Casa de Miguel de Vasconcelos / Casa dos Medalhões / Casa das Lunas

IPA.00004116
Portugal, Viana do Castelo, Viana do Castelo, União das freguesias de Viana do Castelo (Santa Maria Maior e Monserrate) e Meadela
 
Casa renascentista, de planta rectangular e frente de lote estreito, com fachadas de três pisos. A fachada principal possui os dois pisos superiores rasgados por dois vãos rectilíneos sobrepostos, sendo os do segundo portas-janelas com sacada corrida, de molduras sublinhadas por vários frisos, uma delas ladeada por pilastras decoradas com motivos clássicos, suportando cornija e ânforas, e as do terceiro, de peitoril, com colunelos nas molduras, sobre cornija ornada de parras e com querubins, e encimadas por urnas e outros elementos. Fachada lateral de fenestração mais irregular, mas sendo a do andar nobre composta por janelas de peitoril, com molduras ladeadas por colunas balaústres suportando toros, ou decoradas com motivos enrolados, centrando uma janela de sacada, mais elaborada, com arco bilobado, ladeado de pilastras com decoração clássica sustentando cornija com vasos. Dada a decoração das fachadas, viradas à rua, constitui importante exemplar da arquitectura residencial renascentista, com maior riqueza decorativa ao nível do andar nobre e com inscrição gravada ao longo da própria fachada. Provavelmente, possuía inicialmente fachadas de apenas dois pisos, a que se acrescentou, ainda no séc. 17, um terceiro, conforme parece indicar a marcação das diferentes cornijas da fachada principal e a própria decoração dos vãos do último piso, com decoração maneirista. Nesta, os vãos do piso térreo são recentes, devido à sua adaptação ao comércio e os do segundo deverão corresponder à parte de um conjunto mais amplo, dada a assimetria dos elementos subsistentes; de facto, só uma das janelas é ladeada por pilastras com ânforas e sobre ela existem medalhões. Em todos os elementos de cantaria, prolifera uma decoração tipicamente maneirista, com efígies, medalhões, laçarias, panóplias, etc., sendo as próprias cornijas ornadas de folhas. Na fachada lateral, quer o ritmo de vãos, quer a própria decoração, sobretudo do piso térreo é mais irregular, o que talvez se deva às diferentes ocupações que sofreu. Os vãos do andar nobre, ainda que sejam igualmente maneiristas, ainda conservam alguns laivos manuelinos. Os do terceiro piso são mais simples.
Número IPA Antigo: PT011609310009
 
Registo visualizado 738 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial unifamiliar  Casa    

