Mosteiro de Santa Maria das Júnias

IPA.00004170
Portugal, Vila Real, Montalegre, Pitões das Junias
 
Mosteiro Cisterciense com igreja composta por uma nave poligonal, românica e capela-mor, gótica, com dependências conventuais desenvolvidas a S., de que conserva troço de arcada gótica do clausto e outras construções. A nave foi alteada na época renascentista conforme atesta a cornija. Fachada principal da igreja terminada em empena de cornija truncada por dupla sineira, tendo portal de arco de arco pleno. Interior com púlpito no lado do Evangelho, dois retábulos colaterais e retábulo-mor barroco, de estilo nacional de transição. A implantação do mosteiro a uma cota tão elevada, de plena montanha, arredado de bons terrenos agrícolas testemunha o interesse pela pastorícia. Denota-se certa uniformidade na largura das construções ao longo de diversas épocas (largura da igreja - 7.10 m, construções modernas das alas E. e S. com 7.10 m, cozinha setecentista com 7.20 m) o que lhe confere certa harmonia. Segundo Rui Maurício, o portal principal parece conciliar na sua composição o sistema decorativo do Vale do Cávado com a organização estrutural recorrente no românico rural da Galiza.
Número IPA Antigo: PT011706230004
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro masculino  

Descrição

Planta composta formando um trapézio, tendo a igreja implantada a N. e as restantes construções a S. A igreja é de uma nave retangular com capela-mor também rectangular, mais baixa e estreita, com coberturas em telhados de duas águas na primeira e de uma na segunda, de pendor S. - N.. Fachada principal rematada em empena de cornija truncada por um campanário de dupla ventana - já sem sinos - encimado por uma cruz metálica ladeada por dois pináculos com remate boleado, idênticos aos que nas extremidades da empena sublinham os cunhais. Portal em arco perfeito de duas arquivoltas, a interna lisa e de arestas vivas e a exterior decorada com lancetas, apresentando o friso que a envolve três estreitos bocéis e um zig-zag duplo, sobre impostas, decoradas com motivos cordiformes que se prolongam num friso em toda a fachada; o tímpano é vazado, formando ao centro uma cruz de Malta inscrita num círculo e de ambos os lados três perfurações circulares; o dintel, decorado com bandas de quadrifólios, apoia-se sobre mísulas também elas decoradas com círculos e cruzes. Encima o portal, fresta, estreita e alta. Fachadas laterais da nave semelhantes, rematadas por friso e cornija moldurada, e percorridas por friso decorado com duas linhas contínuas em zig-zag; sob este, dispõem-se cinco mísulas de decoração geométrica, excepto duas na fachada N., e sobre ele abrem-se duas frestas rectangulares. No topo da nave, abrem-se ainda duas portas travessas confrontantes, de arco pleno, sem decoração e tímpano vazado por cruz de Malta inscrita num círculo, tendo o dintel N., assente em impostas lisas, encontra-se truncado no centro. A capela-mor possui vãos laterais actualmente tapados, rasgando-se uma janela rectangular central que destruiu parcialmente o antigo mainel; a janela axial, tem também sobreposição de elementos de estilos diferentes; na zona inferior conserva-se o arranque da fresta original românica, notando-se as bases dos colunelos laterais que foram destruídos pela construção da janela gótica em arco quebrado e tímpano central