Edifício Pombalino de gaveto entre a Rua da Prata, n.º 150 a 160 e a Rua da Vitória, n.º 26 a 30

IPA.00025563
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Edifício residencial multifamiliar e comercial pombalino, integrado nos planos de reconstrução da zona da Baixa, disposto de gaveto, com estrutura em gaiola, com estabelecimentos comerciais no piso térreo, sobrelojas e cinco pisos de habitação com um fogo cada um, à excepção do último, de águas-furtadas, que tem dois fogos, desenvolvendo-se a caixa da escada ao centro. Fachada principal seguindo o esquema de uniformidade e simplificação arquitectónica, devido à necessidade de construir rapidamente, rasgada por vãos rectilíneos a ritmo regular, os do terceiro piso, o nobre, com janelas de sacada, e as restantes de peitoril, quase todas com bandeira e molduras de cantaria que, nos quarto e quinto pisos, se prolongam inferiormente formando falsos brincos rectos. Na zona de habitação, desenvolve-se interiormente um fogo por andar, com três portas de ligação à escada, dependências intercomunicantes voltadas para a fachada principal e lateral direita, amplamente iluminadas, a principal, no ângulo das fachadas, com pinturas murais, de ornatos geométricos e vegetalistas, e uma pintura alegórica, inserida num medalhão do tecto; e zona de serviços voltados para o saguão, nas traseiras do imóvel.
Número IPA Antigo: PT031106481234
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial multifamiliar  Edifício  Edifício residencial e comercial  

Descrição

Planta rectangular, com caixa de escadas central, iluminada por clarabóia, com escada de lanços paralelos e patamares intermédios, de acesso aos fogos, um por piso, e dois nas águas-furtadas. Massa simples, disposta na vertical, com cobertura em telhado de quatro águas. Fachadas idênticas, ainda que a fachada lateral direita, voltada a S., para a R. da Vitória, seja mais estreita que a principal, voltada a O., para a R. da Prata; possui sete pisos, o inferior, de lojas, revestido a placas de mármore cinzento, o segundo, de sobrelojas, revestido a azulejos monocromos verdes e os restantes a azulejos de padrão verde, branco e azul, com pilastras toscanas de ordem colossal nos cunhais, seccionadas por friso de cantaria entre a sobreloja e o piso superior. As fachadas são rasgadas a ritmo regular por seis eixos de vãos rectilíneos na fachada principal e quatro na lateral direita, os vãos inferiores alternadamente de montra e porta envidraçada, encimados por toldos; os da sobreloja, dispostos na horizontal e de menor dimensão que os dos restantes pisos, têm molduras de verga trapezoidal e inferiormente pano de peitoril em cantaria; os do terceiro, quarto e quinto pisos têm molduras de cantaria levemente recortadas nos ângulos superiores, sendo os primeiros de sacada, com guarda de ferro, os segundos de peitoril com falsos brincos rectos, na fachada principal, e de sacada, na lateral direita, e os do quinto igualmente de peitoril, mas de verga interior abatida e com caixilharia de guilhotina; no sexto piso, sensivelmente recuado, terminado em cornija de massa e beirado simples, desenvolve-se sacada corrida sobre a cornija que percorre as fachadas, com guarda de ferro e para onde se abrem as janelas, de moldura simples; na fachada lateral apresenta papagaios, em ferro. As águas-furtadas, mais estreitas que as fachadas, com cunhais de cantaria e terminadas em cornija sobreposta por beirado simples, são rasgadas por janelas de sacada, também de moldura simples, com guarda de ferro. O terceiro e quarto piso separam-se dos restantes por frisos de cantaria. INTERIOR: as lojas do piso térreo são amplas e possuem arrumos, instalações sanitárias e escada de acesso à cave, nas traseiras. Pela porta central da fachada principal, acede-se ao vestíbulo rectangular, que conduz às escadas de comunicação entre os vários pisos, com os primeiros degraus em cantaria e o restante em madeira, e com guarda plena em alvenaria. Três portas dão acesso aos apartamentos. Cada um dos pisos de habitação têm planta semelhante, excepto o das águas-furtadas, estruturados em torno de corredor que circunda a caixa de escadas, com duas áreas distintas, uma de permanência, de planta em L, que se desenvolve ao longo da fachada principal e da fachada lateral direita, e uma de serviços, nas traseiras. A área de permanência tem sete dependências intercomunicantes, com portas de verga recta e bandeira envidraçada, cinco das quais voltadas para a R. da Prata, a última do lado direito, de ângulo, com janelas voltadas para a R. da Vitória, as restantes duas voltadas para a R. da Vitória. A sala de esquina do andar nobre, a de maior área, tem pintura no tecto, inserida em cartela central, representando uma figura feminina alegórica ao Comércio e à Abundância, com trajos romanos, empenhando, na mão esquerda, um caduceu e segurando, na direita, um cesto de frutas e cereais; da cartela partem quatro raios que interligam à moldura definidora do tecto. Nas paredes detectam-se ainda vestígios de pinturas murais com ornatos geométricos e vegetalistas, simples. A área de serviço é menor, com janelas voltadas para o saguão, apresentando uma cozinha com despensa e instalações sanitárias. Águas furtadas de planta rectangular, estruturada em torno de corredor em L, com quatro assoalhadas, cozinha e instalações sanitárias. Os pavimentos são em soalho nas salas e cerâmico nas dependências de serviço; os tectos são planos, em madeira, e rebocados.

