Sinagoga Portuguesa Shaaré Tikvah / As Portas da Esperança

IPA.00005109
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santo António
 
Arquitectura religiosa, ecléctica. Projecto então cobiçado como modelo para futuras construções de Sinagogas na Europa. Conjunto austero, regido por cânones que restringem o uso da pintura e escultura contrapondo-as com a articulação de volumes e a expressão decorativa da arquitectura e do mobiliário. Elementos decorativos de influência romana, bizântina e românica. Templo: Colunas romano-bizantinas em pedra definem o eixo do Santuário, que está envolto em painel de madeira pintada, simulando mosaicos e é rematado com uma gravação dourada de um trecho da Lei. Decoração sóbria e geométrica solenizada com os tons dos materiais (pedra, madeira, vidro) e pontuada por acessórios religiosos móveis (metal) de valor artístico. Varanda com estrutura metálica (fachada lateral direita).
Número IPA Antigo: PT031106460316
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Sinagoga  

Descrição

Planta rectangular, simétrica segundo o eixo longitudinal O. / E. (entrada - santuário / Jerusalém). Correspondência entre o exterior e o interior. Percepção da zona central do edifício como espaço amplo, de 1 zona posterior de apoio e de 1 zona anterior de acesso com corpo sobreelevado.Volume único, paralelepipédico, equilibrado, com telhado de 2 águas de chanfro no topo posterior; distinto no corpo de entrada a que correspondem 2 telhados cruzados de 2 águas.A cobertura é em telha de Marselha com telha de vidro na zona que corresponde ao templo. A fachada principal tem embasamento, cunhais e cimalha decorativos em cantaria. É rasgada por estreitos janelões com vidros de cor e caixilhos de desenho geométrico, cortados por 1 friso que corresponde à laje do pavimento superior. 1 pórtico ogival com 2 colunas assinala a entrada e 1 acesso (masculino). As fachadas laterais apresentam fenestrações alinhadas e hierarquizadas sendo as dos 2 primeiros pisos com arcos de volta perfeita e as do terceiro, oculares. Na fachada lateral esquerda 1 porta assinala 1 outro acesso (feminino). A fachada posterior apresenta por piso, ao centro 3 janelas em arco com teia de vitral em losango e dos lados 2 janelas quadrangulares. O interior decompõe-se em 3 elementos. Ao meio o templo, composto por 1 ala central com pé-direito correspondente aos 3 pisos e por alas laterais definidas pelos pilares que sustentam as galerias. 1 estrado (bimá) e uma mesa (almemór) ao centro identificam o lugar do(s) oficiante(s) orientados para a parede de topo (E.) onde 5 degraus acima (escada de Elias) se encontra o Santuário (ehal) que guarda os rolos da lei (torah). De ambos os lados e no topo oposto, orientados para o centro estão os assentos dos homens enquanto os das mulheres se encontram nas galerias superiores. O corpo da entrada é composto por 1 vestíbulo, sala de apoio, acesso à cave (balneário, mikve) e acesso ao piso superior das salas da direcção e da 1ª galeria. 1 corpo anexo à Sinagoga (à direita da fachada principal) faz a ligação à 2ª galeria, a 1 apartamento e integra, no piso O, as instalações sanitárias. O corpo posterior define-se por salas de apoio aos ritos e aos oficiantes, instalações sanitárias e a escada principal do acesso das senhoras às galerias. A iluminação do templo provém das janelas das fachadas laterais e por 3 grelhas de vidro colorado no tecto. O tecto tem a forma de caixotão, pouco profundo com estrutura em betão.

Acessos

Rua Alexandre Herculano, n.º 59

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 5/2002, DR, 1.ª Série-B, n.º 42 de 19 fevereiro 2002 / Incluído na Zona Especial de Proteção Conjunta dos imóveis classificados da Avenida da Liberdade e área envolvente

Enquadramento

Urbano, flanqueado. Implantação plana no logradouro do quarteirão. Prédio recuado e oblíquo em relação ao alinhamento das fachadas da rua.. Visibilidade exterior condicionada, incidindo sobre uma aresta e duas faces do imóvel a partir do portão de entrada. Propriedade vedada com muro e vegetação. Um prédio de rendimento de Ventura Terra (v. PT031106460142) compõe a frente do quarteirão, ocultando parcialmente o templo *1.