trilobado, entre duas frestas de arco quebrado. Na fachada S. tem adossadas as ruínas da antiga ala dos monges, tendo sido alteada até à cércea desta. Ao nível do primeiro piso antiga porta de ligação, agora tapada. No INTERIOR, a nave possui na parede da fachada principal, ao nível das impostas da porta, um friso lanceolado que envolve também o arco, e, à altura da fresta axial, um friso decorado com três fiadas de bilhetas, o qual se prolonga pelas paredes laterais à altura das frestas; estas apresentam internamente remate em arco de volta perfeita. Pavimento de lajes em granito e tecto em madeira. Sensivelmente a meio da nave, do lado do Evangelho, púlpito muito simples com varandim e corrimão em madeira. Arco triunfal de duas arquivoltas lisas assentes em ábacos biselados decorados com bolas, ladeado por dois retábulos de talha. Capela-mor coberta por abóbada de barrete de clérigo, apoiada em mísulas de canto. Retábulo-mor de planta rectangular e três eixos, divididos por colunas torsas com putti e pâmpanos, assentes em consolas decoradas por acantos, as exteriores apoiadas em pilares de pedra com motivos geométricos; ao centro, camarim, coberto por caixotões, com trono, e lateralmente duas mísulas; as colunas prolongam-se em duas arquivoltas formando ático, interrompido por brasão central; sobre altar de pedra, sacrário decorado com acantos e anjos, tendo na porta um Agnus Dei. O mosteiro compreende dois corpos com primeiro andar e segundo dispostos em ângulo. O primeiro corpo, situado ao longo do rio, no prolongamento do lado S. da ábside, constituía o dormitório dos monges. A fachada E., com desenvolvimento horizontal, conserva seis janelas quadradas no segundo piso, algumas com conversadeira, e outras seis, mais pequenas no primeiro. Do lado S. as construções dividem-se em dois corpos com orientação diferente, convergindo para o exterior, na zona central. Aí se localiza uma abertura que liga do exterior ao espaço do claustro. A fachada S. do lado do rio apresenta empena de duas águas assimétricas, tendo duas janelas no segundo piso e sob uma delas uma fresta no primeiro. Do lado contrário, no corpo onde se localizava a cozinha, a fachada S. apresenta uma empena de duas águas assimétricas e uma pequena fresta no segundo piso. A cozinha, situada no ângulo SO, conserva a chaminé de forma piramidal com pináculo de remate boleado. Um antigo sarcófago reutilizado na parede recebe as águas de uma poça, canalizadas através de uma conduta em pedra. A parede que limita o recinto pelo lado O. funciona como muro de suporte do terreno exterior da encosta, mais elevado. Só na zona mais a S. a parede se apresenta mais alta que o terreno, terminando no que resta da ombreira de um arco em bisel. No topo O. o espaço é fechado por um muro que une estas construções à igreja, tendo um portal de acesso formando ângulo recto com a fachada da igreja. Do claustro, situado no interior deste espaço, resta apenas uma parte da arcada do lado S. da nave. É composta por três arcos de volta perfeita e delimitada por pilares quadrados nos extremos. As pequenas colunas geminadas possuem bases e fustes lisos, capitéis com folhas e volutas, ábacos baixos, lisos e biselados. Um muro de pedra vã, adossado à fachada lateral N. da igreja, delimita um recinto sub-rectangular, com acesso por portão de ferro, utilizado como cemitério.

