Palácio do Salinas / Casa do Povo de Azeitão / Centro Infantil Sebastião da Gama

IPA.00023060
Portugal, Setúbal, Setúbal, União das freguesias de Azeitão (São Lourenço e São Simão)
 
Casa unifamiliar, barroca joanina, rococó, com vestígios de manuelino no lintel do portal e de gótico em 1 óculo da fachada da Capela. É principalmente uma construção dos séculos 17 e 18 em barroco aristocrático, apresenta esquema geométrico simples na organização gráfica da planta em L, com exaltação do andar nobre realçado por terraços dando para escadaria monumental proeminente, com lanços orientados em direcções opostas, na fachada principal, em linguagem da renascença, com grande sobriedade exterior; destaca-se o decorativismo hierarquizado das cantarias e o sentido de unidade global; no interior salienta-se o fogão de sala do séc. XVIII e as decorações azulejares em azul e branco, barrocas com aspectos joaninos, como transfiguração barroca do espaço ligado à espacial idade "chã" de algumas salas; salientam-se do final do século XVII e inícios do século XVIII azulejos joaninos em silhar, seriados, "de tapete" com colocação horizontal, e silhares e painéis de "albarradas", com vasos, figuras de meninos com cornucópias, palmetas e enrolamentos em caracol vegetalistas; do rococó salientamos as pinturas no estuque do tecto em explosão cromática com armas pintadas ao centro e composição ornamental a toda a volta de elementos vegetais e florais em grinaldas, concheados e asas de morcego; do estilo "chão" salientamos a sua raiz vernacular com despojamento decorativo no exterior, com alçados austeros e frios e a grande sobriedade.
Número IPA Antigo: PT031512040082
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa    

Descrição

Edifício de planta em L, com corpo principal e ala, constituído por corpos de volumetria paralelepipédica; o corpo principal apresenta desenvolvimento E./O.; a S. e a N. existem 2 corpos avançados de 1 nível, com escadaria a S.; o corpo da ala tem desenvolvimento S./N. e incorpora a Capela de Nossa Senhora da Penha de França. A planta é composta, regular, havendo coincidência exterior / interior. As volumetrias são escalonadas, articuladas em adossamento, com disposição das massas em horizontalidade, em 2 níveis. A cobertura exterior é diferenciada em telhados de 4 águas sobre o corpo principal, sobre a ala e sobre o corpo que se ergue no canto interior formado por aqueles, e em terraço nos 2 corpos avançados. As fachadas são de embasamento ligeiramente saliente e escalonado, são ritmadas pelas aberturas de portas-janelas, janelas de peito e portas, são de emolduramento simples, de verga e ombreiras rectilíneas e com cornija rectilínea avançada, desenvolvem-se lateralmente entre cunhais e pilastras com envasamento alto, rematam superiormente em beiral e cimalha real em redondo; a fachada principal apresenta corpo avançado com escadaria monumental de 4 lances, articulados lateralmente em simetria 2 a 2, com patamar intermédio, com guardas e paramento central em cheio, desenvolve-se em 2 panos de cada lado da escadaria com uma janela de peito de cada lado e uma porta; o corpo recuado é ritmado pela abertura de uma série de portas-janelas de iluminação e de acesso ao salão grande; a fachada posterior desenvolve-se em 2 níveis sendo o térreo formado por uma galeria de arcadas de meio ponto que dão para o pátio/jardim com lago / piscina e poço tapado e fachada recuada vazado por uma série de janelas e portas; a fachada a E. é composta por pano do corpo avançado com porta sobre a qual existe um pequeno gradeamento e o pano lateral do corpo principal com uma única janela aberta no piso térreo; a fachada O., de 2 níveis, é composta pelos 2 panos dos corpos avançados, organizados de modo semelhante ao do pano já descrito da fachada do topo oposto; a fachada correspondente à ala compõe-se de 3 panos, destacando-se o ocupado pela fachada saliente da capela com 1 portal sobre degraus, com lintel assente em pilastras toscanas, com 1 pequeno óculo sobre a porta, rematando superiormente por cornija que assenta em entablamento com frontão angular aberto; à esquerda destaca-se o corpo de escadarias com 2 lanços afrontados com guardas formando paramento cheio de forma trapezoidal; os outros dois panos desenvolvem-se com vazamento de janelas aquadradadas no piso inferior e janelas de sacada no superior. INTERIOR: é diferenciado, oferecendo um vasto número de divisões nos 2 pisos que se articulam através de escadaria de lanços opostos; no piso inferior, na cozinha, destaca-se a lareira da chaminé; no piso superior destacam-se uma sala com lareira de aquecimento ornamentada, o grande salão com palco elevado, com as paredes revestidas a 1/3 da altura por silhar de azulejos, com tecto em 3 planos, várias salas com janelas de rasgo profundo com conversadeiras em pedra; destacam-se painéis de azulejos em panos de vãos profundos de janelas. Existem coberturas diversificadas nos espaços variados, em estuque liso, em madeira com forro de saia-e-camisa, em forro encabeçado, em forro com barrotes e um tecto em cúpula oitavada assente em pendentes. Capela: de planta longitudinal, simples, regular, de uma nave; à entrada a cobertura é em abóbada com 2 penetrações laterais, que se prolonga na nave por abóbada de canhão de arco de meio ponto com pintura mural, assente em cornija de remate dos alçados lisos; destaca-se à direita uma pequena pia de água benta em pedra; divide o espaço da nave da capela-mor 1 arco de volta inteira com pedra de chave assente em pilastras toscanas; tem 1 altar adossado à parede de cabeceira onde se rasga 1 pequeno nicho; o espaço é coberto por uma abóbada de berço também com pintura mural; anexo á capela existe a antiga sacristia com silhar de azulejos e 1 lavabo de pedra lavrada adossado à parede.

