Padrão dos Descobrimentos

IPA.00009750
Portugal, Lisboa, Lisboa, Belém
 
Arquitectura civil comemorativa do século 20. Padrão comemorativo dos Descobrimentos Portugueses, em forma de nau, com estrutura de betão revestida a cantaria, em cujos lados surgem as figuras esculpidas dos grandes responsáveis pela gesta portuguesa ou pela cultura do tempo, contendo, no interior, um auditório e salas de exposição. Padrão de forma invulgar, formando uma caravela, com uma implementação privilegiada, junto ao Rio Tejo, no qual parece entrar, próximo dos locais de onde as naus partiriam. Constitui a concretização de um arquétipo construído em materiais perecíveis para a Exposição do Mundo Português, na altura em que se comemorou o centenário do Infante D. Henrique, figura de proa do conjunto escultórico que se desenvolve em ambos os lados da estrutura, todas ligadas aos Descobrimentos, à cultura e à religiosidade da época. Surgem, ainda, alguns membros da família real, como D. Filipa de Lencastre, a única mulher presente, os infantes D. Pedro e D. Fernando e o monarca D. Afonso V, juntando três gerações distintas. As figuras escultóricas seguem os modelos instituídos pelo Estado Novo. Na envolvente, foi colocada uma rosa dos ventos, envolvida por um arranjo em calçada à portuguesa, com elementos ondulantes, mais uma vez alusivos à gesta marítima.
Número IPA Antigo: PT031106320600
 
Registo visualizado 15161 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Cultural e recreativo  Edifício multiusos    

Descrição

Estrutura em forma de nau, com 56 m de altura, 20 m de largura e 46 m de comprimento, assentando em fundações com 20 m de profundidade, de planta rectangular, com o lado S. facetado, construída em betão, revestido a calcário. É composto por elemento verticalizado, constituindo um mastro estilizado, com orientação N. - S., surgindo, em cada uma das faces, dois escudos portugueses, constituídos pelas cinco quinas, envolvidos por faixa com 12 castelos e, ao centro, flores-de-lis estilizadas. A este elemento adossam-se, em cada face, três estruturas triangulares, com uma das faces curva, dando a ilusão de velas enfunadas pelo vento. Na proa, a figura de D. Henrique, sustentado uma nau na mão direita, surgindo, nas rampas que evoluem até à proa várias figuras esculpidas, aparecendo, no lado E., de baixo para cima, as figuras de Cristóvão da Gama, São Francisco Xavier, Afonso de Albuquerque, mostrando a sua espada, António de Abreu, Diogo Cão e Bartolomeu Dias, segurando um padrão, Estevâo da Gama, empunhando um escudo e uma espada, João de Barros com um pergaminho e uma pena, Martim Afonso de Sousa, com a bandeira portuguesa, Gaspar Corte Real, Nicolau Coelho segura uma bandeira, Fernão de Magalhães segura o anel náutico, Pedro Álvares Cabral, com um instrumento náutico, Afonso Baldaia, Vasco da Gama e, ajoelhado, Dom Afonso V. No lado oposto, de joelhos, o Infante Dom Pedro e Dona Filipa de Lencastre, sucedendo-se Fernão Mendes Pinto com um bordão, Frei Gonçalo de Carvalho, Frei Henrique de Carvalho, Luís de Camões, segurando um pergaminho com um excerto do Canto VII dos Lusíadas, Nuno Gonçalves, com uma paleta e pincel, Eanes de Azurara, com um pergaminho da Crónica de D. João I, Pêro da Covilhã, Jácome de Maiorca, com instrumento náutico, Pedro Escobar com uma bndeira, Pedro Nunes, segurando a esfera armilar, Pero de Alenquer, Gil Eanes, com instrumento náutico, Gonçalves Zarco e ajoelhado, o Infante Dom Fernando. O lado N. é formado por dois gigantes de cantaria, onde surgem inscrições em letras metálicas, a do lado esquerdo "AO INFANTE D. HENRIQVE E AOS PORTVGVESES QVE DESCOBRIRAM OS CAMINHOS DO MAR", sobre uma âncora, surgindo, no lado oposto, "NO V CENTENÁRIO DO INFANTE D. HENRIQVE 1460 - 1960", sobre uma coroa de louros. Centram um lanço de nove degraus, que acede a um pequeno átrio elevado, que permite percorrer o lado N. da estrutura e admirar o arranjo envolvente, a que se sucede um segundo lanço de cinco escadas, de acesso ao interior, protegido por portas de vidro. Estas acedem a portal em arco de volta perfeita, com a moldura formada pelas aduelas. INTERIOR com três dependências no piso inferior, correspondendo ao auditório, com uma lotação de 101 lugares, para um palco com 18 m2, possuindo máquinas de projecção para diaporamas ou vídeos e duas salas de exposição. No piso superior, quatro dependências, todas rectangulares. No topo, um miradouro.

