Villa Romana do Rabaçal

IPA.00002608
Portugal, Coimbra, Penela, União das freguesias de São Miguel, Santa Eufémia e Rabaçal
 
Villa romana com notável área de habitação, tanto em organização espaçial, como em decoração *4. Pode ser comparada com São Cucufate (v. PT040214040001), Milreu (v. PT050805020001) e Torre de Palma (v. PT041211040002), nas épocas de ocupação, decoração (mosaicos) e funcionalidade. O seu peristilo octogonal apenas tem paralelo nas villae romanas, de Valdetorres de Jorama (30 km N. de Madrid) e de Palazzo Pignano (Cremona, Milano).
Número IPA Antigo: PT020614040006
 
Registo visualizado 3425 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Conjunto arquitetónico  Edifício e estrutura  Agrícola e florestal  Villa    

Descrição

As escavações arqueológicas puseram a descoberto, alicerces, arranques de paredes e pavimentos, apresentando uma vasta área edificada pertencente à villa urbana e à villa rústica, ficando esta última a N., onde se encontram os balneários. A NE foi descoberta uma nascente e um sistema elevatório de água (nora). A "residência senhorial" ocupa um rectângulo com cerca de 40 metros de largura por 250 metros de comprimento, apresentando planta radial, composta por perístilo central octogonal e construções adjacentes em raios; no topo sul encontram-se vestígios da entrada principal, composta por três compartimentos, sendo dois laterais (3,7m x 6,6m) e um central correspondente a um corredor (1.7m x 6,6 m) com acesso directo ao peristilo. Ainda a S., destacam-se vestígios de um compartimento amplo de planta octogonal (9,6m entre lados paralelos) e paredes largas, sugerindo construção em altura, comunica com exterior através da parede SO, e com o interior através da parede NE, ligadando a dois compartimentos contíguos à esquerda da entrada. O peristilo (16m de largura entre lados paralelos) compõe-se por oito corredores com alguns vestígios de ligações a compartimentos, um pórtico octogonal de 24 colunas, das quais se conservam alguns fustes em mármore de Estremoz ou de Vila Viçosa*2 e socos octogonais em calcário do tipo das Malhadas, ligados por lancil paralelepipédico. Vestígios das paredes do interior dos corredores revelam placas decorativas em mármore de baixo relevo, algumas do rodapé, em friso de composição geométrica, fazendo ligação com o pavimento de mosaico em painéis de composição idêntica. Existe ainda o registo fotográfico de um capitel com volutas invertidas e folhas de acanto *3. O corredor SE liga a vestígios de uma sala (4m x 4m), com pavimento em opus signinum. O corredor E. tem uma pequena estrutura na parede interior, semelhante a um degrau que sugere uma passagem, um parapeito ou um nicho de estátua. No corredor NE não foi encontrado qualquer vestígio de construção, ou pavimento, talvez por se encontrar muito à superfície do terreno. O corredor N. liga a vestígios de dois compartimentos contíguos (3,7m x 5,7m e 6,4m x 5,7m) que por sua vez dão acesso a dois cubículos, ligados a vestígios de uma construção com planta cruciforme, (possivel capela palatina), a sua cobertura seria em abóbada, sendo esta sugerida pela tubaria fechada de encaixe, encontrada no local. Surgem ainda mais vestígios de muros, de canalizações, de lajeados e de uma lareira nas traseiras a N.. O corredor NO comunica com vestígios de uma ampla sala (9m x 6,9m), sem qualquer pavimento ou algo que indicasse a sua função. O corredor O. comunica com os vestígios de uma sala triabsidada, correspondente à de maior dimensões encontrada (10m x 9,2m), identificada por triclínium, que no compartimento do fundo tem vestígios de paredes decoradas de mármore em baixo relevo e pavimento em mosaico. Nos compartimentos laterais existem vestígios de paredes idênticas às anteriores e o pavimento apresenta apenas vestígios de argamassa e terra batida, acreditando-se por isso, nunca terem sido acabados. No compartimento central encontrararam-se vestígios de placas de mármore em baixo relevo, com motivos geométricos, vegetalistas e arquitectónicos*3, pertencentes à decoração parietal, sendo o pavimento em mosaico, com uma cercadura geral e cinco painéis de decoração bastante profusa, com elementos figurativos, vegetalistas e geométricos, destacando-se quatro quadros com bustos femininos, representantes das estações do ano, o painel central mostra vestígios de uma figura feminina sentada numa cadeira, que conserva apenas parte do tronco, braço esquerdo e pés, esta imagem poderá representar uma alegoria, uma figura mitológica ou a proprietária?. Corredor SO liga a outra sala identificada por oecus (9m x 6,9m), pavimentada com mosaico decorativo em avançado estado de degradadação, provocado pelas várias sepulturas do séc. 16, que aqui foram encontradas, mantendo-se ainda duas delas a meio da sala.

Acessos

EN 347, Rabaçal

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 12/2021, DR, 1.ª série, n.º 109 de 07 junho 2021 (reclassificação) / ZEP, Portaria n.º 660/2018, DR, 2.ª série, n.º 236/2018 de 07 dezembro 2018

Enquadramento

Rural, em planície, isolado, envolvido por campos de cultivo.

