Castelo e Muralhas de Monsanto

IPA.00003930
Portugal, Castelo Branco, Idanha-a-Nova, União das freguesias de Monsanto e Idanha-a-Velha
 
Castelo construído no séc. 12, pela Ordem do Templo, e cerca urbana construída no séc. 13, por ordem da Coroa, num local de grande importância estratégica para a defesa da fronteira leste do país, sobre estruturas anteriores, tendo sido remodelado no séc. 15 e 16, e depois, no séc. 19, com alteração da estrutura, articulando-se com outros castelos da Beira. Constituindo um território de grande instabilidade, onde já no séc. 10 é documentado a existência de um castelo árabe "muito sólido", foi doado à Ordem do Templo, em 1165, cujo mestre, segundo inscrição no castelo de Tomar, ali terá construído ou reconstruído a fortificação, até 1171. Contudo, na sequência de um litígio com a Ordem do Templo, o castelo é doado, logo em 1172, à Ordem de Santiago mas, talvez por esta não tomar posse efetiva do castelo ou ter defendido os interesses do reino de Leão durante os conflitos, o mesmo, ainda antes de terminar a década, passa para a Coroa. Em 1460, D. Afonso V concede a alcaidaria aos condes de Monsanto, deixando assim o castelo de integrar os bens régios. A fortificação tem planta irregular, desenvolvendo-se no topo do cabeço, adaptada à morfologia do terreno de afloramentos graníticos ciclópicos, o que resulta num grande ondulamento dos muros, reservando para o castelo a zona mais alta e inacessível, de planta alongada e com acesso apenas a partir da vila muralhada. As estruturas apresentam os paramentos aprumados e já sem o remate, com um número e tipo de cubelos e torres certamente diferente do que teve. Atualmente, a cerca urbana tem duas portas, a principal, virada a norte, e a porta falsa a sul, ambas em arco de volta perfeita sobre impostas, sendo a principal protegida por barbacã da porta, com troneiras cruzetadas, possivelmente construída no séc. 16, após a representação de Duarte de Armas, com porta lateral, em arco biselado, encimado por brasão e as insígnias de D. Manuel. A cerca tem três cubelos, dois a norte, a defender a porta, um a nascente e uma torre a sul, também a defender a porta, todos desenvolvidos para o exterior. Intramuros, o adarve tinha acesso por escadas salta cão. Aí se implantava o primitivo núcleo populacional, com igreja dedicada a Santa Maria e um grande poço que, no séc. 15 foi envolvido por uma torre de couraça, circular, desenvolvida a partir da porta do castelo. Este, segundo a representação de Duarte de Armas, tinha uma torre, um cubelo ou avançado a defender a porta e, no interior do recinto, a torre de menagem, com aljube no piso térreo, uma cisterna, as casas do alcaide e outras dependências. Segundo Mário Barroca, a edificação da torre de menagem, da qual só sobrevivem os entalhes abertos nos afloramentos rochosos, pode ser balizada entre os anos de 1169 e 1171, pertencendo, assim, ao conjunto das mais antigas torres de menagem em Portugal. Durante a guerra da Restauração, a fortificação recebeu algumas obras de adaptação à artilharia, com construção de terraplenos, baterias, abertura de canhoneiras e construção de cortinas defensivas e após a Guerra dos Sete Anos o conde de Lippe manda executar trabalhos essencialmente nos núcleos populacionais. Assim, manda construir uma muralha circundando parte da capela de São Miguel, que seguia em direção aos chamados Penedos Juntos, de que ainda há vestígios, e, na parte baixa da povoação, construir a porta de Santo António e a do Espírito Santo nas entradas da povoação, com cortinas aprumadas, e portas em arco ou de verga reta, ladeadas por frestas de tiro e uma guarita, sendo a de Santo António sobreposta por brasão real, e uma bateria trapezoidal, a norte. O número de torres ou cubelos do castelo deve ter aumentado depois do início do séc. 16, dado que no relatório das obras de reedificação, em 1813, o engenheiro Eusébio Cândido Furtado manda demolir cinco das sete torres que então possuía, para obtenção de pedra para conservar os muros. Nesta data, no interior do castelo a antiga casa do alcaide já havia sido transformada em hospital, a torre de menagem servia de armazém de pólvora, que então foi subdividida em três pisos, e ainda existia a cisterna, que recebia água dos telhados. O engenheiro manda construir uma porta nova do castelo e, à sua frente, um travez de cantaria e uma barreira murada com comunicação por ponte levadiça. Na antiga vila intramuros, a igreja de Santa Maria era o armazém de víveres, a torre junto à porta falsa era o quartel do governador, conservava-se o grande poço, mas já sem as estruturas da couraça e respetiva torre. Uma das alterações mais significativas deste espaço, será a construção de um recinto retangular, disposto na sequência da porta norte, formando bateria, com cortinas aprumadas, para colocação de peças de artilharia, dando assim origem a três recintos. O remate com canhoneiras da cortina paralela à porta foi construído pela DGEMN, nas obras da década de 1940. Em 1813, entre outros trabalhos, dotou-se a face interna da barbacã com uma banqueta para mosquetaria, de que se conservam os orifícios das traves que a sustentavam, e construíram-se três outras na rampa que a precedia. A queda de um raio no paiol e a sua subsequente explosão, entre 1813 e 1815, provoca a destruição de grande parte das muralhas e das construções no interior da fortificação, conduzindo ao seu progressivo abandono. A defesa do castelo medieval era complementada com atalaias, nomeadamente a Torre do Pião, implantada nas suas imediações, mas que em 1509 já se havia derrubado uma face, "por que perigaua ho castelo", conforme indicado por Duarte de Armas, visto estar construída a cavaleiro do mesmo, e a torre do Lucano, construída em 1420 no núcleo populacional de São Salvador, sendo depois transformada em torre dos sinos da primitiva igreja, atual Misericórdia.
Número IPA Antigo: PT020505080009
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Castelo    

