Igreja da Santa Casa da Misericórdia de Fornos de Algodres / Igreja de Nossa Senhora dos Remédios

IPA.00007445
Portugal, Guarda, Fornos de Algodres, Fornos de Algodres
 
Arquitectura religiosa, barroca. Igreja da misericórdia de planta longitudinal composta por nave, capela-mor mais estreita e baixa, sacristia, torre sineira e casa do despacho adossados à fachada lateral direita; igreja com coberturas interiores diferenciadas, em falsas abóbadas de berço de madeira em caixotões, a da capela-mor pintada com representações hagiográficas, iluminada, uniformemente na capela-mor por janelas rectilíneas, e na nave por janela na fachada lateral esquerda e pelos vãos da fachada principal. Esta remata em empena recortada, sendo rasgada por portal em arco abatido e por janelas de sacada, em posição superior, criando três eixos de vãos. Fachada circunscritas por cunhais de cantaria, encimados por pináculos em forma de urna, de feitura tardo-barroca, rematadas em friso e cornija, a lateral esquerda rasgada por porta travessa. Interior com cor-alto, de perfil contracurvado, com púlpito quadrangular no lado do Evangelho e tribuna dos Mesários no lado oposto, que ligava à Sala do Despacho e abre para a nave por vãos rectilíneos sustentados por pilares. Existência de presbitério, marcado por teia, que acede ao arco triunfal, de volta perfeita, flanqueado por retábulos colaterais, de talha pintada tardo-barroca. Capela-mor com retábulo de talha dourada, do estilo barroco nacional, de três eixos.
Número IPA Antigo: PT020905050027
 
Registo visualizado 722 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja de Confraria / Irmandade  Misericórdia