Acessos

Avenida Brasília

Protecção

Em vias de classificação / Incluído na Zona Especial de Proteção do Mosteiro de Santa Maria de Belém (v. IPA.00006543) e na Zona Especial de Proteção do Museu de Arte Popular (v. IPA.00005034)

Enquadramento

Urbano, isolado e destacado, implantado no paredão à beira do Rio Tejo, aparentando que se encontra a fazer ao Rio. É precedido por ampla praça, cujo arranjo urbanístico contempla, no pavimento, uma enorme Rosa dos Ventos, em cantaria de calcário liós, negro e vermelho, rodeado por pavimento em calçada portuguesa, formando ondulações. No topo sul da Rosa, surgem duas inscrições, uma em lápide de calcário liós, rectangular e com os ângulos curvos, onde se lê uma inscrição incisa, com letras capitais, avivadas a negro: "ESTA ROSA DOS VENTOS FOI OFERECIDA A PORTUGAL PELA UNIÃO DA ÁFRICA DO SUL NO V CENTENÁRIO DO INFANTE D. HENRIQUE CUJO GENIO TORNOU POSSÍVEL A DESCOBERTA DO CABO DA BOA ESPERANÇA 1960". Junto a esta, uma lápide semelhante, negra, com inscrição incisa e letras capitais avivadas a branco: "THIS WINDROSE WAS OFFERED TO PORTUGAL BY THE SOUTH AFRICAN UNION ON THE FIFTH CENTENARY OF THE DEATH OF HENRY THE NAVIGATOR, WHOSE GENIUS MADE THE DISCOVERY OF THE CAPE OF GOOD HOPE POSSIBEL. 1960 ARCH. CRISTINO DA SILVA ASSOCIANDO-SE ÁS COMEMORAÇÕES DA CAPITAL EUROPEIA DA CULTURA A EMBAIXADA DA ÁFRICA DO SUL PATROCINOU O RESTAURO DA ROSA DOS VENTOS LISBOA 1994". A estrutura é ladeada por duas plataformas paralelepipédicas, sobre as quais surgem esferas armilares em metal. A praça tem acesso por uma via rodoviária, paralela à linha férrea. No lado oposto da enorme Praça, o Mosteiro de Santa Maria de Belém, a Praça do Império (v. PT031106321346) e, no lado esquerdo, o Centro Cultural de Belém (v. PT031106320401). No lado direito, um pouco mais afastado, uma marina e o centro náutico do Algés e Dafundo.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Cultural e recreativa: edifício multiusos

Utilização Actual

Cultural e recreativa: edifício multiusos

Propriedade

Pública: Municipal

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 20

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: António Pardal Monteiro (1958-1960); José Ângelo Cottinelli Telmo (1939); Luís Cristino da Silva (1958-19606). ENGENHEIROS: António Abreu (1958-1960), Edgar Cardoso (1958-1960), Ruy Correia (1958-1960). ESCULTOR: António Santos (1958-1960); Leopoldo de Almeida (1939, 1958-1960); Soares Branco (1958-1960). MODELADORES: António Branco (1958-1960); António Cândido (1958-1960); Alfredo Henriques (1958-1960); Carlos Escobar (1958-1960).