Descrição

Planta rectangular, de volumes articulados e coberturas diferenciadas em telhados de quatro águas, possuindo junto à fachada posterior terraço. Fachadas de três pisos, rebocadas e pintadas de rosa, a lateral esquerda percorrida por faixa cinzenta, terminadas em cornija sobreposta por beirada simples. Fachada principal virada a NE., de lote estreito, com cunhais, no primeiro piso, em cantaria e, nos dois seguintes, em reboco pintado de cinzento, a fingir cantaria, e terminada em dupla cornija, a inferior decorada por folhas de acanto relevadas. O piso térreo é rasgado por três vãos rectilíneos, de molduras simples, sendo o central uma porta e os laterais, sensivelmente mais largos, duas montras, encimados por toldos. No segundo piso, abrem-se duas portas-janelas de verga recta, de moldura com vários frisos e de sacada corrida ao longo de quase toda a fachada, com guarda em ferro, de motivos lanceolados, tendo ao centro florões; a janela esquerda, com mainel pintado de branco, é ladeada por duas pilastras, de almofada côncava, decoradas com laçarias, motivos fitomórficos e troféus, na esquerda, cravos, espadas, carrancas e caveira, na direita, assentes em plintos igualmente almofadados e com dois bustos masculinos, colocados de perfil, e de capitéis decorados com carrancas afrontadas, suportando cornija recta, e sobrepujada por duas ânforas, flanqueadas por animais ou caras; ao centro, surgem dois medalhões circulares de cantaria, já muito delidos. A janela direita é enquadrada por várias molduras rectilíneas e flanqueada inferiormente por duas efígies, vistas de ângulo, a da esquerda barbada e com capacete e a da direita feminina. Encima-a cornija recta, no alinhamento da existente sobre a outra janela. O terceiro piso é entrecortado, no terço inferior, por cornija, inferiormente decorada, no alinhamento das pilastras da janela esquerda, por dois querubins, e encimada por inscrição gravada ao longo de toda a fachada. É rasgado por duas janelas de peitoril, molduradas e com caixilharia de guilhotina, interligadas por cornija, que percorre a fachada, decorada por parras e, sob os vãos, por querubins relevados; a janela esquerda tem a moldura enquadrada por dois meios balaústres sobrepostos e decorados com motivos fitomórficos e, superiormente, é coroada por cinco urnas. A janela da direita é enquadrada por duas pilastras, sobre bases rectilíneas, suportando cornija encimada por cornocópias enlaçadas. Fachada lateral esquerda de três falsos panos, o esquerdo mais baixo, rasgado por portal largo em arco abatido, sobre os pés direitos, com chanfro, e, superiormente, por janela de peitoril, terminando em cornija, interrompida por quatro consolas de remate zoomórfico, e com terraço protegido por guarda de ferro. Nos dois outros panos, o da direita sensivelmente alteado, abrem-se no piso térreo cinco portais, a ritmo irregular e de diferente modinatura; os dois primeiros têm verga recta sobre arranque curvo, o da esquerda mais largo e alto, e encimado por vão rectangular jacente gradeado; depois de um outro vão jacente, mas com moldura de capialço, abre-se amplo portal, de arco em asa de cesto, com várias molduras de perfil côncavo, convexo e, a exterior, rectilínea; sucedem-se dois outros portais, um mais pequeno, sem moldura, transformado em janela de peitoril, e o último com moldura adaptada a montra, encimado por toldo. No segundo piso abrem-se quatro janelas de peitoril, rectilíneas e com caixilharia de guilhotina, e, ao centro, uma janela de sacada. A janela do extremo esquerdo possui a moldura côncava sobreposta por dois colunelos laterais, assentes em bases facetadas, e de capitéis fitomórficos, que se prolongam superiormente em dois toros; é ladeada por duas efígies relevadas, a esquerda feminina e a direita masculina, e encimada por círculo com motivo cruciforme; a segunda janela possui moldura enquadrada por duas colunas balaústres, suportando toro, encimado por espaldar com cruz de Cristo inscrita, inserida num círculo. Segue-se a janela de sacada, de arco bilobado, com moldura marcada por vários frisos, com folha relevada no ângulo, e com medalhões nos seguintes; é enquadrada por duas pilastras, de fuste côncavo, assentes em plintos ornados de cartelas, sobre bases com querubins, e de capitéis decorados com motivos vegetalistas, diferentes, suportando cornija recta, coroada por duas ânforas; ao centro possui espaldar de cantaria, liso, terminado em cornija recta. A sacada da janela possui guarda em ferro, igual à da fachada principal. A janela do extremo direito, possui a moldura com vários frisos, tendo inferiormente duas volutas relevadas afrontadas e superiormente duas outras, maiores e separadas; lateralmente tem dois medalhões com efígies, o da esquerda, masculino e o oposto feminino. No terceiro piso, abrem-se quatro janelas de peitoril, igualmente rectilíneas, de molduras côncavas, e com caixilharia de guilhotina. Fachada posterior com o terceiro piso rasgado por janelas de peitoril, de molduras simples, tendo sobre a cobertura, chaminé.

Acessos

Largo da Matriz n.º 44; Rua do Poço. VWGS84 (graus decimais) lat.: 41,693189; long.: -8,827600

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto nº 11 454, DG, 1.ª série, n.º 35 de 19 fevereiro 1926 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª série, n.º 149 de 27 junho 1973

Enquadramento

Urbano, disposto de gaveto, adaptado ao declive do terreno, formando frente de rua. Implanta-se em pleno centro histórico da cidade, no interior do antigo limite da muralha medieval, possuindo frontalmente largo, vedado ao trânsito, e, junto à fachada lateral, rua com trânsito condicionado, ambas pavimentadas a lajes de cantaria. À fachada lateral direita e à posterior adossam-se outras construções de cércea mais alta. Fronteiro ergue-se a Sé de Viana do Castelo (v. PT011609310013) e nas proximidades vários outros imóveis de interesse patrimonial, nomeadamente, a Casa de João Velho ou dos Arcos (v. PT011609310008), os antigos Paços Municipais (v. PT011609310003), a Misericórdia (v. PT011609310005) e o chafariz da Praça (v. PT011609310006).