Descrição Complementar

A fachada principal apresenta, à esquerda, no soco uma lápide em pedra com a seguinte inscrição: (inscrição judaica) / COLÓNIA ISRAELITA DE LISBOA / ESTA PEDRA FUNDAMENTAL DA SYNAGOGA PORTUGUEZA / SHAARE TIKVA / FOI COLOCADA EM 18 DE YAR DE 5662 / 25 DE MAIO DE 1902 / POR ABRAHAM E. LEVY / SENDO PRESIDENTE DO COMITÉ. LEÃO AMZALAK / PRESIDENTE DA SECÇÃO DA EDIFICAÇÃO. A. ANAHORY / E THESOUREIRO DA COLONIA. SALOMON DE M. SEQUERRA / ARCHITECTO.VENTURA TERRA.

Utilização Inicial

Religiosa: sinagoga

Utilização Actual

Religiosa: sinagoga

Propriedade

Privada

Afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Bak Gordon Arquitectos (2005); Carlos Ramos (1948); Miguel Ventura Terra (1902-1904). CONSTRUTOR: Abílio Pereira de Campos (1902-1904). PINTOR: Veloso Salgado (1904).

Cronologia

Séc. 19 - tentativa de construção de uma sinagoga, mas existiam dificuldades, nomeadamente não reconhecimento oficial pelo regime monárquico; 1897, 4 Março - abertura de subscrição para a construção da Sinagoga; 12 Outubro - a subscrição foi enviada para Londres e Lourenço Marques; constituição de uma Comissão para o estudo da sua construção, nomeada pela comunidade judaica em Lisboa, representada por Leão Amezalak, Abrahão Anahory, Mark Seruya, Jacob Levy Azancot, Saul Cagi e Jaime Pinto; 1901, 23 Agosto - assinatura da escritura da compra do terreno no prolongamento da Rua Alexandre Herculano; 1902 - doação do terreno ao Comité Israelita de Lisboa; elaboração e aprovação do projecto da autoria de Miguel Ventura Terra (1866-1919), arquitecto que havia sido recomendado à Comissão por Joaquim Bensaúde; permitia a presença de 400 homens e 200 mulheres; 25 Maio - cerimónia de lançamento da pedra fundamental, colocada por Abraham E. Levy; 1904, 18 Maio - inauguração da Sinagoga, executada pelo construtor Abílio Pereira de Campos; execução da pintura por Veloso Salgado; 1940 - constituição de comissão para angariação de fundos para a reparação da cobertura da Sinagoga; 1948 - nomeação de nova comissão; elaboração e aprovação do projecto de reparação e ampliação do arquitecto Carlos Ramos; 1949, Maio - reabertura solene com a presença do grão-rabino de Paris, Jacob Kaplan; 1995, Dezembro - foi proposta a classificação do imóvel; 2004 - cerimónias solenes do centenário da construção da sinagoga.

Dados Técnicos

Estrutura inicial de paredes autoportantes em alvenaria e cobertura em madeira; ampliação com estrutura de betão. Galerias e pavimentos em madeira.

Materiais

Betão, alvenaria, ferro, cantaria, madeira, vidro, telha.

