Núcleo urbano da vila do Sardoal

IPA.00022936
Portugal, Santarém, Sardoal, Sardoal
 
Núcleo urbano sede municipal. Vila situada em encosta. Vila medieval de fundação e jurisdição régia e posterior jurisdição senhorial. Núcleo urbano de origem medieval, com diferentes traçados que ao longo dos séculos se foram agregando gerando três zonas de expansão distintas. A sua fundação deu-se numa área de cota mais baixa onde três edifícios polarizadores, o Paço, a Igreja de S. Mateus e a Casa da Cadeia deram origem, respectivamente, aos Largos da Palha, da Misericórdia e da Cadeia. O traçado urbano foi desenhado a partir destas praças mas de forma orgânica adaptando-se à topografia do lugar. Os quarteirões apresentam formas diferenciadas, compostos por lotes largos com uma área razoável de logradouro, fazendo transparecer o carácter rural da vila. No séc. 16, o segundo núcleo de expansão surge com a edificação da Igreja Matriz num local de cota mais elevada, seguido, no início do séc. 17, da construção da Praça Nova. Este crescimento urbano dá-se em época de descobrimentos e como resultado da nova riqueza, surgem dois pólos: a Igreja Matriz e os novos Paços do Concelho, na Praça Nova. Nasce assim uma malha urbana independente do núcleo urbano existente com um eixo de ligação entre o núcleo antigo e o novo, a Rua António Duarte Pires. O desenho do novo traçado urbano é mais estruturado mas os quarteirões apresentam formas pouco regulares, ainda sujeitos à topografia acentuada. Os lotes sugerem formas tendencialmente rectangulares mas de tamanhos díspares. No séc. 18 dá-se a expansão da vila para N. da Praça Nova gerando um crescimento linear entre a Praça e o Mosteiro de Nossa Senhora da Caridade.
Número IPA Antigo: PT031417030030
 