Cronologia

1939 - elaboração do projecto do Padrão, dentro dos planos para a Exposição do Mundo Português, por José Ângelo Cottinelli Telmo, com o apoio do escultor Leopoldo de Almeida; 1940, Junho - inauguração do monumento, construído para ser uma construção efémera, e portanto de materiais perecíveis, na Praça do Império; era construído em ferro e cimento, com as esculturas de estafe; 1940 (década de) - a ideia de reconstruir o padrão esteve presente desde que se inicia a desmontagem dos edifícios da Exposição e se planeia o novo arranjo urbanístico da zona, ideia bem acolhida pelo ministro Duarte Pacheco e que conta com a resistência de Cottinelli Telmo; o projecto vem a ser esquecido após a morte do ministro; 1943, Junho - demolição da estrutura; 1958, 3 Fevereiro - Decreto-Lei n.º 41 517 que autoriza o governo a promover, por intermédio do MOP e com a comparticipação das províncias ultramarinas e da CML, a construção na Praça do Império do Monumento dos Descobrimentos; 1958, Novembro - 1960, Janeiro - reconstrução do Padrão, em betão e cantaria de pedra rosal de Leiria, com esculturas em calcário da região de Sintra, ampliado face ao modelo de 1940, dentro das Comemorações do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique; o projecto é de Cottinelli Telmo, substituído, após a sua morte, por António Pardal Monteiro; o trabalho obrigou a estudos de estabilidade, efectuados pelos engenheiros Edgar Cardoso, Ruy Correia e António Abreu; a obra do interior foi executada por António Pardal Monteiro e o arranjo da zona envolvente de Cristino da Silva, que concebeu a rosa dos ventos do pavimento, oferecida pela África do Sul, a Portugal, em 1960; ; as esculturas foram modeladas por Leopoldo de Almeida, com o auxílio dos escultores Soares Branco e António Santos, formadas pelos modeladores António Cândido e Carlos Escobar, sob a direcção de António Branco e Alfredo Henriques; a zona Norte foi entregue à firma de Pardal Monteiro e a zona S. a José Raimundo; 1985 - inaugurado como Centro Cultural das Descobertas.

Dados Técnicos

Estrutura de betão.

Materiais

Estrutura em betão armado, revestida a calcário rosal de Leiria; esculturas em cantaria de calcário de Sintra; ferro, portadas de vidro e de madeira.

Bibliografia

TELMO, Cottinelli, "O que costumam ser e o que podiam ser os monumentos comemorativos", in O DIABO, n.º 12, 16 Setembro 1934; TELMO, Cottinelli, "Renovação da fisionomia da cidade" in Primeira Reunião Olisiponense, vol. 2, Lisboa, 1948; Ministério das Obras Públicas, Relatório da Actividade do Ministério nos anos de 1957 e 1958, 1º vol., Lisboa, 1959; O Padrão dos Descobrimentos, Lisboa, C.A.P.O.P.I., 1960; Os Anos 40 na Arte Portuguesa, Lisboa, 1982; SYNEK, Manuela O., O Padrão dos Descobrimentos - a gesta portuguesa rasgando o mar, in Lisboa - Revista Municipal, n.º 13, Lisboa, 1985, pp. 41-56; CAMPOS, Nuno e CARNEIRO, Isabel, O Padrão dos Descobrimentos - roteiro para visita de estudo, Coimbra, 1994; SYNEK, Manuela, Padrão dos Descobrimentos, in Dicionário da História de Lisboa, Lisboa, 1994; MARTINS, João Paulo do Rosário, Cottinelli Telmo (1897-1948) - A Obra do Arquitecto, (texto policopiado da Dissertação de Mestrado em História da Arte, U.N.L., F.C.S.H.), Lisboa, 1995; FCG/CAM, Luís Cristino da Silva, Arquitecto (catálogo da exposição), Lisboa, 1998.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DNISP (Plano definitivo do arranjo urbanístico da zona marginal de Belém, DES.00073148); Arquivo Histórico do MOPTC; Fundação Calouste Gulbenkian/CAM: Espólio de Cristino da Silva

Documentação Fotográfica

IHRU: SIPA, DGEMN/DSID, DGEMN/DRML; MC: Espólio Duarte Pacheco

Documentação Administrativa

Arquivo Histórico do MOPTC: C.A.P.O.P.I., Proc. de Secretaria, n.º 122 e 127

Intervenção Realizada

EMBAIXADA DA ÁFRICA DO SUL: 1994 - restauro da rosa dos ventos na zona envolvente, no âmbito das comemorações de Lisboa, Capital da Cultura.

Observações

Autor e Data

Filomena Bandeira 2001 / Paula Figueiredo 2008

Actualização

 
 
 
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