Muralhas e Torre de Menagem de Idanha-a-Velha

IPA.00009319
Portugal, Castelo Branco, Idanha-a-Nova, União das freguesias de Monsanto e Idanha-a-Velha
 
Cerca urbana romana, construída por volta do séc. 04, a envolver a povoação, e reformada em diferentes períodos, nomeadamente na Idade Média, após a sua doação à Ordem do Templo, que construiu também uma torre com barbacã envolvente, tendo contacto visual com a fortificação de Monsanto. Implantada num vale e em local plano, ao contrário das fortificações da Beira, que se erguem em posição dominante e com excelentes condições de vigilância e defesa, a cerca urbana de Idanha-a-Velha data do Baixo-Império, constituindo a única sobrevivente dessa época na região. Foi construída segundo um projeto arquitetónico único e bem definido, de modo apressado, diminuindo consideravelmente o perímetro de uma muralha anterior, ignorando o traçado urbanístico e construções, que sacrificou para aproveitar os materiais na construção, o que é comum nas cercas contemporâneas. Apresenta planta oval irregular, adaptada à morfologia do terreno, tendo os ângulos de mudança de direção suavemente arredondados, como é característico dos recintos romanos tardios da Hispânia e da Gália, atualmente já sem alguns troços ou com outros integrados nas construções da vila. A sudoeste, a muralha forma pequeno recorte retangular para o exterior, para incluir no recinto um poço, sobrepondo-se à sua abertura, de modo a permitir continuar a utilizá-lo no sopé da muralha e, simultaneamente, recolher a água desde o adarve, constituindo, ao que parece, caso único nas cercas hispânicas da mesma época (CRISTÓVÃO: 2002, p. 47). Os paramentos são aprumados, em opus quadratum irregular, denotando maior homogeneidade no aparelho exterior, mesmo quando os silhares são reutilizados, o que é usual, e um tratamento mais cuidado na frente norte, desconhecendo-se o primitivo tipo de remate. Era reforçada por 13 torres, pelo menos *6, de planta semicircular ou retangular, desenvolvidas para o exterior e estreitando ligeiramente para o topo, com um espaçamento mais ou menos regular, de cerca de 35 m de distância, módulo sensivelmente maior que o de outros recintos peninsulares, como Saragoça ou Lugo. Contudo, como o uso de torres semicirculares nas cercas hispânicas tardias é comum, mas as retangulares são mais escassas, as construídas em Idanha deverão ser posteriores. É o caso da torre no ângulo noroeste da muralha, que aí descreve uma curva apertada, ao contrário do restante traçado, constituindo uma retificação defensiva deste ponto de fraca visibilidade. Independentemente da planimetria, as torres surgem adossadas ou interligadas aos panos de muralha, por blocos que penetram na muralha, técnica que as tornava mais resistentes ao impacto de grandes projéteis e evitava a sua inutilização por desmoronamento dos blocos provocados por trabalhos de sapa do inimigo. A cerca urbana teria inicialmente apenas uma porta, virada a norte, não tendo sido detetado nenhuma outra abertura, nas escavações arqueológicas. A porta norte, flanqueada por duas torres semicirculares, forma corredor retangular sob a muralha e subdivide-se em duas câmaras por arcos de volta perfeita, exteriormente sobre impostas e no corredor sobre pilares, onde corria grade, manobrada a partir da zona superior, e se apoiavam as portas, respetivamente. Tem paralelo nas portas, flanqueadas por torres retangulares, de Cória, de Conímbriga e de Évora, e alguma semelhança com a porta oriental do recinto de Cáceres (CRISTÓVÃO: 2002, p. 40). O seu eixo é oblíquo, o que, segundo Alberto Balil, tinha por objetivo obrigar os assaltantes a apresentar aos defensores o lado direito, não protegido pelos escudos, solução também visível em Veleia (Iruña, Vitória). Esta porta foi reformada em data posterior e parcialmente reconstruída no séc. 20. As invasões bárbaras determinaram a feitura de obras de reparação e reforço da fortificação, sem alteração do seu traçado, tendo-se desativado, por exemplo, uma das torres semicirculares a ocidente. O mesmo aconteceria com a ocupação muçulmana, mas os autores consideram muito difícil determinar com exatidão as modificações introduzidas. Em 1165, D. Afonso Henriques doa, pela primeira vez, Idanha à Ordem do Templo, mas, por várias razões, o território acaba por voltar à Coroa que, sucessivamente, promove o seu povoamento e a cede aos Templários, tornando-se, assim, difícil determinar em que data, efetivamente, a Ordem se instala em Idanha. É possível que os Templários tenham feito reparações na muralha, mas é difícil datá-las, visto usarem os mesmos materiais e técnicas construtivas semelhantes. Mais clara é a datação da torre, construída no antigo fórum, sobre o podium de um templo romano, dedicado a Vénus, com planta retangular e acesso sobrelevado, por porta em arco de volta perfeita, contendo no tímpano inscrição de 1245, comemorando a sua integração na Ordem. Acima do podium, os paramentos da torre reutilizam silhares romanos, tendo alguns os orifícios para aplicação de fórceps por onde eram içados, mas foram aparelhados por pedreiros, que os marcaram com siglas. No séc. 14, rasgou-se uma outra porta, para o piso térreo, em arco apontado, gótico, e um balcão superior, já num terceiro piso, de que subsistem apenas as mísulas de sustentação. Sensivelmente sobre o muro romano que circundava o templo, foi construída uma cerca retangular à volta da torre, que funcionava como barbacã. É possível que, na Idade Média, o posicionamento da torre na malha urbana, conferisse à cerca urbana romana a função de barbacã extensa e se tivessem aberto outras portas nas muralhas. Caso da porta sul (a sudoeste), reconstruída no séc. 20, com um simples arco sobre os pés direitos, por Fernando de Almeida acreditar que ela daria acesso ao cardo mazimus e ter descoberto vários elementos de um arco. Contudo, segundo José Luís Gil Cristóvão é possível que ela estivesse relacionada com a Catedral e depois Igreja da Ordem, erguida nas imediações. A poente da torre retangular que defendia esta porta, abriu-se também, em data incerta, uma poterna, estreita e rebaixada, com verga reta e corredor da espessura da muralha, servindo simultaneamente para drenagem das águas pluviais do interior do recinto. As poternas parecem ser uma raridade nas fortificações hispânicas do Baixo-Império e na Gália, conservando-se na península apenas em Veleia (Iruña) e em Conímbriga. Félix Pereira refere ter visto uma poterna ou passagem a oriente, num palheiro próximo da ponte, mas as escavações não revelaram qualquer porta ou abertura naquele setor da muralha. Com a definição da fronteira luso-castelhana, em 1297, no tratado de Alcanices, e a ascensão de outras povoações nas imediações, Idanha-a-Velha perde importância estratégica, lutando por séculos com problemas de desertificação. Tal, levou a que, logo no início do séc. 16, a torre, com compartimentação interior, já estava destelhada, desmadeirada e sem portas, a barbacã envolvente "toda derribada" e a cerca urbana ter partes a cair. A ruína de Idanha acentuou-se nos finais do séc. 19, inícios do 20, quando a população utiliza os materiais da fortificação nas suas construções..
Número IPA Antigo: PT020505040080
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Estrutura  Militar  Cerca urbana    