Descrição Complementar

Os pavimentos da entrada principal, no compartimento lateral esquerdo são em mosaico policromo de composição geométrica, no corredor central em opus signinum, no compartimento da direita não existe qualquer vestígio de pavimento. Nos pavimentos dos corredores do peristilo, subsistem partes em mosaico policromo, com uma cercadura, de remate a decorar todo o perímetro tanto no interior como exterior dos pavimentos, à excepção do corredor O., com ligação ao triclínio. No corredor S., surge um painel rectangular, com uma faixa de meandros de suásticas em corda policroma de dois fios, seguida de uma composição em quadrícula, que no interior dos quadrados é preenchido por trama policroma de 5 fios, no canto S/SE, observam-se na composição do mosaico, um folha de hera, um cântaro e dois golfinhos afrontados, no grande círculo que ocupa a maior parte do painel, distinguem-se três espaços distintos, definidos por círculos concêntricos, o primeiro decorado com ondas e pares de folhas, o segundo com escamas, o terceiro, com um entrançado de dois fios e dois pequenos círculos concêntricos ao centro. No corredor SE, a composição do mosaico é também em quadrícula, sendo o canto E/SE, decorado com um medalhão circular, também com espaços distintos, no primeiro surge um entrançado de três fios, no segundo um denticulado, no terceiro uma estrela de 16 pontas e no centro um medalhão com uma roda denticulada e um nó de Salomão, o canto E/NE, tem idêntica decoração embora em pior estado de conservação. No corredor NO, grande parte do mosaico desapareceu, o subsistente, mostra uma corda policroma de dois fios envolvendo composições geométricas decoradas com o nó de Salomão. No corredor O., surge mosaico policromo de profusa composição geométrica, vegetalista e figurativa, sobressaindo, cinco painéis figurativos, sendo o do centro, um auriga vitorioso conduzindo uma quadriga (em avançado estado de degradação), ladeado pelos quadros das quatro estações, representadas por bustos femininos estes ladeados por elementos vegetalistas.

Utilização Inicial

Agrícola e florestal: villa

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: Municipal

Afectação

Época Construção

Séc. 04

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

Séc. 04 - Provável época das principais campanhas de edificação; 1984 - Campanha arqueológica que pôs a descoberto a parte residencial com alguns mosaicos completos; 1985 - descoberto o peristilo octogonal; 1988 - descobriram-se os balneários desta importante villa; 2004 - a villa foi contemplada por um financiamento de cerca de 40 mil euros proveniente do "World Monuments Fund" que anualmente contempla um dos monumentos da "Lista dos 100 mais ameaçados do Mundo", a verba disponibilizada virá a ser aplicada no plano de salvaguarda do sítio que abrange, uma casa do séc. 4, um balneário e uma casa agrícola com uma nora e um sistema elevatório de águas (Jornal, PÚBLICO, pg. 45, 24 de Nov. 2004); 2006, 18 Maio - apresentação pública da conclusão da 1ª fase do plano de salvaguarda; 2011, 27 de Junho - tendo sido detetadas algumas irregularidades no procedimento de abertura de classificação publicado em 4 de Fevereiro de 1999, foi reaberto o referido procedimento administrativo relativo à classificação, publicado no anúncio n.º 8792/2011, DR n.º 121, 2ª série; 2013, 16 maio - projeto de decisão relativo à classificação como sítio de interesse público (SIP), publicado no Anúncio n.º 179/-A/2013, no DR, 2ª série, n.º 94; 01 julho - classificação da Villa Romana do Rabaçal como Sítio de Interesse Público, em Portaria n.º 431-D/2013, DR, 2.ª série, n.º 124 (suplemento); 2015, julho - escavações arqueológicas na área residencial do conjunto; 2018, 25 junho - publicação do projeto de decisão relativo à fixação da Zona Especial de Proteção do conjunto em Anúncio n.º 103/2018, DR, 2.ª série, n.º 120/2018.

Dados Técnicos

Materiais

Alvenaria de pedra (alguns vestígios de paredes), mosaico em pedra, cerâmica e vidro

Bibliografia

MACIEL, Justino, A Época Clássica e a Antiguidade Tardia in História da Arte Portuguesa, Lisboa, 1992; PESSOA, M., A Vila Romana do Rabaçal, Penela (Coimbra, Portugal); Notas para o estudo da arquitectura e mosaicos in IV Reunião de Arqueologia Cristã Hispanica, Lisboa, 1992; PESSOA, Miguel, Villa Romana do Rabaçal, Penela, 1998; Catálogo, Espaço-Museu, Villa Romana do rabaçal, CM- Penela, 2004; http://www.patrimoniocultural.pt/pt/patrimonio/patrimonio-imovel/pesquisa-do-patrimonio/classificado-ou-em-vias-de-classificacao/geral/view/73035 [consultado em 11 agosto 2016].

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

2005 / 2006 - conservação, consolidação e restauro dos muros / estruturas.

Observações

* 1 - A maior parte da informação contida na ficha foi retirada, da publicação, da autoria de Miguel Pessoa, arqueólego responsável pelas escavações arqueológicas da "villa" ;*2 - Alguns vestígios da decoração e outros elementos encontrados nas escavações arqueológicas estão expostos no Espaço-Museu do Rabaçal. *3 - O capitel desapareceu pouco tempo depois da sua descoberta, salvaguardando-se apenas o seu registo fotográfico como testemunho da sua existência. *4 - A arquitectura doméstica rural romana surge-nos nestas construções (Rabaçal e outras) nos vectores deste tipo de arquitectura, também ela com paralelos na Itália meridional e no Norte de África, acompanhando o desenvolvimento nessas zonas, quer a nível da dinamização dos espaços construídos, quer a nível da decoração em mosaico, onde no campo se tende cada vez mais, a reproduzir os modelos da cidade, MACIEL, 1992 / 90

Autor e Data

Maria Bonina / Femando Grilo 1996 / Margarida Silva 2004

Actualização

Margarida Silva 2006
 
 
 
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