Cocheiras José Maria Eugénio / Casa de Santa Gertrudes

IPA.00024255
Portugal, Lisboa, Lisboa, Avenidas Novas
 
Arquitectura de transportes, revivalista. Antigas cocheiras transformadas em edifício residencial, como aconteceu por exemplo na Quinta da Regaleira em Sintra (PT031111110133) ou no antigo edifício das cavalariças de Santos Jorge no Estoril (PT031105040026). Planta em U irregular, fechado, com fachadas rebocadas de dois e três registos, com elementos definidores a cantaria. O remate em ameias e a introdução de torres e cubélos remete para a arquitectura militar medieval. A fenestração, muito variada, remete para a arquitectura românica e manuelina, neste último aspecto com grande notoriedade no relógio da torre. A introdução de uma banda lombarda e de uma loggia no primeiro registo da fachada principal demonstram a influência da arquitectura italiana. A grande torre do relógio sugere uma referência ao Palácio da Pena (PT031106320005). Abarca diferentes revivalismos, dentro de uma lógica romântica primando pelo seu carácter cenográfico e pitoresco.
Número IPA Antigo: PT031106231161
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Armazenamento e logística  Cocheira    

Descrição

Planta em U, fechado por muro, com corpo central sobrelevado, e alas laterais assimétricas, integradas no muro. Com torre de relógio, de secção octogonal, adossada no ângulo N, e anexo de planta rectangular adossado á esquerda da ala NO. Volumes articulados, de desenvolvimento horizontal e cobertura em terraço. Fachadas rebocadas, com embasamento em cantaria e remate com dupla banda lombarda, friso com pontas de diamante e ameias de perfil rectilíneo. Fenestração a ritmo regular, mas com tratamento de vãos muito diferenciado, tendo em comum o emolduramento a cantaria. Fachada principal da ala central, voltada a NE, abre-se para jardim fechado por muro, relvado, densamente arborizado, com árvores notáveis, lago polilobado e rede irregular de caminhos. A fachada articula-se em três panos. O pano central, de dois registos, enquadrado por duas torres de secção octogonal, rasgadas por seteiras, tem no primeiro piso grande janelão de volta perfeita e no segundo janela mainelada, com medalhão circular com a insígnia de Eugénio de Almeida no eixo superior. O pano esquerdo, de três registos, com cubelo assente em mísula no ângulo esquerdo ao nível do arranque do segundo registo. O primeiro registo aberto em loggia de arcos de cantaria, de volta-perfeita, de dupla arquivolta, lançados sobre colunas, cujo capitel apresenta cesto decorado por elementos trilobados. Dividindo os primeiros registos dupla banda lombarda, sobrepujada de friso ornado por pontas de diamante. No segundo registo cinco janelas de peitoril de volta-perfeita, com moldura de cantaria boleada. E no terceiro cinco óculos quadrilobados, inscritos em molduras circulares boleadas, alternando com pilastras assentes em mísulas, que ritmam o pano. O pano direito, de dois registos, com o primeiro quase integralmente coberto por hera, deixando ver apenas portão de vidro fumado, com moldura de alumínio. E segundo registo recuado, rasgado por cinco janelas de peito, de volta perfeita, com cornija curva contínua, interrompida apenas pela introdução de quatro pequenos cubélos sobre mísulas, que seccionam o pano. Adossando-se entre este corpo e a torre do relógio, elemento torreado de cantaria, com três registos e secção quadrangular, rematado por balaustrada, cujos acrotérios são sobrepujados por pináculos. Nas duas faces exentas, recebe janela, protegida por balaustrada, sendo no primeiro e segundo registo de volta perfeita com dupla arquivolta, e no terceiro trilobada, inscrita em arco de volta perfeita também de dupla arquivolta. A torre do relógio, rasgada por finas seteiras, com embasamento em cantaria e remate com ameias sobre consolas, recebe no topo novo elemento torreado de menores dimensões e secção circular, repetindo o mesmo remate. O relógio em cantaria, repete-se em quatro faces do octógono, emoldurado á maneira de janela manuelina, intercalando com seteiras de maiores dimensões, emolduradas em cantaria. A fachada posterior da ala central articula-se em três panos. Pano central, de dois registos separados por banda lombarda, emoldurado por torreões ameados, com embasamento em cantaria e rasgados por finas seteiras, tem no primeiro registo porta rasgada a pleno centro, com moldura de cantaria rematada por cornija curva, e no segundo registo janela de sacada, com balaustrada de cantaria, rematada por cornija curva, adornada por motivos fitomórficos. O pano esquerdo de dois registos, separados por banda lombarda e friso ornado por pontas de diamante, tem no primeiro registo (parcialmente coberto por hera) cinco óculos polilobados inscritos em molduras circulares e no segundo cinco janelas de peitoril de volta-perfeita, com cornija curva contínua, interrompida por pequenos cubélos assentes em mísulas que seccionam o pano. O pano direito tem três registos, separados por friso adornado por pontas de diamante sobre banda lombarda e friso simples. No primeiro registo, parcialmente coberto por hera, quatro janelas de peitoril de volta-perfeita, no segundo quatro janelas maineladas e no terceiro quatro óculos quadrilobados inscritos em moldura circular, intercalando com pilastras assentes em mísulas que ritmam o pano. Ala lateral SE. avançada em relação á ala central, com face interna articulada em dois corpos, o primeiro de dois registos com arco de passagem rasgado a pleno centro, sobrepujado por janela mainelada, com cornija curva, e sobre esta medalhão com a insígnia de Eugénio de Almeida, e cubélos sobre mísula nos ângulos superiores. Segundo corpo de um registo, rasgado por janela de perfil rebaixado, cobertura em terraço, acessível do corpo anterior, por porta de perfil rebaixado, rematada por cornija trilobada, com medalhão com a insígnia de Eugénio de Almeida sob o lóbulo central. A face posterior da ala SE. articula-se em três corpos, com o corpo central emoldurado por torreões, rasgado pelo arco de passagem, sobrepujado de janela mainelada com insígnia. Corpo esquerdo, de dois registos separados por dupla banda lombarda e friso ornado por pontas de diamante, rematado por cubelo assente em mísula, com uma janela de peito, de volta-perfeita por registo, nas faces NE. e SE.. Corpo direito de um registo, rasgado por janela de peito de perfil rebaixado na face SE e face voltada á rua, esta última enquadrada por dois cubélos assentes em mísulas. Ala lateral NO. na sequência da ala central, articula-se em dois corpos. Face interna da ala NO. de um registo, rasgada por três janelas de peito de perfil rebaixado, com o topo da ala enquadrado por cubelos assentes em mísulas e rasgado por porta de perfil rebaixado, rematada por cornija trilobada, com medalhão com a insígnia de Eugénio de Almeida no lóbulo central. Face posterior da ala NO. acusando os dois corpos, o primeiro de dois registos é rasgado por duas pequenas janelas de peito ás quais correspondem no registo superior dois óculos circulares. O segundo corpo, avançado, é cego na face posterior, rasgando-se na face voltada á rua janela de peitoril de perfil rebaixado e rematado nos ângulos por cubélos assentes em mísulas. INTERIOR: profundamente alterado, observando-se ainda o tecto original abobadado ao nível do primeiro piso. O interior da torre do relógio mantém-se, preenchido por escada em caracol, com degraus em cantaria de calcário e gradeamento de ferro forjado, albergando ainda o mecanismo do relógio.