Descrição

Cerca urbana a envolver a povoação, com planta oval irregular, adaptada à morfologia do terreno, com um perímetro total de cerca de 735 m, medindo os eixos maiores, de este a oeste 200 m, e de norte para sul, 300 m, defendendo uma superfície de cerca de 2 hectares, segundo Fernando de Almeida. As muralhas são visíveis em grande parte do seu perímetro, tendo troços ocultos sob as construções que lhe foram adossadas ou sobrepostas, como a nascente, onde, por exemplo, os palheiros de São Dâmaso e casas adjacentes integram no seu interior a muralha e uma torre semicircular, ou, em raros casos, demolidos por completo. A poente da porta norte, a seguir a um troço de muralha em falta, existe pano de muralha reconstruído na década de 1960. As muralhas possuem pequenos panos retilíneos ou curvos, surgindo no setor norte, desprotegido do rio, um amplo troço curvo e nos pontos de mudança de direção, cantos suavemente arredondados. Os paramentos são aprumados, sem remate nem adarve, desconhecendo-se como seria primitivamente, atingindo em alguns pontos, como na frente norte, 5,60 m de altura acima do atual pavimento, e 3,20 m de largura. Possuem aparelho em opus quadratum irregular, de módulos e dimensões variáveis, reutilizando muitos silhares (lisos e rusticados, emoldurados, com inscrições, monumentos epigráficos anepígrafos, monumentos funerários, fustes, capitéis, bases de colunas, entre outros), ou, em blocos baixos e longos, junto ao solo, para acompanhamento do relevo *2. O enchimento interno entre os paramentos é feito por blocos de granito em camadas horizontais, e os espaços entre os blocos são preenchidos com terra e argamassa ou são estruturados com blocos de xisto e pedaços de granito. Denota-se maior cuidado no aparelho exterior, mesmo quando os silhares são reutilizados, e um tratamento mais cuidado especialmente em toda a frente norte da muralha. Perto da torre existe uma escada de acesso á muralha. Na frente norte existe passadiço metálico de construção recente sobre a muralha, acedido por porta disposta a poente, e com guarda igualmente metálica, marcando a implantação de duas antigas torres semicirculares com zonas curvas, tipo varanda, revestidas a chapa de cobre, terminando o percurso numa escadaria que acompanha a ruína da muralha. Este mesmo tipo de estrutura existe a nascente, sobre o troço de muralha integrado nos palheiros de São Dâmaso. As muralhas são reforçadas por, pelo menos 13 torres, de planta semicircular (com um raio entre 3,15 m e 3,5 m de projeção) ou retangular (6 m largura e 4 a 5 m de projeção), desenvolvidas para o exterior e que vão estreitando ligeiramente para o topo, separando-se entre si por espaços mais ou menos regulares, de cerca de 35 m de distância. No setor sudeste o espaçamento das torres parece ter sido maior, aproveitando a situação topográfica e a proteção do rio. As torres possuem a mesma técnica construtiva das muralhas. Os blocos do paramento exterior das torres semicirculares são talhadas propositadamente para esse fim, mesmo quando são reaproveitados, apresentando as faces laterais geralmente convergentes, permitindo maior coesão, por vezes, com a face exterior convexa, para ajudar a criar a superfície curva, mas, na maioria das vezes com a face plana. As torres, independentemente da planta, adossam-se à muralha ou possuem blocos que penetram na muralha, ou seja, as primeiras fiadas do pano de muralha penetram no espaço da torre até à extremidade onde os blocos penetram na muralha. As muralhas têm atualmente três portas, uma na frente norte, e duas na frente sudoeste. A PORTA NORTE ou de Monsanto é flanqueada por duas torres, de planta semicircular, com as três fiadas superiores acrescentadas nas obras de reconstrução de Fernando de Almeida, desconhecendo-se se eram ocas ou não. A porta apresenta arco de volta perfeita, sobre impostas trapezoidais, tendo 3,56 m de altura e cerca de 3,05 m de largura no exterior e 3,13 m no interior, sendo delimitada na face interna por pilares lisos, no meio da qual corria grade, manobrava a partir do piso superior. A porta forma corredor retangular sob a muralha, com 5,16 m de comprimento no lado poente e 5,24 no lado nascente, correspondendo à sua largura neste troço, e subdivide-se em duas câmaras por arcos de volta perfeita, sobre pilares assentes em bases, onde se apoiavam as portas. Tem pavimento com grandes blocos de granito reaproveitadas, com as juntas preenchidas por argamassa e pedaços de xisto, granito, quartzito rolado e quartzo leitoso anguloso e tijolo; na parede poente existe um rasgo em L deitado e invertido e, junto a cada arco, orifícios para introdução das trancas das portas. A porta tem o eixo oblíquo, fazendo com que o muro a poente encoste bem à porta, o que não acontece no lado oposto, onde os blocos apenas encostam, sendo cortados para se adaptarem ao ângulo criado. A sudoeste, quase no enfiamento da Catedral de Idanha, abre-se a denominada PORTA SUL ou porta do Pônsul, como é designada por Fernando de Almeida, formada por um simples arco, de volta perfeita, de aduelas regulares, sobre os pés direitos. A porta é ladeada, à esquerda, por torre retangular, com silhares a lembrar a técnica romana, misturando pedras de diferentes proveniências (cimalhas, colunas, volutas, monumentos funerários, etc.), a qual defendia igualmente a POTERNA rasgada à esquerda da mesma, numa cota mais baixa. Esta tem planta trapezoidal, com eixo ligeiramente oblíquo em relação ao da muralha, abrindo levemente para o interior. Possui vão de verga reta, estreito e baixo, sobre os pés direitos, formando corredor correspondente à espessura da muralha, com pavimento em silhares de granito reaproveitados e cobertura em grandes blocos monolíticos de granito, cortados para o efeito. Na face interior, as ombreiras e o lintel têm ressalto para batente da porta, que abria para dentro, com o eixo giratório do lado esquerdo, conservando os orifícios do encaixe e, lateralmente, os rasgos para a colocação da tranca. A poterna servia igualmente para drenagem do interior do recinto das águas pluviais da proximidade. Junto à torre que ladeia a poterna, a muralha foi construída sobre parte de um poço romano, talvez pertencente à zona aberta da casa existente nas imediações, desenhando um pequeno recorte retangular no paramento exterior, de modo a permitir que o poço continuasse a ser utilizado no sopé da muralha e, simultaneamente, que a água fosse recolhida desde o adarve. No interior do recinto, mais para sul e em local elevado, ergue-se a TORRE DE MENAGEM de planta retangular e paramentos aprumados, em cantaria de granito, alguns silhares com a cavidade para a aplicação de fórceps, e sem remate, tendo na zona superior um aparelho mais miúdo. A torre assenta sobre o podium do templo romano dedicado a Vénus, de que conserva moldura inferior, assente num muro de blocos rusticados, e as duas primeiras fiadas. As duas primeiras fiadas da torre surgem sensivelmente recuadas ao podium e a terceira fiada recuada, em relação às primeiras; estas apresentam as arestas chanfradas. Na face virada a norte, abre-se ao centro porta sobrelevada, em arco de volta perfeita, sobre impostas, contendo no tímpano inscrição comemorativa da entrada de Idanha na posse dos Templários; sob a porta surge, à esquerda, bloco saliente, possivelmente de apoio a uma escada amovível. Inferiormente e mais à esquerda, abre-se uma outra porta para o piso térreo, em arco apontado sobre os pés direitos, encimada, no topo da torre, por um balcão para defesa vertical, sobre três matacães, dispostos ao lado do tímpano da porta central. Nas outras faces da torre rasgam-se seteiras retilíneas. No INTERIOR alguns paramentos possuem silhares com siglas e, ao nível do primeiro piso, existem mísulas cúbicas para apoio da estrutura do sobrado do piso superior. Junto à face nascente da torre reconhecem-se pequenas escadas laterais de acesso e restos do maciço da plataforma frontal do antigo templo e na sua face posterior são visíveis parcialmente as fundações de um pórtico.

