Palácio José Maria Eugénio / Palácio Vilalva

IPA.00007813
Portugal, Lisboa, Lisboa, Avenidas Novas
 
Arquitectura residencial, neoclássica. Palácio urbano de planta trapezoidal, com fachadas de três registos revestidas a cantaria e com elementos definidores também em cantaria. Distribuição simétrica de corpos e elementos decorativos. Fachada principal voltada para pátio, com corpos laterais dispostos obliquamente em relação ao central, criando dinamismo; com programa iconográfico de notória importância e densidade. Fachada posterior articulada com jardim, onde os cinco corpos que a compõe avançam e recuam criando ondulação no muro. Trata-se de um programa monumental, de aparato, com uso de elementos clássicos, mas não com respeito integral das ordens. Combina o classicismo, no uso do remate em frontão, balaustradas, revestimento a cantaria, com a influência francesa e cosmopolita na leitura dinâmica das fachadas e elementos decorativos. A organização dos interiores faz-se em torno da escadaria central que liga o primeiro ao segundo piso. É nesses dois pisos que se concentram as salas e salões destinados a espaços de sociabilidade, enquanto que os espaços destinados á vida privada são remetidos ao terceiro piso acessível por escadarias secundárias, numa divisão de espaço público e privado típicas da vivência oitocentista. Os principais salões apresentam uma enorme riqueza decorativa, nomeadamente a nível dos estuques e do tratamento dos soalhos. Os estuques dentro de uma tipologia revivalistas, retomando elementos clássicos, barrocos e rocaille, notando-se um programa iconográfico que une quer os salões, quer a escultura das fachadas.
Número IPA Antigo: PT031106500563
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre  Casa nobre  

