Chafariz da Esperança

IPA.00004943
Portugal, Lisboa, Lisboa, Estrela
 
Arquitectura infraestrutural, barroca e pombalina. Chafariz urbano, implantado no topo de uma rua, adossado a edificio, com forte carácter cenográfico, integrado no plano de abastecimento de água à cidade de Lisboa, a partir das Águas Livres, constituindo um dos ramais que parte desse canal. Segue a tipologia de chafariz de espaldar, com um forte carácter cénico barroco, disposto em dois níveis, ligados por escadas laterais, cada um deles com espaldar individualizado, tripartido, o inferior mais simples, dividido por pilastras toscanas e o superior por parastases, rematado por vasos com flores e alcachofras, tendo, ao centro, as armas reais, cada um deles com três bicas em forma de carranca. Estas vertem, no registo inferior para um tanque único, baixo e de perfil contracurvo, destinado aos animais, recebendo, os sobejos dos tanques superiores, estes em número de três e de planta quadrangular. Integra uma tipologia arquitectónica, aplicada a dois chafarizes deste período, o Chafariz do Rato (v. PT031106460022) e o de São Sebastião (v. PT031106501077), apesar destes serem bastante mais simples. Chafariz que apresenta elementos barrocos e pombalinos, mostrando o tipo de formação do responsável pela sua concepção, o engenheiro Carlos Mardel. Possui um alto teor cenográfico, o mais elaborado de todos os que foram construídos neste programa de abastecimento de água, que resistiu ao adossamento de um edifício, mas que o terá perdido parcialmente com a construção de um jardim na zona fronteira, que impede a sua completa visibilidade. Apresenta dois níveis de tanques, cada um com o seu espaldar, o inferior simples, dividido por pilastras toscanas, rematado por platibanda com elementos esferóides, contrastando com a zona superior, mais exuberante, com o espaldar dividido por parastases, com um jogo de pilastras, algumas em silharia fendida e colunas, que definem painéis com almofadados do tipo pombalino, de perfis recortados e por um elemento transversal a todos os chafarizes do período, uma tabela, assente em falsas mísulas com pingentes. Apesar do recurso à ordem toscana nos elementos estruturais, o engenheiro recorre à utilização de um friso dórico no remate, com os típicos triglifos e métopas, ornadas por rosetas. As bicas são em forma de carrancas, que emergem de elementos concheados, a única alusão à água em todos os elementos decorativos. Remata em pináculos na forma de vasos floridos, encimados por alcachofras.
Número IPA Antigo: PT031106370029
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Estrutura  Hidráulica de elevação, extração e distribuição  Chafariz / Fonte  Chafariz / Fonte  Tipo espaldar

Descrição

Chafariz de planta rectangular, em cantaria de calcário lioz, desenvolvendo-se em dois níveis, com escadas laterais de acesso. O nível inferior é composto por um espaldar rectangular, dividido em três panos almofadados, por pilastras toscanas, e rematado por platibanda plena almofadada, tripartida por acrotérios, na forma de pilstras toscanas de fustes almofadados, encimados por elementos esferóides, com folhagem na base, assentes em dados. Nos panos laterais do espaldar e no central da platibanda, surge um bica, em forma de carranca, a evoluir de elemento concheado; jorram para amplo tanque rectilíneo, com a mesma dimensão do espaldar, assente em friso, tendo um muro baixo e galbado, com o centro e os ângulos exteriores côncavos; possui bordo plano, onde se encontram vários gatos de ferro, a reforçar a estrutura. O espaldar prolonga-se em duas ilhargas convexas, formando três panos semelhantes aos do espaldar, a que se adossam escadaria em cantaria, de acesso ao segundo nível do chafariz, com guardas de cantaria plenas, com corrimão saliente. A zona superior é composta por espaldar rectilíneo, dividido em três panos por parastases, assentes em plintos paralelepipédicos, as posteriores na forma de pilastras em silharia fendida e as anteriores com pilastras toscanas nos extremos e colunas toscanas ao centro, que sustentam friso dórico, as pilastras encimadas por vaso com folhagem, rematando em alcachofras. O pano central possui apainelado rectangular com dupla moldura recortada, tendo na base, uma bica semelhante às do nível inferior, encimado por tabela horizontal, também recortada e assente em duas falsas mísulas com pingentes, tendo, ao centro, elemento fitomórfico; remata em cornija volutada nos ângulos e, ao centro, reentrante, permitindo o aparecimento das armas reais, rodeadas por concheados, festões e encimadas por coroa fechada. Está flanqueado por dois fragmentos de frontão, assentes nas colunas, possuindo remate central em vaso florido, encimado por alcachofras, semelhante aos exteriores *3. Os panos laterais são semelhantes, com apainelado rectilíneo e recortado, com dupla moldura, tendo, na base, bica em forma de carranca semelhante às anteriores, e, no remate, vieira, flanqueada por acantos dispostos de forma simétrica. Cada uma das bicas jorra para um tanque quadrangular, de bordos lisos. O espaldar é flanqueado por aletas curvas, capeadas e com pináculo de bola, sobre dado, a do lado esquerdo rasgada por vão rectangular, protegido por grade metálica pintada de verde. As faces laterais são flanqueadas por pilastras toscanas, uma em silharia fendida, rematando em friso dórico, rasgadas por portas de verga recta, protegidas por folhas de madeira pintadas de verde.