Descrição

Fortificação composta por castelo e cerca urbana da vila, de planta irregular, desenvolvida no topo do cabeço, mas em níveis progressivamente mais altos, estando o interior da cerca subdividida por panos de muralha de construção oitocentista, formando um retângulo, e dando assim origem a três recintos. As estruturas apresentam paramentos aprumados, em cantaria ou alvenaria de granito, já sem o remate, mas tendo em algumas zonas da face interna falso adarve, protegido por parapeito simples, acedido por escadas salta cão, na cerca da vila dispostas a norte e a sudeste, perto das portas. CERCA URBANA com os panos de muralha reforçados por três cubelos retangulares, dois, na frente norte, a cobrir a porta principal, e outro a nascente, e uma torre quadrangular, a sul, a cobrir a porta falsa, aberta nas imediações. O principal acesso ao interior faz-se por pano de muralha virado a norte, encaixado entre grandes penedias, tendo frontalmente barbacã da porta retangular, com porta rasgada lateralmente, a nascente, em arco de volta perfeita, biselado e de aduelas largas, sobre os pés direitos, encimado por vão, destinado ao brasão, ladeado, à esquerda, por esfera armilar; do lado direito existe inscrição. Na face norte da barbacã rasgam-se três troneiras, cruzetadas, a do cunhal nordeste num nível mais baixo e a da direita só com uma travessa a cortar o vão vertical. Na face interna, a barbacã possui superiormente orifícios dispostos regularmente, para sustentação de um andaime, oitocentista, para mosquetaria, e a porta tem arco abatido, conservando as caixas das coiceiras e os buracos laterais da tranca. A porta da cerca urbana, precedida por vários degraus formando patamar, é em arco de volta perfeita, de aduelas largas, sobre impostas, tendo no intradorso, com abóbada de berço, as caixas das coiceiras e os buracos laterais da tranca. Esta porta acede a um recinto retangular, construído em 1813 e definido por muralhas laterais, em alvenaria de pedra, e por uma outra muralha paralela à da porta, em cantaria, rasgada por porta em arco de volta perfeita sobre impostas, e terminada em parapeito de merlões e quatro canhoeiras, tendo na face interna bateria, com as canhoeiras mais a poente, precedidas por rampas. Sensivelmente a sul, abre-se na cerca urbana a porta falsa, em arco de volta perfeita, sobre impostas. Nas imediações, a torre sul desenvolve-se para o exterior, tendo na face interna, virada a norte portal sobrelevado, de verga reta, atualmente sem função, com o falso adarve precedido por escadas de tiro. No recinto, no enfiamento da porta da cidadela, existe penedia junto à qual há grande poço, de perfil curvo, apresentando dois arcos de volta perfeita, perpendiculares, sem cobertura, protegido por guarda em alvenaria e gradeamento. CIDADELA de planta ovalada, bastante irregular, desenvolvida na cota mais alta e apenas acedida pela antiga vila muralhada, por porta em arco de volta perfeita, de aduelas largas, sobre impostas, coberta a nascente por pequeno cubelo quadrangular avançado para o exterior. No interior do recinto, de diferentes níveis, um pano de muralha a sudoeste tem escadas de ligação ao falso adarve. Neste recinto observam-se, sobre os afloramentos rochosos, sulcos que poderão corresponder às fundações de outras estruturas. Escadas bastante estreitas, entre a muralha e as penedias, conduzem a uma cota superior, onde existem vestígios dos alicerces da cisterna e do edifício retangular, dos antigos aposentamentos e depois hospital, adossado à muralha poente. EXTRAMUROS existem vestígios de baterias perpendiculares à Igreja de São Miguel, em alvenaria de pedra, e a norte a TORRE DO PIÃO, a cavaleiro, fronteiro ao castelo, de planta quadrada e apresentando apenas o arranque dos paramentos de três faces, em cantaria. No NÚCLEO URBANO DE SÃO SALVADOR existem várias estruturas defensivas, construídas nos pontos de entrada da vila, a nascente, a porta do Espírito Santo, adossada à capela da mesma invocação, a poente, a porta de Santo António, junto à capela do mesmo orago e ao cemitério, e a norte, sob o parque de estacionamento do Largo do Baluarte, o denominado baluarte ou bateria. A porta do Espírito Santo abre-se em cortina aprumada, em aparelho de cantaria irregular, encimada por parapeito simples, com portal em arco de volta perfeita, biselado, de aduelas largas sobre os pés direitos, e de verga reta na face interna; é ladeada por duas frestas de tiro e, a sul, apresenta guarita adossada, de planta quadrada, com cobertura plana, acedida por porta de verga reta, precedida por escadas de pedra, com guarda em ferro, e tendo frestas de tiro a norte e a nascente. A porta de Santo António, de verga reta, abre-se em cortina aprumada, rematada em parapeito simples, sobreposto por brasão com as armas reais, sendo ladeada por três frestas de tiro, uma delas atualmente sem função. A norte tem guarita sobrelevada, de planta quadrangular e cobertura plana, com fresta de tiro a nascente e a poente e acesso por porta de verga reta, assente sobre pequena cortina, em alvenaria de pedra, com várias frestas de tiro. A bateria do Largo do Baluarte tem planta trapezoidal, com cortinas em talude e porta de verga reta, ladeada por duas janelas quadrangulares na frente poente.