Acessos

Idanha-a-Velha, Rua do Castelo; Rua do Espírito Santo. WGS84 (graus decimais) lat.: 39,997330, long.: -7,144228

Protecção

Incluído na proteção do Conjunto Arquitetónico e Arqueológico de Idanha-a-Velha (v. IPA.00005899)

Enquadramento

Urbano, a envolver a povoação, implantada em zona relativamente plana, na margem direita do Rio Pônsul, topónimo derivado de Procônsul, que a circunda parcialmente por sul com uma curva apertada do seu curso, funcionando quase como fosso natural e reforçando a sua defesa. Na frente norte, a porta de acesso ao recinto é delimitada, na face interna, por muro alto separador do terreno adjacente privado, criando câmara retangular. A partir da porta e em disposição oblíqua em relação ao eixo da mesma, desenvolve-se via orientada a norte, de que subsiste uma camada espessa e compactada de seixos rolados, pedaços de granito, pequenos pedaços de quartzo leitoso anguloso e pedaços de objetos e escória de ferro envoltos em argila, em posição rebaixada ao pavimento da porta, levando a supor uma calçada; estes elementos estão atualmente integrados no novo pavimento em lajes de granito da zona frontal da porta. Tem ainda marcado com lajetas fora das fiadas os muros romanos que aí foram postos a descoberto. Extramuros e a norte da povoação, ergue-se a Capela do Espírito Santo de Idanha-a-Velha (v. IPA.00009318) e a Praça de Touros. A nascente ergue-se a Capela de São Dâmaso (v. IPA.00025120) e sudeste a Ponte sobre o Rio Pônsul (v. IPA.00009487). Sensivelmente a nascente, entre o rio e as muralhas, a cerca de 100 m dessas, existem as ruínas de um balneário romano. O acesso exterior à poterna a sudoeste faz-se por um lanço de três degraus. A sul, extramuros, cortado pelo caminho para o rio, existe "um lanço de forte muro de lascas de xisto agregadas por duríssima argamassa", conforme descrito por Félix Pereira e já referido nas Memórias Paroquiais *1. Na proximidade da torre existem estruturas postas a descoberto pelas escavações de Fernando de Almeida, ainda não completamente interpretadas e, entre a Catedral de Idanha-a-Velha (v. IPA.00005882) e a muralha, as ruínas de importantes construções e o paço dos bispos, da época visigótica. Perto do museu epigráfico, intramuros, existem restos de uma casa romana, que foi parcialmente sacrificada aquando da construção da muralha.

