Teatro de São Luís

IPA.00007052
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Arquitectura cultural e recreativa, ecléctica. Teatro do fim do séc. 19, reconstruído em 1915, dotado posteriormente com equipamento cinematográfico e que beneficia de profundas obras no fim do séc. 20. De cena contraposta e planta em ferradura, conta com fosso de orquestra, palco com 11m de largura, 12 m de profundidade e 21, 5 m de altura, dispondo de teia, falsa-teia e dois sub-palcos. Tem uma lotação de 738 lugares distribuídos por plateia, frisas, balcão e camarotes de 1ª e 2ª ordens.
Número IPA Antigo: PT031106200506
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Cultural e recreativo  Casa de espetáculos  Teatro  

Descrição

Edifício de planta rectangular composta, desenvolvida longitudinalmente e dispondo de duas frentes alinhadas com as respectivas artérias urbanas. Para N. o edifício é prolongado por um corpo também de configuração rectangular, embora mais estreito, correspondente ao Jardim de Inverno: volume fundamental na composição da fachada posterior (E.), resta imerso entre as construções urbanas que o rodeiam, às quais está adossado (N. e O.). O edifício tem cobertura em telhado e acusa exteriormente os seus espaços nucleares, percepcionados sobretudo por uma composição diferenciada dos distintos corpos ou panos: a zona do palco; a sala propriamente considerada; e o Jardim coberto. FACHADA PRINCIPAL: superfície rebocada e pintada, ritmada por molduramentos distendidos pela fachada que é percorrida superiormente por um friso ornado de medalhões. Nos topos sobressaem o corpo da caixa do palco, mais elevado, e o corpo onde se localizam a entrada, "foyer" e escadas de acesso aos camarotes e balcões; entre estes dois, a parte relativa à sala. À verticalidade e volume compacto da caixa do palco e camarins, de decoração discreta - resumida a molduramentos verticais de linhas rectas a acompanhar a fenestração estreita -, opõe-se o corpo da entrada, aquele onde a decoração é mais apurada, tanto no desenho (linhas curvas e formas torneadas) como nos materiais (cantarias e ferro). Enquadrado por duas pilastras, que rompem o friso, este corpo é rematado por um frontão volutado interrompido, crescendo sobre a empena recta, sendo completado, já sobre a cobertura saliente que protege a entrada, pela balaustrada do amplo janelão em arco pleno com caixilharia de ferro ornamentada. O último piso, entre o janelão e o frontão, é iluminado por 3 vãos estreitos de verga arqueada, sendo o central bipartido, e apresentando colunas de capitel decorado embutidas nas ombreiras, à excepção da que divide o vão geminado. O pano correspondente à sala tem um desenvolvimento horizontal, reforçado pela ampla sacada que, sobre as portas de comunicação directa da rua com a sala, se estende entre o janelão e a caixa do palco / primeiros pisos dos camarins acima do nível térreo: além da fenestração (2 fiadas de cinco janelas) e dos 4 molduramentos verticais que subdividem o pano, destaca-se a decoração floral da consola. FACHADA POSTERIOR: é essencialmente dominada pelas escadas exteriores em ferro, num jogo desencontrado de lanços e patamares, sustentados por colunas ou consolas, que ligam cada um dos pisos (3) da sala (balcões, camarotes e geral) ao Largo do Picadeiro, dispondo também a zona do palco / camarins de uma ligação directa. Nesta fachada sobressai naturalmente a extensa cobertura envidraçada do antigo Jardim de Inverno (corpo a N.). INTERIOR - auditório principal: configurado por dois espaços independentes ligados pela boca de cena, sendo a relação do palco com a zona do público de cena contraposta, para uma sala de planta em ferradura que conta com fosso de orquestra a permitir um prolongamento da plateia. Tem uma lotação de 738 lugares distribuídos por plateia (324), frisas (56), balcão e camarotes de 1ª e 2ª ordens (respectivamente 56+91 e 147+64). A sala é coroada pelas galerias usadas, não pelo público, mas para instalação de equipamento de iluminação cénica. Dispõe de camarote real. Plateia com pendente de 2,5%, de coxias longitudinais central e laterais, além das transversais (de boca e fundo), com cadeiras fixas (à excepção da 1ª fila) de madeira forradas a tecido bordeaux. O pavimento, bem como as paredes da sala, são de madeira ganhando especial destaque na decoração geral da sala as guardas dos balcões, em ferro forjado, as sanefas em talha dourada dos camarotes e a pintura do tecto, figurativa. O palco, com uma largura de 11 m, uma profundidade de 12 m e uma altura de 21,5 m, dispõe de coxias direita, esquerda e de fundo, tem paredes de cor preta, soalho de madeira, pendente de 2,5 % e quarteladas . O acesso de carga faz-se directamente da rua ao palco, garantido por uma plataforma elevatória que vence um desnível de 2m. A caixa de palco dispõe de 3 varandas em ferro, de teia (a 22,5 m do piso do palco) e falsa teia e de dois sub-palcos.