Acessos

Monsanto, Rua de Nossa Senhora do Castelo; Rua de Santo António; Rua Direita; Largo do Baluarte. WGS84 (graus decimais) lat.: 40,036024, long.: -7,113974

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto nº 37 077, DG, 1.ª série, n.º 228 de 29 setembro 1948 / ZEP, Portaria, DG, 2.ª Série, n.º 265 de 14 Novembro 1950

Enquadramento

Peri-urbano, isolado, num cabeço com mais de 700 m de altitude, de afloramentos graníticos ciclópicos e vertentes abruptas, situado na margem direita do Rio Pônsul e sobranceiro ao atual núcleo urbano de Monsanto, da paróquia de São Salvador. Desenvolve-se sobre grandes penedias, adaptado à morfologia do terreno, possuindo grande domínio sobre a envolvente. Um caminho pedonal a partir do centro da povoação, pavimentado a cubo de granito, conduz até ao castelo, e da porta norte até meio do recinto da vila muralhada. Na encosta norte do castelo, extramuros da antiga vila, ergue-se a Igreja de São Miguel, tendo na coluna esquerda do portal axial a medida padrão do côvado (v. IPA.00020635). Junto à igreja, à volta da qual se desenvolvia a antiga paróquia de São Miguel, representada por Duarte de Armas, existem covinhas e sepulturas trapezoidais e antropomórficas escavadas na rocha, tendo campanário separado, sobre penedos. A cerca de 25 m da Igreja fica o denominado Penedo da Forca e, mais a norte, existem os alicerces da Torre do Pião, também representada por Duarte de Armas. Na vertente nascente existem as ruínas da Capela de São João, com arco de volta perfeita biselado, e, na vertente sudoeste, implanta-se a Capela românica de São Pedro de Vir-à-Corça (v. IPA.00000584). No interior da vila muralhada, ergue-se a Capela de Santa Maria do Castelo (v. IPA.00020630), junto às muralhas que subdividem o recinto num outro mais pequeno e retangular, e no ponto mais elevado da cidadela existe um marco geodésico. Do castelo dominam-se as planícies que se estendem a partir da Serra da Gardunha, a oeste, destacando-se Idanha e a respetiva barragem, a zona fronteiriça, a nascente, e os vales do Pônsul e do Aravil, bem como o Cerro da Cardoza, a sul, este e sudoeste; a norte, está virado para a Serra da Estrela, avistando-se os Castelos de Penamacor (v. IPA.00000844) e Belmonte (v. IPA.00002543).

Descrição Complementar

O portal da barbacã da porta da cerca urbana possui inscrição, ao que parece, truncada e ainda não foi interpretada: "IIIATSA". Um dos silhares da porta da cerca tem a inscrição recente: "A HISTÓRIA DESTE / CASTELO FOI RECORDADA / COM GRATIDÃO PELOS / PORTUGUESES DE / 1940".