Acessos

Largo da Esperança; Avenida D. Carlos I

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto n.º 5 DR, 1.ª série-B, n.º 42 de 19 fevereiro 2002 *1 / ZEP, Portaria n.º 512/98, DR, 1.ª série-B, n.º 183 de 10 agosto 1998 *2

Enquadramento

Urbano, adossado à fachada E. do prédio nº 2 e 4 da Rua da Esperança, de quatro pisos, servindo como um fundo harmónico ao chafariz, possuindo um registo em cantaria, com duas janelas de varandim, em arco abatido e moldura saliente, rematando em frontão triangular. Fronteiro, um pequeno jardim, com caminhos pavimentados a alcatrão e com canteiros protegidos por elementos de arame, contendo relva e árvores de médio e grande porte. No lado esquerdo do jardim, surge um monumento escultórico a Gago Coutinho, composto por monólito paralelepipédico, de betão, a que se adossam três painéis em cantaria polida, com elementos a bronze, o central com a figura de Gago Coutinho, representada de perfil e a inscrição: "CARLOS V. GAGO COUTINHO ALMIRANTE 1869 1959"; o do lado direito possui mapas, representando o Oceano Atlântico e a aeronave do almirante, com a inscrição: "COM O CAPITÃO DE FRAGATA SACADURA CABRAL FAZ A 1.ª TRAVESSIA AÉREA DO ATLÂNTICO SUL 30 DE MARÇO DE 1922"; o lado oposto, possui um sextante e várias estrelas e a inscrição: "MARINHEIRO GEÓGRAFO AVIADOR NAVAL HISTORIADOR ADAPTOU O SEXTANTE À NAVEGAÇÃO AÉREA". No lado direito, tem adossado prédio de habitação e o bar "Chafarix".

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Hidráulica: chafariz

Utilização Actual

Cultural e recreativa: fonte ornamental

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Carlos Mardel (1752); Miguel Ângelo Blasco (1768).

Cronologia

1752 - é aprovado o seu projecto, executado pelo arquitecto Carlos Mardel (1695-1763); a sua construção foi feita em terreno adquirido ao convento franciscano de Nossa Senhora da Esperança, dependendo da construção do troço do aqueduto com o mesmo nome; 1753, Abril - Setembro - início da canalização da zona da Esperança; 1753, Outubro - 1754, Março - execução de um lanço do aqueduto subterrâneo desde o Largo do Rato até ao fim da Quinta de Manuel Nunes Tojal, em direcção à Esperança; 1754, Abril - Setembro - continuação das obras no aqueduto da Esperança, entre a Quinta de Manuel Nunes Tojal e as terras de D. Rodrigo, junto da mina de barro de António Roiz Gil; 1754, Outubro - 1755, Março - o troço do aqueduto da Esperança, desde as terras de D. Rodrigo, atravessando a Rua do Pombal e indo ao longo e pelo meio da Rua dos Prazeres, estava concluído; 1755, Outubro - 1756, Março - execução de um lanço do aqueduto da Esperança desde as casas de Caetano Francisco, na Rua dos Prazeres, continuando pelo alto das terras de D. Maria Herculana, onde o aqueduto faz ângulo e volta para São Bento; execução do massame do chafariz da Esperança e o troço que dele parte para o sítio do Poço dos Negros até onde o aqueduto faz ângulo para dentro da Cerca das Freiras; 1759, Abril - 1760, Março - execução do arco da Rua de São Bento para passar o troço da aqueduto da Esperança, até à baliza e muro da cerca de baixo; obra no aqueduto que corre paralelo ao geral das Águas Livres pelo lado nascente vindo a introduzir-se nele; 1761, Abril - Setembro - continuação da construção do arco triunfal da Rua de São Bento e, junto do mesmo, para nascente, três arcos ordinários e o desentulho do corte da dita rua, bem como a parede que sustenta a terraplanagem do adro da igreja; obras no aqueduto que parte da cerca de D. Maria Herculana; 1768 - finalização das obras, já dirigidas pelo arquitecto Miguel Ângelo Blasco; os sobejos do chafariz alimentavam um outro, que existia na Travessa do Cais do Tojo, demolido em 1836; 1770, Outubro -1771, Setembro - obras no aqueduto que vai do Rato para a Esperança; 1771, 10 Outubro - medição das águas e vistoria das obras dos aquedutos que fornecem os chafarizes da Esperança; 1775, Outubro - 1776, Setembro - obra de conserto no chafariz da Rua da Esperança; 1798 - terminada a obra do aqueduto do chafariz da Esperança; 21 Agosto - consertos no repuxo que leva a água ao chafariz da Esperança; 1805, 12 Junho - aviso ao arquitecto das obras das Águas Livres para mandar construir um chafariz de duas bicas junto ao Arco da Rua de São Bento; 1851 - José Sérgio de Andrade refere que o cano que levava a água ao chafariz tinha 1433 palmos, e os sobejos corriam para um tanque-lavadouro, existente na Rua Nova do Cais do Tojo, com acesso pelo n.º 29; 1889 - abertura da nova Avenida, transformando a praça primitiva; 1980, 20 Março - despacho do Secretário de Estado da Cultura que aprovou o estabelecimento da Zona Especial de Protecção.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura em cantaria de calcário lioz; bicas em bronze; portas das ilhargas em madeira; vão da aleta esquerda com grades de metal.