Descrição

Planta longitudinal composta por nave, capela-mor, sacristia adossada ao lado direito, torre sineira quadrangular e, adossada à face posterior desta, o corpo rectangular da antiga Casa do Despacho. Volumes articulados, de disposição horizontal, quebrada pelo corpo da torre sineira, com cobertura homogénea em telhado de duas águas, que se prolonga em aba sobre a sacristia e corpo anexo. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, circunscritas por cunhais em cantaria aparente, de aparelho isódomo, firmados por pináculos em forma de urna, e rematadas em friso, cornija e beiral. Fachada principal virada a E., rasgada por portal em arco abatido com moldura de cantaria almofadada, encimado por espaldar recortado, saliente na zona central, criando falsa pedra de fecho, com volutas e remate em cornija curva; superiormente, rasgam-se duas janelas rectilíneas com molduras semelhantes à do portal, de sacada de cantaria e guarda vazada, em ferro forjado pintado de verde, formando decoração geometrizante. Remate em friso e cornija sobrepujados por empena recortada e volutada, contendo o emblema da Misericórdia, composto por escudo português, encimado por coroa fechada, ornado por elementos vegetalistas e querubim; encontra-se encimada por cornijas e, ao centro, cruz latina com hastes trilobadas. No lado direito, torre sineira com três registos divididos por cornija, o superior ostentando friso, o inferior rasgado por porta de verga recta e janela em arco abatido, ambos emoldurados; no registo intermédio, janela semelhante à anterior, surgindo, na face S., vestígio de arco de volta perfeita entaipado, e, no superior, uma ventana em arco de volta perfeita, em cada uma das faces, a virada a E., com fecho volutado; remata em platibanda balaustrada, interrompida, na face frontal, por relógio circular em cantaria, encimada por pináculos em forma de urna, e encontra-se coberta por coruchéu bolboso. Fachada lateral esquerda, virada a S., rasgada por portal de verga recta e duas janelas rectilíneas, todas com molduras simples, em cantaria. Fachada lateral direita adossada. Fachada posterior em empena cega, surgindo, no lado esquerdo e levemente recuado, o corpo da sacristia, em meia-empena, rasgada por dois óculos elípticos, encimados por janela rectilínea, todos emoldurados em cantaria e protegidos por grades metálicas pintadas de branco. INTERIOR rebocado e pintado de branco, percorrido por azulejo de padrão monocromo, azul sobre fundo branco, formando silhar, tendo, na nave, cobertura em falsa abóbada de berço de madeira pintada de branco e dourado, formando caixotões com florões nos encontros, assente em friso, cornija e mísulas equidistantes; tem pavimento em lajeado de granito. Coro-alto de planta contracurvada, com zona central convexa e guarda de madeira balaustrada, assente em arco em asa de cesto, pintada de branco e verde, com acesso por porta de verga recta no lado da Epístola. O sub-coro encontra-se revestido a azulejo com a mesma padronagem que os silhares da nave e possui guarda-vento de madeira, parcialmente pintado de verde e branco. Confrontantes, seis confessionários de madeira, quatro deles móveis. No lado do Evangelho, a porta lateral ladeada por pia de água benta concheada, tendo o bordo pontuado por pequenos florões, a que se segue púlpito quadrangular, com bacia em cantaria, pintada de cinza e dourado, com guarda plena, de madeira pintada de branco e ornada por cartela e festões dourados, com acesso por escadas no lado direito, com guarda de madeira vazada, em falsos balaústres. No lado da Epístola, tribuna dos Mesários, marcada por cinco vãos rectilíneos, definidos por pilares de cantaria com arestas biseladas, tendo guarda de madeira balaustrada, assente em cornija de granito aparente; a tribuna tem acesso por corredor lateral e porta de verga recta. Presbitério marcado por teia metálica com decoração geométrica vazada, dando acesso ao arco triunfal, de volta perfeita. Assente em pilastras toscanas, tendo o intradorso pintado em falsas almofadas; encontra-se ladeado pelos retábulos colaterais, de talha pintada de branco e dourado, dedicados a Nossa Senhora do Rosário (Evangelho) e a Nossa Senhora do Carmo (Epístola). Capela-mor elevada por três degraus, com as paredes revestidas integralmente em azulejo de padrão vegetalista relevado, com o fundo amarelo e decoração branca, tendo, confrontantes, portas de verga recta e moldura simples, a do Evangelho entaipada e a oposta de acesso à sacristia. Tem cobertura em falsa abóbada de berço de madeira, com caixotões dourados e interiores pintados com representações hagiográficas, assente em friso, cornija e mísulas equidistantes, tudo dourado. Retábulo-mor de talha dourada, de planta recta e três eixos definidos por seis colunas torsas, com os fustes ornados por pâmpanos e "putti" encarnados, assentes em duas ordens de plintos paralelepipédicos, também ornados por acantos, e em consolas, que se prolongam em três arquivoltas torsas, unidas no sentido do raio, criando apainelados de acantos, dispostos simetricamente, e fecho com a representação de Deus Pai; ao centro, tribuna semicircular, com arco de volta perfeita e cobertura em cúpula, formando, no interior, apainelados com profusa decoração fitomórfica; contém trono expositivo de cinco degraus, surgindo, na base, o sacrário, profusamente ornado por acantos e flanqueado por anjos encarnados, surgindo, na porta, Cristo redentor; nos eixos laterais, apainelados de acantos enquadram mísulas com imaginária; altar paralelepipédico. Sacristia rectangular, com tecto plano e pavimento em lajeado de granito, possuindo arcaz de madeira; no corredor de acesso à mesma, através da torre sineira, surgem vários armários de madeira e lavabo em cantaria pintada de cinza, com espaldar recortado por enrolamentos e volutas, tendo nicho central de volta perfeita e moldura saliente, sustentado por carranca sobre volutas e pedndentes, com pequena taça rectangular, semi-embutida na parede. No início deste corredor, escadas de acesso à tribuna e à sineira.

Acessos

Largo da Misericórdia

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, adossado, situado em terreno de forte pendor inclinado. A fachada lateral direita encontra-se adossada à Casa de Bernardo da Costa Cabral (v. PT020905050031), 1º Marquês de Tomar e figura política central do liberalismo português, tendo a esquerda, quase encostada a uma Casa Brasonada (v. PT020905050093). Abre para amplo largo murado, em alvenaria com juntas pintadas de branco, com acesso junto à Casa brasonada e por duas escadas no lado oposto, vencendo o grande desnível do terreno, tendo amplo acesso frontal; no adro implantam-se quatro árvores e um cruzeiro sobre plataforma quadrangular de dois degraus, encimada por plinto paralelepipédico e cruz latina, de feitura recente.