Utilização Inicial

Militar: castelo e cerca urbana

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Junta de Freguesia de Monsanto, auto de cedência de 10 Março 1949

Época Construção

Séc. 13 / 14 / 15 / 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

EMPREITEIRO: António Domingues Esteves (1940-1942). ENGENHEIROS MILITARAS: Eusébio Cândido Cordeiro Pinheiro (1813).

Cronologia

Época pré-histórica - provável localização de um povoado fortificado; séc. 02 a.C. - cerco do castro localizado no cabeço de Mons Sanctus pelo pretor romano Lúcio Emílio Paulo e provável destruição do mesmo, fixando-se progressivamente a população em Idanha-a-Velha; 713 - a Egitânia é arrasada e ocupada pelos muçulmanos; séc. 10 - na Crónica do mouro Rasis refere-se que "neste território há fortes castelos onde o clima é mui são; tal como o de Monsanto, que é muito sólido; o de Arronches; o de Montalvão, que se encontra no cimo de um monte muito elevado (...)"; 1165, 30 novembro - D. Afonso Henriques doa ao mestre D. Gualdim Pais e à Ordem do Templo a terra de Idanha e Monsanto, limitada pelos rios Tejo, a sul, Elga ou Erges a nascente, fazendo fronteira com o reino de Leão, e o Zêzere, a poente, com a condição da milícia servir ao monarca e ao seu filho; 1165 - 1170 - o mestre dos Templários terá mandado construir o castelo, conforme atesta uma inscrição existente no castelo de Tomar que, segundo alguns autores fora trazida do castelo de Almourol; 1171 - os castelos de Monsanto e Idanha-a-Velha já se encontram construídos; 1172, setembro - na sequência de um litígio com a Ordem do Templo, o castelo é doado à Ordem de Santiago ("facio cartam donationis de castello meo proprio quad dicitur Mons Sanctus"), com a condição de não nomear comendador estranho de outra terra que não Monsanto, da Ordem receber sempre seu filho Sancho e sua filha Teresa, se esta obtiver o reino, assim como os seus homens nos seus negócios e de os freires colaborarem nas guerras contra os mouros ou cristãos; contudo, a Ordem de Santiago, com sede em Cáceres, tendo como mestre D. Pedro Fernandes e sendo seu representante em Portugal o conde D. Rodrigo, acaba por nunca aqui se fixar; segundo Elias Martins Vaz esta doação é apenas do castelo, pelo que a Ordem do Templo teria continuado a administrar as terras delimitadas pelos rios Tejo, Erges e Zêzere (2012, p. 50); José Matoso refere que não tendo a Ordem de Santiago conseguido tomar posse ou administrar, de forma efetiva o lugar, a sua proteção acaba por ser feita pelo próprio rei; 1174, abril - D. Afonso Henriques concede carta de foral aos habitantes do Monsanto, seguindo o modelo de Évora, onde se faz referência ao seu castelo e à necessidade de povoar e habitar o território; é então alcaide do castelo Gonçalo de Sena; 1179 - D. Afonso Henriques anula a anterior doação do castelo à Ordem de Santiago, porque, durante a guerra travada entre Portugal e Leão, os freires combateram do lado contrário e foram por isso compensados por D. Fernando II; 1190 - confirmação da carta de foral por D. Sancho I; 1217 - D. Afonso II confirma a concessão da carta de foral; 1271 - "carta de Renda" onde D. Afonso III estabelece aos homens-bons do concelho de Monsanto a obrigação de lhe "dar um cavaleiro reconhecido quando me aprouver que me faça menagem do meu Castelo dessa Vila de Monsanto" e de "pagar a um cavaleiro com o vosso dinheiro por tenência desse Castelo"; séc. 13 - provável construção do atual castelo; 1308 - D. Dinis dá carta de feira a Monsanto; séc. 14 - obras de reconstrução do castelo durante os reinados de D. Dinis e de D. Fernando; 1367 - 1383 - D. Fernando passa sucessivas cartas de mercê do castelo de Monsanto a Álvaro Rodrigues, a Martinho Afonso de Melo e a João Afonso de Melo; durante o reinado deste monarca, é concedido aos moradores de Monsanto o privilégio de isenção de prestação de serviço militar, dado que, vivendo próximo da fronteira com Castela, já colaboravam em tarefas de defesa, situação que os "(...) tornava necessários na terra onde viviam e desaconselhava a sua deslocação para outras localidades"; 1383 - 1385, entre - durante a crise sucessória, Monsanto toma partido por Castela, reconhecendo os direitos ao trono de D. Beatriz, casada com D. João I de Castela e filha de D. Fernando de Portugal, por morte do pai; 1385 - segundo Fernão Lopes, antes das Cortes de Coimbra, Monsanto apoia o Mestre de Avis; 1389, 04 novembro - D. João I passa carta de mercê do castelo de Monsanto a Gonçalo Vasquez, tendo o concelho a obrigação de pagar "em toda sua vida", 150 libras no dia de Páscoa; 1399, 28 dezembro - o castelo é dado a Nuno Fernandez de Pena Cova, sem que o concelho tivesse de pagar qualquer ónus; séc. 14, finais - época provável para o desenvolvimento da nova povoação de Monsanto, a meio da