Bibliografia

CHAVES, Luís, Chafarizes de Lisboa, Lisboa, s.d.; ANDRADE, José Sérgio de, Memória sobre Chafarizes, Bicas, Fontes, e Poços Públicos de Lisboa, Belém e muitos outros logares do termo, Lisboa, 1851; Revista da Ordem dos Engenheiros, Ano II, nº 11, Junho, 1987; PEREIRA, José Fernandes (dir.), Dicionário da Arte Barroca em Portugal, Lisboa, 1989; Monumentos e Edifícios Notáveis do Distrito de Lisboa, Tomo III, Lisboa, 1988; CAETANO, Joaquim de Oliveira, SILVA, Jorge Cruz, Chafarizes de Lisboa, Sacavém, Distri-Editora, 1991.

Documentação Gráfica

Museu da Cidade de Lisboa

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DRMLisboa

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID, DGEMN/DSARH, DGEMN/DRMLisboa

Intervenção Realizada

DGEMN: 1960 - diversas obras de reparação, com limpeza das cantarias e refechamento de juntas; pintura das portas e grades de metal; fornecimento de carrancas de metal, semelhantes às existentes; reparação dos tanques; reparação do pavimento de lajeado de cantarias; substituição de quatro degraus.

Observações

*1 - Por decreto do Ministério da Cultura (dec. nº 5/2002 de 19 de Fevereiro) foi alterado o Decreto de 16 de Junho de 1910, publicado em 23 de Junho de 1910 que designava o imóvel como "Aqueduto das Águas Livres, compreendendo a Mãe de Água", passando a ter a seguinte redacção: "Aqueduto das Águas Livres, seus aferentes e correlacionados, nas freguesias de Caneças, Almargem do Bispo, Casal de Cambra, Belas, Agualva-Cacém, Queluz, no concelho de Sintra, São Brás, Mina, Brandoa, Falagueira, Reboleira, Venda Nova, Damaia, Buraca, Carnaxide, Benfica, São Domingos de Benfica, Campolide, São Sebastião da Pedreira, Santo Condestável, Prazeres, Santa Isabel, Lapa, Santos-o-Velho, São Mamede, Mercês, Santa Catarina, Encarnação e Pena, municípios de Odivelas, Sintra, Amadora, Oeiras e Lisboa, distrito de Lisboa". *2 - Zona Especial de Proteção Conjunta do Museu Nacional de Arte Antiga (v. PT031106370084) e edifícios classificados na zona envolvente. *3 - comparando o chafariz com os planos de Carlos Mardel, verifica-se a existência de pequenas alterações ao plano inicial, nomeadamente no remate do espaldar superior, ao nível do pano central, que previa um frontão semicircular, bem como a existência de quatro vasos floridos, em vez dos três existentes; também os almofadados da platibanda do nível inferior eram mais ricos, compondo três almofadados, o central circular.

Autor e Data

João Silva 1992 / Paula Figueiredo 2007

Actualização

 
 
 
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