Ponte Ferroviária do Tâmega

IPA.00027119
Portugal, Vila Real, Chaves, Curalha
 
Arquitectura de comunicações e transportes, do séc. 20. Ponte de arco construída para a circulação ferroviária, integrada numa linha de via estreita, em argamassa hidráulica revestida a cantaria, com tabuleiro plano sobre amplo arco central e dois secundários para aligeiramento dos tímpanos, menores, e guarda em cantaria e gradeamento.
Número IPA Antigo: PT011703100156
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Estrutura  Transportes  Ponte / Viaduto  Ponte ferroviária  Tipo arco

Descrição

Ponte de tabuleiro horizontal, com orientação sensivelmente a N. - S., paramentos em alvenaria de granito, de aparelho regular, composto por três secções, definidas por falsos perpianhos, os dos extremos correspondendo aos pilares encontros, sensivelmente mais salientes, e o central correspondendo ao vão da ponte. O tabuleiro assenta sobre amplo arco de volta perfeita, com 32,50 m de corda e 9,00 m de flecha, com aduelas estreitas e compridas, encimadas por cornija, bastante saliente, e, sobre dois arcos secundários, dispostos lateralmente e parcialmente sobre o arco central, também de volta perfeita, com 6,00 m de corda e 2,25 m de flecha, de aduelas estreitas e compridas; estes arcos, arrancando de imposta bastante saliente, internamente, a que encima o arco central, prolongando-se para o seu intradorso, e, externamente, assentando em pilar com falsos perpianhos, foram projectados para aliviar o arco principal e, sobretudo, aumentar a secção do vão da ponte. Os paramentos da ponte terminam em cornija de perfil rectilíneo, bastante saliente, assente na secção central em falsas mísulas, igualmente de perfil recto. Pavimento de terra batida sobre placa de betão, protegido parcialmente por guardas plenas de cantaria, com remate avançado para o exterior, e gradeamento de ferro.

Acessos

Caminho de terra batida a partir da EN 103. WGS84: 41º42'41.14''N., 7º31'06.26''O.

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, isolado, integrado na linha ferroviária da Linha do Corgo, nas imediações da estrada nacional, lançada sobre o rio Tâmega, a 349 m de altitude, assentando directamente no afloramento rochoso, em ambas as margens, estando parcialmente encoberta por vegetação de médio e grande porte. Na sua proximidade, ergue-se, a E. e a NE. o antigo Apeadeiro do Tâmega (v. PT011703100155), o poldrado da Curalha (v. PT011703100159) e um moinho, na margem do rio (v. PT011703100158).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Transportes: ponte

Utilização Actual

Transportes: ponte

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIROS: Alberto da Cunha Leão (1897), António Júlio Pereira Cabral (1897), António Pereira de Faria (1919), Eduardo Augusto Pinto de Sousa (1919). FIRMAS: António Pereira Faria (1920), Casa Orey Antunes & Companhia (1920). MESTRE: Anastácio Ignácio Teixeira (1920). PEDREIROS: António Borges (1920), Joaquim dos Santos (1920).