Descrição Complementar

O tímpano do portal da torre de menagem possui inscrição, gravada em campo epigráfico levemente rebaixado, delimitado por fina moldura lisa junto ao rebordo, em cinco regra, que reza: "ERA . M. CC. / LXXX . III . REX . S(ancius vel sanctius) . II (secund)O sic . R. PETRI . COM(endat)OR". Segundo Fernando de Almeida, a tradução é "Na era de César de 1283 no reinado de D. Sancho II, o Mestre do Templo Martim Martins entrou na posse da Egitânea, sendo Comendador R. Pedro".

Utilização Inicial

Militar: cerca urbana

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

DRC, Decreto regulamentar n.º 3472007, de 29 março 2007

Época Construção

Séc. 04 / Época Medieval

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUEÓLOGOS: Artur Côrte Real (1986, 1989-1991), Fernando de Almeida (1950-1960, décadas), José Luis Gil Cristóvão (1995-1999), Madalena Santos (1988), Mendes Corrêa (1950), Octávio da Veiga Ferreira (1950), Rogério Carvalho (1988). ARQUITETOS: Alexandre Costa (1997), Sérgio Fernandez (1997).

Cronologia

Séc. 01 a.C. - data da fundação da cidade durante a época de Júlio César, possivelmente denominada Igaeditanía ou Egitania, inserida na Via da Prata, a estrada que ligava Bracara Augusta (Braga) a Emerita Augusta (Mérida); 105 d.C. - referência a Civitas Igaeditanorum (cidade dos Igeditanos) recebe foro de município romano; séc. 02 - 03 - época provável da construção de uma muralha a envolver a cidade; séc. 04 - data provável para a construção de uma nova muralha a envolver a cidade, mas diminuindo consideravelmente o seu perímetro, construída apressadamente e demolindo casas para o aproveitamento dos materiais na construção; em data posterior procede-se à alteração do funcionamento da porta norte, que é estrangulada pela colocação de dois blocos emoldurados em cada um dos lados do corredor, onde passam a repousar os eixos giratórios das portas, e ao levantamento do nível do pavimento da porta por desgaste do mesmo; 409 - 420 - provável invasão de Idanha-a-Velha pelos suevos, na sua expansão para a Bética, e pelos Alanos e Vândalos, que, em pouco tempo, conquistam parte significativa do território; procede-se a alguns restauros da fortificação, com técnicas construtivas semelhantes às primitivas; 569 - primeira referência a Idanha-a-Velha como sede de um bispado suevo; 585 - o reino Suevo é anexado ao reino visigodo por Leovigildo, adquirindo a diocese egitaniense maior destaque eclesiástico e político; 713 - segundo D. Fernando de Almeida, Idanha é conquistada e destruída na invasão muçulmana, refugiando-se o bispo nas Astúrias; séc. 09, 2.ª metade - os episódios militares ocorridos ao longo desta centúria devem ter levado a proceder-se a obras de reparação e reforço da fortificação, mandadas executar por Ibn Marwzn, sem alteração do traçado do seu perímetro; neste restauro, uma das torres semicirculares do setor ocidental é desativada, refazendo-se o seu encontro com o pano de muralha, ficando da torre apenas alguns blocos dos arranques, na parte mais baixa da muralha; séc. 10 - Crónica do árabe al-Razi refere que Egitânia é uma cidade "muito antiga, situada sobre o Tejo, forte e bem dotada, com um território bem provido de cereais, de vinhas, de caça e de peixes e um solo fértil"; é capital ou sede de uma Kûra, ou circunscrição ou distrito; séc. 12 - o território está praticamente desabitado; 1115 - 1118 - D. Teresa doa a civitatem Egitanie que está "a mmultis temporibus deserta", aos seus vassalos Gosendos para a deixarem, por morte, à Ordem do Hospital; 1133 - segundo um autor árabe, Idanha-a-Velha é arrasada pelo exército de Tashfin Bin Ali, como represália da sangrenta à ação militar comandada por D. Afonso II de Castela; 1140, década - a região da Beira interior é atingida por ataques vindos de Badajoz; 1165, 30 novembro - D. Afonso Henriques doa ao mestre D. Gualdim Pais e à Ordem do Templo a terra de Idanha[-a-Velha] e Monsanto, limitada pelos rios Elga, Tejo e Zêzere, com a condição da milícia servir ao monarca e ao seu filho; D. Gualdim Pais fica autorizado a dividir a terra doada e a dar-lhe foro, criando regras estáveis; talvez devido à instabilidade da região, e à falta de forças para dominar tão vasto território, os Templários não povoam Egitânia, que é abandonada, acabando por voltar à coroa; 1169, 30 novembro - D. Afonso Henriques doa Idanha-a-Velha e Monsanto à Ordem do Templo com a condição da mesma servir a si e ao seu filho; 1171 - data da lápide existente no Convento de Cristo onde se refere que o mestre Gualdim edificou o castelo de Pombal e o de Tomar, Ozêzere, o de Almourol, Idanha e Monsanto; 1190 - 1191- duas invasões almóadas atingem a região do Tejo; 1194 - D. Sancho I dá início ao seu povoamento, intitulando-a de cidade "civitas"; 1197, 23 janeiro - D. Sancho I confirma a doação feita por seu pai da cidade de Idanha à Ordem do Templo, em atenção aos bons serviços prestados e à cedência, durante a sua vida, dos castelos de Mogadouro e de Penas Róias, sendo mestre D. Lopo Fernandes, declarando que já seu pai a dera outrora aos freires para a povoarem; a delimitação de Idanha-a-Velha deixa de atingir o rio Zêzere, pois diz-se que está "situada entre a Covilhã e Monte Santo e o rio chamado Tejo e a Serra de Veleza" (Ucreza?) e