Descrição Complementar

Os retábulos colaterais são semelhantes, de talha pintada de branco e dourado, de planta recta e um eixo definido por duas colunas de fuste liso, capitéis coríntios e plinto paralelepipédico com as faces ornadas por motivos vegetalistas, bem como por duas pilastras com fustes almofadados, também assentes em plintos semelhantes aos anteriores; ao centro, nicho em arco de volta perfeita, com moldura dourada recortada e fundo pintado de azule; remate em fragmentos de frontão, encimados por anjos dourados, tímpano com falsa pedra de fecho saliente e decoração de concheados e rosetões, encimado por espaldar recortado, ornado por motivos vegetalistas; altar em forma de urna, com cartela central, concheados e folhas de louro. Cobertura da capela-mor composta por quatro fiadas de nove caixotões, num total de 36, com representação de santos, identificados pela respectiva legenda, surgindo, entre outros,no lado do Evangelho, Santa Ana, São João Evangelista, Santa Inês, Santa Luzia, São Francisco, São João Baptista, Santa Maria Madalena, Santa Luísa, Santa Cecília, Santa Clara; no lado oposto, Santa Isabel, Santo António, São Mateus, São Lucas, Santa Helena, Santa Isabel da Hungria, São Marcos.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Utilização Actual

Religiosa: igreja de confraria / irmandade

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

CARPINTEIROS: António de Albuquerque (1780), Francisco Lopes (1782). PEDREIROS: João Rodrigues Gandra (séc. 17), João Fernandes Sarilho (1701), José Rodrigues (1771), José Rodrigues da Cunha e Manuel Luís Bento (1778), José Alves (1802). PINTOR: Jerónimo da Cunha (1718). PINTORES DE AZULEJO: Fábrica de Massarelos (atr.).