Descrição

Palácio de planta trapezoidal, de volumetria simples de massa horizontal, acrescendo na fachada posterior dois anexos rectangulares, distribuídos longitudinalmente. Cobertura diferenciada, de telhados de quatro águas, de perfil recto, revestidos a telha de canudo e articulados com cinco clarabóias envidraçadas. As fachadas, revestidas a cantaria de calcário, dividem-se em três registos, separados ao nível do segundo por cornija e do terceiro por friso e cornija saliente. Embasamento ligeiramente saliente, marcação dos cunhais por pilastras esquadriadas, e remate em balaustrada sobre cornija e friso, sendo os acrotérios dos ângulos almofadados e encimados por urnas adornadas com grinaldas floridas. A fenestração faz-se a ritmo regular, sendo no primeiro registo maioritariamente janelas de peitoril de verga recta e moldura rectilínea recortada; no segundo registo janelas de sacada, com gradeamento em ferro forjado pintado de branco, de arco abatido, com moldura recortada; e no terceiro registo janelas de varandim, com gradeamento em ferro forjado pintado de branco, de arco abatido, com moldura dupla, sobrepujada por cornija pouco saliente. Fachada principal voltada a SE., articulada com pátio fechado, de planta trapezoidal, pavimentado por calçada portuguesa. É centralizado por lago polilobado com conjunto escultórico*2 ao centro, composto por três putti, de onde jorra água, circundado por canteiro relvado. O pátio tem também canteiros rectangulares relvados e com árvores no lado direito e esquerdo. A fachada divide-se em três panos, sendo o central destacado e ligeiramente recuado, face aos laterais que avançam obliquamente, conferindo movimento á superfície. O pano central é rematado lateralmente por pilastras sucessivas entre pisos, de fuste liso e capitel dórico e rematado por frontão triangular, sobre friso, com tímpano onde se inscreve grupo escultórico, simbolizando em alegoria, "Um estímulo para o Estudo". É animado por pilastras, enquadrando os vãos, de fuste liso emoldurado e capitel dórico interrompendo a cornija, exceptuando no terceiro registo onde as pilastras são de menores dimensões, com capitel compósito, não rompendo o entablamento. No primeiro registo, recortam-se três pórticos a pleno centro, ladeados por pilastras assentes em plintos, de capitel dórico, de onde se lançam arcos de volta perfeita, em cuja pedra de fecho se coloca cabeça de figura alegórica. No segundo registo, correspondente ao andar nobre, abrem-se três largas janelas de sacada, guarnecidas por balcão de cantaria aberto em balaústres, ladeadas por pilastras de fuste liso emoldurado e capitel dórico, de onde se lança arco de volta perfeita com dupla arquivolta, dispondo de pedra de armas no fecho, ladeado por uma figura alegórica masculina e feminina*1. No vão central a pedra de armas recebe a insígnia de Eugénio de Almeida. No terceiro registo rasgam-se três vãos de varandim, em arco abatido, com cabeça feminina alegórica na pedra de fecho. Panos laterais simétricos, com janela de peitoril no primeiro registo. No segundo registo janela de sacada, com balcão de cantaria assente em mísulas, que ladeiam o limite superior da janela do registo inferior, e entre as quais se coloca roseta, na pedra de fecho rosto feminino e remate por tímpano semicircular sobre consolas. No terceiro registo janela de varandim, com rosto feminino na pedra de fecho. Fachadas laterais análogas, divididas em três panos, separados por pilastras esquadriadas, onde se adossa gárgula em forma de carranca. Pano central com cinco vãos correspondentes entre pisos, sendo no primeiro de peitoril com gradeamento em ferro forjado pintado de branco, no segundo de sacada e no terceiro de peitoril. Os panos exteriores, simétricos, repetem o modelo dos panos laterais da fachada principal. Fachada posterior articulada com jardim de desenvolvimento longitudinal, dividido em canteiros quadrangulares, onde se observam árvores notáveis, com marcação de eixo de ligação entre corpo central da fachada e portão de cantaria, rasgado por três arcos de volta perfeita. A fachada divide-se em cinco corpos, com pilastras esquadriadas nos cunhais, onde se adossam gárgulas. Corpo central e intermédios abrem para escalinata com dez degraus, e corpos exteriores abrem-se para terraço que se lança sobre a zona dos anexos. O corpo central é convexo, dividindo-se em três panos: no pano central rasga-se portal em arco abatido; seguindo-se janela de sacada em cantaria, vazada em balaústres, assente em mísulas, com dupla moldura, a primeira em volta perfeita e a segundo polilobada, simulando cornija; no terceiro registo janela de varandim, com rosto feminino no fecho do arco. Nos panos laterais do corpo central temos porta de perfil rectilíneo recortado, no segundo registo janela de sacada de cantaria sobre consolas e gradeamento em fero forjado, e no terceiro registo janelas de varandim. Nos corpos intermédios três janelas correspondentes entre registos, no primeiro de peitoril, no segundo de sacada e no terceiro de varandim. Corpos exteriores, avançados, com modelo idêntico aos da fachada principal. INTERIOR: divide-se em três pisos, aos quais acresce andar esconso e cave. Organizado em função de um eixo longitudinal centralizado, que faz a articulação entre fachada principal e posterior e de escadaria principal de caixa elíptica que liga o primeiro ao segundo piso, complementada por duas escadarias secundárias, também elípticas, que fazem a ligação entre todos os pisos. Nos dois primeiros pisos as salas são intercomunicantes, e como eixo de circulação secundário dois corredores paralelos á caixa da escadaria principal. No terceiro piso e andar esconso as salas são independentes, sendo a distribuição feita por corredor. No primeiro piso destacam-se: o vestíbulo de acesso da fachada principal, o vestíbulo de acesso ao jardim e a biblioteca disposta ao longo da fachada lateral direita. No segundo piso, correspondente ao andar nobre, concentram-se os espaços de sociabilização. O terceiro piso, marcado por um abaixamento considerável do pé-direito, não apresenta a riqueza decorativa dos anteriores, sendo o pavimento de vigamento de madeira, e as molduras de portas e janelas em madeira lacada, sendo os quartos e salas de dimensões razoáveis e mantendo a distribuição dos andares inferiores. De salientar a presença de lareiras nas salas nos ângulos do palácio e de uma pia de cantaria, junto do acesso ás escadas, que providenciaria a distribuição de águas á zona da habitação privada do palácio. O andar esconso, de pé-direito bastante baixo apresenta uma série de divisões de tamanho reduzido.