Acessos

Largo 5 de Outubro, Rua Engenheiro António Porto Soares Franco (antiga Rua de Santo Antoninho)

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, destacado, no cimo de pequeno outeiro, na parte alta de Vila Nogueira, apresenta a fachada principal com escadaria monumental, sobre jardim, parte central do Largo Cinco de Outubro (antigo pátio do palácio), onde se destaca a Fonte do Concelho (v. PT031512040068) adossada exteriormente ao muro do que resta da antiga Quinta da Nogueira; a S. e a E. o edifício dá sobre jardim e pátio do palácio, tendo muro alto como separador dos arruamentos circundantes e acesso directo a N. por largo portão férreo aberto no prolongamento da fachada principal; a fachada O., justapõe-se à de um edifício baixo, de tipologia vernacular, dando sobre uma via com passeio estreito.

Descrição Complementar

AZULEJOS - ANTIGA SACRISTIA: silhar de azulejos de padrão (2 x 2), monocromia, azul em fundo branco; SALÃO: silhar de composição ornamental seriada, motivo de albarradas; barra de enrolamentos vegetalistas e figuras infantis com cornucópias de flores; revestimento das conversadeiras idêntico. Abóbadas da nave e da capela-mor com estuque pintado com motivos ornamentais rococó representando elementos vegetalistas tendo ao centro as armas em escudo com timbre sobre elmo cerrado e paquife recortado.

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Educativa: jardim de infância / Assistencial: casa do povo

Propriedade

Privada: Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS)