encosta, com descida da população da zona mais alta; 1460, 21 maio - D. Afonso V concede o título de conde de Monsanto ao fidalgo D. Álvaro de Castro e faz concessão da alcaidaria-mor do castelo aos condes de Monsanto; em consequência, o castelo deixa de pertencer à Coroa e o alcaide passa a ser, por inerência, o ser o conde de Monsanto, ainda que ele delegasse o cargo, por não viver na vila; 1476 - o conde de Monsanto solicita ao rei D. Afonso V para a vila passar a ser couto de homiziados, como forma de a povoar e desenvolver; 17 abril - D. Afonso V, em atenção ao pedido do conde de Monsanto, D. João de Castro, determina em carta régia que a vila passasse a ser couto de homiziados, para aumentar o seu povoamento; 1496 - na Inquirição, existe a referência a 309 habitantes; séc. 15 - obras de renovação no reinado de D. João I (1385-1433), tendo sido introduzidas uma barbacã da porta, com troneiras, bem como uma couraça, formando corredor, com cerca de 15 metros, terminada num cubelo circular a proteger o poço, e com porta de ligação ao mesmo; 1509, cerca - desenho do castelo e da vila elaborado por Duarte de Armas *1; 1510, 01 junho - D. Manuel concede foral novo a Monsanto; 1527 - no Numeramento, é referida a existência de 494 habitantes; 1596 - é alcaide do castelo Belchior Borges de Oliveira; 1640 - 1668 - durante as Guerras da Restauração, Monsanto é cercada por tropas de D. Filipe IV, mas o cerco é rapidamente levantado; é alcaide de Monsanto o fidalgo António Pires Pinheiro de Moraes e, depois dele, seu filho, António Pires Pinheiro de Andrade, possivelmente nomeados pelo conde de Monsanto; 1641 - nos capítulos às Cortes, os procuradores de Monsanto pedem a D. João IV que os rendimentos da "terça" da vila e seu termo se aplicassem "(...) para refazimento dos muros por estarem mui desfeitos e damnificados e pera armas, munições na forma de Ordenação (...); o rei responde que concede a "terça para o repairo presente dos muros dessa villa, fazendo-se a ditta obra por ordem do Capitão Geral dessa Fronteira com assistencia dos officiaes da Camara e a despesa correrá pelo Provedor da Comarca, ajudando o povo com o serviço pessoal e applicandose os mais efeitos que for possível"; séc. 17 - procede-se à adaptação das estruturas defensivas à artilharia, com construção de terraplenos, baterias, abertura de canhoneiras e construção de cortinas defensivas; 1704, 17 maio - durante a crise sucessória espanhola, o exército franco-espanhol, comandado pelo duque de Berwich, de origem irlandesa, ao serviço de Espanha e França, invade Portugal e inicia o cerco de Monsanto; contudo a população não se rende e refugia-se no castelo; 18 maio - Monsanto e o seu castelo é tomada por tropas inimigas; 12 julho - na sequência da contraofensiva liderada pelo Marquês de Minas, os espanhóis retiram para a vila de Sarça, em Espanha; 14 junho - a guarnição francesa do castelo de Monsanto rende-se às tropas do Marquês de Minas; 1755, 01 novembro - não padece ruína no terramoto; 1756 - 1763 - durante a Guerra dos Sete Anos, Sebastião José de carvalho e Melo, conde de Oeiras, por sugestão de Jorge II, rei de Inglaterra, contrata Fried Wilhelm Ernst zu Schaumburg-Lippe, conhecido por conde de Lippe, para reorganizar as tropas portuguesas e comandar o exército anglo-luso contra o exército franco-espanhol; 1758 - nas Memórias Paroquiais da freguesia de São Salvador e de São Miguel diz-se que a povoação não é murada, mas ajuda muito na sua defesa as grandes penhas, e faz-se uma breve descrição da fortificação, ficando o castelo no cimo do monte, tendo quatro torres e no seu interior uma cisterna de água nativa com quarenta palmos de altura, um armazém de munições, destruído, e uns casarões que serviram de casa do governador; em frente do castelo existe a torre do Pião, demolida na face virada ao mesmo *2; 1764 - o conde de Lippe visita as várias fortificações do país, nomeadamente Monanto; pensando que Monsanto poderia vir a desempenhar um papel importante em futuras guerras, manda reforçar a praça de armas, construir uma muralha com início no muro (em ruínas) que circunda a capela de São Miguel e que seguia em direção dos chamados Penedos Juntos, a qual ficou conhecida por "Muralha do Conde de Lippe" e de que ainda há vestígios; na freguesia de São Salvador, na parte baixa da povoação, são construídas a porta de Santo António com uma guarita (a poente, frente à capela manuelina de Santo António) e a porta do Espírito Santo (a nascente, ladeada da capela renascentista do mesmo nome); 1789, 21 dezembro - já depois de extinto o condado de Monsanto, é nomeado alcaide-mor Fernando Afonso Giraldes de Andrade, sucessor de seu pai, o desembargador Bartolomeu José Nunes Cardoso Giraldes de Andrade, que recebera o privilégio de alcaidaria de Monsanto por duas