Acessos

A partir do cemitério de Pitões das Júnias segue-se um percurso pedonal numa extensão de cerca de 2 Km. sendo a zona terminal feita através de antigo caminho calcetado com lajes de granito

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto nº 37 728, DG, 1.ª série, n.º 4 de 05 janeiro 1950

Enquadramento

Rural, isolado. Situa-se na margem direita da Ribeira de Campesinho num vale encaixado e pedregoso, a uma cota pouco acima dos 100 m., no ponto em que o planalto da Mourela, de relevo suave e verdejantes pastagens, se encontra com a serra do Gerês, cujos picos se elevam para O..

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro masculino

Utilização Actual

Religiosa: igreja / Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 12 / 13 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

CANTEIRO: Simon Duran. CARPINTEIRO: António da Casa.

Cronologia

Séc. 09 - fundação provável de um eremitério pré-românico; 953 - documento do Tombo do Mosteiro de Celanova regista doação de propriedades em Travassos "subtus mons Iunias"; 1100 - documento do mesmo tombo refere uma outra doação ao mosteiro das Júnias; Séc. 11 / 12 - adopção provável da regra beneditina; 1147 - data inscrita no exterior do muro S. da igreja; séc. 13, primeiros decénios - seguia a regra de São Bento; séc. 13, 1ª metade - adoptou a regra de Cister, causando objecções do arcebispo de Braga e levando o abade e o mosteiro a recorrer à cúria papal; 1248, 22 Junho - Bula "Benigvolum et Benignum", de Inocêncio IV, determinando que o arcebispo de Braga, D. João Egas, admitisse a união do mosteiro beneditino de Júnias ao cisterciense de Santa Maria do Bouro e aceitasse como abade João, monge de Oseira; 21 Novembro - o arcebispo de Braga atende ao pedido do Papa e autoriza o mosteiro a mudar de regra de São Bento para a de Cister, mas impõe algumas contrapartidas compensatórias; o mosteiro entrega o couto de São Pedro de Vilaça e dois casais em troca da terça das mortuárias e outros direitos que o Arcediago de Barroso recebia do mosteiro e da Capela do Gerês, qua a partir de então deixaria de receber; o abade de Santa Maria das Júnias surge como testemunha de certos actos celebrados no Mosteiro de Santa Maria de Oseira, da Galiza, comprovando a antiga vinculação àquele mosteiro; 1258 - nas Inquirições de D. Afonso III refere-se uma doação de D. Afonso Henriques ao mosteiro entregando à vila de Vilaça, freguesia de Contim, concelho de Montalegre, em troca de "villula de Seiza", que o mosteiro entregava; 1271, 23 Novembro - D. Afonso III deixa em testamento 7150 libras para serem divididos entre 24 mosteiros, cabendo ao de Pitões das Júnias 100 libras; 1320 - tinha de rendimento 275 libras; 1383 / 1384 - a população de Pitões das Júnias expulsa o abade do mosteiro por ser galego e recusa a nomeação de um novo pelo mosteiro de Osseira; a situação só ficou resolvida com a chegada de um monge do mosteiro do Bouro; séc. 13, finais / séc. 14, início - ampliação da capela-mor e construção do claustro; 1499 - nomeado para abade Frei Gonçalo Coelho, natural de Chaves; 1501, 1 Fevereiro - morte do abade Gonçalo Coelho, que acabou ganhando fama de santo; 1527 - no "Numeramento" não é referido nenhum mosteiro quando se regista a população de Pitões, o que indica já ter sido abandonado; 1533, 27 e 28 Janeiro - visita de D. Edme de Saulieu, Abade de Claraval, com Bronseval que descreve o mosteiro em adiantado estado de ruína, apenas se salvando a igreja; 1556 - volta a ter abade regular, sendo D. Valeriano de Villada; séc. 16, meados - construção da janela da fachada principal e do campanário; 1567, após - surge a questão dos direitos de padroado real sobre o mosteiro que Osseira negava existir para Portugal reclamando-o como sendo do seu domínio jurisdicional; 1592 - pelo tombo, percebemos que nesta data o mosteiro auferia foros significativos, com clareiras agricultáveis entre "matos maninhos e giestais" ao longo do rio e do caminho que conduzia à igreja; as terras que então pagavam renda a Pitões tinham a área de 13.34 ha; séc. 18, início - durante a Guerra da Sucessão de Espanha, o mosteiro de Osseira invoca sobre si os direitos sobre Júnias; o reconhecimento do ascendente dominal desta abadia, conduziu à renovação artística das Júnias e sua anexa São Rosendo de Pitões; elevação do corpo da cozinha e alteração da ordem dos vãos; construção do piso superior onde se alojavam os montes e os edifícios que se erguem a SO. do claustro; 1726 - despendiam-se quantias significativas para reparação do madeiramento e lajeamento da igreja; 1727 - dispêndio de 20.028 rs em obras em três celas, dois corredores, uma janela na cozinha e no moinho; 1728 - o mestre canteiro Simon Duran era pago pelas obras que aqui realizava; o mestre carpinteiro António da Casa, passa recibo pelo trabalho que efectuara no mosteiro; 1729 - encontrava-se já em grande decadência, conforme denúncia o visitador de Osseira, que determina que não se "deshaga los arcos del claustro antes bien los mande reparar si fuera nezesario"; 1834 / 1835 - extinção do mosteiro, passando o último monge, Fr. Benito Gonçalves, a pároco de Pitões das Júnias, até falecer em 1850; 1883 - inicia-se novo período de ruína;: as instalações conventuais foram adaptadas a fins civis; constróem-se diversos muros acompanhando as alas E. e S. dos compartimentos; construção de um muro intermédio na sala do capítulo; construção de uma escada no ângulo noroeste do claustro encostado à parede da sacristia; 1993 - abertura de concurso público para o Projecto de "Valorização do Mosteiro de Santa Maria das Júnias", pelo Parque Nacional da Peneda do Gerês; 1994 - início de projecto de investigação arqueológica patrocionado e financiado pelo Parque Nacional da Peneda-Gerês, com uma primeira abordagem ao Arquivo do Mosteiro; 2005, 21 abril - proposta de definição de Zona Especial de Proteção da DRPorto; 2008, 01 outubro - parecer favorável à definição de Zona Especial de Proteção do Conselho Consultivo do IGESPAR,I.P..