a concessão abrangia os "seus termos e limites novos e antigos"; posteriormente sucedem-se devastações na região; 1199 - após a fundação da cidade da Guarda, D. Sancho I obtém licença de Inocêncio III para transferir para esta cidade a sede da diocese egitaniense, com a condição de conservar o antigo e venerado título de egitaniense, o que contribui para a estagnação e declínio de Idanha-a-Velha; 1206, 23 janeiro - D. Sancho I confirma a doação de Idanha-a-Velha ao mestre D. Fernando Dias e a todos os frades da Ordem do Templo, feita por seu pai e, simultaneamente, para remissão dos pecados e pelos bons serviços recebidos da Ordem, doa também à mesma a vila de Egitânia a Nova, ou seja, Idanha-a-Nova a quem chama villa; com a fundação de Idanha-a-Nova, os habitantes de Idanha-a-Velha preferem recolher-se naquela povoação; nesta data os Templários tomam posse efetiva de Idanha-a-Velha; durante o reinado de D. Afonso II, Idanha-a-Velha é novamente arrebatada pelos mouros; 1218, abril - Afonso II confirma, pela quarta vez, à Ordem do Templo, na pessoa do seu mestre D. Pedro Alvites e irmãos da milícia, em honra a Deus e para remissão dos seus pecados, a doação das vilas chamadas Egitânia, a saber a Velha e a Nova, com seus termos novos e velhos, conforme seu pai lhes havia doado "(...) Ego (...) Portugaliae Rx (...) concedo et confirmo vobis (...) illas supradictas villas que vocantur Egitanies Vetus et Nova (...)"; os limites geográficos das duas vilas passam a ser o rio Erges, até onde entra no rio Tejo, a Covilhã e Monsanto; é comendador Frei Fernando Martins; é comendador frei Fernando Martins, povoador de Proença; 1229, 07 janeiro - visto os Templários não conseguirem defender e povoar Idanha-a-Velha, devido aos constantes ataques do mouros, D. Sancho II doa a "civitas egitaniensis" ao seu chanceler e deão da Sé de Lisboa, mestre Vicente, bispo eleito da Guarda, para a povoar e re-edificar; abril - verificando D. Sancho II que a cidade de Egitânia continua deserta devido aos inimigos da fé, decide outorgar diretamente aos habitantes de Idanha-a-Velha carta de foral, segundo o modelo de Ávila / Évora, criando um concelho, com privilégios e isenções; apesar disso, Idanha-a-Velha continuará a ter bastantes problemas a nível de povoamento, devido à ameaça dos mouros, pelo sul do Tejo; 1240, 10 março - vendo que a povoação está "de foco mortuo" ou despovoada, D. Sancho II notifica os oficiais da Câmara, concelho e proprietários que ali tinham bens, a irem, até ao último dia de maio seguinte, a fim de povoarem a sua vila, cultivarem todas as herdades e tomarem conta desses bens, sob pena de os perderem; em contrapartida, quem ali permanecesse três anos, ficava dono das propriedades que cultivasse; esta intimidação acaba por também não surtir efeito; 1244, 16 dezembro - rei doa todos os direitos que tinha em Idanha-a-Velha e Salvaterra ao mestre da Ordem do Templo, Martim Martins, seu irmão colaço; Idade Média - reparação da muralha na frente nascente, ainda que não seja possível datá-la com precisão, verificando-se a reconstrução num pequeno troço do paramento interior, utilizando os mesmos materiais originais; época provável da construção da escada de acesso á muralha; 1245 - provável conclusão da torre de menagem com colocação de inscrição no tímpano do portal, sendo comendador R. Pedro; 1248 - surge controvérsia entre o novo bispo de Guarda, D. Vasco, e a Ordem do Templo acerca da Sé Episcopal e dos rendimentos que a Igreja tinha em Idanha-a-Velha e noutras localidades vizinhas; 1250, abril - resolução do diferendo entre o bispo da Guarda e a Ordem, com uma composição em que se acorda que a Sé Episcopal ficaria para o bispo e respetivo cabido e os Templários construiriam outra igreja para a Ordem; são garantidos rendimentos ao bispado da Guarda em Idanha-a-Velha e também em Salvaterra, Segura, Zebreira, Idanha-a-Nova, Proença-a-Velha, Touro (?), Castelo Branco e Ródão; a Ordem acaba por não construir a igreja "por que se mudou a See Cathedral desta cidade para a da Guarda (...). Polla qual rezão nom foy necessário fazer a Ordem outra egreja, porque a mesma egreja catedral ficou com a Ordem (...)"; 1297, 12 setembro - assinatura do tratado de Alcanices, entre D. Dinis e D. Fernando IV, rei de Leão e Castela, onde são definidas as fronteiras terrestres entre os dois reinos, a partir do qual Idanha-a-Velha perde interesse estratégico; séc. 14 - época provável da abertura da porta térrea da torre e do balcão superior; 1307, 12 agosto - o papa Clemente V, pela bula "Regnans in ecclesis triumphans", dirigida a D. Dinis, convida o rei a acompanhar os prelados de Portugal ao Concílio de Viena, onde se procuraria determinar o que fazer da Ordem do Templo e dos seus bens, por causa dos erros e excessos que os seus cavaleiros e comendadores haviam cometido; pouco depois, pelas letras "Deus ultiorum dominus", dirigidas ao arcebispo de Braga e bispo do Porto, nomeia-os como administradores dos bens templários em Portugal; D. Dinis empreende uma série de medidas, internas e externas, para evitar que os bens dos Templários em Portugal integrassem o património da Ordem do Hospital; assim, ordena que seja tirada inquirição sobre o património da Ordem e exige a apresentação de documentos da posse de