Acessos

Rua António Maria Cardoso, n.º 38-56; Largo do Picadeiro.

Protecção

Incluído na classificação da Lisboa Pombalina (v. IPA.00005966) / Incluído na Zona de Proteção do Aqueduto das Águas Livres (v. IPA.00006811), na Zona de Proteção do Teatro São Carlos (v. IPA.00003103) e na Zona de Proteção do Palácio do Barão de Quintela e Conde de Farrobo (v. IPA.00005195) / Parcialmente incluído na Zona de Proteção do Castelo de São Jorge e restos das cercas de Lisboa (v. IPA.00003128)

Enquadramento

Urbano. Integra-se na malha urbana definida entre o Largo do Chiado / Rua Garrett (N.) e a Rua Vítor Cordon (S.), numa transversal que pelo limite O. liga aquela duas artérias: a Rua António Maria Cardoso. Implantado em terreno desnivelado e integrado em extenso quarteirão a ocupar cerca de três quartos da rua, o teatro está adossado a N. e a S., apresentando a frontaria alinhada com a frente urbana e voltada aos jardins do Palácio Quintela (O.) (v. PT031106150052), enquanto a fachada posterior, a cota inferior e recuada, aqui se formando o Largo do Picadeiro, vira-se ao alçado lateral do Teatro Nacional de São Carlos (v. PT031106200042). Nas propriedades contíguas encontra-se para S. o edifício da antiga PIDE/DGS (v. PT031106200593) e para N. um prédio de habitação a fechar o quarteirão do teatro e a confrontar com um outro, de dimensões menores e forma rectangular, constituinte do palácio Ferreira Pinto Basto (v. PT031106200519), com a fachada principal voltada ao Largo do Chiado e a fachada da Rua António Maria Cardoso à frontaria do antigo cinema Chiado Terrasse (v. PT031106150507).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Cultural e recreativa: teatro

Utilização Actual

Cultural e recreativa: teatro

Propriedade

Pública: municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Alberto Rui Pessoa; Luigi Manini (séc. 19); Luís Ernesto Reynaud; Raul Chorão Ramalho (1914-2002); Tertuliano Lacerda Marques (atr.)