vidas ou duas gerações; séc. 19 - construção de um paiol e hospital na cidadela do castelo, sobre estruturas mais antigas; 1801 - criação de um desnível para colocação de canhões; 1807, 19 novembro - as tropas de Junot transpõem a fronteira portuguesa sem resistência, por Segura, Zebreira e Idanha-a-Nova, onde pernoitam; 20 novembro - Junot chega a Castelo Branco, local de concentração das tropas francesas para avançar até Lisboa; 1810, 30 julho - durante a 3ª Invasão francesa, o comandante francês Reynier vai a Monsanto com um esquadrão, ali entrando quase sem resistência, porque a guarnição "era de uma centena de inválidos", ou seja, é possível que estivesse guarnecida apenas por uma Companhia de Veteranos; no castelo encontram-se 4 peças de canhão, munições de guerra, 200 espingardas e cartuchos; 1813 - o major Eusébio Cândido Furtado é encarregado de instalar uma guarnição militar no castelo e de melhorar as suas condições de defesa; para tal procede-se às seguintes obras: demolição de cinco das setes torres que existiam, reutilizando-se a sua pedra no melhoramento de todos os muros; a porta principal do castelo, virada à vila, é coberta por um tambor em roda do qual se constrói uma banqueta para mosquetaria, e, na calçada que a precede, 3 banquetas para mosquetaria; no interior do castelo, constrói-se, sensivelmente a meio, e provavelmente sobre um muro medieval separador do primeiro e segundo recintos do castelo, uma bateria paralela à muralha de entrada, apoiada nos penedos com duas canhoneiras, servidas de rampas; no interior da cidadela, a torre quase quadrada que servia de paiol, então bem fornecido de munições, é subdividida em três pisos; ali há também um hospital e junto dele uma cisterna que recebe as águas dos telhados; além de uma porta nova da cidadela, é construído um travez de cantaria à sua frente e uma barreira murada com comunicação por ponte levadiça *3; 1813 - 1815, abril - forte explosão no castelo após a queda de um raio no paiol do castelo, na altura bem fornecido de munições, resultando na destruição de grande parte das muralhas e das casas dos oficiais e soldados, construídas junto à muralha, ao lado da porta falsa, e provocando danos na então povoação de São Miguel; a cerca de 5 m do marco geodésico ainda se podem ver as ruínas do tanque desse paiol; 1815, 04 abril - o coronel de engenharia Maximiliano José da Serra elabora nova planta da fortificação de Monsanto, referindo as partes destruídas e representando as alterações propostas para a construção de quartéis, que sacrificariam a igreja de Santa Maria, os quartéis para oficiais a poente da torre sul e os quartéis para oficiais inferiores a nascente da mesma torre, e uma cozinha geral a nordeste da muralha, edifícios que, em princípio não devem ter sido construídos; a barbacã da porta da cerca surge reforçada no interior do recinto com um muro e com a porta precedida por baterias para colocação dos mosqueteiros, a plataforma interior para três canhoneiras, duas delas ocupadas na planta por duas peças de artilharia com duas rampas de acesso para a defesa da porta à distância, e tendo marcado o local onde existira o paiol e o hospital; 1831 - desabamento de um penedo arrasta troço de muralha exterior; 1834 - a Igreja de São Miguel ainda se encontra aberta ao culto; 1836 - extinção do concelho de Monsanto, que é integrado no concelho de Penamacor; 1837, 27 setembro - as Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes decretam alterações ao anterior decreto e estabelecem que os extintos concelhos de Monsanto, Bemposta e Penamacor, incorporados no concelho de Penamacor, formarão um só conselho; 1848, 06 março - extinção definitiva do concelho de Monsanto, mas conservando a categoria de praça de segunda ordem com uma milícia; 1887 - nesta data, o Regimento de Infantaria 12 da Guarda ainda destaca guarnição para a praça do Monsanto; séc. 19, finais - Monsanto deixa de ter guarnição militar; 1911, outubro - um grupo de conspiradores tenta restaurar a monarquia em Monsanto, aqui se concentrando com cerca de 500 homens armados, o que desperta a atenção e a curiosidade dos habitantes, visto que já por cerca de 30 anos aí não existia uma força militar; 1927, 16 fevereiro - Decreto n.º 13:140 concede, a título honorífico, a categoria de vila a Monsanto; 1938 - no âmbito do concurso denominado "A aldeia mais portuguesa de Portugal", promovido pelo Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), Monsanto é distinguida com o título de "Aldeia mais Portuguesa", sendo-lhe atribuído como troféu um "Galo de Prata", cuja réplica ainda é exibida no topo da Torre de Lucano; 2008, maio - roubo do brasão real existente sobre a porta de Santo António, nas imediações da capela daquela invocação, sendo substituída por uma outra, de grão diferente..