algumas terras, nomeadamente as de Idanha-a-Velha e Salvaterra do Extremo e respetivos termos; os Templários defendem-se dizendo que tal procedimento nunca fora necessário, mas o rei impõe um prazo de nove meses para cumprirem a determinação, acabando a Ordem por não conseguir demonstrar a posse das terras; 1310, 07 janeiro - D. Dinis intimida os proprietários para que estes povoem e ocupem Idanha, sob pena de perderem tudo quanto aí possuem; 19 janeiro - sentença judicial a favor do rei pela qual voltam para a coroa as vilas de Idanha-a-Velha e Salvaterra do Extremo e "porque achamos outrosi pera emquiriçom que o Rosmaninham e Segura e Proença eram termos das ditas vilas", fica determinado que também essas povoações pertencem ao rei; 1312, 22 março - extinção da Ordem do Tempo, pela bula "Vox clamantis"; 02 maio - bula "Ad Provirem" concede aos soberanos a posse interina dos bens da Ordem do Templo, até o conselho decidir o que fazer com eles; 1318 - D. Dinis faz doação ao primeiro mestre da Ordem de Cristo, Frei Gil Martins, "(...) na Beyra, Eydanha a Velha e Eydanha a Nova e Segura e Salvaterra e Porença e o Rosmarinha"; quanto a Idanha-a-Nova refere tê-la povoado "quam ego populavi (...)"; 1319, 14 março - bula "Ad ea ex quibus" de João XXII institui a Ordem de Cavalaria de Jesus Cristo, ou a Ordem de Cristo, para quem passam todos os bens e pertenças da Ordem do Templo: "outorgamos e doamos e ajuntamos e encorporamos e anexamos para todo o sempre, à dita Ordem de Jesus Cristo (...), Castelo Branco, Longroiva, Tomar, Almourol e todos os outros castelos, fortalezas e todos os outros bens, móveis e de raiz"; 24 julho - o rei reconhece que os lugares disputados não eram da Coroa, afirmando que "quero que se tornem à ditta Ordem", "corrigindo" e "emendando" assim o que "non devia" ter acontecido como provam as "cartas das doaçoens dos Reyes Dante mim"; 20 novembro - documento do primeiro mestre da Ordem de Cristo, Frei Gil Martins regista as doações feitas por D. Dinis nas quais se inclui, na região da Beira, Idanha-a-Velha, Idanha-a-Nova, Segura, Salvaterra, Proença e Rosmaninhal, "as quaes vilas e logares el avia vençudos per sentença da ordem que foy do Templo e que tragia a ssa mão e a saa posse"; 1321, 11 junho - divisão em 38 comendas da Ordem de Cristo dos antigos bens pertencentes aos Templários, sendo a de Nossa Senhora da Conceição de Idanha-a-Velha uma delas; 1326, 16 agosto - quando o novo mestre da Ordem de Cristo, D. João Lourenço, faz novo regulamento, o comendador de Proença devia partilhar 100 libras do seu rendimento com o comendador de Idanha-a-Velha; determina também que aqui houvesse um comendador cavaleiro que, na época, é frei D. João Tello de Menezes; a comenda é avaliada em 140$000; séc. 15 - Infanta D. Beatriz, irmã de D. Afonso V, requer que a vila seja couto de homiziados, o que não ocorre de imediato; 1477, 08 agosto - carta régia de D. Afonso V cria couto de homiziados em Idanha, referindo ser a pedido de D. Beatriz, sua irmã, com os mesmos privilégios que tinham sido concedidos ao da vila de Marvão; 1478, 02 dezembro - D. João II, a pedido de D. Manuel, duque de Beja, concede privilégios aos habitantes, ficando os cavaleiros-vilãos dispensados de participar em ações militares (alardo) com os seus cavalos e armas ou com quaisquer quantias nas despesas de guerra; 1485, 22 março - D. Manuel, como duque de Beja e governador da Ordem de Cristo, concede novas regalias aos moradores de Idanha-a-Velha; 1487, 03 novembro - D. Manuel confirma a fundação do couto de homiziados apresentando carta a D. João II; 13 dezembro - carta do duque D. Manuel refere "(...) as terras sam todas da dita ordem", mas dá abertura para fazer doações como forma de incentivar o povoamento de Idanha; 1495, 10 fevereiro - dada a falta de povoamento de Idanha-a-Velha, D. Manuel, como governador da Ordem de Cristo, concede grandes liberdades e franquezas aos seus moradores; 1498, 06 março - carta de D. Manuel mostra que Idanha-a-Velha continua despovoada, apesar de todas as tentativas de a povoar; 1505 - visitação aos bens da comenda de Idanha-a-Velha, da Ordem de Cristo, por frei D. João Pereira e o bacharel Diogo do Rego, com o escrivão frei Francisco, não havendo comendador em virtude do anterior falecimento de frei Afonso de Mello e porque ainda não havia sido nomeado outro; 14 outubro - elaboração do Tombo dos bens da comenda onde se refere que a cidade é cercada de muro, que em partes começa a cair, e a torre forte, com divisões internas, então descoberta, desmadeirada e sem portas, tendo à volta cerca baixa tipo barbacã, "quasi toda derribada" *3; 1509, cerca - nos desenhos do castelo e vila de Monsanto, de Duarte de Armas, vê-se parte da fortificação de Idanha-a-Velha, com a torre de menagem retangular, com seteiras e circundada por pequeno muro, com alguma ruína; 1510 - D. Manuel concede foral para incentivar o povoamento; séc. 16, segundo quartel - por volta desta época o humanista espanhol Florián de Ocampo visita Idanha-a-Velha, e refere a existência de uma inscrição na porta do sol *4; 1537 - é comendador D. Henrique de Meneses, tendo a comenda o rendimento de 140$000; 1591 - é comendador Francisco de Melo, nomeado por D. Filipe I; 1624 - autorização de D. Filipe III para António