Solar dos Falcões e Capela de Nossa Senhora da Nazaré / Solar D. Carlos I

IPA.00006059
Portugal, Lisboa, Cascais, União das freguesias de Cascais e Estoril
 
Arquitectura residencial, barroca. Casa abastada de planta rectangular simples, com capela adossada ao lado esquerdo e pequeno jardim na zona posterior e lateral direita. Casa evoluindo em dois pisos, marcados exteriormente por friso de cantaria, com cunhais apilastrados e remates em friso, cornija e platibanda plena, sendo as fachadas rasgadas por vãos rectilíneos, com molduras simples em cantaria. Na fachada principal, com os vãos da casa dispostos simetricamente, surge, no lado direito, a capela com remate em frontão contracurvo, truncado por sineira de volta perfeita, sendo rasgada por portal de verga recta, encimado por frontão semicirular interrompido, semelhante ao do acesso ao palácio. Interior com amplo vestíbulo, que acede, por portas às dependências posteriores e a porta lateral de acesso ao segundo piso, através de escadaria de madeira. Sala de jantar, antiga sala de música, possui painéis pintados com nítidas tendências neoclássicas, e cobertura em caixotões com talha policroma e rosetões. A capela encontra-se revestida com talha, pintura e painéis de azulejo, formando silhar, com cenas religiosas em monocromia, azul sobre fundo branco, do período barroco joanino. Possui retábulo-mor de talha policroma, tardo-barroca, com amplo nicho central e remate em espaldar curvo. Casa e capela-mor com linhas exteriores muito sóbrias, conservando algum dinamismo nos pináculos, frontões interrompidos e sobretudo no frontão contracurvo que coroa o frontespício da capela, reservando assim maior riqueza decorativa para o interior. No todo, destaca-se a sala de jantar, ostentando apainelados pintados com elementos paisagistas e vários "putti" a sustentar instrumentos musicais. Na capela, destaca-se o revestimento azulejar de interesse do ponto de vista iconográfico, associando iconografia de Nossa Senhora da Nazaré e emblemática, mariana, evidenciando grande qualidade pictórica. Apresenta as ilhargas pintadas com temática religiosa, teia de madeiras exóticas, púlpito e tribuna em talha, possuindo retábulo-mor de talha simples, contrastando com a riqueza dos demais elementos decorativos.
Número IPA Antigo: PT031105030018
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre    