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Registo

 
Conjunto urbano  Aglomerado urbano  Vila  Vila medieval  Vila medieval  Régia

Descrição

Núcleo urbano com traçados diferenciados que, ao longo dos séculos, se foram agregando gerando três áreas de expansão distintas. Calcula-se que a origem fundacional terá sido perto do núcleo urbano, onde ainda se podem encontrar vestígios da Ponte Romana (v. PT031417030023). A cultura castrense deixou provas da existência de povoações numa região próxima à vila, local onde a água era abundante e de fácil acesso. O desenvolvimento do antigo núcleo deu-se até ao séc. 16 em torno de dois pólos, hoje desaparecidos, a Igreja de São Mateus e o Paço. Supõe-se que estas edificações promoveram o crescimento da vila para um local de cota mais alta. A Igreja de São Mateus poderá ter existido próximo da actual Igreja da Misericórdia (v. PT031417030003), na Rua da Misericórdia. Esta rua ainda hoje define um eixo fundamental e faz a ligação entre o Largo da Misericórdia e o Largo da Cadeia (Largo da Cadeia Velha). Neste último largo encontra-se o edifício da Antiga Cadeia (v. PT031417030018) que, até ao séc. 17, foi o local onde se situavam os antigos Paços do Concelho. Pensa-se que no Largo da Cadeia se encontrava o pelourinho inicial, mais tarde levado para a Praça Nova. O declive acentuado moldou de forma orgânica, as ruas e os quarteirões que se adaptaram naturalmente à topografia do lugar. Ao percorrer-se o núcleo antigo verifica-se ainda a importância do eixo definido pela Rua da Amoreira que começa também no Largo da Cadeia Velha e termina na Rua da Portela. A rua da Amoreira, que percorre praticamente toda a antiga vila, é paralela à Rua da Misericórdia, e sugere ter sido uma rua estruturante no traçado urbano, ligando o Sardoal aos campos e a outros lugares. Pensa-se que a Rua da Portela terá sido em tempos uma porta de entrada e saída da vila, marcada pela Capela de São Sebastião (v. PT031417030013) e que dava continuação à Rua das Olarias, que vinha de fora do agregado urbano. Conjectura-se ainda que a Rua do Paço terá sido um eixo que se desenvolveu quase no limite do núcleo, e que está na continuidade da Rua do Chafariz onde ainda hoje existe o Chafariz das Três Bicas (v. PT031417030015). O Paço terá existido próximo da Praça da Palha, local onde termina a Rua do Paço, onde provavelmente terá existido o mercado e algum comércio. Observando as ruas do Paço, do Chafariz, do Poço dos Açougues, Velha, da Amoreira, da Misericórdia na sua dimensão e largura conclui-se o cariz medieval deste núcleo. No traçado urbano verifica-se que os quarteirões não têm uma forma predominante e os lotes são largos com uma área razoável de logradouro, o que deixa transparecer o carácter rural da vila. No princípio do séc. 16, surge a Igreja Matriz do Sardoal (v. PT031417030002) que dá o mote para a expansão da vila para N.. Já no final deste século é fundado fora da vila o Mosteiro de Nossa Senhora da Caridade (v. PT031417030004), dos Franciscanos Menores da Província da Soledad, no ponto de cota mais alta. Apesar da sua implantação rural, a sua construção foi estratégica e privilegiada por localizar-se à entrada do Sardoal. Assim, começa a desenhar-se um segundo núcleo urbano que surge na continuidade do primeiro mas de forma independente. No início do séc. 17 a vila estrutura-se em função de dois novos pólos, a Praça Nova e a Igreja Matriz. Em consequência, surge um novo eixo que faz a ligação entre o novo tecido urbano e o antigo, a Rua António Duarte Pires, que começa no Largo da Cadeia e segue até à Praça Nova. Esta última também teve como topónimo Praça do Comércio ou Praça Conselheiro João Franco. O topónimo inicial, Praça Nova, está ligado à edificação dos novos Paços do Concelho (v. PT031417030010) e à mudança do Pelourinho (v. PT031417030001) para aquele local. Assim surgem na malha urbana dois eixos fundamentais, a Rua Gil Vicente e a Rua dos Clérigos ou Rua Avelar Machado (Rua Mestre do Sardoal) geradores de um traçado mais estruturado. São ainda de salientar os eixos secundários, com os topónimos de origem, como a Travessa da Cocheira, a Travessa dos Ferreiros, a Travessa do Senhor dos Aflitos, e que cruzam os eixos fundamentais definindo quarteirões de forma e dimensão diferentes devido à topografia acentuada, com lotes rectangulares mas de tamanhos díspares. No séc. 18 a vila sofre um novo crescimento urbano, de forma linear gerado, pelo eixo que une a Praça Nova ao Mosteiro de Nossa Senhora da Caridade. A construção de alguns edifícios notáveis na Avenida Luís de Camões aumenta e valoriza a expansão da vila. Em frente aos Paços do Concelho é edificada a Capela do Espírito Santo (v. PT031417003011) que faz o fechamento da Praça Nova a N.. Começam a surgir na avenida edifícios civis e religiosos importantes para o Sardoal. Nas casas nobres salientam-se a Casa Grande ou dos Almeidas (v. PT03 1417003005) com a Capela de Nossa Senhora do Carmo, o Edifício pertencente à viúva J. Matos (v. PT03 1417003008), a Casa dos Arcos (v. PT031417003008). Nos edifícios religiosos podemos encontrar a Capela de Santa Ana (v. PT031417003020) e a Capela de Santa Catarina (v. PT031417003021). A Rua do Vale (Avenida 5 de Outubro) surge na continuidade da Avenida Luís de Camões e é o prolongamento do eixo que liga o núcleo urbano ao Mosteiro de Nossa Senhora da Caridade a expansão para N. nesta zona dá-se apenas no princípio do séc. 20. A localização geográfica deste núcleo urbano no limite de três regiões influenciou os vários tipos da arquitectura residencial corrente. Ao longo dos anos a casa unifamiliar de dois pisos tem-se mantido como tipo arquitectónico de referência. Esta casa sobradada em lote estreito apresenta, na sua maioria, loja no piso térreo, servindo geralmente para um pequeno armazém agrícola ou ainda para recolha de animais. Algumas variações da casa de dois pisos verificam-se da localização dos vãos ou existência de uma escada exterior de acesso. A multiplicidade de variações traduz a influência da região envolvente da arquitectura residencial corrente. O tipo da casa de dois pisos que mais ocorre é a casa com acesso lateral e uma janela no piso inferior e duas janelas no piso superior. Destaque para algumas de casas plurifamilares, em lotes estreitos de gaveto, onde o acesso é geralmente feito pela rua mais importante.

Acessos

IP6, EN244-3, EN358

Protecção

Inclui Pelourinho do Sardoal (v. PT031417030001) / Igreja Matriz do Sardoal (v. PT031417030002) / Igreja da Santa Casa da Misericórdia do Sardoal (v. PT031417030003) / Igreja do Mosteiro de Nossa Senhora da Caridade (v. PT031417030004) / Casa Grande (v. PT031417030005) / Edifício pertencente à Viúva J. Matos (v. PT031417030008) / PDM - Plano Diretor Municipal, Resolução de Conselho de Ministros n.º 95/94, DR, 1.ª série-B, n.º 227 de 30 setembro 1994

Enquadramento

Situado em encosta, na unidade do paisagem do Médio Tejo. Implantada entre as cotas altimétricas 175 e 200 m, a vila do Sardoal localiza-se sensivelmente no centro geográfico de Portugal, na transição do Ribatejo, Alentejo e Beira Baixa, e a cerca de 10 km a SE. da albufeira do Castelo do Bode. A envolvente é caracterizada por um relevo pouco acentuado onde predomina a cultura de sequeiro. A implantação do núcleo urbano deveu-se em parte à grande quantidade de nascentes que brotam nesta região. A SE. localiza-se a Capela de Nossa Senhora da Lapa, incluindo a Lapa que lhe fica fronteira (v. PT031415040006).