de Mascarenhas armar minas nos muros de Idanha; 1636 - é comendador D. Vasco de Lencastre, tendo-lhe sido dado a comenda por cinco vidas; o rendimento da comenda ronda os 354$000; 1640 - na sequência da Guerra da Independência, Idanha-a-Velha integra a segunda linha de defesa; 1641 - nos capítulos às Cortes, os procuradores de Monsanto pedem a D. João IV que na cidade de Idanha-a-Velha "distancia de huma legua (que hoje não tem 30 vizinhos) e está toda murada com muros muito fortes e dentro da cercadura tem mais de 200 casas, e seria de muito proveito o povoar se mais pera defensão da fortaleza que está 3 léguas de Castella, e outrosi tem muitas terras de redor que se não cultivam por falta de gente e são muito aptas pera darem trigo em abundância e o termo hé largo e capaz pera sustentar muita. Será necessario que Vosa Magestade o faça Couto e lhe conceda largos privilégios pera haverem efeito as rezõis ditas e pera os homiziados deste Reino que andarem no de Castella se recolham a ella e a defendam e trabalhem nas terras e as cultivem, declarando-se que não havia outro, ao menos na Comarca pera melhor haverem lugar as rezõis ditas; e isto vivendo os tais acoutados com casas e família das cercas pera dentro"; o rei responde que "Por hora não há que defirir a este capítulo, como as cousas do reino estiverem mais assentadas se poderá tratar da povoação de Idanha"; 1708 - as muralhas estão em estado de ruína; 1755, 01 novembro - não padece ruina no terramoto; 1758, 27 maio - segundo o pároco Joaquim Martinho, nas Memórias Paroquiais, a freguesia pertence ao bispado da Guarda e comarca de Castelo Branco, é do rei como grão mestre da Ordem de Cristo, tem 20 fogos, 53 pessoas de sacramento e 17 de que o não são; a povoação "está dentro dos muros da cidade" e tem "(...) um suficiente castelo com uma grandiosa torre inteira por sua forte arquitetura, mas os recintos dela se vão demolindo" *5; 1762, cerca - segundo J. Batista de Castro, Idanha "quasi em península que forma o rio Ponsul: he sitio doentio, mas tem muros fortes"; 1798 - segundo o censo mandado efetuar pelo intendente Pina Manique, Idanha-a-Velha tem 25 fogos; 1806 - data da morte do comendador D. José de Assis Mascarenhas, passando a comenda de Idanha-a-Velha para a Fazenda Real; a comenda é arrendada a José Pereira de Carvalho, da cidade da Guarda, ano em que teve um rendimento de 707$260 e de despesa de 430$360, resultando no saldo positivo de 276$900; 1819 - é considerada um lugar, administrativamente sob a dependência da vizinha freguesia de Alcafozes; 1821, 10 maio - decreto determina que as comendas vagas ou que de futuro vagarem sejam arrendadas no lugar onde estiverem situadas, se ali houver juiz de fora, e caso não havendo, no lugar próximo que o tiver; 1825, 09 setembro - provisão de D. João VI determinando que a provedoria de Castelo Branco devia fazer o tombo de todos os bens e propriedades pertencentes à comenda de Idanha-a- Velha; 1829, 01 setembro - início da feitura do Tombo dos bens da comenda; 1837 - extinção das comendas, sendo os seus bens integrados nos Próprios Nacionais; posteriormente dá-se a apropriação individual das terras da comenda e muitos dos bens da Ordem são vendidos em praça pública à burguesia local; a herdade de Idanha-a-Velha agrega as novas terras a um anterior morgadio, que em 1835, é de João dos Reis Leitão Marrocos, então presidente da Câmara; 1884 - segundo Pinho Leal a povoação tem 50 fogos e está reduzida a insignificante aldeia; 1879 - extinção do concelho de Idanha-a-Velha, passando a freguesia do concelho de Idanha-a-Nova; séc. 20, início - grande destruição das muralhas devido à população aproveitar os seus materiais nas construções, e nas obras de regularização do rio, mesmo para obras em povoações vizinhas, como por exemplo, em Alcafozes ou em sítios rurais próximos, como Espadaneira; 1903, a partir - os estudiosos Félix Alves Pereira e Francisco Tavares Proença Júnior iniciam trabalhos de prospeção arqueológica em Idanha-a-Velha; 1909, 15 novembro - Francisco Tavares de Proença Júnior menciona que teve "ocasião de examinar as inscrições ultimamente extrahidas da muralha em via de destruição completa"; 1960, década - grandes escavações arqueológicas na povoação por Fernando de Almeida; descoberta da porta norte, completamente soterrada, e reconstrução parcial; Fernando de Almeida acreditando na existência de uma terceira porta na frente meridional da cidade, defendida pela torre, correspondendo à porta sul de acesso ao cardo mazimus, e tendo descoberto várias aduelas, restos de ombreira e restos da soleira, leva a que, com o arquiteto António Lino, proceda à reconstrução da porta; o projeto de recomposição é submetido à aprovação de Manuel Heleno, mas a sua execução é apenas parcial e com alterações significativas ao projeto; 1998, 12 fevereiro - cedência do imóvel ao Instituto Português do Património Arquitetónico.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria de granito; pequenas pedras de xisto para nivelar ou aprumar os silhares e em pequenas reparações; mais raramente, pedaços de tijolo, também para nivelar ou aprumar os silhares; passadiço metálico com guarda igualmente metálica; chapa de cobre nas estruturas tipo varanda construídas no local das antigas torres.