Cronologia

1873, 8 Julho - inauguração dos trabalhos da Linha do Douro; 1875, 30 Julho - cerimónia de inauguração da Linha do Douro, até então compreendida entre as estações do Pinheiro e de Novelas (Penafiel); 1878 - a Câmara Municipal de Vila Real solicitou a construção da via-férrea que ligaria a Régua a Chaves, passando por Vila Real; 1879 - o caminho-de-ferro chega a Pêso da Régua; 1897, 4 Abril - publicação em Diário do Governo da concessão da ligação ferroviária, de via estreita, entre a Régua, Vila Real e Chaves, a Alberto da Cunha Leão e António Júlio Pereira Cabral; o fundamento para o deferimento da petição esteve no interesse turístico e comercial das termas de Pedras Salgadas e do Vidago; 1903, 18 Fevereiro - decreto determinando a construção da linha-férrea do Vale do Corgo; 24 Agosto - início dos trabalhos de construção da linha, com administração directa do Estado; 1909 - grande cheia no rio; 1914, 24 Novembro - depois de resolvida definitivamente a construção do traçado de Moure a Chaves, pela margem direita do Tâmega, decide-se a edificação do apeadeiro do tipo "D" em Moure e Tâmega; 1916, 11 Maio - resolução do Conselho de Administração dos Caminhos-de-Ferro para se construir a estação do Tâmega próximo do poldrado; 27 Junho - auto de abertura de propostas para a empreitada - T - do tabuleiro metálico, de 40.00 m de vão teórico para a ponte do Tâmega, do caminho-de-ferro da Régua a Chaves - lanço Vidago a Chaves; a base de licitação do concurso era 7:000$00; na 2ª parte do concurso, de Moure a Chaves, não houve apresentação de propostas, tendo o concurso ficado deserto; 8 Dezembro - data do projecto da ponte sobre o rio Tâmega e respectiva memória descritiva, integrada na linha do Corgo, em alvenaria, elaborado pela Direcção dos Caminhos-de-Ferro do Minho e Douro, orçado em 10.410$00; 1917, 9 Abril - o Engº. Chefe de Serviço de Construção e Estudos considera uma pena a ponte não ter sido projectada primitivamente com um vão maior ou pelo menos com os muros de avenida mais extensos, afim de evitar que as águas, aquando das cheias, arrastassem as terras dos quartos de cone, como já havia sucedeu naquele ano aquando de uma pequena cheia; 5 Maio - ofício considera que devia ficar concluída neste ano a plataforma de Vidago a Chaves, sendo também conveniente a construção da ponte, se possível antes do Inverno, devido às cheias; 1917 - data do projecto de ponte sobre o Tâmega, organizado pela secção de construção deste serviço; a organização deste projecto foi feita considerando-se o arco de alvenaria com o arco elástico em vez de seguir o clássico método Méry; o Engº. Chefe da Via e Obra, Alfredo Ferreira, considera o arco elegante, bem delineado e que o projecto resolve com inteligência o problema da travessia do rio, num momento em que as construções metálicas são dispendiosas, visto que, segundo o projecto do longo, esta travessia devia ser feita por meio de um tabuleiro metálico; 8 Junho - portaria aprovando o projecto e orçamento da ponte sobre o rio Tâmega; 1918, 28 Fevereiro - abertura de concurso público para a construção da ponte, em alvenaria, tendo como base de licitação 10.370$05 *1; 1919 - concurso limitado para a conclusão das terraplanagens entre a ponte sobre o rio Tâmega e a EN. 28, para a construção do apeadeiro do Tâmega na margem direita; 2 Agosto - concurso para adjudicação da empreitada - S - de conclusão dos trabalhos entre o rio Tâmega e Chaves, o qual ficou deserto, provavelmente pelo receio da construção da ponte sobre aquele rio; com a mesma data, recebeu-se da 1ª Secção uma proposta de António Pereira de Faria (ex-adjudicatário da empreitada) e Eduardo Augusto Pinto e Sousa, mestre-de-obras conhecido na região, para a construção da ponte, por 18.500$00, excedente em 200$00 à base de licitação do concurso; a proposta tinha outras condições como as de transporte de pessoal e material; 13 Agosto - os dois preponentes escrevem ao Engenheiro Chefe da 1ª Secção informando que a sua proposta fica sem efeito no caso de entrar em vigor o horário de 8 h., pois se fosse estabelecido as 8 h de trabalho na Administração do Caminho-de-Ferro, teriam de ser indemnizadas, o que podia ser de 30%; o Conselho, julgando a proposta razoável, desde que a indemnização de 30% pedida, seja apenas sobre os salários que correspondem a trabalhos executados, depois de ser posto em vigor o decreto das 8 horas, propõe a aceitação da proposta; 21 Agosto - o Engº. Director escreve dizendo que, caso uma das propostas fosse aceite, devia-se dar ordem para o início imediato das obras, porque, não se lançando o arco nos 3 meses próximos, só na Primavera do próximo ano, se poderia iniciar os trabalhos, devido ao receio das cheias do rio; a construção da ponte seria de toda a vantagem, pois permitiria levar a linha até ao apeadeiro da Curalha, pois a instalação actual, provisória, é muito deficiente e impede, enquanto ali se conservar, a conclusão da trincheira junto ao encontro da margem esquerda; 26 Agosto - portaria adjudicando a construção da ponte por 18.500$00 a António Pereira de Faria e Eduardo Augusto Pinto de Sousa, tendo ficado a Administração com a obrigação de transportar gratuitamente os materiais e pessoal destinado à obra e o de aumentar em 90 %, no caso de entrar em vigor o horário de trabalho de 8 h; segundo o caderno de encargos, a obra deveria ser concluída em 6 meses; acabou por não ser feito o contrato com os empreiteiros, conforme autorizado pela portaria, sendo-lhe dado particularmente a construção por tarefas contratadas por unidade de trabalho; 1920 - transferência temporária para o serviço do mestre geral Anastácio Ignácio Teixeira; 24 Fevereiro - os empreiteiros da ponte pedem um aumento de 100% sobre a importância da