Dados Técnicos

Paredes autoportantes na nave e estrutura mista na capela-mor.

Materiais

Estrutura em granito com paredes da igreja em aparelho isódomo e pseudo-isódomo, evidenciando as várias fases de construção. Madeira. Cobertura da igreja com telha de aba e canudo.

Bibliografia

YA, EZ NEIRA, Fr. Maria, Incorporación de Santa Maria de Oseira al Císter y su repercusión en Santa Maria de Junias de Pitões, Bracara Augusta, vol. 37, Braga, 1983, p. 357 - 371; COCHERIL, Dom Maur, Routier des Abbayes Cisterciennes du Portugal, Paris, 1986, p. 65 - 71; ALMEIDA, Carlos A. Ferreira de, O Românico, in História da Arte em Portugal, vol. 3, Lisboa, 1986, p. 34; Fundação Calouste Gulbenkian, Guia de Portugal, Lisboa, 1987, vol. 5, Tomo I, p. 500 - 504; COSTA, João Gonçalves da, Montalegre e Terras do Barroso. Notas históricas sobre Montalegre, freguesias do concelho e região de Barroso, Câmara Municipal de Montalegre, 1987, p. 120 - 132; GRAF, Gerhard N., Portugal / 2, Madrid, 1988, vol. 14 da série Europa Romanica, p. 289 - 294; BARROCA, Mário Jorge, Mosteiro de Santa Maria das Júnias, in Revista da Faculdade de Letras, Universidade do Porto, II série, vol. 11, Porto, 1994, p. 417 - 443; LIMA, Alexandra Cerveira Pinto Sousa, O Mosteiro de Santa Maria das Júnias. Povoar e organizar um território de montanha, in Actas do II Colóquio Internacional Cister, Espaços, Territórios, Paisagens, 2 vol., Lisboa, 2000, p. 615 - 632; MAURÍCIO, Rui Paulo Duarte, Mosteiro de Santa Maria de Júnias: reconstrução e paisagem, in Actas do II Colóquio Internacional Cister, Espaços, Territórios, Paisagens, 2 vol., Lisboa, 2000, p. 605 - 614.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DREMN

Intervenção Realizada

DGEMN: 1961 - Restauro, conservação e limpeza; 1986 - Obras de recuperação e beneficiação; Parque Nacional da Peneda-Gerês: 1994 / 1995 - Intervenção arqueológica no claustro e cozinha.

Observações

*1 - A construção do mosteiro parece ter sido rápida, talvez devido à abundância de afloramentos graníticos na proximidade, que funcionavam como estaleiro. A construção junto a um riacho provocou um rápido assoreamento da área (pelo que a capela-mor anos depois teve de ser substituída por outra), grande enterramento do corpo da igreja e baixamento das portas, facto que talvez tivesse levado ao desaparecimento da cornija românica ao subir-se o corpo da nave. *2 - As sondagens arqueológicas no claustro puseram a descoberto dois tipos de sepulturas, as estruturadas com pequenas lajes graníticas, em caixa, e as escavadas nos depósitos argilosos; estas últimas, cronologicamente anteriores, uma das quais com recorte antropomórfico, correspondem à ala N. do claustro, junto à parede da igreja, a que são paralelas. Identificou-se ainda a sapata da arcada do claustro na ala E. e o leito da mesma sapata para O.. A S. não foi detectada, mas uma vala, que na sequência estratigráfica, é imediatamente anterior à vala de fundação do actual muro a S., bem como foi definida uma área funcional dedicada ao trabalho do ferro. *3 - A comunidade monástica de Pitões das Júnias deve ter sido sempre relativamente modesta, quer em número de monges, quer em termos de poder económico, o que se espelha no tamanho das instalações construídasem torno do claustro. Para além da pastorícia, os monges deveriam também dedicar-se ao apoio dos peregrinos que, vindos de Chaves e de Montalegre, optassem por seguir o caminho secundário do Barroso antes de atingirem a Galiza e Santiago de Compostela por Santa Comba de Bande e por São Miguel de Celanova. Ainda que esporádico, este apoio traduzir-se-ia em algumas esmolas e dádivas à comunidade.

Autor e Data

Isabel Sereno e Ricardo Teixeira 1994

Actualização

Paula Noé 2003
 
 
 
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