Acessos

Rua da Prata, n.º 150 a 160; Rua da Vitória, n.º 26 a 30

Protecção

Incluído na classificação da Lisboa Pombalina (v. IPA.00005966) / Incluído na Zona de Proteção do Convento e Igreja de Corpus Christi (v. PA.00011495)

Enquadramento

Urbano, flanqueado, integrado no conjunto da Baixa Pombalina (v. PT031106190103), no vale de aluvião entre as colinas do castelo, a E., e a de São Francisco, a O.. Implanta-se de gaveto, possuindo adossados a E. e a N. edifícios de cércea semelhante, abrindo a O. para a R. da Prata e a S. para a R. da Vitória. Em frente da fachada lateral direita, ergue-se a Igreja de São Nicolau (v. PT031106480353). Na fachada posterior, possui um saguão.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: edifício residencial e comercial

Utilização Actual

Comercial: loja (piso térreo) / Devoluto (andares de habitação)

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Eugénio dos Santos (1758); Raul Tojal (1935). EMPREITEIRO: Alfredo Mendes de Barros (1954); João Baptista de Matos (1965); José da Silva Cerdeira (1972); José Augusto Gomes (1973 - 1981); Jovino António Rodrigues Fidalgo (1980). ENGENHEIROS: Manuel da Maia (1755); Carlos Mardel (1758).