Acessos

Largo de São Sebastião da Pedreira; Rua Marquês de Fronteira. WGS84 (graus decimais) lat.: 38,734015, long.: -9,152327

Protecção

Incluído na Zona Especial de Proteção do Edifício-Sede e Parque da Fundação Caloustre Gulbenkian (v. IPA.00006995 e IPA.00007810)

Enquadramento

Urbano, isolado, constituindo quarteirão sensivelmente triangular, definido pela R. Dr. Nicolau de Bettencourt, Lg. De São Sebastião da Pedreira, R. Marquês de Sá da Bandeira e R. Marquês da Fronteira. É delimitado por muro, que na fachada principal é baixo com gradeamento em ferro forjado, com três portões em ferro forjado, formando a insígnia de Eugénio de Almeida, sobre o portão central faixa em fero forjado com a inscrição "Governo Militar de Lisboa". A fachada posterior e o jardim são protegidos por muro de cantaria, descrevendo trapézio, com os ângulos chanfrados, acentuados por duas guaritas de cantaria, e sobrepujado por balaustrada, ritmada por vasos com plantas nos acrotérios. O portal de três arcos de volta perfeita, sobre segmento recto de muro e rematado por pináculos, é fronteiro ao portal de entrada das antigas cocheiras do palácio (v. PT031106231161). Originalmente encontrava-se inserido numa grande propriedade com uma área total de 86000 m², conhecida como Parque de Santa Gertrudes. Nas proximidades da Igreja de S. Sebastião da Pedreira (v. PT031106500066) e do Palácio Marquês de Sá da Bandeira (v. PT031106500575).

