Palácio na Rua da Rosa, n.º 277 / Centro de Apoio Familiar do Bairro Alto / Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica

IPA.00025540
Portugal, Lisboa, Lisboa, Misericórdia
 
Palacete barroco, originalmente de planta em L, fechada por pátio voltado para à fachada posterior. Fachada principal rasgada por vãos moldurados, abrindo-se no primeiro piso portas de verga recta e abatida, num jogo alternado, e no andar nobre janelas de sacada rectilíneas com guarda de ferro, sendo a central inferior delimitada por pilastras e a superior mais alta e encimada por cornija contracurvada. No interior, a organização espacial desenvolve-se a partir de vestíbulo rectangular, disposto transversalmente à fachada e no ângulo direito do edifício, a partir do qual parte escadaria para os vários pisos, e de corredor paralelo à fachada principal. As escadas e duas salas do andar nobre, voltadas para o pátio, apresentam silhares de azulejos monocromos azuis sobre fundo branco, de composição figurativa, datáveis do primeiro quartel do século 18 e atribuíveis ao Mestre P.M.P., ou de padrão, barrocos.
Número IPA Antigo: PT031106150395
 
Registo visualizado 2591 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa  Palacete  

Descrição

Planta rectangular, irregular, de volumes articulados, dispostos verticalmente, com cobertura em telhados, de duas e quatro águas, e em terraço. Fachadas de três e quatro pisos, rebocadas e pintadas, rasgadas por vãos rectilíneos de molduras em cantaria, simples, a ritmo regular e sobrepostos. Fachada principal voltada a E., com três pisos, pintada a amarelo, com embasamento de cantaria e terminada em cornija de massa, sobreposta por beirado simples. No primeiro piso rasgam-se cinco portas, alternadamente, de verga recta e curva, em arco abatido, com chave saliente, a da direita de acesso ao interior e a central com moldura prolongada até à sacada da janela superior enquadrando o arco. No andar nobre, abrem-se cinco janelas de sacada, com guardas em ferro forjado, a central mais alta, de verga abatida encimada por cornija contracurvada, assinalando um eixo de simetria, e as restantes de verga recta. No último piso, rasgam-se cinco janelas de peitoril. Todas as janelas integram na caixilharia bandeira. Fachada posterior, voltada a O., com três panos; o da esquerda, terminado em cornija e beirado simples, tem quatro pisos, o inferior rasgado por uma janela rectangular jacente, o segundo com uma de peitoril, ambas gradeadas, e os dois superiores, respectivamente, por uma e duas janelas de sacada, com guarda em ferro; o pano central, de um só piso, é rasgado por um vão em arco abatido, e uma pequena janela rectangular com grade de ferro; o terceiro pano, terminado em empena, tem três pisos, o inferior rasgado por porta ampla, com gradeamento de ferro, o segundo por duas janelas de peitoril, com moldura terminada em pequena cornija, com grades em ferro e o terceiro por uma janela, pequena, rectangular, de igual moldura. Fachadas do pátio: a fachada E. tem quatro pisos, o inferior, avançado, criando superiormente terraço protegido por grades de ferro, rasgado por três janelas de peitoril e uma porta; os restantes pisos, têm dois panos, separados por pilastra de massa, abrindo-se, no 2.º piso, duas janelas de sacada e uma outra rectangular, pequena; os 3.º e 4.º pisos são rasgados, respectivamente, por três e cinco janelas de peitoril. Fachada N., com três pisos e dois panos, sendo o piso térreo rasgado por duas janelas de peitoril e os superiores por três de sacada; nesta fachada são visíveis tirantes entre os dois últimos pisos e no topo do último piso. Fachada S. com dois pisos, o inferior rasgado por uma porta e uma janela, pequena, e o superior por quatro janelas de peitoril com caixilharia de guilhotina. INTERIOR: Cave de menor área que os restantes pisos, limitada à zona O. do imóvel; acompanhando o desnível do terreno encontra-se ao nível do solo a E. e à cota da R. de São Boaventura a O.; apresenta duas zonas independentes, a da direita, de planta em U, com uma escada interna de acesso ao piso superior, sendo ocupada pela lavandaria, cozinha e outras salas de serviço do Centro de Apoio Familiar do Bairro Alto e instalações sanitárias; a outra zona, ocupada por comércio, apresenta duas divisões e instalações sanitárias: uma de planta rectangular, disposta perpendicularmente à fachada posterior, e uma outra, de pequena área, disposta lateralmente a esta. Piso térreo com vestíbulo amplo, encostado à empena lateral direita do edifício, com pavimento em lajes de cantaria, tecto de madeira e arco abatido ao centro. Na parede lateral esquerda, rasga-se porta de acesso às dependências do piso: duas salas intercomunicantes, a primeira subdividida por parede falsa, e a segunda, com quatro arcos abatidos, agrupados dois a dois, um par ao centro da sala, o outro, no topo O., sobre pilastras adossadas às paredes e pilar quadrangular central; à direita do vestíbulo, um corredor, que se desenvolve paralelamente à fachada principal, faculta o acesso às restantes dependências: quatro salas, dispostas em torno do pátio, duas lateralmente, ao longo das fachadas N. e S. do pátio, e as outras duas, de pequena área, ao longo da fachada E.. As instalações sanitárias, localizam-se no extremo e sensivelmente a meio do corredor e no extremo de uma das salas voltada ao pátio. Na parede frontal do vestíbulo rasga-se arco de volta perfeita, com chave saliente, sobre pilastras toscanas, de acesso à escada. Esta, com os dois primeiros lanços em cantaria e os restantes em madeira, com patamares intermédios, possui nas paredes silhares de azulejos de padrão, monocromos azuis sobre fundo branco, e guarda em balaustrada de madeira pintada de branco; ladeando a porta de acesso ao último piso, abre-se janela, com grade em ferro; a escada é iluminada por uma clarabóia. O 2º piso tem planta idêntica ao térreo, ainda que com pequenas alterações: os arcos no ângulo esquerdo do edifício foram fechados por paredes que subdividem as salas onde eles se encontram; a sala sobre o vestíbulo, acedida por porta junto às escadas do prédio, comunica por porta a uma outra sala, disposta à esquerda, que não foi subdividida; as salas que no piso térreo se desenvolvem ao longo da fachada E. do pátio não existem neste piso. Duas salas contíguas, voltadas para o pátio (a N.), apresentam silhares de azulejos, monocromos azuis sobre fundo branco, com cenas galantes, e uma outra dependência interior, a S., azulejos de figura avulsa. Os vãos das portas e janelas deste piso são em cantaria. O 3º piso tem planta idêntica aos dois inferiores, mas sem a zona que ladeia os pátios, a S. dos mesmos. Do vestíbulo acede-se, à esquerda, a três salas intercomunicantes situadas ao longo da fachada principal, e, á direita, a cinco salas, duas das quais intercomunicantes; ao fundo, dispõem-se as instalações sanitárias e uma escada em madeira de acesso ao piso superior. O 4º piso tem menor área e é esconso, sendo ocupado por duas salas voltadas para o pátio, pequenos espaços de arrumos e instalações sanitárias. Os pavimentos dos pisos são em madeira nas salas e corredores e cerâmicos nas instalações sanitárias, cozinhas e outras zonas de serviço.