empreitada, alegando o aumento de preços da madeira, cimento e outros materiais; 2 Março - relatório informa que ainda não havia sido feito "nada" na ponte; construíram-se umas cinco fiadas do arco na margem esquerda, mas esse trabalho teve de ser rejeitado por não estar em condições; havia materiais, cimento, madeira e alguma pedra aparelhada junto à obra; os empreiteiros desde que se mandou demolir o trabalho feito na margem esquerda, não têm mostrado diligência alguma na execução dos trabalhos, apesar das facilidades que, de harmonia com a sua proposta, aprovada superiormente, lhes tem sido dada, como o transporte gratuito de pedra, cimento e outros materiais bem como o de pedreiros; nesta obra, por não se querer pagar aos pedreiros os salários correntes na região, nunca houve pessoal suficiente e já há algum tempo que ali não tem nenhum pessoal; do trabalho de terraplanagens, estavam apenas feitos uns 1.500 m2, ali trabalhando somente 3 homens; 15 Março - uma cheia inesperada destrói completamente uma ponte provisória, anexa à ponte sobre o Tâmega, que o adjudicatário António Pereira de Faria mandara construir para a passagem da pedra necessária à construção da mesma; na sequência, o adjudicatário pede indemnização de 500$00; 28 Abril - despacho da Comissão Executiva do Conselho de Administração dos Caminhos-de-Ferro do Estado, indeferindo o requerimento que o adjudicatário havia pedido de indemnização, por não estar nos termos do artigo das clausulas e condições gerais de empreitada; 1 Maio - o empreiteiro da ponte pediu ao Conselho a rescisão do seu contrato, levando este a pedir informações urgentes sobre o estado em que se encontram os trabalhos; 26 Maio - o engenheiro Chefe de Serviço solicita para o serviço do lanço de Vidago a Chaves dois pedreiros assentadores e, sendo possível, também os pedreiros Manuel Ferreira Pinto e Domingos Coelho da 1ª Secção do Serviço; 29 Maio - determinava-se que só depois de todas as aduelas aparelhadas e marcadas se devia proceder ao seu assentamento, visto que a sua colocação deve começar ao mesmo tempo em quatro pontos diferentes do arco; despacho da Comissão Executiva do Conselho, decidindo pagar pelos preços do caderno de encargos; os materiais, visto pertencerem ao empreiteiro, devem ser recebidas pela Administração, pelo preço que se ajustar; se não se chegar a um acordo, o empreiteiro retirá-los-á no prazo que lhe for indicado, sendo o Estado reembolsado das despesas que fez com o seu transporte, se for necessário; 31 Maio - depois de pedido a várias oficinas os preços para a execução das chapas e parafusos destinados ao cimbre da ponte, visto só se ter obtido a proposta de Carvalho & Filhos, considerada exagerada, desiste-se da sua execução e combinou-se verbalmente requisitarem-se ao serviço de Via e Obras as chapas velhas que possuíam; julgou-se melhor mandar fazer 275 parafusos, a 2$40 cada, e respectivas porcas; 1 Junho - o engenheiro chefe do serviço solicita o envio para Vidago de mais nove pedreiros montantes; 11 Junho - solicita-se autorização para a compra já ajustada de 210 pinheiros, já cortados e secos, a 30$00 cada m3, postos junto à linha; solicita-se a apresentação urgente na 1ª Secção, no Tâmega, dos dez pedreiros pedidos, bem como os dois carpinteiros, convindo que um deles fosse José Gonçalves Portela, da 3ª Secção para servir de encarregado; 14 Junho - autorização da compra dos pinheiros; dos pinheiros não aproveitáveis para a ponte, tira-se tabuado e madeiramento para o apeadeiro do Tâmega; 16 Junho - entrega das chapas necessárias; 23 Junho - apresentação do pedreiro António Borges, para trabalhar nas obras; ali trabalhava também o pedreiro auxiliar Joaquim dos Santos; compra de 135 barricas de cimento à Casa Orey Antunes & Companhia e fornecimento de cal por António Pereira Faria, por 3.375$00; 2 Julho - solicita-se o envio de mais vinte pedreiros auxiliares para as obras; 19 Julho - início da montagem do cimbre da ponte, o qual se previa concluir a 15 de Agosto; a colocação do aparelho da pedra para o arco estava atrasada, tal como o trabalho de montagem do cimbre devido a falta de parafusos e chapas; 10 Novembro - informa-se que se mandou recrutar no Minho trinta a quarenta pedreiros e seis carpinteiros; além das madeiras compradas a António Ferreira Faria quando da liquidação da sua tarefa da construção da ponte, foi necessário adquirir mais, tendo-se comprado ao mesmo por 40$00 cada m3; dela tirou-se uma pequena porção serrada para a construção do apeadeiro de Vilarinho e casas de guarda; 1921, 7 Julho - data prevista da inauguração da ponte, passando o apeadeiro para a margem direita onde podia fazer serviço de grande e pequena velocidade; 28 Agosto - inauguração da última secção da linha do Corgo, unindo Vidago a Chaves; 1922, 28 Agosto - o apeadeiro do Tâmega estava quase concluído; 29 Setembro - auto de entrega do apeadeiro do Tâmega e do lanço do caminho-de-ferro da Régua a Chaves, compreendido entre Vidago a Chaves; 1927, 11 Maio - tomada de posse pela C.P. - Companhia Portuguesa dos Caminhos de Ferro, das linhas do Estado - redes "Minho e Douro", tal como os "Sul e Sueste"; 1928, 27 Janeiro - contrato de sub-arrendamento das linhas de via estreita da rede do Estado, a do Vale do Corgo à Companhia Nacional de Caminhos-de-Ferro; 1947, Maio - a linha do Corgo passa a integrar a rede ferroviária nacional, ficando a sua posse e gestão a cargo da C.P.; 1978, 19 Janeiro - inauguração da tracção a "diesel" nos comboios da Linha do Corgo pela C.P.; 1990, 1 Janeiro - suspensão da circulação ferroviária na linha do Corgo entre Vila Real e Chaves, ficando reduzida ao troço de 26 km entre aquela cidade e a Régua; posteriormente procedeu-se à adaptação da ponte à circulação automóvel.