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 14 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 14 - No reinado de D. João I a quinta de D. Constança passa a constituir o Prazo da Quinta Nogueira *1: de início são administradores os Padres de São Francisco da Vila de Santarém; a quinta e o palácio são emprazados a Lourenço Fernandes Machado, escudeiro e vassalo de D. João I; 1491 - a propriedade está na posse de D. João de Sousa, almotacé do rei D. João III e, por sua morte, passa para a de sua viúva D. Margarida de Vasconcelos; 1612 - 1640 - a quinta com o palácio está no domínio de D. Francisco de Moniz, senhor de Angeja; existe uma descrição coeva da quinta e das casas existentes que é a mais antiga conhecida: casa com dois pisos, de 6 casas no piso inferior e 8 lógias; 1642 - faz-se novo emprazamento em nome do sobrinho da viúva de D. Francisco Moniz, D. António Luís de Meneses, Conde de Castanheda e, mais tarde, 1º Marquês de Marialva; 1665 - o domínio útil da quinta passa para Baltazar de Sá, cavaleiro da Ordem de Cristo, por dote de sua mulher, D. Maria da Silva; o documento de emprazamento tem descrição de algumas das construções que faziam parte da quinta: lagar, adega e moinho; 1668 - construção da capela de evocação de Nossa Senhora da Penha de França; 1688 - grandes obras de reconstrução no palácio, quando Baltasar de Sá e Menezes possuía o domínio útil da quinta; 1720 - novo emprazamento em nome de Dr. João Mendes da Silva Jacques, corregedor de Tavira; 1726 - a capela pertence a Jorge Mendes Juiz dos Órfãos de Alfama; 1731 - novas obras de reconstrução que deram ao edifício as características setecentistas que apresenta hoje; 1758 - a quinta pertencia a um Manuel António; 1774 - o prazo passa para o filho do Dr. João Mendes da Silva Jacques, Dr. Manuel António Jacques de Sousa Paiva da Silva, casado com D. Efigénia da Câmara; época provável dos azulejos azuis e brancos de albarradas que decoram várias salas; séc. 18, finais - a D. Efigénia da Câmara sucede-lhe a filha D. Maria Joana Evangelista de Paiva e Sousa, que nomeia o prazo em seu marido, José Salinas de Benevides, capitão-mor; a partir de então o palácio passa a ser conhecido por Palácio do Salinas, tendo passado nos últimos anos por um período de abandono, inclusive a capela; 1787 - o local da propriedade chamou-se "Sítio da Fábrica do Pão", pois teria sido local de fabrico de pão, facto corroborado pela existência de duas maceiras grandes no andar térreo do edifício, segundo documentação do final do séc. 19; 1830 - é feita nova escritura de emprazamento em nome de Dr. João Salinas de Benevides; 1853 - José Maria da Fonseca é co-proprietário dos bens de João Salinas Benevides, depois de uma acção judicial que é movida a este por motivo de dívidas; período de grande abandono do palácio, a capela deixa de existir, sendo vendidos, em leilão, os seus ornamentos, para pagar uma dívida do seu possuidor; 1849 - José Eugénio Rodrigues adquire o palácio do Salinas que se encontrava em mau estado de conservação e com a quinta Nogueira; 1869 - Dona Joana Rita de Castro Rodrigues, mulher de José Eugénio Rodrigues, herda o palácio e a quinta; 1895 - o pátio do palácio, depois Largo do Salinas, deixa de pertencer ao prazo da quinta para se tornar oficialmente logradouro público; 1897 - o palácio do Salinas é adquirido por José Augusto de Paiva; séc. 19, finais / séc. 20, início - o palácio é utilizado como teatro (Theatro Club Azeitonense), clube e hotel; 1888 - actuação de célebre Taborda na Sala do Teatro; 1904 - o palácio é vendido a Francisco Bruno de Miranda; 1911 - a orientação do teatro está a cargo das Doutoras Maria Cândida Parreira e Laura Chaves; 1912 - o palácio entra na posse de D. Amélia Augusta de Miranda, esposa daquele; 1918 - a orientação do teatro está a cargo de António Bastos; 1933 - o palácio entra na posse das sobrinhas de Francisco Bruno de Miranda, as irmãs Miranda Barbosa; 1940 - o palácio é adquirido por Dr. António Porto Soares Branco que o cede para ser utilizado nas instalações da Casa do Povo de Azeitão; 1947 - o palácio passa por obras de reconstrução e adaptação a casa do povo, construindo-se a varanda na fachada norte do edifício; séc. 20 - é utilizado como infantário.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes

Materiais

Pedra: calcário, mármore, entulho; alvenaria: mista, pedra e cal; cerâmica: tijolo, tijoleira, telha cerâmica, ladrilho cerâmico, azulejo tradicional, azulejo industrial; vidro simples; estuque pintado; metal; ferro fundido, alumínio; madeira; aglomerado.

Bibliografia

PARREIRA, Oliveira, Revista Ilustrada.Quadras da Minha Terra, nº 6, Vila Nogueira, s. d.; SOUSA, Manuel Caetano de, Memórias Históricas de Azeitão, Cod. 208, B N L, 1726; O Distrito, Setúbal, 8 de Setembro, 1895; RASTEIRO, Joaquim, Um Passeio a Azeitão. Aspectos da sua Fruticultura, Setúbal, 1918; Á Descoberta de Portugal, in Selecções do Reader´s Digest, Lisboa, 1982; PIMENTAL, Joaquim Cortez, A Quinta Real de D. Constança em Vila Noguira de Azeitão - Origem da Freguesia de São Lourenço II - História da Propriedade, Jornal Azeitonense, Ano II, nºs 10-12, 1984; SOUSA, Padre Manuel, Azeitão, Lisboa, 1993.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

ANTT, Chancelaria de D. João I, Livro 3º, fl. 1, Livro 1º, Tombo da Igreja de São Lourenço de Azeitão, fl. 19 e seguintes; Chancelaria de D. João III, Livro 2º, fl. 6; Registo da Conservatória de Setúbal, Livro B-9, fl. 42, n.º 1096; Conservatória de Setúbal (registo de compra), Livro B-9, fl. 42, nº 1096; Arquivo da Igreja de São Lourenço de Azeitão, elementos Fornecidos pelo Padre Manuel Frango de Sousa.

Intervenção Realizada

Séc. 20 - Obras de adaptação a infantário; IPSS: 2001 - obras de restauro, conservação geral e limpeza

Observações

*1 - anteriormente conhecido por Palácio da Quinta de Nogueira, por ficar situado na antiga Quinta Real da Infanta Dona Constança, também conhecida por Quinta de Azeitão e mais tarde por Quinta de El-Rei e ainda por Quinta da Nogueira, a qual se compunha por casa de campo e por terrenos anexos.

Autor e Data

Albertina Belo 2005

Actualização

 
 
 
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