Fortaleza de Cambambe e Edifício da Feitoria

IPA.00033585
Angola, Cuanza-Norte, Cambambe, Cambambe
 
Arquitetura militar, seiscentista. Fortaleza seiscentista de planta quadrangular irregular, composta por baluartes poligonais dispostos nos vértices, rematados em merlões e canhoneiras, acedidos por rampas ou escadas no interior, e por cortinas retas. Apresenta os paramentos aprumados, baixos, com portal virado a E., em arco abatido e remate sobrelevado e recortado, com lápide alusiva à construção e brasão de Portugal. No interior, para além da igreja possui o edifício da feitoria, de planta retangular, fachadas de um piso contrafortadas nos cunhais, a principal rasgada por portal em arco, entre duas janelas. A fortaleza foi construída no contexto da penetração e conquista do interior do território angolano, ao longo do rio Cuanza, o maior do país, assegurando a defesa da feitoria construída no interior, entreposto comercial de mercadorias e escravos capturados na região, que ali aguardavam transporte para o continente americano.
Número IPA Antigo: AO910604000004
 
Registo visualizado 763 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Fortaleza    

Descrição

Complexo constituído pela fortaleza, pelo edifício da feitoria e armazéns, construídas no seu terrapleno e pela Igreja de Nossa Senhora do Rosário (v. IPA.00033587). FORTALEZA: de planta quadrangular, ligeiramente irregular, composta por quatro baluartes poligonais dispostos em cada um dos vértices, interligados por cortinas retilíneas. Paramentos aprumados em alvenaria mista de pedra e tijolo, com vestígios de reboco na zona do portal, sendo os baluartes rematados com merlões e canhoneiras. A cortina poente está parcialmente derruída. Na frente E., abre-se descentrado portal em arco abatido, inserido num pano mais alto que os restantes paramentos, recortado superiormente e formando espaldar contendo lápide inscrita e brasão com as armas de Portugal. No INTERIOR as cortinas e baluartes são percorridos por adarve, acedido por rampas e vários degraus. EDIFÍCIO DA FEITORIA E ARMAZÉNS de planta retangular simples, fachadas de um único piso, em alvenaria mista de pedra e tijolo, com vestígios de reboco pintado, com contrafortes de esbarro dispostos de ângulo. Na fachada principal, virada a E., abre-se portal central, em arco apontado, com aduelas de tijolo, ladeado por dois vãos, o esquerdo já sem a verga e o direito muito derruído. Fachadas laterais cegas e a posterior, muito derruída, possivelmente também cega. O INTERIOR está dividido em várias dependências.

Acessos

EN 120 que liga o Alto Dondo a Huambo, por Quibala, a cerca de 8 km do Alto Dondo, pela entrada no perímetro controlado da Barragem de Cambambe

Protecção

Classificado como Monumento Nacional, Estado Português, Portaria n.º 67, Boletim Oficial n.º 20 de 30 maio 1925 *1

Enquadramento

Rural, isolado, sobre elevação na margem direita do Rio Cuanza. Na proximidade foi construída na década de 1960 o complexo hidro-elétrico de Cambambe, onde se insere a cerca de 250 m para OSO. a Pousada do Complexo Hidroeléctrico de Cambambe (v. IPA.00033088) e a 1250 m para SO. a Barragem de Cambambe. A nascente e a cerca de 50 m podem ainda observar-se as ruínas de edifício de grandes dimensões, que poderá ter correspondido ao antigo Senado Municipal ou Paços de Concelho de Cambambe referido por Batalha.

Descrição Complementar

Junto ao portal existe lápide de bronze com a seguinte inscrição:"RUÍNAS DA FORTALEZA / DE KAMBAMBE / (SÉCULO XVII) / PATRIMÓNIO / HISTÓRICO-CULTURAL / PORTARIA Nº - 67 - B. O. Nº 20 / DE 30 DE MAIO DE 1925". O remate do portal de acesso tem lápide de cantaria com a inscrição "ESTE FORTE MANDOV FAZER / O S D. JOÃO D LANCASTRO C / CAPO DESTES REINOS [...] / D.1691".