Descrição Complementar

Salienta-se a importância dos Passos da Via Sacra (v. PT031417030028) para o Sardoal, onde todos os anos no dia 22 de Setembro, durante as festas da vila, se podem ver os altares com as pinturas originais. As Capelas de Santa Ana, de Santa Catarina, do Espírito Santo e da Nossa Senhora do Carmo fazem parte do percurso dos passos da via sacra que começa na Igreja da Misericórdia e termina no Mosteiro de Nossa Senhora da Caridade. Os passos encontram-se nos edifícios da Rua Mestre Sardoal, nº9-11, da Travessa da Misericórdia nº2-4, da Travessa da Misericórdia nº11, da Casa Grande ou dos Almeidas.

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Não aplicável

Afectação

Não aplicável

Época Construção

Séc. 16 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

1313, 11 janeiro - concessão por D. Isabel de carta de privilégio aos moradores do Sardoal, alguns historiadores defendem que foi a donatária do Sardoal e que deu o primeiro foral, embora nunca tenha sido encontrado; 1364, 26 janeiro - confirmação aos moradores do Sardoal dos seus privilégios por D. Pedro I, por carta dada em Abrantes, onde concede a jurisdição aos Juízes do Sardoal; 1370 - D. Fernando e D. Leonor Teles mandam erigir uma pequena ermida no actual local da Igreja da Misericórdia; 1426 - carta de sentença de D. João I a favor dos moradores do Sardoal contra os moradores de Constância; 1431, 16 janeiro - confirmação das antigas regalias e isenções por D. Afonso V ; 1432 - nasce no Sardoal a Infanta D. Maria, filha de D. Duarte e D. Leonor; 1482 - na Chancelaria de D. João II consta uma carta que concede às justiças do lugar de Sardoal jurisdição nos feitos cíveis e da almotaceria; 1496 - confirmação por D. Manuel I da carta do seu antecessor sobre a administração das justiças aos juízes do Sardoal; 1509 - fundação da Santa Casa da Misericórdia de Sardoal; 1511 - construção da Igreja da Misericórdia, cujo portal de estilo renascentista é atribuído a Nicolau de Chanterenne ou à sua oficina; 1531, 22 setembro - elevação a vila por D. João III; no mesmo dia é nomeado 1º Senhor do Sardoal D. António de Almeida; 1571 - fundação do Mosteiro de Nossa Senhora da Caridade, dos Franciscanos Menores da Província da Soledad; séc. 17, início - durante o domínio Filipino os Paços do Concelho foram transferidos do edifício da Cadeia Velha para o edifício actual na Praça Nova (Praça da República); 1762, 12 outubro - o quartel-general das tropas luso-inglesas muda-se de Mação para o Sardoal durante 10 dias; 1807, 23 outubro - 1ª invasão francesa comandada por Junot chega ao Sardoal saqueando igrejas; 1811 - nova invasão das tropas napoleónicas cujos actos de vandalismo foram comandados pelo general Massena; 1934 - após a extinção das ordens religiosas, o Mosteiro de Nossa Senhora da Caridade é adaptado a Hospital da Misericórdia; 1866, 17 abril - é dado o primeiro título de Visconde do Sardoal a José de Figueiredo Frazão e Castelo Branco, fidalgo da Casa Real; 1907, junho - D. Carlos visita o Sardoal; 1979 - desactivação do Hospital da Misericórdia

Dados Técnicos

Não aplicável

Materiais

Não aplicável

Bibliografia

COSTA, Carvalho da, Corografia Portuguesa, Tomo III, Lisboa, 1706, pp. 190-195; GONÇALVES, Luís Manuel, Sardoal: do passado ao presente: alguns subsídios para a sua monografia, Câmara Municipal do Sardoal, Sardoal, 1992; GONÇALVES, Luís Manuel, Roteiro para uma visita ao concelho do Sardoal: festas do concelho - IX Mostra interconcelhia de artesanato, Sardoal, 1997; A nossa história, Associação Comercial e de Serviços dos Concelhos de Abrantes, Abrantes, 1998; GONÇALVES, Luís Manuel, Festividades Religiosas do Concelho do Sardoal, Câmara Municipal de Sardoal, 2000, Sardoal

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; CMSardoal; DGOTDU: Arquivo Histórico (Anteplano de Urbanização de Sardoal, Eng. José Miranda de Vasconcelos, 1957)

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRML

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSARH (Anteplano de urbanização do Sardoal, Anteplano de Urbanização do Sardoal, DSARH-005-3394/11, Plano geral de Urbanização de Sardoal, DSARH-005-3760/16); DGEMN/DRML; CMS; Santa Casa da Misericórdia do Sardoal; DGOTDU: Arquivo Histórico (Anteplano de Urbanização de Sardoal, Eng. José Miranda de Vasconcelos, 1957)

Intervenção Realizada

CMS: 2003 - reabilitação do edifício pertencente à Viúva J. Matos para funcionar como biblioteca.

Observações

A área inventariada foi definida pelo GTL do Sardoal como centro histórico. O inventário do conjunto urbano teve como base o levantamento do GTL e o levantamento feito pela DGEMN em conjunto com técnicos da CMSardoal. O Sardoal é sede de um pequeno município com perto de 90 km² e subdividido em 4 freguesias (Sardoal, Alcaravela, Santiago de Montalegre e Valhascos).

Autor e Data

Rita Vale 2006

Actualização

 
 
 
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