Descrição

Planta rectangular composta pelo edifício principal e capela adossada ao lado direito, com jardim na fachada posterior, que se prolonga para o lado direito. Zona habitacional com fachadas rebocadas e pintadas de branco, percorridas por soco e lambril de cantaria de calcário, com cunhais em cantaria e remates em friso rebocado e pintado de branco e cornija, que sustenta platibanda plena, rebocada e pintada de branco, flanqueada por acrotérios laterais em cantaria. Evolui em dois pisos, divididos por friso saliente. CASA com fachada principal virada a SO., com os vãos rasgados de forma simétrica, tendo portal central, rematada pro frontão interrompido semicircular, que invade o segundo piso, com moldura dupla em cantaria, assente em pequenos plintos de faces almofadadas e ladeado por janelas de peitoril rectilíneas e com molduras em cantaria, protegidas por grades metálicas pintadas de verde. No segundo piso, quatro janelas de sacada, com bacia de cantaria e guarda de ferro rendilhada, pintada de verde, para onde abrem portas-janelas rectilíneas e com molduras simples, que centram pequena janela de peitoril. Fachada lateral esquerda virada a NO., rasgada por três vãos em cada piso, o inferior com janelas de peitoril rectilíneas, com molduras de cantaria e protegidas por grades de ferro pintadas de verde, surgindo, no lado esquerdo, pequena janela rectilínea. No segundo piso, às anteriores correspondem uma janela de pequenas dimensões e duas janelas de sacada semelhantes às da fachada principal. Fachada lateral direita adossada à capela e fachada posterior rasgada por vários vãos rectilíneos, alguns deles de feitura recente e incaracterísticos. INTERIOR com acesso por amplo vestíbulo, pavimentado a tijoleira vermelha, formando a zona da recepção, com acesso a sala no lado direito, a dependências de serviços e ao jardim, através de porta fronteira e, a partir de porta no lado esquerdo, a escadaria de madeira com guarda do mesmo material, de acesso ao piso nobre. Este acede a corredor, onde se distribuem os vários quartos, e à sala de jantar. Esta é rectangular, com pavimento de madeira e tecto plano, dividido em quatro caixotões, que centram florão central, assente em duplo friso, denteado e pintado com elementos fitomórficos. A parede está dividida em apainelados pintados, com lambril ostentando amplos rectângulos com cenas campestres, encimados por friso de entrelaçados e painéis onde surgem "putti" a sustentar instrumentos musicais, envolvidos por decoração sinuosa, compondo enrolamentos, acantos, festões, mascarões e carrancas. As portas que abrem para a sala possuem sobreportas decoradas com pinturas de paisagens. No lado direito do conjunto, surge a CAPELA de planta rectangular composta por nave única e capela-mor, com cobertura homogénea em telhado de duas águas, tendo fachadas rebocadas e pintadas de branco. Fachada principal virada a SO., coroada por frontão recortado, truncado por sineira em arco de volta perfeita sobre impostas salientes, encimada por frontão interrompido por cruz latina. Sobre os cunhais que ladeiam a capela, pináculos do tipo balaústre. É rasgada por portal de verga recta com dupla moldura, assente em pináculos com as faces almofadadas, sobrepujado por frontão interrompido, encimado por janelão rectilíneo. No lado direito, corpo com porta de verga recta e moldura simples, encimado por janela de peitoril rectilínea. Fachada lateral esquerda adossada, seno a lateral direita rasgada por três janelas rectilíneas, a do lado esquerdo de varandim. Fachada posterior em empena cega. INTERIOR rebocado e pintado de marmoreados fingidos, de rosa, verde e amarelo, dispostos em apainelados, percorrido por painéis de azulejo figurativo, representando milagres de Nossa Senhora da Nazaré, em monocromia, azul sobre funco branco, formando silhar, com coberturas em abóbada de arestas, decoradas com pinturas murais e pavimento em soalho na nave e em lajeado de calcário na capela-mor. O portal encontra-se protegido por guarda-vento de madeira, encimado por tribuna, com guarda de madeira, assente sobre arco em asa de cesto, que descarrega em mísulas recortadas. A ladear o arco, duas pias de água-benta em cantaria. No lado da Epístola, púlpito quadrangular com bacia e mísula de cantaria e protegido por guarda de talha policroma vazada, formando enrolamentos e pequenos medalhões com queribins ao centro. Tem acesso por porta de verga recta e moldura simples. Encontra-se encimado por vão rectilíneo, com correspondência no lado oposto. Arco triunfal de volta perfeita assente em pilastras toscanas, tudo decorado com motivos fitomórficos pintados, protegido por teia de embutidos de madeira, formando apainelados divididos por estípides. Nas paredes laterais da capela-mor, rasgadas por duas portas, silhar de azulejos de composição figurativa ilustrando símbolos marianos, encimados por pinturas murais de temática religiosa, disposta em dois painéis, surgindo, no lado do Evangelho, uma Anunciação muito degradada pela humidade e um segundo painel impossível de identificar. No lado oposto, Santa Ana a ensinar a Virgem a ler e São Sebastião. Cobertura em abóbada de aresta pintada com querubins e símbolos eucarísticos. Retábulo de talha policroma, de planta recta e um eixo definido por quatro colunas coríntias, assentes em duas ordens de plintos, os inferiores altos e paralelepipédicos, decorados com elementos fitomórficos dourados, encimadas por pequenos acantos dourados. Ao centro, tribuna em arco de volta perfeita, contendo trono expositivo de cinco degraus, com moldura recortada, que evolui no remate, criando um falso espaldar curvo, rematado por cornija e contendo glória de querubins. Encontra-se ladeado por duas falsas arquivoltas, decoradas com palmetas. A ladear a tribuna, duas mísulas com baldaquino, contendo imaginária. Altar paralelepipédico decorado com marmoreados fingidos.

