Casa de D. Mécia

IPA.00008076
Portugal, Ilha da Madeira (Madeira), Funchal, Funchal (Sé)
 
Casa nobre manuelina de planta composta, com janelas maineladas de arcos de volta perfeita e colunelos centrais de mármore continental, portal quebrado e uma arquivolta, tendo tido tectos mudéjares de grande qualidade, com alguma relação com aos contemporâneos continentais, como o solar da Sempre Noiva.
Número IPA Antigo: PT062203100008
 
Registo visualizado 852 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial senhorial  Casa nobre    

Descrição

Planta composta por 2 corpos, um longitudinal e orientado E. / O. sensivelmente, e outro quadrado e adossado para S. confinando com a fachada E. e onde se situam os acessos por alpendre para o antigo andar nobre; para SO existe cisterna e o que parece ter sido a antiga capela do solar junto ao portal de acesso à R. dos Aranhas. Volumes articulados, vestígios da cobertura por telha portuguesa de canudo, com beirais duplos e triplos. Fachada N. com 4 corpos; um cego, para E., com um piso e correspondente a uma área de serviços; um intermédio de 3 pisos e 2 vãos, que correspondeu a uma antiga área de quartos, com porta e janela no piso térreo, par de janelas de boa escala no piso intermédio e mais 2 no superior; segundo corpo intermédio com 2 portas no piso térreo e janela mainelada no piso superior, com 2 arcos de volta inteira outrora assentes em colunelos; e corpo O. com uma porta no piso térreo e grande janela geminada no piso superior, semelhante à anterior, mas com avental de cantaria e decoração cordeada superior. Fachada O. com um corpo avançado a O. onde se inscreve um dos acessos ao andar nobre, com 2 lanços de escadas no sentido S. / N., com importante janela semelhante às anteriores, virada a S., já sem colunelo; grande janela virada a O., assente em avental curto de cantaria, outrora encimada por cordão saliente com 2 pendentes terminados em mísulas tronco-cónicas, de que só existe um fragmento a N.. Fachada a S. dominada pelo que resta do alpendre, com acesso por escadaria na fachada anterior, com balcão em cantaria relevada e portal de arco quebrado e uma arquivolta, em cantaria, com colunelos sobre bases esculpidas e sem capitéis; painel de azulejos revivalistas representando São João do lado direito; janela semelhante às anteriores no corpo seguinte, ainda com o colunelo central de mármore branco, janela de molduras simples no corpo seguinte e, no corpo E., janela com moldura de cantaria, impostas boleadas, lintel em arco abatido e parapeito em avental com duplo rebaixo. INTERIOR degradado e queimado, com o piso térreo cheio de entulho e o piso principal totalmente abatido, somente resistindo parte das paredes onde são reconhecíveis elementos emparedados, principalmente em tijoleira, provenientes das campanhas de obras realizadas ao longo dos tempos. Antigo átrio e jardim ocupado como vazadouro, reconhecendo-se ainda a decoração de ferro forjado da cisterna e a parede do que teria sido a capela. Portal da R. dos Aranhas em cantaria rija regional, com impostas simples e lintel elaborado, com filete intermédio relevado e balanço superior; ao centro com enquadramento por filete relevado, escudo esquartelado com as armas dos Ornelas, Magalhães, Joanes, ou Amaral ou ainda Miranda e Meneses com elmo, sem timbre, e paquife.

Acessos

Funchal (Sé), Rua dos Aranhas, n.º 26

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 33 587, DG, 1.ª série, n.º 63 de 27 março 1944

Enquadramento

Urbano, integrado no interior de um quarteirão, com pátio interior com cisterna, somente com acesso pela R. dos Aranhas.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: casa nobre