Acessos

Rua Marquês da Fronteira, n.º 2; Rua Dr. Nicolau de Betencourt, n.º 4 a 4B; Rua Marquês de Sá da Bandeira. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,734457, long.: -9,152538

Protecção

Incluído na Zona Especial de Proteção do Edifício-Sede e Parque da Fundação Caloustre Gulbenkian (v. IPA.00006995 e IPA.00007810)

Enquadramento

Inscritas em jardim delimitado por muro ameado de definição trapezoidal, confinando com a R. Dr. Nicolau de Bettencourt, R. Marquês da Fronteira, R. Marquês de Sá da Bandeira e traseiras dos jardins da Fundação Calouste Gulbenkian (v. PT031106230438). Junto ao muro dispõem-se árvores de porte considerável, protegendo as antigas cocheiras dos olhares exteriores. Portal principal, em pano de muro côncavo, é de ferro forjado formando a insígnia de Eugénio de Almeida, inserido em arco de volta-perfeita, rematado por cornija curva, sobrepujada por elementos fitomórficos e recebendo na pedra de fecho a insígnia de Eugénio de Almeida. O arco inscreve-se em segmento de muro recto rematado por banda lombarda e ameias e emoldurado por torreões ameados. Abrem-se dois outros portões nos ângulos da R. Marquês da Fronteira com o R. Nicolau de Bettencourt e com a R. Marquês de Sá da Bandeira. São de ferro forjado, formando insígnia, e enquadrados por torreões ameados, com medalhão de cantaria com a insígnia de Eugénio de Almeida. Sobre a R. Marquês de Sá da Bandeira ergue-se mirante de secção quadrangular, assente em mísulas, com as faces rasgadas por arcos de volta-perfeita, e no balcão a insígnia de Eugénio de Almeida *1.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Armazenamento e logística: cocheira

Utilização Actual

Residencial: casa

Propriedade

Privada: Pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Giuseppe Cinatti (1866), Raul Lino (1920), Leonardo Castro Freire (1950, década). RELOJOEIROS: José Pinto Bastos e Manuel Bento Fernandes (1875).