Acessos

Rua Latino Coelho, nº 8

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto n.º 95/78, DR, 1.ª série, n.º 210 de 12 setembro 1978 (Capela) / IM - Interesse Municipal, Aviso da Câmara Municipal de Cascais, Boletim Municipal de 28 abril 2009

Enquadramento

Urbano, isolado, implantado na malha urbana da vila, numa zona de quarteirões regulares, com o perímetro rodeado por alto muro de alvenaria rebocada e pintada de branco, alteado no lado SE., que fecha o jardim situado no lado direito. Encontra-se rodeado por casas de habitação unifamiliar datadas dos séc. 19 e 20. A fachada principal abre directamente para a via pública, pavimentada a calçada de paralelepípedos.

Descrição Complementar

Nas paredes do sub-coro, quatro painéis de azulejo formando silhar de composição figurativa, com 14 azulejos de altura, em monocromia, azul sobre fundo branco, representando figuras masculinas de pé, apoiando-se em escudos com inscrições identificativas. No lado do Evangelho, ABRAHAM, com 13 azulejos de largura, a que se sucede ISAAC com 9 azulejos de largura. No lado da Epístola, IACOB, tendo 13 azulejos de largura, a que se sucede IUDAS, com 9 azulejos de altura. Na nave, surgem painéis de azulejo de composição figurativa, formando silhar, organizado em três registos justapostos horizontalmente representando milagres de Nossa Senhora da Nazaré e simbólica mariana. No lado do Evangelho, Nossa Senhora da Nazaré impede o caçador (a cavalo) de cair no precipicio e cartela com símbolo mariano, representando uma ostra com pérola e inscrição: IN UTERO IAM PURA FUI. Surge, ainda Nossa Senhora da Nazaré a salvar um cavaleiro de ser colhido por um touro. No lado da Epístola, Nossa Senhora da Nazaré impede o cavalo de cair no precipício, a que se sucede cartela com símbolo mariano - rosa e inscrição: PRAEZIDIO ET DECORI. Surge, ainda, Nossa Senhora da Nazaré a ressuscitar um homem. Na capela-mor, azulejos de composição figurativa, representando símbolos marianos e figuras infantis com atributos relativos às litanias de Maria, em monocromia azul sobre fundo branco, com 14 azulejos de altura por 11 de largura (em cada uma das paredes). Painel muito degradado, com as lacunas preenchidas com cimento, tendo, ao centro, paisagem com montanha, tronco de árvore e sol. Da fiada de azulejos representando figuras infantis com símbolos marianos restam apenas 14 azulejos (a fiada completa tem 28; 14 de altura x 2 de largura). No Lado da Epístola, o painel representa ao centro um obelisco por cima do qual brilha o sol. Barra composta por fiada de três azulejos representando lateralmente figuras mascullinas de corpo inteiro que seguram a base dos enrolamentos vegetalistas que preenchem toda a barra e no qual se integram figuras infantis com pássaros; na parte inferior e superior cartela central. À esquerda, fiada vertical de azulejos representando 4 figuras infantis segurando símbolos marianos.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Comercial e turística: hotel

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTORES de AZULEJO: António de Oliveira Bernardes (1729); PMP (séc. 18).