Acessos

Rua da Rosa, n.º 277

Protecção

Incluído na classificação do Bairro Alto (v. IPA.00005019)

Enquadramento

Integra-se harmoniosamente no conjunto urbano do Bairro Alto, num terreno em declive, flanqueado por dois edifícios um pouco mais elevados, erguendo-se na proximidade o Palácio dos Marqueses de Minas (v. PT031106280516). Nas traseiras do edifício desenvolvem-se dois pequenos pátios, de planta rectangular, alinhados mas em cotas diferentes: um mais elevado e recuado, com grade de ferro, e o outro, sobre o piso térreo que abre para a R. de São Boaventura, limitado por dois corpos laterais, mais baixos e por um muro, rebocado e pintado a amarelo, com silhar de azulejos de fabrico recente.

Descrição Complementar

AZULEJOS: Duas salas do andar nobre, voltadas para o pátio, apresentam um conjunto de painéis de azulejo, com senhoras trajando à moda de cerca de 1695-1700, com penteados ditos à Fontange. Na primeira sala, a maioria dos painéis representam aspectos da toilette femininos, ainda que em dois deles figurem dois elementos masculinos. Os painéis são emoldurados por uma barra de enrolamentos vegetalistas simétricos, tendo superiormente ao centro uma cartela preenchida com uma reserva simulando mármore. No painel principal, o de maior dimensão, um cortesão em trajo de aparato observa-se a um espelho, transportado por um serviçal, sob o olhar de duas senhoras que passeiam. Em segundo plano, um casal conversa junto de uma fonte. A imponência da personagem e o destaque que lhe é dado parecem indiciar, eventualmente, o retrato de alguém importante, talvez o dono da casa. Num painel de menor dimensão, junto deste, uma senhora toma uma refeição ligeira - provavelmente o pequeno-almoço, pois encontra-se ainda por arranjar - servida por uma criada. Na parede fronteira, um cavalheiro dormita, lendo um livro à luz de uma vela. Próximo, dois pequenos painéis ilustram os momentos que antecedem o final de noite de uma senhora. Num, uma dama arranja-se para deitar, soltando os cabelos frente a um espelho. No painel junto, uma figura feminina dorme sob um pesado dossel. Na segunda sala, provavelmente um espaço de lazer e jogo, as representações estão relacionadas com actividades lúdicas. As barras que emolduram estes painéis são praticamente idênticas às que circunscrevem as cenas de batalha no Palácio dos Marqueses de Minas, apresentando a mesma organização decorativa de festões e enrolamentos vegetalistas, onde se observam querubins afastando-se de leões. Num pequeno painel, ladeando a entrada no local, três personagens, um cavalheiro e duas senhoras, jogam às cartas. No outro painel lateral, à entrada da sala, um casal joga gamão numa mesa de campanha. No painel de maior dimensão figuram dois fidalgos a jogar bowling sob o olhar de duas damas e três outros cavalheiros, um dos quais junto de uma fonte; à esquerda, três personagens caminham na direcção dos jogadores, um casal de camponeses e um pequeno rapaz; todos transportam alimentos: caça, legumes, peixe. Em segundo plano, outro casal, de condição modesta, com a figura feminina sentada numa mula, segue a mesma direcção. Junto deste, um pequeno painel exibe um casal jogando com duas pequenas esferas (semelhantes a berlindes), estando o cavalheiro com um joelho no chão. Na parede oposta, à direita um cavalheiro joga à pela e uma figura feminina observa-o, e à esquerda um casal, com o homem ajoelhado, joga uma espécie de croquet.