Cronologia

1755, 1 Novembro - terramoto arrasa grande parte da zona baixa da cidade; no fim do mês, o Eng. Manuel da Maia foi escolhido para proceder à direcção técnica da reconstrução; 29 Novembro - alvará dando condições para que o Ministro da Inspecção de cada bairro procedesse ao levantamento de todas as ruas, praças e edifícios públicos existentes em 31 de Outubro, para elaborar um cadastro de cada um dos bairros da capital; 1755 / 1758, entre - elaboração do projecto-piloto para a reconstrução da Baixa-Chiado; 1755, 4 Dezembro - entrega da Parte Primeira da Dissertação de Manuel da Maia; 30 Dezembro - Sebastião José de Carvalho e Melo proibiu toda e qualquer construção até à definição de um plano; 1756, 31 Março - Parte Terceira do relatório de Manuel da Maia, onde se introduziu as primeiras quatro hipóteses desenhadas para reflexão sobre a reconstrução da cidade baixa; determinava-se que os prédios deviam ser todos de três pisos, o que viria a ser recusado; 1758, 12 Maio - Lei estabeleceu os direitos públicos da edificação por meio de "um plano decoroso, digno da capital" e determinando que os terrenos em que se deviam levantar os edifícios se começassem a entregar; Junho - estabeleceu-se que os prédios teriam uma cércea de quatro pisos com águas-furtadas; Manuel da Maia, lamentando não ter condições físicas para realizar os desenhos, informa ter designado para apurar a planta final e dirigir as obras os Engs. Eugénio dos Santos e Carlos Mardel, cabendo a Eugénio dos Santos, arquitecto do Senado, o desenvolvimento das peças principais; os projectos tiveram a convergência e cumplicidade de Sebastião José de Carvalho e Melo e os membros do seu gabinete; 1759, 12 Junho - ordem para entrega dos terrenos das ruas antes chamadas dos Ourives do Ouro, dos Douradores e dos Escudeiros, que seriam integradas na nova rua nobre designada de Augusta; o Marquês de Pombal deu instruções sobre a maneira como os proprietários deveriam tomar posse dos seus terrenos, a fim de iniciar a reedificação da Baixa, começando simultaneamente do Terreiro do Paço para o N. e do Rossio para o S., para maior urgência; 1760 / 1769, entre - pertencia, quanto mais não seja o chão onde viria a ser construído o prédio, à Junta do Comércio; 1762 / 1777, entre - data provável da construção do prédio; 1769, 6 Março - entre outras medidas legislativas do Marquês de Pombal para acelerar a construção da R. Augusta, surgiu nesta data um decreto que procurava salvaguardar a edificação desta rua em primeiro lugar; 1773, 21 Junho - resolução do Marquês, alterando as disposições do anterior decreto, e estipulando que a Junta do Comércio deveria assumir a edificação dos prédios ainda não iniciados pelos proprietários dos chãos, gerindo depois as Obras Públicas a sua administração, enquanto as vendas não se verificassem; séc. 19 - provável alteamento do prédio; 1907 - o prédio pertencia à Viscondessa de Valmor; 1917 - o prédio pertencia a Máximo José de Oliveira Braga; 1933 - falecimento de Máximo José de Oliveira Braga; 1934, Junho - aquisição do prédio pela SCML, por compra judicial; 1959, 11 Junho - a SCML tentou recuar com a autorização dada de trespasse de uma chapelaria para uma livraria, na loja do n.º 156, quando descobriu que os livros eram de cariz evangélico; 1964 - sismo provocou uma fenda no prédio; 1969, Fevereiro - o tremor de terra provocou grandes fendas no reboco, mas sem importância estrutural; 1983, Maio - queda de um dos tectos no 3º Esq.; 1990, 14 Março - a CML impôs o cumprimento de medidas de segurança contra incêndios; 1992, Novembro - intimidação da CML à SCML para fazer obras no imóvel; 1993 - o DGIP solicitou ao Departamento de Obras que se procedesse à recuperação do imóvel; 1995, 11 Maio - solicitação da Junta de Freguesia de São Nicolau para a realização de obras no prédio; o DGIP propõe iniciar as obras no final de 1995 apontando a sua conclusão para o final de 1996, no âmbito do Recria, gastando 100.000 contos; 2003, Abril - estava em negociação a venda do imóvel com a Europe Capital Parteners; 6 Novembro - vistoria da CML.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante (de gaiola - estrutura autónoma e modulada de peças de madeira maciça, travadas entre si e capazes de resistir a um abalo sísmico, suportando os pavimentos e cobertura mesmo após a ruína das alvenarias das paredes).

Materiais

Estrutura de gaiola preenchida a alvenaria, rebocada e pintada; frisos, pilastras e molduras dos vãos em cantaria calcária; cornijas de massa; vidros simples; portas e caixilharias de madeira; pavimento cerâmico e de madeira; grades de ferro; rodapés e revestimento das paredes de chaminés em azulejos; pinturas murais; cobertura de telha.

Bibliografia

MACEDO, Luís Pastor de, A Baixa Pombalina, Lisboa, 1938; FRANÇA, José-Augusto, A Reconstrução de Lisboa e a Arquitectura Pombalina, Lisboa, 1978; Lisboa e o Marquês de Pombal. Exposição Comemorativa do Bicentenário da Morte do Marquês de Pombal, (Catálogo da Exposição), dir. Irisalva Moita, Lisboa, 1982; FRANÇA, José-Augusto, Lisboa Pombalina e o Iluminismo, Lisboa, 1987; FERNANDES, José Manuel, Alguns apontamentos sobre urbanismo alfacinha (da Baixa ao campo Grande, do século XVIII ao século XX), in Lisboa de Frederico Ressano Garcia, 1847 - 1909, (dir. Raquel Henriques da Silva), Lisboa, 1989; MOURA, Carlos, Lisboa Pombalina, Lisboa, 1991; MADUREIRA, Nuno, Cidade: Espaço e quotidiano. Lisboa 1740 - 1830, Lisboa, 1992; VALE, Teresa Leonor, Do Terreiro do Paço à Praça do Comércio, in Monumentos, n.º 1, Lisboa, 1994; SILVA, Vítor Cóias, Um novo modelo (e uma nova visão) do Edifício Pombalino, in Monumentos, n.º 6, Lisboa, 1997; Monumentos, n.º 21, Lisboa, Setembro 2004.