Utilização Inicial

Militar: fortaleza

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: Estado angolano

Afectação

Época Construção

Séc. 17

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

1520, 16 fevereiro - D. Manuel I, rei de Portugal, incumbe Manuel Pacheco e Baltazar de Castro de intensificar a exploração das terras para além da área junto à costa atlântica *2; nenhum dos dois exploradores tem a sorte de encontrar as minas de prata na sua missão, acabando Baltazar de Castro por ser capturado pelos Ngola; 1526 - depois de Baltazar de Castro ser liberto, envia carta do Congo ao rei D. João III, dando conta da deceção dos seus esforços para encontrar as minas de prata de Cambambe; 1571, 19 setembro - D. Sebastião nomeia como primeiro Capitão e Governador do Reino de Angola Paulo Dias de Novais, que também recebe a missão secreta de encontrar as minas de prata; 1579 - a partir desta data, Paulo Dias de Novais começa a implantar no território ao longo do curso do rio Cuanza os primeiros presídios, designação dada aos postos militares que assinalam o avanço da conquista do território e a respetiva colonização; 1581, 26 agosto - carta de Paulo Dias de Novais doando aos Jesuítas uma das minas de prata que fossem encontradas, como pagamento da sua colaboração na missão de exploração do interior de Angola, subindo o rio Cuanza; 1582, novembro - Paulo Dias de Novais avança com as suas tropas até Cambambe com objetivo de conquistar as desejadas minas de prata; 1583 - carta ânua onde se fala da lenda das serras cheias de prata, "que excedem as do Peru"; novembro - Pe. Baltazar Afonso escreve que o governador Paulo Dias de Novais "escolheu um sitio que parecia acomodado e nele começaram os nossos a fazer suas moradas. O local ficava a cerca de quatro dias de viagem da residência do rei de Angola"; 1585, maio - morte de Paulo Dias de Novais; 1594 - visitador dos jesuítas, Pe. Pero Rodrigues, refere que se o governador "assenta seu arraial sobre as minas de prata de Cambambe e ali faça um forte e povoação, passar-se-á para lá a casa de Maçangano [a residência dos jesuítas], por ser o lugar mais prejudicial à saúde que temos neste reino"; bispo de São Tomé, D. Martinho de Ulla, na informação que envia à Santa Sé para a criação do bispado do Congo, afirma que neste reino não há ouro nem prata, mas que em 1594 se haviam encontrado minas de cobre e se dizia que em Cambambe havia montanhas de prata; 1603 - o governador Manuel Cerveira Pereira conquista Cambambe; 1604 - construção da primeira fortificação pelas forças portuguesas, no contexto da conquista e penetração em território angolano através do rio Cuanza; o governador Manuel Cerveira Pereira fixa um presídio em Cambambe, no cimo de um cerro, à beira de um precipício que dominava um troço do rio Cuanza e terras envolventes; no interior da fortaleza manda construir a Igreja de Nossa Senhora do Rosário; o governador põe os seus homens à procura de prata mas, pouco depois, escreve para Lisboa a informar que não aparecera prata; 1607 - D. Filipe II ordena ao governador a suspensão da busca de prata; 1691 - data da ampliação da fortaleza por ordem do governador D. João de Lencastre, conforme lápide colocada sobre o portal de acesso; 1857, 14 outubro - o governador-geral Coelho do Amaral determina a transferência da sede do concelho do Alto de Cambambe para a feira do Dondo, na planície a jusante do Cuanza e na margem esquerda do Mucozo, e onde ocorriam os comerciantes de Massangano e de Muxima e as gentes da Quiçama e do Libolo; a povoação despovoa-se e a fortaleza e igreja são abandonadas; séc. 19, até finais - o presídio e a sua guarnição são governados por um capitão-mor; 1950, década - implantação da nova povoação de Cambambe nas imediações das ruínas, para alojar o pessoal técnico e trabalhadores da construção da barragem.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria mista de pedra e tijolo aparente; lápides de bronze e cantaria; vestígios de reboco pintado.

Bibliografia

BATALHA, Fernando - Povoações Históricas de Angola. Lisboa: Livros Horizonte, pp 107-126; GABRIEL, Manuel Nunes - Padrões da Fé. As Igrejas antigas de Angola. Braga: Arquidiocese de Luanda, 1981; MATTOSO, José (dir.) - Património de Origem Portuguesa no Mundo, arquitetura e urbanismo: África, Mar Vermelho e Golfo Pérsico. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2010, p. 427-428.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

2014 - trabalhos de limpeza geral e consolidação de elementos construídos, pela empresa brasileira Odebrecht que trabalha no perímetro da barragem.

Observações

*1 - A classificação é extensiva às "Ruínas de antigas construções (Séc XVI-XIX) (Feitura, Residência de Oficiais, paços do Conselho, Casa da Guarda, Cadeia, e Cemitérios), situadas em Kambambe na margem esquerda do rio Kuanza" (http://www.mincultura.gv.ao/monumentos_reg_angola.htm). *2 - Segunda a lenda, o envio de umas manilhas de prata como presente do Rei do Congo a D. Manuel I, suscita a curiosidade do monarca português, que obtém a informação de que tal material precioso provinha de Cambambe. As perspetivas da descoberta de prata em Angola motivaram a intensificação da exploração das terras na África Austral para além da área junto à costa atlântica.

Autor e Data

João Almeida (Contribuinte externo) e Paula Noé 2014

Actualização

 
 
 
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