Descrição Complementar

A inscrição da fachada principal, em duas regras, reza: ESTA CASA MANDOU FAZER JÁCOME RAIZ CAVALEIRO FIDALGO DA CADA D'EL REI NOSSO SENHOR e COMENDADOR DE (ilegível) NA ORDEM DE CRISTO E SUA MULHER MARIA BARBOSA BISNETA de FERNÃO GONÇALVES E BISNETA DE MARTIM DA ROCHA, FIDALGO DO SENHOR INFANTE D. PEDRO.

Utilização Inicial

Residencial: casa

Utilização Actual

Política e administrativa: sede de organização sindical / Comercial: loja

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 16 - provável construção da casa; segundo a inscrição na fachada posterior, foi mandada fazer por Jácome Rodrigues de Luna e sua mulher Maria Barbosa de Castro; Jácome de Luna, Provedor da Misericórdia de Viana em 1574, era filho de Rui Fernandes de Luna, natural da Galiza, que se fixou em Viana, e teve como filhos Miguel Jácome de Luna, João Jácome de Luna e Pedro Barbosa de Luna; seu filho mais velho, Miguel Jácome de Luna, que manteve a casa, casou com D. Genébra Barbosa; 1586, 26 Março - Carta de brasão passada em Lisboa por Diogo de São Romão a Miguel Jácome de Luna; a casa manteve-se na posse dos descendentes; séc. 17 - ali nasceu Miguel de Vasconcelos, filho de Pedro Barbosa e D. António de Melo e Vasconcelos, homem de confiança do Conde de Olivares e Duquesa de Mântua, morto na Revolução de 1640; séc. 19 - venda da casa, a qual passou a ser alugada; aqui viveu José Júlio Pinto Ribeiro, Director do Novo Colégio Vianense, fundado em Maio de 1887, e o engenheiro militar João Tomaz da Costa, aqui nascendo a sua única filha; séc. 20 - aqui esteve também instalado, provisoriamente, o Governo Civil, enquanto decorriam as obras na Casa dos Cunhas na Rua da Bandeira; 1961, 19 julho - Portaria fixa Zona Especial de Proteção conjunta à Igreja Matriz, Casa de João Velho ou dos Arcos e à Casa de Miguel de Vasconcelos, no DG, 2.ª série, n.º 168.

Dados Técnicos

Sistema estrutura de paredes autoportantes.

Materiais

Estrutura em cantaria e alvenaria de granito, rebocada e pintada; cornija, molduras dos vãos, sacada, efígies, medalhões e outros elementos em cantaria de granito; portas e caixilharia de madeira e a da loja em alumínio; vidros simples; pavimento em lajes de cantaria, cerâmico, mármore e de madeira; algerozes metálicos; grades em ferro; cobertura de telha.

Bibliografia

GUERRA, L. Figueiredo da, Guia de Viana do Castelo, s.l., 1923; CRESPO, José, Monografia de Viana do Castelo, Viana do Castelo, 1957; ALPUIM, Maria Augusta d', VASCONCELOS, Maria Emília, Casas de Viana Antiga, s.l., 1983; NORTON, Manuel Artur, Para o estudo dos Aranhas e Lunas Vianenses in Cadernos Vianenses, Viana do Castelo, vol. 8, pp. 215 - 227; CALDAS, João Vieira, GOMES, Paulo Varela, Viana do Castelo, Lisboa, 1990.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

Observações

A casa possuía na fachada virada à R. do Poço as armas dos Lunas, Rochas e Barbosas.

Autor e Data

Paula Noé 1992 / 1996 / 2008

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login