Documentação Gráfica

SCML: DGIP / DGEMN: DSID

Documentação Fotográfica

SCML: DGIP / DGEMN: DSID

Documentação Administrativa

SCML: DGIP, proc.º 37, DICO, proc.º 37

Intervenção Realizada

INQUILINO: 1935, 1 Fevereiro - a Mesa da SCML autorizou o inquilino da loja do n.º 156, Miguel Valente de Almeida, a transformar a fachada da sua chapelaria, sob projecto do Arq.º Raul Tojal; 1936, 18 Março - a SCML autorizou a firma J. A. Rijo & C.ª, filhos, Lda. a executar obras de transformação do seu estabelecimento no n.º 150-154; 1937, 5 Maio - a SCML autorizou as obras de alterações nas lojas do n.º 158-160 a fazer pelo inquilino Cassiano Ferreira Terenas; 1937, 5 Agosto - por vistoria do mestre de obras da SCML, verificou-se que a introdução das vigas de ferro para suportar a prumada superior foi feito em péssimas condições, tendo-se intimado o dono da obra a fazer o trabalho com qualidade; PROPRIETÁRIO: 1943, 22 Junho - recolocação de azulejos que haviam caído da fachada, em cumprimento da ordem dos Serviços de Fiscalização da CML; 1945, 18 Janeiro - a Mesa deliberou proceder a reparações gerais no 4º andar do n.º 156; 22 Março - a Mesa deliberou substituir a coluna montante e caixas de derivação; 1947, 2 Junho - vários inquilinos das lojas solicitaram autorização para substituição o soco de cantaria por estar em muito mau estado; 1954, 30 Outubro - a Mesa adjudicou à firma Alfredo Mendes de Barros a empreitada de obras interiores no 4º esquerdo; 1959, 5 Fevereiro - a Mesa determinou que se solicitasse à DGEMN uma estimativa e orçamento de obras de reparação e beneficiação geral do prédio; 1960, Julho - apresentação do projecto de obras da DGEMN à SCML; 1960, Outubro - devido à oposição geral dos inquilinos em aumentar as rendas, a SCML optou apenas por mandar fazer obras gerais de beneficiação e reparação, prescindindo da construção e beneficiação das casas de banho; INQUILINO: 1964, Abril - obras de beneficiação da fachada do estabelecimento da loja do n.º 150 a 154, sem autorização da SCML; 1964, 11 Maio - o mesmo inquilino recebeu autorização para forrar a frontaria com pedra mármore; PROPRIETÁRIO: 1965, 22 Abril - adjudicação da empreitada de reparação das coberturas à firma João Baptista de Matos; 1968, Setembro - realização de obras clandestinas: demolição de chaminé e cobertura integral do logradouro;1972, 2 Março - adjudicação da empreitada de obras de beneficiação do 2.º andar à firma José da Silva Cerdeira; 1973, 5 Julho - adjudicação da empreitada das obras de beneficiação do 5.º esquerdo à firma José Augusto Gomes; 1980, 26 Novembro - adjudicação da empreitada de substituição da prumada do esgoto à firma Jovino António Rodrigues Fidalgo; 1981, 19 Maio - adjudicação da remodelação do 5.º andar frente à firma José Augusto Gomes; 1997, 11 Dezembro - adjudicação à firma CM - Gestão, Planeamento e Controlo de Projectos e Empreendimentos, Lda. do estudo prévio das obras de reabilitação do edifício; realização de algumas obras consideradas inadiáveis e urgentes.

Observações

Autor e Data

Helena Mantas e João Simões 2007

Actualização

 
 
 
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