Cronologia

1893 / 1894 - construção primitiva do edifício, simbolicamente baptizado nos derradeiros anos da Monarquia constitucional com o nome da Rainha D. Amélia; decoração perspectivada no Jardim de Inverno do Teatro, conforme projecto de Luigi Manini; 1914 / 1915 - após o incêndio, o teatro República - designação adoptada com a implantação do nóvel regime - é prontamente reconstruído em obediência ao projecto inicial; 1940 (década de) - a transformação do Jardim de Inverno, seguida de outras intervenções na sala, que se prolongam pelos "anos de 50", confirmam modalidades de exploração já anteriormente experimentadas e com elas o fim do "foyer" intelectual e da animação teatral especialmente vivos na passagem do século, e numa tradição que se mantém até, pelo menos, ao início dos anos 30. 1º PERÍODO: 1893 - Luís Reynaud desenha o projecto de um teatro para Guilherme da Silveira e Cª construir no Chiado, em um terreno pertencente à vasta propriedade dos Duques de Bragança; 1894 - ainda em construção, algumas alterações são introduzidas, pontuais e de pormenor, constituindo a inovação mais significativa a cobertura envidraçada do Jardim de Inverno, espaço inicialmente descoberto; 1894, 22 de Maio - inauguração do teatro D. Amélia, sala de planta em ferradura (com plateia, balcão e camarotes de 1ª ordem, camarotes de 2ª ordem e por fim as galerias, localizando-se o camarote real na 1ª ordem e junto ao palco), e "cena à italiana", tendo o cenógrafo Luigi Manini colaborado na decoração; 2º PERÍODO: 1914 - a 13 de Setembro um incêndio destrói praticamente o edifício oitocentista, salvando-se as paredes exteriores e o Jardim de Inverno; 1915, Abril - por um despacho do Arquitecto Chefe, José Alexandre Soares, sabemos ter sido recusado pela CML o primeiro projecto de reconstrução do teatro apresentado naquele ano por Ramos e Cª, rejeição baseada na "deficiência artística das fachadas e ao seu conjunto inestético", conforme às "disposições do art. 4º do decreto de 30 de Setembro" de 1914, e também pelo projecto estar "incompleto na parte relativa aos detalhes da sua construção" (in CML:Proc.nº 14021); 1915, Maio - um projecto modificado de reconstrução é então apresentado (2), antecedido por uma exposição da Companhia ao Presidente da Câmara, onde, perante a rejeição do projecto inicial, é pedida a atenção do Presidente para o facto de não se tratar de "reconstruir a parte externa do edifício, porque simplesmente sofreu estragos que exigem ligeiras reparações, tendo apenas de ser reconstruída a parte da parede na altura das cimalhas"; sustenta-se ainda consistir a obra "principalmente na reconstrução interna da sala e palco, que ficam com a mesma disposição que tinham antigamente, visto que elas satisfaziam todas as condições de estética e comodidade como convém a um teatro moderno" (doc. dat. Abril 1915, CML:Proc. nº14021); 1915 - no verão deste ano dá-se início à reconstrução do teatro, cujo projecto comparado ao de L. Reynaud (1893) poucas diferenças acusa: os cortes denotam uma decoração mais apurada do interior da sala; o salão de pintura, no último piso, não existia no projecto original; o acesso ao camarote real, com escada em caracol e ligação directa ao exterior, resulta de uma intervenção da Casa Real, posterior a 1894, elemento que se mantém; as diferenças mais significativas resultam da construção da estrutura do palco, camarins e sala (utilização de betão armado), e da localização das escadas de acesso aos camarins (duas em vez de uma), bem como na decoração dos alçados, onde se verifica existirem duas soluções (correspondentes aos dois projectos apresentados em 1915), uma mais profusamente decorada, tendo-se no entanto optado pelo desenho mais simples; segundo o parecer do Comando de Bombeiros Municipais, esta casa de espectáculos "ficará sendo nesta cidade a que fornece mais garantias de segurança pública em caso de incêndio" (ass. Francisco C. Parente, dat. 2 Jun. 1915, in CML...); 1916 - inauguração do teatro; 1917 - recebe o nome pelo qual hoje o conhecemos, em homenagem ao empresário que deu vida e animação ao teatro - o Visconde de São Luís Braga, recordado ainda como principal figura da tertúlia reunida diariamente no Jardim de Inverno, ao tempo "centro de cavaco, de natureza literária" (As Bodas de Ouro..., p. 31); 1928 - sob projecto do arq. Jorge Leite, constroi-se uma cabine cinematográfica na plateia, abaixo do piso dos camarotes de 1ª ordem, destinada a projecções, actividade esta já antes experimentada no Jardim de Inverno; 3º PERÍODO: 1943 - "arranjo e decoração do Jardim de Inverno do Cine-teatro São Luís", projecto assinado por Guilherme Gomes e F. Schiappa de Carvalho, destinado a salão de festas e a espaço complementar do hall e "foyer" - o palco e o bar apresentam uma decoração com elementos modernistas, típica dos anos 40; 1944 - inauguração do "Salão de Festas" por ocasião do cinquentenário do teatro: "o Jardim de Inverno, que, desde o advento do cinema, no São Luís, estava encerrado, reabre (...) com outro gosto, outro estilo, outra época, dissipando as últimas sombras de saudade que ainda se projectavam na decoração de Luigi Manini (...). O Jardim converteu-se numa sala moderna, com um pequeno palco ao fundo, para conferentes e audições musicais; um lustre cintilante, cujos cristais são um chuveiro de diamantes; um bar moderno (...) oferecerá os últimos coktails inventados na América" (As Bodas de Ouro..., p.28); 1946 / 1947 - a empresa Ramos e Cª estende as renovações do Cine-Teatro à sala, construindo nova cabine de projecção: o projecto pertence a Raul Chorão Ramalho e Alberto Rui Pessoa; 1951 - da responsabilidade dos mesmos arquitectos são também os melhoramentos introduzidos na plateia, intervenção que implica a supressão das frisas, a instalação de cadeiras e o alargamento de algumas portas; 1954 - a modernização da sala é estendida neste ano à remodelação da geral (supressão das bancadas laterais) e 2º balcão (construção de um novo), com projecto novamente de Chorão Ramalho e Alberto Pessoa; 1971 - a Câmara Municipal de Lisboa adquire o imóvel.