Descrição Complementar

BIBLIOTECA: Com acesso por porta á direita do vestíbulo principal e planta rectangular de desenvolvimento longitudinal. Decoração do tecto em estuque branco, formando molduras, com motivos florais nos ângulos, ao centro da sala medalhão circular inserido em medalhão oval, preenchido por motivos florais e vegetalistas e pequenas rosetas; motivo repetido nos restantes medalhões circulares. Portas e estantes em carvalho flor, ornadas por molduras com motivos fitomórficos e vegetalistas. ESCADARIA PRINCIPAL: Escadaria dupla de três lanços e dois braços semicirculares, acompanhando o perfil da caixa de escadas e formando corredor rectangular, protegido por balaustrada, ao nível do andar nobre. Degraus e balaustrada continua de cantaria, com acrotérios ornados por grinaldas, e corrimão em pedra de lioz polida, recebendo no seu arranque e fecho oito candelabros de bronze. Caixa de escadas de perfil ovalado, em alvenaria rebocada e pintada de rosa, amplamente decorada com motivos em estuque branco, e iluminada por clarabóia. Paredes em dois registos, separados por friso ornado por enrolamentos de folhagem. No primeiro registo em apainelados, intercalam molduras com ornamento de acantos nos ângulos e molduras preenchidas por rosetas. As portas principais, de volta-perfeita, com arco lançado sobre pilastras emolduradas e segundo arco com arquivolta múltipla suportado por atlantes; sobre a marcação do fecho emblema com a insígnia de Eugénio de Almeida, emoldurado por acantos e grinaldas e seguro por putti tenentes. As portas são ladeadas por espelhos, com moldura rectilínea recortada, assente em consolas, rematada por cornija recta e encimada por repetição do motivo das portas principais, embora de menores dimensões e sem a insígnia. Sobre o primeiro patamar dos primeiros lanços, duas janelas de vidro fosco, que combinam a moldura rectilínea recortada, com a volta-perfeita ladeada por volutas; marcação de fecho com ornamento de acantos, sobreposto por cornija recta e ornamento com busto feminino, ladeado por acantos e flores. No segundo registo molduras preenchidas por rosetas e rasgadas por óculos ovalados com vidro fosco com motivos heráldicos e pedra de fecho encimada por cabeça de leão; estas intercalam com molduras boleadas, com medalhão com roseta entre enrolamento de acantos e flores. Sobre este registo friso e cornija, na qual assentam modilhões com cabeças de querubim que suportam novo friso e cornija. VESTÌBULOS: Vestíbulo principal, de planta rectangular, com lados esquerdo e direito ligeiramente abaulados; tecto ornado por rosetas em molduras oitavadas de estuque branco, pavimento em mármore branco e negro e paredes em alvenaria pintada, com lambrim de cantaria; na parede NE., em eixo, abre-se porta, de acesso á escadaria principal, com perfil ligeiramente abatido e marcação de pedra de fecho e acesso por escadaria de oito degraus em cantaria; esta é ladeada por duas janelas de peito com o mesmo perfil. Nas paredes laterais rasga-se porta com moldura rectangular em cantaria, encimada por frontão semicircular com ornamento vegetalista, suportado por mísulas, com acesso por três degraus de cantaria; estas portas são ladeadas por duas portas de menores dimensões, de moldura rectangular de cantaria e rematadas por cornija recta, sobre a qual se dispõem tabelas, centralizadas por medalhões circulares, ornados com grinaldas, com os bustos de Vasco da Gama, Luís de Camões, Isaac Newton e Rafael de Urbino. O vestíbulo posterior de planta octogonal, com pavimento em cantaria, e tecto decorado por motivos em estuque branco, com ornamento vegetalista ao centro, inserido em moldura octogonal; na sanca, emoldurada, surgem nos ângulos medalhões com pintura a sépia, em têmpera, representando alegorias a caçadas; as portas nos eixos têm perfil abatido, e as restantes seis de volta-perfeita, sendo que dois dos vãos correspondem a nichos onde se dispuseram lareiras em mármore. SALÃO AZUL: voltado á fachada principal, de planta octogonal, pavimento em parquet, formando motivos vegetalistas, combina a cor azul de paredes e tectos, com o estuque branco. A decoração do tecto organiza-se em apainelados, com três medalhões octogonais destacados, preenchidos por medalhões ornados por folhagem gorda e flores, pendendo do medalhão central grande lustre dourado; a sanca, emoldurada, com friso de acantos, assenta em modilhões decorativos, que por sua vez assentam em friso sobre a cornija de remate das paredes. Ritmando a parede pilastras de fuste estriado e capitel compósito com grinalda; porta principal