Utilização Actual

Devoluto

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Cronologia

Séc. 16, inícios - construção do solar; 1567 - representação do solar na planta do Funchal de Mateus Fernandes; 1606 - data do portal à R. dos Aranhas, 26, com as armas dos Ornelas, Magalhães, Joannes ( ou Miranda, ou Amaral ) e Meneses ( ouro pleno ); 1662 - construção da capela de Nossa Senhora da Conceição por Rui Dias de Aguiar e sua mulher D. Leonor de Ornelas Andrade Magalhães; 1666, 1 Jan. - casamento de Manuel Ferreira Drumond com D. Mécia de Vasconcelos, filha de D, Catarina; 1695, 7 Mar. - óbito de D. Mécia, "de um desastre e foi que estando em sua casa no Beco dos Aranhas, certo religioso do convento de S. Francisco, natural desta ilha, para matar um francelho que estava pousado numa árvore, lhe fez tiro com uma espingarda e disparando-a, deu um perdigoto na testa por cima de um olho da dita D. Mécia, de tal sorte que perdeu os sentidos e o juízo"; 1834 a 1848 - residência do padre Richard Thomas Lowe, capelão da igreja ritualista e notável botânico; 1879, 21 Jun. - registo de propriedade pelo conservador António Leite Monteiro devido a partilhas, em nome de D. Adelaide Cristina de Ornelas e Melo, casada com o Dr. João Cabral de Melo, cirurgião médico residente em São Miguel, Açores, do prédio que pertencera a seu pai, Pedro José de Ornelas; 1900, 5 e 7 Fev. - descrição a favor das novas proprietárias, D. Vicência Júlia, D. Maria Amélia, D. Adelaide Sofia e D. Elisa Maria de Ornelas e Melo, solteiras, do solar que fora de seu avô Pedro José de Ornelas; 1917, 31 Dez. - inscrição da nova proprietária D. Adelaide de Melo Machado de Sousa, casada com o capitão do Exército Manuel Machado Soares de Sousa; 1925 - instalação da Escola Primária Superior; 1940, 26 setembro - publicação de Decreto nº 30 762, no DG, 1.ª série, n.º 225, determinando a classificação da Casa de D. Mécia como Imóvel de Interesse Público; 01 novembro - publicação do Decreto nº 30 838, DG, 1.ª série, n.º 254, suspendendo o decreto n.º 30 762, de 26 de setembro do mesmo ano, relativamente à classificação de imóveis de propriedade particular; 1952, 2 Abr. - requerimento do Dr. João de Melo Machado, divorciado, delegado do Ministério Público, de destaque da propriedade, que passou a prédio urbano; 1957 - incêndio; 1965, 18 Mar. - inscrição de posse de João Jardim, casado em regime de separação de bens com D. Maria Dolores da Silveira Jardim, da propriedade adquirida ao Dr. João de Melo Machado; 1994 - BANIF vende o solar aos actuais proprietários; 1999, finais - demolição do solar.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes.

Materiais

Cantaria mole e rígida regional aparente, alvenaria de cantaria regional rebocada, mármore, vestígios de madeira ( carvalho e outras ), vestígios de amarrações mistas de tirantes de madeira e de ferro e telha de meio canudo.