Cronologia

Séc. 18 - época provável de construção; 1729 - pintura dos azulejos por António de Oliveira Bernardes, enquadrados por frisos de PMP; 1741, 10 Março - a ermida foi ocupada por padres de São Francisco de Paula; 1753, 26 Dezembro - na impossibilidade de compra da capela, por se achar vinculada a determinados bens, os padres abandonam o local, por ordem do Geral de Castela; 1751 - Bernardino Falcão Pereira e a mulher, Antónia Felícia Gameiro Feijó, contraíram um empréstimo a Estáquio Antunes Monteiro, dando como garantia uma propriedade em São Sebastião da Pedreira; 1755, 16 Julho - Estáquio Monteiro ainda não recebera o valor da dívida, tendo sido executada a propriedade de Cascais, a casa, em seu favor; 1755, 01 Novembro - arruinada a capela paroquial de Nossa Senhora da Assunção, os actos litúrgicos passaram a ser ministrados nesta capela, jazigo da família do Morgado Falcão; que serviu também algum tempo como hospício dos padres de São Francisco de Paula; 1756, 20 Maio - Frei António do Espírito Santo escreveu sobre os efeitos do terramoto de 1755 em Cascais, referindo que o edifício tinha ficado danificado; 1758 - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo reitor Manuel Marçal da Silveira, é referido que na capela se realizavam os actos litúrgicos da paróquia da Assunção; 1768, 22 Agosto - era administrador da capela instituída por Falcão Pereira e Antónia da Silva, Ambrósio Pires Falcão Gameiro, morador em São Sebastião da Pedreira; a capela tinha obrigação de missa quotidiana; 1768, 22 Dezembro - a Câmara de Cascais executou a penhora do solar, dando-o a Estáquio Antunes Monteiro, que não o aceitou de imediato; 1778 - Estáquio Monteiro pede a reavaliação do solar, já bastante danificado; 1779, 29 Fevereiro - Estáquio Monteiro torna-se o proprietário do solar; 1789, 9 Março - vendido a José Anacleto e Maria Inês do Carmo por 400$000; segundo se lê na escritura, as casas estavam arruinadas; 1808 - requerida ao Patriarcado a Concessão de Indulgências a quem rezar diante da imagem de Nossa Senhora da Nazaré; segundo a tradição, Junot assina a retirada de Lisboa neste edifício, onde esteve hospedado, tendo para o efeito, sido transportada mobília do Palácio do Ramalhão; 1820 - o proprietário procede à avaliação da casa, no valor de 3:200$000; 1864, 2 Janeiro - após a morte dos proprietários sem descendência, o edifício foi arrematado em hasta pública por Manuel Rodrigues Lima, por 2:209$000, compreendendo a casa, ermida, adega, quintal e cisterna; séc. 19, final - o edifício foi adquirido pelos Condes de Magalhães; séc. 20. - os herdeiros do anterior vendem o conjunto edificado ao professor G. Constanzo, que o doaria a sua filha, Beatrice Constanzo Nunes; por iniciativa de D. Fernanda de Castro foi o edifício aproveitado para instalação de um hotel.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria, rebocada e pintada; pilastras, frisos, cornijas, modinaturas, sineira, pináculos e pavimento em cantaria de calcário; tectos, escadas, pavimentos, guardas, teias, retábulo, púlpito de madeira; elementos em estuque decorativo; silhares com painéis de azulejo tradicional; guardas em ferro; janelas com caixilharias de alumínio e vidro simples; cobertura em telha.

Bibliografia

Cascais em 1755 - do terramoto à reconstrução, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, 2005; ENCARNAÇÃO, José de, Cascais - Vila da Corte. Oito séculos de história, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, 1975; ENCARNAÇÃO, José de, Cascais - Guia para uma Visita, Cascais, 1983; MECO, José, Azulejaria Portuguesa, Lisboa, 1985; ENCARNAÇÃO, José de, Cascais - Guia para uma visita, Cascais, Câmara Municipal de Cascais, 1983; GODINHO, Helena Campos, MECO, José, Azulejaria de Cascais com temática ou utilização religiosa, in Um olhar sobre Cascais através do seu património, vol. II, Cascais, Câmara Municipal de Cascais / Associação Cultural de Cascais, 1989, pp. 87-117; Herança do Património Arquitectónico Europeu in Arquivo de Cascais, nº 9, s.l., 1990, p. 87 - 235; MACEDO, Silvana Costa, PEREIRA, Teresa Marçal, Levantamento do Património do Concelho de Cascais, 1975; MECO, José, Da "Casa dos Azulejos" aos azulejos de Cascais, in Monumentos, n.º 31, Lisboa, Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, 2011, pp. 46-57; MONTOITO, Eugénio, Fontes documentais de interesse para a história do município de Cascais - acervo documental existente no Arquivo Histórico de Sintra, Sintra, Gabinete de Estudos Históricos e Documentais, 1989; SERRÃO, Vítor, História da Arte em Portugal - o Barroco, Barcarena, Editorial Presença, 2003; SOUSA, Maria José Pinto Barreira Rego, Cascais 1900, Lisboa, Medialivros, 2003.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID, SIPA

Documentação Administrativa

Intervenção Realizada

PROPRIERÁRIO: séc. 20, final - arranjo de rebocos e pinturas; tratamento das coberturas.

Observações

Autor e Data

Paula Noé 1991 / Paula Correia 2004 / Paula Figueiredo 2010

Actualização

 
 
 
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