Cronologia

1861, 9 Janeiro - Eugénio de Almeida requer a posse judicial do antigo palácio do provedor dos Armazéns e da Quinta da Prevoura; 1861 - abertura da estrada da Circunvalação, que dita a divisão da propriedade de Eugénio de Almeida; 1864 - projecto de ajardinamento do parque de Santa Gertrudes, onde se revela o propósito da criação de um edifício destinado a cocheiras e cavalariças, pelo arquitecto português Valentim José Correia (1822-1900), que não viria a ser concretizado; 1866 - início da plantação do parque e entrega do projecto das cocheiras e cavalariças ao arquitecto Giuseppe Cinatti; 1868 - primeira alusão á existência de cocheiras e cavalariças no parque de Santa Gertrudes; 1872, 12 Abril - morre José Maria Eugénio de Almeida; 1875, Março - realização do relógio na torre das cocheiras, na oficina de Francisco António Rodrigues, sita na R. da Boavista nº164, pelos mestres José Pinto Bastos e Manuel Bento Fernandes, por encomenda de Maria das Dores Silva e Almeida; 1883 - cedência de parte do parque de Santa Gertrudes para a instalação do Jardim Zoológico e da Aclimatação de Lisboa; 1890/ 1909 - entre estas datas esteve instalado no Parque o Jardim Zoológico de Lisboa; 1920, 12 de Abril - dá entrada nos serviços camarários, por José Maria Eugénio de Almeida (neto), projecto de transformação das cocheiras em habitação, com traço de Raul Lino; 1926, 15 Dezembro - José Maria Eugénio de Almeida faz dar entrada na Câmara Municipal de Lisboa projecto para acabamento do edifício das antigas cocheiras; 1931, 30 Março - José Maria Eugénio de Almeida pede autorização para continuar obra embargada no edifício das antigas cocheiras; 1939, 11 Dezembro - Maria do Patrocínio Barros Lima e Almeida pede licença camarária para vedar o terreno do Parque de Santa Gertrudes, junto á Av. De Berna; 1943/1947 - entre estas datas esteve instalada no Parque uma feira popular, iniciativa do jornal O Século; 1950, década - projecto de adaptação de recuperação e adaptação das antigas cocheiras pelo arquitecto Leonardo Castro Freire, 1958 - conclusão das obras de recuperação e adaptação das antigas cocheiras; 1959, 13 Dezembro - dá entrada n Câmara Municipal de Lisboa de projecto de construção de pavilhão junto ás antigas cocheiras, á distância de 10 metros; 1960, 29 Novembro - dá entrada na Câmara Municipal de Lisboa projecto de obras de alteração nas antigas cocheiras, que passariam pela abertura de uma porta de serviço no muro voltado á estrada e Benfica e á construção de anexos sobre o terraço N.; 1961, 12 Junho - dá entrada na Câmara Municipal de Lisboa projecto de pequenas alterações das obras em curso no edifício das antigas cocheiras; 1961, 24 Julho - Vasco Maria Eugénio de Almeida, conde de Vilalva requer aprovação das telas finais relativas ás obras de construção de anexo no nº4 da R. Marquês da Fronteira, no edifício das antigas cocheiras; 1861, 15 Dezembro - Vasco Maria Eugénio de Almeida, tendo concluído as obras de modificação nas antigas cocheiras, pede vistoria para efeitos de utilização; 1962, 4 de Setembro - criação da Fundação Eugénio Almeida, por desejo testamentário de Vasco Maria Eugénio de Almeida; 1967, 17 Maio - Vasco Maria Eugénio de Almeida faz dar entrada na Câmara Municipal de Lisboa projecto para a construção de um pequeno pavilhão para abrigo do guarda portão na Av. Marquês da Fronteira; 1968, Janeiro - as antigas cocheiras deixam de ter frente para a Av. de Berna; 1988, 2 Maio - Maria Teresa Burnay Eugénio de Almeida faz entrar na Câmara Municipal de Lisboa projecto de pequena garagem no Parque de Santa Gertrudes.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante

Materiais

Estrutura de alvenaria mista rebocada; molduras de vãos, embasamento, frisos, cornijas, mísulas, consolas, colunas da loggia e torre quadrangular em cantaria de calcário; tijolo em friso; caixilharias em alumínio; fero forjado nos protões; calçada portuguesa em pavimento fronteiro á fachada principal.

Bibliografia

CALADO, Maria, FERREIRA, Victor Matias, Lisboa. Freguesia de São Sebastião da Pedreira, Lisboa, 1991; SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, (dir. de), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; LEAL, Joana da Cunha, Giuseppe Cinatti (1808-1879) Percurso e Obra, (dissertação de mestrado em História da Arte Contemporânea na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa), Lisboa, 1996

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CML: Arquivo fotográfico

Documentação Administrativa

CML: Arquivo intermédio, Procº nº 35102

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1928, Julho - reparações interiores e exteriores, acabamento das ameias dos terraços, reparações das cantarias; 1938, Agosto - caiação e pintura de tectos e pintura de portas de rua do palácio de Palhavã (antigas cocheiras); 1939, Dezembro - construção de vedação no Parque de Santa Gertrudes junto à Avenida de Berna; 1940, Maio - pintura de portão com no n.º 2 da Avenida Marquês da Fronteira; 1966, Setembro - obras de simples conservação; 1967, Agosto - pintura de portões; 1967, Novembro - obras de pintura.

Observações

*1 - originalmente a propriedade encontrava-se unida, formando um amplo conjunto com uma área total de 86000 m², conhecida como parque de Santa Gertrudes, onde se incluía o Palácio Vilalva (PT031106500563), ao qual as cocheiras pertenciam.

Autor e Data

Inês Pais 2006

Actualização

 
 
 
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