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito, de aparelho isódomo, aparente, ou em alvenaria de pedra, também aparente.

Bibliografia

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Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, SIPA

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSID (PT DGEMN:DSID-001/005-045/1), DGEMN:DSARH (PT DGEMN:DSARH-010/116-0036, PT DGEMN:DSARH-010/116-0017, PT DGEMN:DSARH-010/116-0007, PT DGEMN:DSARH-010/116-0034, PT DGEMN:DSARH-010/116-0027), DGEMN:DSMN (PT DGEMN:DSMN/SE-0044/03)

Intervenção Realizada

DGEMN: 1940 - obras de restauro no castelo; reconstrução completa de muralhas em cantaria e escavação cuidadosa e remoção de terras, pelo empreiteiro António Domingues Esteves; 1941 / 1942 - obras de restauro no castelo pelo empreiteiro António Domingues Esteves, com consolidação de muralhas em cantaria, construção de muralhas em cantaria apicoada e construção e assentamento de ameias em cantaria; 1957 / 1958 - obras de restauro no castelo; consolidação das muralhas; início da reconstrução de uma das torres, cujos silhares se encontravam caídos junto à base; 1986 - beneficiações na zona do castelo, trabalhos complementares; consolidação de silhares soltos ou afastados; consolidação do pavimento do adarve na zona poente; 1988 / 1989 - obras de consolidação e pavimentação do castelo e muralhas; consolidação do topo das muralhas; pavimentação do adarve; pavimentação dos acessos da zona do castelo.