a SE., de volta-perfeita, de madeira lacada com motivos vegetalistas e florais a estuque, a porta é ladeada por dois espelhos de perfil rectangular, com moldura em estuque, encimados por medalhões semicirculares, com busto de querubim, ladeado por folhagem, conjunto inserido em arco de volta-perfeita. Nas paredes laterais três portas de perfil rectilíneo, rematadas por cornija, e moldura de estuque simulando bandeira. Á esquerda do salão azul, salinha de planta quadrangular, com pavimento em parquet formando octógonos, com paredes e tecto em alvenaria pintada de verde, e decoração em estuque branco; o tecto, em apainelados, apresenta medalhão ovalado ao centro, com moldura com folhagem e recebendo nos eixos ornato vegetalista, na sequência dos quais se distribuem conjuntos figurativos de putti lutando, brincando, tocando e dançando; a sanca, inteiramente em estuque, apresenta em relevo frisos de rosetas, óvulos, sinuosidades e enrolamentos de acantos; decoração das paredes em apainelados, com enrolamentos de folhagem, flores e rosetas, marcação de lambrim por friso de madeira lacada, sobre painéis lisos de estuque; o remate dos vãos faz-se por cornija ornada por óvulos, e cartela em estuque, simulando bandeira, com rosetas, folhagem e grinaldas. Á direita do salão azul, salinha de planta quadrangular, com pavimento em parquet, paredes e tecto em alvenaria pintada de azul, com decoração em estuque branco; o tecto, rematado por friso de acantos, com grande moldura oval com folhagem e ornamento vegetalista nos eixos, e nos ângulos apainelados triangulares, preenchidos por folhagem; na sanca, inteiramente em estuque, sobre friso de óvulos, friso com sinuosidades e acantos, recebendo nos ângulos ornamento com folhagem; as paredes organizam-se em apainelados inteiramente em estuque, com motivos vegetalistas e grinaldas, com ornamentos ao centro, simulando emblemas, e marcação da sanca por friso de madeira lacada, sobre painéis lisos de estuque; sobre as janelas tabelas de estuque, sobre friso ornado por sinuosidades, preenchido com motivos vegetalistas em relevo. SALÃO VERDE: voltado á fachada posterior, e acompanhando o desenvolvimento do corpo central da mesma, resultando uma planta composta por um rectângulo e um trapézio, de menores dimensões, adossado a NE. Pavimento em parquet formando motivos geométricos, com paredes e tecto em alvenaria pintada de verde, com motivos decorativos em estuque branco. A decoração do tecto organiza-se em apainelados, centralizados por grande moldura ovalada ao centro, ornada por óvulos, recebendo ao centro ornamento de folhagem de onde pende candelabro de grande efeito; nos eixos da moldura ornamento vegetalista comunica com molduras circulares com ornamento semelhante ao central; a decoração complementa-se com apainelados preenchidos por quadrifólios e por friso largo cheio por enrolamentos de acantos, palmetas e rosetas; nos ângulos, em molduras de perfil polilobado, figurações alegóricas de putti. As paredes organizam-se em molduras de perfil polilobado relevadas ornadas com motivos florais, vegetalistas e fitomórficos, e inseridas em apainelados de perfil rectangular em baixo relevo; sobre os apainelados friso largo preenchido por enrolamentos de acantos, palmetas e rosetas, emoldurado por duplo friso ornado por óvulos; a marcação do lambrim faz-se por friso de madeira lacada, sob o qual se distribuem molduras rectangulares em estuque. A porta principal em madeira decorada com estuque relevado, de volta-perfeita, recebe no fecho emblema; e é ladeada por dois espelhos, e sob estes duas lareiras de mármore vermelho; nos lados menores do rectângulo existiriam duas portas semelhantes á principal, onde hoje se inscrevem dois espelhos. Á esquerda do salão verde, salinha de planta rectangular, com pavimento em parquet com motivos geométricos, paredes e tecto em alvenaria pintada de rosa e motivos decorativos em estuque; no tecto medalhão ovalado de grandes dimensões, ornado por óvulos e nos extremos molduras triangulares boleadas recebendo ao centro arranjo de frutos; a sanca, inteiramente em estuque, é rematada superiormente por duplo friso (o primeiro liso, o segundo com óvulos e palmetas) e inferiormente por cornija e duplo friso (o primeiro com rosetas e o segundo com trança), recebendo moldura de acantos, centrada por arranjo floral e ladeada por enrolamentos de acantos e flores; as paredes organizam-se em duas ordens de painéis alternados, os primeiros de perfil rectilíneo recortado, com ornamento simulando emblema envolto em acantos e rosetas, e os segundos, de