com pentágonos e triângulos, que, juntos, formam estrelas de seis pontas; pentágonos pintados a azul com elementos vegetalistas a preto e rosetas em metal dourado ao centro; triângulos pintados a vermelho com elementos vegetalistasa dourado. Sala do 3.º piso com tecto em madeira pintado em tons de vermelho, azul, amarelo, castanho, verde e rosa, com elementos vegetalistas e geométricos e 4 tigres caçando um animal. O "Quarto da Menina" tem tecto em madeira pintado a azul, com quadrícula, rosa, com ramos de flores ao centro de cada quadrado e flores douradas nos ângulos; medalhão central, com moldura em madeira dourada, com tela com uma representação de "Santa Filomena" numa paisagem. As paredes deste quarto apresentam quatro camadas de pintura, sobre as quais foi colocado papel de parede: a 1.ª, de finais do século 19, com motivos florais, também, no rodapé; a 2.º, de início do séc. 20; a 3.ª, com motivos decorativos a bordeaux e azul petróleo sobre camada verde; a 4.ª a estuque branco. O corredor do 3º piso tem azulejos de padrão, azul cobalto sobre fundo branco, com elementos vegetalistas, sobre uma fiada de azulejos manganês, formando silhar. Na parede S. do pátio, existem dois painéis de azulejos a azul cobalto sobre fundo branco, com cercadura com elementos vegetalistas a amarelo e manganês, de composição figurativa representando uma paisagem com pessoas. Parede O. do pátio com painel de azulejos com elementos vegetalistas a azul cobalto sobre fundo branco, com cercadura de concheados. Na parede N., um painel de azulejo, pequeno, com desenho de elemento arquitectónico decorado com concheado, pintados a amarelo e manganês so bre fundo azul cobalto.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Assistencial: centro de dia

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITETO: Jorge Viana (Projeto de remodelação, 1979)

Cronologia

Séc. 18, 2.ª metade - Na sequência do terramoto de 1 de Novembro de 1755, Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha, fidalgo da Casa Real e administrador do morgado instituído por Francisco de Vasconcelos da Cunha e sua mulher D. Isabel de Brito, pediu provisão para aforar as casas situadas onde hoje se implanta o palácio, alegando não ter dinheiro para as restaurar; 1759, 23 Dezembro - escritura de emprazamento, segundo a qual Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha doa a propriedade a sua mulher, D. Filipa Tomásia de Meneses, por aforamento, em prazo de 3 vidas; 1773, 6 Novembro - face à inexistência de descendentes de Bartolomeu de Vasconcelos da Cunha, o morgado passou para o Capitão João Rafael Almadanim de Loronha, e a enfiteuta a prazo, D. Filipa Tomásia, doou o prazo e a propriedade a Manuel Gomes de Carvalho e Silva, Cavaleiro professo da Ordem de Cristo, fidalgo da Casa Real, Tenente Geral de Artilharia do Reino e Intendente Geral do Arsenal Real do Exército; séc. 18, 2.ª metade - construção do actual edifício; 1794, 5 Dezembro - auto de posse do palácio por seu filho, José Xavier da Cunha d'Eça Telles e Meneses de Carvalho e Silva, filho de Manuel Gomes de Carvalho e Silva, conselheiro do Ultramar, fidalgo, Comendador da Ordem de Cristo e de São Tiago; 1824, 28 Março - data do termo de abertura do testamento de José Xavier da Cunha d'Eça Telles e Meneses de Carvalho e Silva, que, morrendo sem descendentes directos, deixa a propriedade a seu primo Fernando de Mesquita Pimentel de Paiva Barreto; 1862, 8 Setembro - João de Mesquita, filho de Fernando de Mesquita Pimentel de Paiva Barreto, vende o prazo da R. de Boaventura a Jerónimo de Magalhães, visconde de Torrão; séc. 19, último quartel - Ana de Magalhães, filha de Jerónimo de Magalhães, vende o palácio a Jacinto Augusto Paiva de Andrada; séc.19, 2.ª metade - obras de remodelação, decoração de tectos; 1892 - morre Luísa Piava de Andrada, filha de Carolina Augusta Picaluga Paiva de Andrada, aos 22 anos, vitíma de tuberculose; 1906, 4 Julho - Jacinto Augusto Paiva de Andrada morre deixando em testamento o palácio a sua esposa, Carolina Augusta Picaluga Paiva de Andrada; 1912 - o imóvel foi deixado em testamento à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa pela sua proprietária, Carolina Augusta Picaluga Paiva de Andrada, para nele se instalar um recolhimento de meninas com o nome de "Instituto Luísa Paiva de Andrada", em homenagem a sua filha; estipula como condição, o quarto da menina ser mantido tal como se encontrava e resguardado de visitantes, ficando a Santa Casa obrigada a colocar diariamente um jarro de flores junto à cama da menina; 1984 - adaptação do edifício a Centro de Dia.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura de alvenaria rebocada e pintada; pavimento de tijoleira e soalho; silhares de azulejos; pinturas murais; tectos de estuque decorado e pintado e em madeira igualmente pintado; portas e caixilharias de madeira; vidro simples e pintado; espelhos pintados; grades de ferro; cobertura de telha; nichos com embrechados.

Bibliografia

ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, Livro VI, Lisboa, 1939; Cadernos de Conservação, n.º 2, Museu de São Roque, Lisboa, 1988.; Jorge Viana. Arquiteturas, Natureza, Máquina, Sentimento. Câmara Municipal de Oeiras, 2012.

Documentação Gráfica

SCML: DGIP; IHRU/SIPA: Arquivo pessoal de Jorge Viana

Documentação Fotográfica

SCML: DGIP; IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

SCML: DGIP; IHRU/SIPA: Arquivo pessoal de Jorge Viana

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1941 - obras de beneficiação no imóvel; 1950, década - obras de beneficiação, mas suspensas em consequência do projecto do "Plano de Urbanização do Bairro Alto", que obrigava a demolir o edifício para alargamento da rua; 1984 - obras de remodelação, adaptando-o a Centro de Dia.

Observações

*1 - embora não se conheça documentação que o comprove diz-se que o tecto do refeitório será falso e que, por baixo, estará um tecto pintado com 22 pombas, número que corresponde à idade com que faleceu a filha de Carolina Augusta Picaluga Paiva de Andrada, benemérita que deixou em testamento o edifício à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. *2 - Um dos quartos do 3.º piso ficou conhecido por "quarto da menina" por ter pertencido a Luísa Paiva de Andrada, filha de Carolina Augusta Picaluga Paiva de Andrada, que aí faleceu aos 22 anos vítima de doença.

Autor e Data

Helena Mantas 2004

Actualização

 
 
 
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