Dados Técnicos

Materiais

Betão, alvenarias, madeira, ferro, vidro, telha e estuques.

Bibliografia

As Bodas de Ouro do São Luís, Lisboa, 1945; COSTA, Mário, O Chiado Pitoresco e Elegante, Lisboa, 1987 (reedição); ARAÚJO, Norberto de, Peregrinações em Lisboa, vol.13, Lisboa, 1993 (reedição); Exposição Raul Chorão Ramalho Arquitecto, Almada, 1997; FERNANDES, José Manuel (e outros), Arquitectura do Princípio do Século em Lisboa (1900-1925), Lisboa, 1991; FERNANDES, José Manuel, Cinemas de Portugal, Lisboa, 1995; FRANÇA, José Augusto, A Arte em Portugal no Século XIX, vol.2, Lisboa, 1990 (3ª ed.); Plano Director Municipal, Lisboa, 1995; VALDEMAR, António, Chiado, in Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; VITERBO, Sousa, Diccionario Historico e Documental dos Architectos, Engenheiros e Construtores Portuguezes ou a serviço de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1904, vol. III.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/Arquivo Pessoal Raul Chorão Ramalho; CML: Arquivo de Obras, Proc. n.º 14021

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Proc. nº 14021

Intervenção Realizada

1928 - construção de uma cabine cinematográfica na plateia; 1943 - obras no Jardim de Inverno; 1946 - construção de nova cabine de projecção; 1951 - alterações na plateia; 1954 - remodelação da geral e 2º balcão..(4); 1999, Novembro - o teatro encontra-se em obras; 2000 (Setembro) - abertura de concurso para a execução da 2ª fase de obras no Teatro, incluindo o Jardim de Inverno, o Teatro Estúdio Mário Viegas e a Cafetaria;

Observações

*1- Aguardamos a conclusão das obras agora iniciadas para se proceder ao estudo do interior. *2- O projecto de reconstrução não está assinado, nem em nenhum outro documento constante do processo se encontra o nome de Tertuliano Lacerda Marques, arquitecto dado como autor do projecto por Norberto de Araújo (p.13). Esta informação surge sem grandes dúvidas em outras obras. *3 - Entre estes lugares contam-se o Teatro Nacional de São Carlos, o Grémio Literário, a Escola de Belas Artes ou o café A Brasileira (v. PT031106270201), além de outros exemplos para um périplo de edifícios que albergavam residências aristocráticas, o exercício do culto católico e comércio variado (lojas, sedes de jornais, livrarias, hóteis, clubes), a maior parte hoje com outra ocupação (excepção das igrejas - Encarnação, Loreto e Mártires), mas em muitos casos mantendo as fachadas ou outros elementos residuais daquela memória (a Livraria Bertrand, os Armazéns Ramiro Leão, o cinema Chiado Terrasse, o Palácio do Barão de Quintela, etc.). *4 - O processo consultado na CML não está completo, terminando o último volume em 1978. Aguardamos que sejam localizados os volumes em falta (Ago.1999).

Autor e Data

Filomena Bandeira 2002

Actualização

 
 
 
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