menores dimensões, com perfil rectilíneo simples inteiramente em estuque; porta principal, de volta-perfeita, em madeira lacada, com decoração em estuque, recebe dupla moldura de estuque, a primeira em friso liso, a segunda em friso ornado por óvulos e dardos, com ornamento no fecho, simulando emblema e ladeado por grinalda de flores; do lado esquerdo grande espelho, com moldura em estuque, ornada por enrolamentos de folhagem; do lado direito, nicho, que corresponderia a porta comunicante com o salão verde, recebendo tratamento similar á porta principal. Á direita do salão verde, salinha de planta rectangular que por sua vez abre para salinha de planta quadrangular, ambas com pavimento em parquet com motivos geométricos e paredes e tecto em alvenaria pintada de verde, com motivos decorativos similares, em estuque branco; no tecto, emoldurado por friso de acantos, grande medalhão ovalado, com moldura decorada por enrolamentos de folhagem e rosetas, com ornamentos nos eixos ornados por acantos e conchas; a sanca, sob friso (com óvulos e dardos) e cornija, recebe anjos tenentes segurando por um lado medalhão polilobado com roseta e acantos, e por outro fartas grinaldas de flores; portas principais de volta-perfeita e dupla moldura de estuque, com medalhão de acantos e rosetas, no fecho, simulando emblema; nas paredes distribuem-se espelhos e tecidos de brocado emoldurados a madeira dourada, sobrepujados por molduras de estuque, com medalhão florido, ladeado por molduras recortadas, preenchidas por quadrifólios. SALÃO ROSA: voltado á fachada lateral direita, de planta rectangular, com pavimento em parquet com motivos geométricos e vegetalistas, paredes e tecto em alvenaria pintada de rosa, com decoração em estuque branco. O tecto, emoldurado por friso de acantos, organiza-se em apainelados, combinando medalhões ovalados (com ornatos de folhagem gorda, enrolamentos de acantos e molduras preenchidas por quadrifólios), medalhões circulares (com acantos), e molduras de perfil recortado com rosetas. A sanca, sobre friso (com enrolamentos de folhagem) e cornija, suportados por modilhões decorativos, combina medalhão de acantos com bouquet ao centro e ladeado de enrolamentos de acantos, com quadrícula cheia de rosetas. As paredes são ritmadas por pilastras, cujos plintos interrompem a marcação da sanca, de fuste emoldurado, e com busto feminino envolto em folhagem e flores como capitel, de onde pende grinalda de flores. As pilastras intercalam na parede esquerda com molduras de perfil rectilíneo, ornadas com óvulos e palmetas, que ao centro dão lugar a espelho com moldura dourada, sobre lareira em mármore cinza. Na parede direita as pilastras intercalam com as janelas rematadas por cornija, alteada sobre reticulado de rosetas, com ornamento ao centro formado por acantos e palmetas. As portas principais, no eixo longitudinal, são de volta-perfeita de madeira lacada, com dupla moldura em estuque, a primeira lisa, a segunda preenchida por folhagem, com medalhão de acantos e rosetas no fecho. SALÃO BEGE: voltado á fachada lateral esquerda, de planta rectangular, com pavimento em parquet com motivos geométricos e vegetalistas, parede e tecto em alvenaria pintada de bege, com decorações em estuque branco. O tecto organiza-se em apainelados com reticulado preenchido por rosetas e medalhões polilobados, com acantos e enrolamentos de folhagem, unidos por busto feminino enquadrado por acantos. Sanca inteiramente em estuque sob friso com sinuosidades e sobre cornija com óvulos e friso de pérolas; com ornamento relevado, formado por medalhão de acantos, com bouquet ao centro e ladeado por volutas de acantos. Paredes organizadas em apainelados*3, constituídos por moldura recortada com ornamento de folhagem e flores, pendendo do ornato superior grinalda, esta moldura insere-se em moldura de perfil rectilíneo, com folhagem nos ângulos superiores e preenchida por reticulado com abelhas. Estes painéis intercalam, na parede direita, com espelhos com moldura em estuque e ornamento ao centro com acantos e grinaldas; o espelho central assenta sobre lareira de mármore cinza claro. Na parede esquerda os painéis intercalam com as janelas; sobre estas e as portas, dispõe-se moldura, simulando bandeira, com folhagem nos ângulos superiores, e ao centro ornamento com acantos e palmetas, ladeado por putti que seguram grinaldas. Nas paredes fundeiras sobre arco de estuque, com marcação de fecho (através de ornamento de folhagem e palmetas, com águia ao centro e ladeado por grinaldas), espelhos com o mesmo perfil e dupla moldura em estuque.