Bibliografia

ALMEIDA, Pedro Vieira de, História da Arte em Portugal - a arquitectura moderna, vol. XIV, Lisboa, pp.74-81; ALVES, Francisco Manuel, Memórias Arqueológico-Históricas do districto de Bragança, tomo V - os Judeus, Bragança, 1981, pp. IX-CXIV; AMZALAK, Moses Bensabat, A Sinagoga Portuguesa Shaaré Tikva - As Portas da Esperança, Lisboa, 1954; ANACLETO, R., História da Arte em Portugal -neoclacissismo e romantismo, vol.X, pp. 36, 37 e 126-128; Arquitecto Ventura Terra (1866-1919), Lisboa, Assembleia da República, 2009; BALESTEROS, Carmen e OLIVEIRA, Jorge de, A Judiaria e a Sinagoga de Castelo de Vide in Ibn Maruañ, nº 3, 1993, pp.123-147; Bíblia de Jerusalém, São Paulo, 1991; Bíblia Sagrada, Lisboa, Difusora bíblica, 1994; ELIADE, Mirceia, Traité d'Histoire des Religions, 2 vols., Paris, 1978; FRANÇA, José Augusto, A Arte em Portugal no séc. XIX, vol.II, Lisboa, 1966; História de Portugal, vol. VI, Lisboa, Ediclube (artigos: "sabadell", "Judaísmo", "Inquisição" e "Sebastianismo"); KEEN, Michael E., Jewish Ritual Art, Londres, 1991; Ilustração Portuguesa, 2ª série, nº191, Lisboa, 1909; LEVINE, Lee I., Synagogues, vol. IV, Jerusalém, 1993, pp. 1420 e seg.; LEVY, Sam, Sinagoga, in SANTANA, Francisco, SUCENA, Eduardo, (dir. de), Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; LOPEZ ALVAREZ, Ana Maria e PALOMARES PLAZA, Santyago, Museo Sefardi Nacional de Cultura Hispano-Judia, rev. de arqueologia, ano XVI, nº 169, 1995, pp.44-55; MEYER, Kayserling, História dos Judeus em Portugal, São Paulo, 1971; Monumentos, n.º 12 e n.º 13, n.º 16, n.º 19, n.º 23, Lisboa, DGEMN, 2000-2003, 2005; REHPELD,Walter, A Mística Judaica, São Paulo, 1986; "Religião e povo Judaico", REMÉDIOS, J. Mendes dos, Os Judeus em Portugal, 2 vols., Coimbra, 1895, 1928; Sinagoga de Lisboa e Arquitecto Ventura Terra - A Construção Moderna, Ano IV, nº 97, Lisboa, 1903; UNTERMAN, Alen, Dictionary of Jewish Love & Legend, Londres, 1991; VITERBO, Sousa, Diccionario Historico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portuguezes ou a serviço de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1904, vol. III.; http://arqpapel.fa.utl.pt/jumpbox/node/74?proj=Sinagoga, 9 Setembro 2011.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID - Plantas, alçados, cortes anteriores e posteriores à ampliação de 1949 (arquivo administrativo)

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DRMLisboa

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID; CML: Arquivo de Obras, pº nº 20.499

Intervenção Realizada

1949 - reparação da cobertura e ampliação da Sinagoga (segundas galerias; zona posterior do Templo -instalações de apoio e sanitárias, acesso directo às duas galerias; cave com balneário -mikve); 1959 - reparação da cobertura em consequência do rombo provocado pela queda de 1 chaminé do prédio ao lado; DGEMN / Comunidade Israelita de Lisboa: 2000 / 2001 - reparação geral das coberturas com incorporação de subtelha, limpeza e reparaçãodo vão do telhado e lanternim, limpeza de cantarias e execução de novos rebocos com reposição de marcação da estereotomia da pedra original, reparação de todas as caixilharias exteriores e integração de novas redes de electricidade, telefone e video exteriores; 2005 - concluídas as obras de benefeciação do templo e do corpo poente, segundo um projecto conjunto desenvolvido pela DRMLisboa e o atelier Bak Gordon Arquitectos (contratado pela comunidade israelita de Lisboa), foram feitos o restauro do interior do templo que procuraram recuperar o aspecto primitivo e melhorar as condições de conforto dos utentes; o corpo poente sofreu obras de adaptação que permitiram a incorporação de um espaço de biblioteca no último piso e a valorização do gabinete do rabino, zona de convívio das senhoras e instalações sanitárias; por motivos ligados a indefinições de carácter religioso a zona dos banhos rituais não ficou concluida.

Observações

*1 - a reserva imposta à sua construção advém do art.º 6º, do título I da Carta Constitucional de então - todas as outras religiões serão permitidas aos estrangeiros com o seu culto doméstico ou particular, em casas para isso destinadas, sem forma alguma exterior de templo.

Autor e Data

Ângelo Silveira 1995

Actualização

Seabra Gomes 2001
 
 
 
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