Cronologia

1637, 6 Julho - por testamento é criada uma capela, com invocação de Nossa Senhora dos Remédios, cujos bens financiavam a fundação da Santa Casa da Misericórdia de Fornos de Algodres, por iniciativa de Manuel Cabral de Figueiredo, dos Cabrais de Belmonte e Azurara, com instalação na Capela do Espírito Santo, que existia desde o séc. 16; 1650, 27 Julho - confirmação desta doação pelo testamento de D. Constança Cabral, esposa do fundador; 1666, 12 Outubro - autorização régia para a instituição da Santa Casa da Misericórdia de Fornos de Algodres, a pedido da Câmara, nobres locais e população; apossa-se, então, dos bens da Confraria do Espírito Santo e do hospital da mesma; séc. 17, finais - construção da igreja, dedicada a Nossa Senhora dos Remédios, com várias donativos do Padre Manuel de Albuquerque, abade de Aveleda, que constou de 200$000 e alguns bens imóveis; à frente das obras encontrava-se o pedreiro João Rodrigues Gandra, que as deixou incompletas; 1701 - contrato com o pedreiro João Fernandes Sarilho, de Avelosa, para terminar as obras da igreja, por 260$000, obrigando-se a acrescentar ao rascunho uma sineira, feita conforme a da igreja da vila; 1716 - conclusão da retábulo-mor; 1718 - conclusão da pintura dos painéis da capela-mor por Jerónimo da Cunha, de Vila Ruiva, pela quantia de 3$500 réis cada painel; 1758 - nas Memórias Paroquiais, é referido que a Irmandade havia sido fundada por poderosos locais, em 1668, na Capela de Santo Estêvão, filial da Paróquia, onde existia uma Irmandade do Espírito Santo, extinta pela nova irmandade da Misericórdia contra a vontade do pároco e sem licença jurídica, usurpando os bens da sua antecessora; D. Constância, natural da vila, deixou à Misericórdia muitos bens na vila, entre os quais umas casas junto às quais existia uma capela dedicada a Nossa Senhora dos Remédios, filial da Paróquia, a qual mandaram demolir para construir a nova igreja; tinha anualmente 200$000 de renda, podendo ter mais se não alienassem e emprazassem fazendas sem autorização régia; 1761 - construção da torre e do relógio; 1766 - Francisco de Almeida e Pina doa todos os seus bens à Misericórdia; 1769 - interior da igreja fica concluído; 1771, Setembro - contrato com o pedreiro José Rodrigues para a feitura de duas janelas de peitoril na casa do despacho, com dois assentos cada uma, sobre o Quintal da Rua das Flores, por 4$800, ficando obrigada a fazer um pináculo com bola para a quina "que fazem as guardas do Terreiro, ao pé das casas de Caetano da Costa" (ALVES, 2001, vol. III, p. 99); 1778, 28 Dezembro - em parceria com José Rodrigues da Cunha, Manuel Luís Bento executa o acrescento das casas do despacho até à altura das casas contíguas, e construção de balcão nas casas de baixo para serem arrendadas (7$000), abertura de uma fresta na Casa do Despacho, construção de um armário para arquivo e campanário para a sineta sobre a sacristia, por ser pouco cómodo subir a sineira para tanger o sino; 1780 - acrescento das casas do Despacho, pelo carpinteiro António de Albuquerque; 1781 - botica doada à Misericórdia, pelo boticário Manuel Gaspar, de Gouveia; 1782, 20 Janeiro - contrato com o carpinteiro Francisco Lopes para a execução do cadeiral dos Mesários, para a capela-mor por 4$000, "dois de comprimento de 9 palmos cada um e dois de 8 palmos casa um, sendo todos de madeira de castanho e os pés torneados, cada um com sua tábua de encosto e com seu friso, e em todas as quinas de cada um seu braço de encosto, com pé torneado; séc. 19, 1.ª metade - feitura dos azulejos da capela-mor, em fábrica portuense, provavelmente Massarelos; 1802, 24 Maio - um peso do relógio desprendeu-se, causando danos nas escadas de acesso à torre, sendo pedido aos mestres pedreiros José Rodrigues da Cunha e José Alves para verificarem os mesmos, sendo entregue ao último a actividade de reparação das escadas, pelo que se pagou 260 réis por dias e 240 a cada oficial; 1808 - a Confraria de Nossa Senhora dos Remédios contribui com 3$200 para a guerra com os franceses; 1816 - a imagem da Capela do Espírito Santo foi arrecadada na Igreja; 1860, 25 Novembro - deliberação da Mesa para a construção do remate da torre; séc. 19 - Francisco de Abreu Castelo Branco, arcediago da Sé deixou importante legado; séc. 19 / 20 - funcionava como igreja paroquial.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Estrutura em alvenaria de granito, rebocada; modinaturas, cunhais, pináculos, pavimentos, relógio, cruzes, pilares, lavabo da sacristia em cantaria de granito; coberturas, guarda-vento, retábulos, guardas do púlpito, coro-alto e tribuna, arcaz e confessionários de madeira; grades das janelas e teia do presbitério em ferro; coberturas com telha; janelas com vidro simples e caixilharias de madeira.

Bibliografia

MARQUES, Mons. Pinheiro, Terras de Algodres (Concelho de Fornos), Fornos de Algodres, 1938; ALMEIDA, José António Ferreira de (coord.), Tesouros Artísticos de Portugal, Lisboa, 1976; O Concelho de Fornos de Algodres, (texto policopiado), Fornos de Algodres, 1985; Fornos de Algodres, Fornos de Algodres, 1990; AZEVEDO, José Correia de, Inventário Artístico Ilustrado de Portugal, vol. IV, Lisboa, 1992; ALVES, Alexandre, Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu, vols. I e III, Viseu, 2001.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

DGA/TT: Dicionário Geográfico - Memórias Paroquiais (vol. 16, n.º 129, fl. 791)

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20, 2.ª metade - arranjo e pintura das paredes interiores; restauro dos retábulos; colocação de silhar de azulejo na nave e sub-coro.

Observações

Autor e Data

Filomena Bandeira 1997 / Paula Noé 2005

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login