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Militar: quartel general

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Jean François Gille Colson (1859-1860), António Quinina (1947). ESCULTOR: Anatole Calmels (escultura da fachada); MARCENEIROS: Joseph Godefroy (1860, década) (desenhos do parquet). SERRALHARIA: Alexandre Bertrand (1860) (gradeamentos das janelas).

Cronologia

c. 1730 - construção do edifício, segundo projecto do arquitecto francês Fernando Larre (então activo em Lisboa, onde já fora responsável por aquele do Arsenal do Exército, actual Museu Militar - PT031106360072 ), para sua própria residência, na qualidade de Provedor dos Armazéns (pelo que o edifício ficou também conhecido como Palácio do Provedor dos Armazéns), cargo que, aliás, passou à sua descendência, tendo sido seu neto, Fernando Larre Garcez Lobo Palha e Almeida (m. 1797) o último a exercê-lo (pois foi extinto em 1793) ; na decoração do palácio terá também participado o estucador milanês Giovanni Grossi e outros artistas italianos como Felix Salla, Biel e Gomassa ; 1859 - o palácio é adquirido por José Maria Eugénio de Almeida, anexando-lhe a quinta da Prevoura, adquirida em 1857, e uma casa contígua que manda demolir (a fim de alargar o largo de São Sebastião e dar serventia ao palácio), ficando a propriedade com uma área total de 86 000 m2; 1859, Dezembro - é aprovado pela Repartição Técnica da Câmara Municipal de Lisboa o projecto do arquitecto francês Jean Colson para a remodelação do palácio; 1860 - início da campanha de obras de remodelação, empreendida sob a orientação de Jean Colson, sendo importados de Paris os modelos das janelas e persianas, as oito lareiras, todos os artigos de serralharia, os projectos para as decorações em estuque e os desenhos do parquet de todas as salas; 1861, 9 Janeiro - Eugénio de Almeida requer a posse judicial do antigo palácio do provedor dos Armazéns e da Quinta da Prevoura; 1861 - abertura da estrada da Circunvalação, que dita a divisão da propriedade de Eugénio de Almeida; 1864 - projecto de ajardinamento do parque de Santa Gertrudes, onde se revela o propósito da criação de um edifício destinado a cocheiras e cavalariças, pelo arquitecto português Valentim José Correia (1822-1900), que não viria a ser concretizado; 1866 - início da plantação do parque e entrega do projecto das cocheiras e cavalariças ao arquitecto Giuseppe Cinatti; 1872 - José Maria Eugénio é, nesta data, considerado o terceiro maior proprietário de Portugal, logo a seguir aos duques de Palmela e aos duques de Cadaval, sendo então o palácio e o parque anexo avaliados em 110 contos de reis e o recheio do primeiro em 50 contos; 1883 - cedência de parte do parque de Santa Gertrudes para a instalação do Jardim Zoológico e da Aclimatação de Lisboa; 1890/ 1909 - entre estas datas esteve instalado no Parque o Jardim Zoológico de Lisboa; 1943/1947 - entre estas datas esteve instalada no Parque de Santa Gertrudes uma feira popular, iniciativa do jornal O Século; 1947 - o palácio é adquirido pelo Estado (pela quantia de 15.000 contos) com vista à instalação do Quartel-General do Governo Militar de Lisboa, e procedendo-se a necessárias obras de adaptação, sob a direcção do arquitecto António Quinina e dos engenheiros João de Deus Pimentel e Filipe Ribeiro, procedendo-se á construção de anexos para a cozinha, refeitório e camaratas, bem como o levantamento de muro, adornado de guaritas, na vertente voltada á Av. Duque de Ávila; 1948, 28 Agosto - instalação do Quartel-general do Governo Militar de Lisboa no edifício; 1973 - um incêndio destrói o sótão do palácio, e a água que cai nos andares inferiores danifica alguns estuques e pavimentos, nas obras subsequentes, para além das necessárias reparações e restauros, empreende-se a construção de um quarto piso (aproveitando a cobertura e invisível exteriormente) e diminuindo o pé-direito do terceiro.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante

Materiais

Estrutura de alvenaria mista revestida a cantaria de calcário; molduras de vãos, pilastras, balaustrada, frontão, muros, lago, frisos e cornijas em cantaria de calcário; gradeamentos de vãos e portão em ferro forjado; caixilharia de alumínio; portas exteriores em madeira lacada; mármore em pavimento dos vestíbulos, corrimão da escadaria principal e lareiras; parquet no pavimento dos salões; madeira de carvalho em portas interiores e estantes da biblioteca; estuque na decoração de paredes, tectos e portas; tecido de brocado na decoração de salas; ferro fundido nos fogões.

Bibliografia

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Documentação Gráfica

CML

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID; CML: Arquivo fotográfico

Documentação Administrativa

CML: Arquivo de Obras, Procº nº 27.953

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: 1947 - obras de adaptação à instalação do Quarte General (sob a direcção do Arqto. António Quinina e dos Engos. João de Deus Pimentel e Filipe Ribeiro); Comissão Administrativa das Novas Instalações para o Exército; 1957 - obras complementares de instalações já entregues, dentro do Programa Trienal; 1955 / 1956 / 1957 - compreendendo o acesso à residência privativa do governador militar e montagem de um ascensor; 1958 - diversas obras dentro do Programa para o Triénio 1958-1960; 1973 - obras de reparação e restauro na sequência dos danos causados por um incêndio; obras de ampliação (construção de um quarto piso) e remodelação (abaixamento do pé-direito do terceiro piso).

Observações

*1 - o primeiro grupo de figuras alegorias representa a Indústria e a Agricultura; o segundo grupo o dia e a noite; o terceiro grupo a Ciência e a Arte. *2 - no lago, encontra-se placa relativa ao conjunto escultórico com a seguinte inscrição: "Escultura de autor desconhecido fundida em Val d'Osny, França, no século XIX, recolocada neste local por amável cedência da Exma. Condessa de Vilalva, Senhora Dona Maria Teresa Belo Eugénio de Almeida, que se dignou inaugurá-la a 09 de Outubro de 2003". *3 - nestes painéis, encontram-se retratos fotográficos dos governadores militares de Lisboa, começando no Duque da Terceira, até á actualidade.

Autor e Data

Teresa Vale, Maria Ferreira e Sandra Costa 2001 / Inês Pais 2006

Actualização

 
 
 
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