Observações

*1 - Duarte de Armas desenhou o castelo e a povoação de Monsanto que, pela vista da banda do norte, prova ser constituída por dois polos habitacionais: o da freguesia de São Miguel, numa cota mais elevada e desenvolvido à volta da Igreja de São Miguel, e o da freguesia de São Salvador, mais no sopé da colina, desenvolvido à volta da igreja com aquele orago. No cimo do cabeço, sobre os afloramentos ciclópicos, desenvolvia-se o castelo e a cerca urbana do primitivo núcleo populacional, composto por quatro torres, três na cerca urbana e uma na cidadela, onde também se erguia a torre de menagem, com paramentos aprumados, rematados em parapeito ameado. A porta da cerca, em arco, surge rasgada num pano de muralha entre os penedos, virada a norte. Extramuros e a poente, igualmente sobre grande penedia, erguia-se a Torre do Pião, com uma das faces derrubada. O castelo propriamente dito ou a cidadela, erguia-se na parte dominante do cabeço, tendo as muralhas 4 ou 5 varas de altura, adaptadas às penedias sobre as quais se erguiam, sendo composto por torre no ângulo nordeste, com 2 varas e 1 palmo por 1 vara e 4 palmos; a torre de menagem no interior do recinto, com 5 varas por 5 varas e 4 palmos, 16,5 varas de altura e 1 vara de grossura, tendo no piso térreo um aljube; uma cisterna quebrada; as casas de aposentamento, adossadas á muralha poente; e outros compartimentos não identificados. A porta de acesso, virada à vila muralhada, era defendida por uma couraça, com um corredor de 14,5 varas, e terminava numa torre circular, integrando no interior um poço com 9 varas e 4 palmos de altura e muito largo, contendo água muito boa; a couraça tinha acesso pela zona lateral mais larga havendo ainda uma porta para a torre couraça. *2 - Segundo o pároco da freguesia de São Salvador, arcipreste Ayres Francisco de Proença e Silva, nas Memórias Paroquiais, Monsanto pertence ao bispado da Guarda, comarca de Castelo Branco e é seu donatário o conde de Monsanto. Tem 330 vizinhos e 1053 pessoas, de ambos os sexos, entre maiores e menores. A "povoação não é murada, mas muito ajudam a defender o inacessível das penhas por onde no ano de 1704, sendo invadida pelo exército real de Filipe V lhe mataram na subida do monte seiscentos homens, e não entrariam no castelo se nele não houvesse alguma gente paga, pois ficando presidiada com sessenta franceses se defendeu ao depois de um pé de exército nosso largos dias, e por não terem esperança de socorro se entregaram a partido, confessando que se esta praça estivera em França havia de ser o cofre do tesouro do reino". Relativamente ao castelo refere que "no cimo do monte tem um fortissimo castelo com quatro torres. Uma defronte do castelo, em penha viva, chamada Torre do Pião, demolida pela face que olha para a fortaleza. Ignora-se quem a demoliu. Há, porém, a tradição que pelo tempo das alterações de Évora, no ano de 1637. É esta fortaleza obra dos Templários que nela fizeram fortes contra a potência e orgulho dos mouros, que tiveram em sitio sete anos - e não fora os romanos, como alguém escreveu por menos veridicas informações - a tão prolixo cerco não podiam já resistir os cristãos por falta de sustento até que em dia da invocação da Santa Cruz, três de Maio, pelo ano de 1230 lhe inspirou Deus que dessem de comer a uma bezerrinha uma limitada porção de trigo que só havia no castelo, e a lançassem dele à vista dos inimigos que achando-a rebentada e cheia de trigo julgaram que ainda havia tanto mantimento que sustentavam os animais com trigo pelo que desconfiados da empresa levantaram o cerco". Segundo o padre da freguesia de São Miguel, a cisterna de água nativa existente dentro do castelo terá quarenta palmos de altura, havendo ainda um "armazeém destruído de munições e sem porta, uns casarões dentro de outro segundo ou cidadela que serviam de casas do governador e sua família"; num outeiro, frente ao castelo, na "distância de um tiro de mosquete", está a chamada Torre do Peão com a face que tem para o castelo demolida. *3 - O relatório das obras efetuadas em 1813, pelo major Eusébio Cândido Furtado diz: "Encontrei no castelo sete torres de várias alturas de que demoli cinco, tanto por serem de nenhuma vantagem para a defesa como pela precisão que tinha de sua pedraria já lavrada para restabelecimento de todos os seus parapeitos e mais obras que construi (...). Tem as muralhas perpendiculares revestidas interior e exteriormente de cantaria lavrada muito bem ligadas e sólidas. Têm de grossura de 9 a 10 palmos até à altura dos parapeitos que tem 3 a 4 palmos de grossura. Os seus perfis variam segundo as desigualdades dos penedos em que estão assentados. Tem o castelo duas entradas, a primeira e principal que olha para a vila e a segunda fronteira a esta. A primeira é coberta por um tambor, em roda do qual construi uma banqueta ou andaime para mosquetaria e fora da porta estabeleci sobre a calçada 3 baterias para mosquetaria dominantes umas as outras e que servem para proteger a retirada dos defensores da vila e bater a mesma calçada, sendo este o ponto por onde parece que naturalmente o inimigo se dirigirá com mais comodidade os ataques. Além destes fogos exteriores construi na distância de 168 palmos no terreno mais alto do interior do castelo uma bateria paralela à muralha de entrada apoiada de um e outro lado a penedos, e nela servem duas canhoneiras (...) esta bateria tem uma altura regular de 15 palmos, a sua grossura é de 10 palmos e do parapeito é de 4, tudo revestido interior e exteriormente de cantaria, e de um e outro lado sobre os rochedos estabeleci parapeitos e muralha que ligam os intervalos dos mesmos penedos, ficando desta maneira inteiramente fechada toda a comunicação com o interior do castelo, que portanto não pode ser entrado por lado algum sem ser por escalada. (...). A igreja serve de depósito de víveres, é assas espaçosa e cómoda para esse fim. Tem água nativa mui abundante e de excelente qualidade e não há notícia de se ter jamais exaurido. Dentro da pequena cidadela se vêm os edifícios que servem de depósito da pólvora, que é uma grande torre quasi quadrada e cujas muralhas têm 8 palmos em toda a sua grossura, a sua altura exterior é de 50 palmos e a interior é de 70, foi dividida em três pavimentos mui sólidos e neles se acham acolhidas todas as munições. (...) Junto do Hospital há uma cisterna bem vedada que tem um vão de 100 palmos cúbicos, para onde estão encaminhadas todas as águas dos telhados. Além de uma porta nova que fecha esta cidadela, e mui sólida, construi na sua frente em toda a sua largura um travez de cantaria, e fechado com sua forte barreira, cuja comunicação é feita por uma ponte levadiça".

Autor e Data

Paula Noé 2016

Actualização

 
 
 
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