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Residencial: casa (2.º andar) / Assistencial: centro de acolhimento (cave e piso térreo) / Política e administrativa: departamento municipal (3.º andar e sótão)

Propriedade

Privada: Misericórdia (cave e piso térreo) / pessoa singular (2.º andar) / Pública: municipal (3.º andar e sótão)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

CONSTRUTOR: José Lopes dos Santos Júnior (1940); Ernesto da Silva Esteves (1960). ENGENHEIROS: Manuel Brás Martins (1940); Francisco Antunes (1945). PINTOR DE AZULEJOS: Mestre P.M.P. (atr.) (séc. 18). RESTAURADOR: atelier "Oficina do Castelo" (2004).

Cronologia

Séc. 17, final - construção do palácio; séc. 18, início - colocação dos painéis de azulejo que revestem as salas do piso nobre e as escadas do imóvel; séc. 18, final / séc. 19, início - adaptação do palácio a prédio de rendimento, com o acréscimo de pisos e sua divisão em fracções; séc. 19 / séc. 20 - o imóvel foi propriedade da família Alves Monteiro e, posteriormente, da família Gonçalves Marques; obras de remodelação e ampliação do imóvel; 1877 - regularização dos vãos do piso térreo na fachada da R. da Rosa pelo proprietário Joaquim José Alves Monteiro; construção de cavalariça no pátio virado à R. de São Boaventura (actual cave do imóvel); 1935 - construção de depósito de materiais inflamáveis (provavelmente a ala O. do pátio); 1940 - abertura de janela na antiga cocheira da R. de S. Boaventura; 1977 - incêndio provocado pelos funcionários da "Fotogravura Nacional" que ocupava o piso térreo; 1983 - o prédio pertencia ao Banco Totta e Açores, o qual refere que os inquilinos ocupam partes independentes entre si; divisão do imóvel em propriedade horizontal; 1990, 15 Outubro - queda do tecto do piso térreo por abatimento das madeiras empodrecidas do pavimento do 1º andar; 1991, 5 Janeiro - a P.S.P. informou que os beirais parapeitos e janelas estavam a cair; 1995 - aquisição do piso térreo e cave do imóvel pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, por compra; 1998 - instalação do Centro de Apoio Familiar do Bairro Alto na fracção da SCML, na sequência de obras de beneficiação do piso.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura de alvenaria rebocada; molduras de vãos em lioz; silhares de azulejos nas paredes de algumas salas e escadas; pavimento de madeira e tijoleira; portas e caixilharia de madeira; vidros simples; cobertura de telha.

Bibliografia

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID; SCML: DGIP; CML: Unidade de Projecto do Bairro Alto e Bica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; SCML: GRP

Documentação Administrativa

SCML: DGIP (Prédio nº 13); CML: arquivo de Obras, Proc.º n.º 32208

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1940 - obras de beneficiação na antiga cocheira por Maria do Carmo Sequeira Machado Marques; introdução de lajes de betão sob direcção do engenheiro Manuel Brás Martins; abertura de janela na antiga cocheira da Rua de São Boaventura pelo construtor José Lopes dos Santos Júnior; 1945 - introdução de lajes de betão no r/c que era ocupado pela Fotogravura Nacional sob direcção do Engenheiro Francisco Antunes; 1946 - legalização e uma pequena dependência construída na loja da Rua de São Boaventura; 1957 - reparação do telhado; 1960 - alargamento de um vão na Rua de São Boaventura pela proprietária Maria do Carmo Sequeira Machado Marques sob direcção do construtor civil Ernesto da Silva Esteves; 1963 - obras de limpeza e beneficiação geral; 1967 - construção de forma clandestina de balneários pela "Fotogravura Nacional"; 1995 - obras de melhoramento; CML: 2004 - restauro dos azulejos da escada pelo atelier "Oficina do Castelo"; 2006 - obras de conservação e beneficiação do interior do 1.º andar.

Observações

Autor e Data

Helena Mantas e João Simões 2006

Actualização

 
 
 
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