Dados Técnicos

Sistema estrutural misto.

Materiais

Estrutura de argamassa hidráulica, betão, placas de alvenaria de granito; pavimento em terra; guardas em cantaria de granito e estrutura tubular em ferro.

Bibliografia

GIL, José Andrade, As Pontes de Caminho de Ferro; BORGES, Júlio António, Monografia do Concelho de Vila Real, Vila Real, 2006.

Documentação Gráfica

Arquivo Histórico dos Transportes Terrestres: Fundo dos Caminhos-de-Ferro do Estado, Secção Construção, Cx. 187 (antiga cx. 1969)

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Arquivo Histórico dos Transportes Terrestres: Fundo dos Caminhos-de-Ferro do Estado, Secção Construção, Cx. 187 (antiga cx. 1969)

Intervenção Realizada

CMChaves: 1990, década - adaptação da ponte à circulação automóvel.

Observações

*1 - O caderno de encargos do concurso público para a construção da ponte, em alvenaria, determinava que: a) as fundações deviam descer até à profundidade que fosse indicada pela fiscalização e abertas de modo a não danificar as alvenarias dos muros da avenida, já construídas; o fundo das fundações seria arrasado com a inclinação devida e bem regularizada, assentando-se a primeira aduela sobre uma camada de betão, se isso fosse julgado conveniente; b) o arco, até ao nível do terreno, seria construído de uma só vez em toda a sua espessura; a parte do arco em elevação seria construída por duas vezes, primeiramente, o anel inferior e, depois, o anel superior; c) construídos os arcos, dar-se-ia começo à construção dos muros dos tímpanos, os quais encostariam, sem ligação, aos muros da avenida já construídos; depois proceder-se-ia à execução da chapa hidráulica que se comporia de um reboco hidráulico de 5 cm sobre a qual se assentaria uma camada de asfalto; d) os tubos de esgoto das águas seriam de ferro zincado; e) estando seca a chapa hidráulica, proceder-se-ia ao enchimento dos tímpanos em pedra acamada, formando assim como que um maciço de alvenaria de pedra seca. *2 - A Linha do Corgo ligava Pêso da Régua a Chaves, passando por Vila Real, e foi construída em bitola de via estreita, ou seja, com 1 metro, acompanhando o rio Corgo pela margem esquerda. Actualmente, a linha funciona apenas entre a Régua e Vila Real, troço que vence um desnível de 360 m em 26Km.

Autor e Data

Paula Noé 2009

Actualização

 
 
 
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