Bibliografia

NORONHA, Henrique Henriques de, Nobiliário da Ilha da Madeira...1700, São Paulo, 1947; CORREIA, marquez de Jácome, A Ilha da Madeira, 1927; SILVA, Padre Fernando Augusto da, Elucidário Madeirense, 3 vols., Funchal, 1945; LUCENA, Vasco de, Portas Armoriadas, in DADHM, nº 4, Funchal, 1950; GOMES, Alberto F., Nótulas Camilianas, 1965; ARAÚJO, Alberto, Incêndios, Diário de Notícias, Funchal, 2 Abr. 1978; ARAGÃO, António, Para a História do Funchal, Funchal, 1980; BÁRBULA, Conceição Freitas e MENESES, Maria José, O Solar de D. Mécia, trabalho de licenciatura em História, Funchal, 1981; SAINZ-TRUEVA, José de, Património para quê ? O solar de Dona Mécia, Diário de Notícias, Funchal, 2 Set. 1984; FREITAS, arq. Diva Manuela Correia de, O Solar de D. Mécia, estudo e levantamento, DRAC, Jun. 1986; PINTO, António Jorge, Dentro de dois anos "Cine-Parque" será Hotel? Procurei responder ao apelo do Governo - vontade expressa por Morna Jardim, Diário de Notícias, Funchal, 31 Out. 1986; MOUTINHO, Viale, Está em ruínas a casa de D. Mécia, Diário de Notícias de Lisboa, 1 Set. 1990; FERNANDEZ, Juan, A património dado não se olha o dente. Solar de D. Mécia dará lugar a projecto de Taveira, Jornal da Madeira, 23 Fev. 1991; CAETANO, Emília, Património: Projecto de Taveira agita Funchal, O Jornal, Lisboa, 1 Mar. 1991; MOUTINHO, Viale, Ainda é possível salvar a Casa de D. Mécia no Funchal, ameaçado imóvel de interesse público, Diário de Notícias, Lisboa, 1 Mar. 1991; SILVA, António Ribeiro Marques da, O Solar de Dona Mécia, Diário de Notícias, Funchal, 3 Mar. 1991; NÓBREGA, Tolentino, O "caso" do solar D. Mécia. O desenvolvimento contra a História ?, in Público, 4 Mar. 1991 e Eco do Funchal, 15 Mar. 1991; FLORENÇA, Teresa, O querer e o poder no solar da Dona Mécia, Diário de Notícias, Funchal, 17 Mar. 1991; CALISTO, Luís, Relatório é contra desclassificação do edifício. Recuperação do Solar D. Mécia é possível embora custe caro, Diário de Notícias, Funchal, 17 Abr. 1991; SILVA, António Ribeira Marques da, O Solar de D. Mécia - um folhetim?, in Diário de Notícias, Funchal, 1 Ago. 1991; CARITA, Rui, História da Madeira, 3º vol., Funchal, 1993; idem, As Dinastias dos Habsburgos e dos Braganças, Funchal, 1992; CALISTO, Luís, Câmara vai intimidar BANIF a despachar-se com D. Mécia, Diário de Notícias do Funchal, 18 Fev. 1993; ibidem, "Santa Engrácia insular" pode começar a desatar-se. Empresário madeirense interessado em D. Mécia, Diário de Notícias, Funchal, 26 Mar. 1993; FERNANDEZ, Juan, Recuperação com «Ses». Solar D. Mécia enfim vendido e 165 mil contos. Solar de D. Mécia vendido a 5 privados, Diário de Notícias, Funchal, 2 Mai. 1994; SILVA, Sónia, Promotores ainda aguardam resposta da CMF. Não somos delinquentes urbanísticos, e CARITA, Rui, Há que defender o solar com unhas e dentes, in Jornal da Madeira, 9 Jun. 1995; AZEVEDO, Eliezer, Enquanto o Solar da Dona Mécia não é aprovado, Jorge de Sá, sobre os seus negócios, afirma: "Parece-me que há quem queira prejudicar-nos", Jornal da Madeira, 13 Jun. 1995; SILVA, Sónia e CHEGA, R., Projecto Solar da D. Mécia será aprovado em breve, Jornal da Madeira, 19 Ago. 1995; I.S., Quarteirão do solar D. Mécia com projecto aprovado, Diário de Notícias, Funchal, 20 Set. 1996; AMJ, CMF põe a discussão pública Solar de D. Mécia, Jornal da Madeira, 20 Set. 1996; CARITA, Rui e TRUEVA, José Manuel de Sainz, Itinerário Cultural do Funchal, Funchal, 1997; MARTINS, Rosário, Escritórios de luxo no antigo Cine-Park. ACIF compra Solar D. Mécia, Diário de Notícias, Funchal, 19 Jul. 1999.

Documentação Gráfica

Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro ( planta do Funchal de Mateus Fernandes, 1567 ); Mapoteca do IGC ( planta do Funchal de Reinaldo Oudinot, 1804, com localização da capela ), Lisboa; GR / Equipamento Social; DRAC, Funchal

Documentação Fotográfica

Museu Vicentes Photographos; antiga Junta Geral; DRAC, Funchal; IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

ARM; CMF; Juízo dos Resíduos e Capelas; antiga Junta Geral; DRAC, Funchal; IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

Observações

Não foram executados até ao momento estudos mínimos de, prospecção das paredes e levantamento dos rebocos sobre as molduras das janelas, por exemplo, para se estabelecer um concreto estudo do imóvel e das suas épocas de construção. Mas, indubitavelmente, um edifício com uma planta muito semelhante é colocado nesta área, ao lado do convento de São Francisco, na planta de Mateus Fernandes, datável de 1567, o que coloca assim a primitiva construção como anterior aos meados do Séc. 16. Como constatável pela situação actual e pela sequência das fotografias tiradas ao longo dos últimos 30 anos, tem havido propositada acção dos vários proprietários em fazer desaparecer o imóvel, prevendo o projecto do arquitecto Taveira ( 1991 ) a sua demolição pura e simples e o do arquitecto Melim ( 1994 ), a sua demolição para execução de parques de estacionamento enterrado e posterior "reconstrução" em cópia romântica.

Autor e Data

Rui Carita 1999

Actualização

 
 
 
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