Bibliografia

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Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DREMCentro/DM

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID, DGEMN:DREMCentro/DM

Documentação Administrativa

DGPC: DGEMN:DSARH

Intervenção Realizada

1951 - Fernando de Almeida, em colaboração de Mendes Corrêa e Octávio da Veiga Ferreira, dá início às escavações junto às muralhas, com a identificação da porta sul; 1955 - trabalhos arqueológicos de Fernando de Almeida e Veiga Ferreira; sondagem arqueológica na torre de menagem; 1957 / 1958 - consolidação das muralhas; escavações junto às muralhas e torre de menagem; 1959 / 1960 / 1961 - escavações arqueológicas por Fernando de Almeida; demolição de construção adossada à torre de menagem; estudo e sondagem em toda a extensão da muralha; reconstrução da porta sul e reconstrução parcial da porta norte, possivelmente em duas fases: na primeira com a escavação e construção de um muro de suporte de terras da parte interna e, na segunda com a reposição do segundo e terceiro arcos do corredor; 1963 - reconstrução de troço de muralha romana; 1973 - limpeza e consolidação das ruínas arqueológicas sob a direção de Fernando de Almeida; IPPAR (Departamento de Arqueologia) e Câmara Municipal de Idanha-a-Nova: 1983 - limpeza de vegetação e de entulhos no pano de muralha junto à Sé; DGEMN: 1986 - reconstrução de um velho muro que se tomou por um troço de muralha, e de um palheiro em ruína na Rua do Espírito Santo, n.º 36, onde são encontradas duas inscrições romanas; trabalhos acompanhados pelo arqueólogo Artur Corte Real; desmonte dos restos de uma casa adossada à porta norte e à sua torre lateral poente, completando o trabalho iniciado anos antes por Fernando de Almeida; IPPAR: 1988 - acompanhamento arqueológico por Maria Madalena Costa Cabral Santos e Rogério Pires de Carvalho, durante as obras de saneamento básico; 1989 / 1990 / 1991 - limpeza geral do terreno fronteiro à porta norte, sondagem arqueológica e posterior desobstrução completa, por Artur Manuel de Castro Côrte-Real; 1995 / 1996 / 1997 / 1998 / 1999 - intervenções arqueológicas em diversos pontos da muralha por José Luis Gil Cristóvão; 1997 - intervenção geral nas muralhas com criação de um passadiço de visita no coroamento da muralha na zona da porta norte, marcando as antigas torres com estrutura avançada, tipo varanda, com projeto do arquiteto Alexandre Costa e Sérgio Fernandez.

Observações

*1 - Nas Memórias Paroquiais de 1758, estas estruturas são descritas do seguinte modo: "Seus prymeiros muros lhes fes El Rey Ervigio, de que só existem dous pedaços na margem do rio Ponsul eram largos feytos de pissarra e furtissima argamasça". Segundo José Cristóvão, estas estruturas podem corresponder às ruínas do aqueduto que alimentava as termas, localizadas na proximidade, mas, em data posterior, Maria Pilar Reis supõe corresponderá a um ramal que transportava a água, proveniente de uma nascente situada a norte, até às termas. *2 - As irregularidades do terreno condicionam a disposição das fiadas, que, por vezes, não são completamente horizontais, e, outras vezes, há desencontro de fiadas, e, nesses casos, o bloco de encontro é entalhado, num ou mais cantos, de forma retangular ou quadrangular, para articulação com os silhares vizinhos. Há também a utilização de blocos de menor altura para compensar o desencontro de fiadas. *3 - Segundo o Tombo dos bens da comenda de Idanha-a-Velha, "tem ha hordem huua çidade antijgua que se chama ha idanha ha uelha çercada de muro em roda que jaa per partes começa de cahir. e nella huua egreja que ajnda se chama see (...) E na dicta çidade que contra ho sul tem huua torre de canto laurado e forte com repartimentos dentro. ha qual ora estaa descuberta e desmadeirada e sem portas. e sohia seer apousentamento do comendador desta comenda. d arredor tem huua çerca baixa como barbacãa de pedra e barro quasi toda derribada". *4 - Esta referência à porta do sol por Florián de Ocampo, levou Fernando de Almeida a sugerir a existência de uma porta na frente oriental da muralha, denominada porta ou portas do sol. Corresponderia à entrada nascente para o decumanus, defendendo a continuidade de um traçado urbano ortogonal do Alto Império na Antiguidade Tardia. Contudo, as escavações arqueológicas feitas por José Luís Gil Cristóvão, o acompanhamento de algumas obras e a observação das habitações contíguas, mostram que a muralha naquele ponto era contínua. Também as escavações realizadas no Cimo da Calçada, em 2000, não foram conclusivas, não se tendo recolhido nenhum indício da existência da porta. *5 - O pároco Joaquim Martinho, nas Memórias Paroquiais, refere ainda que a povoação está situada em campina cercada por todas as partes da serra, da qual só se descobre o castelo de Monsanto, e as suas capelas estão "todas fora dos muros". Os "(...) seus primeiros muros lhe fez El Rei Ervigio, de que só existem dois pedaços na margem do rio Ponsul; eram largos feitos de piçarra e fortíssima argamassada, os que tem ao presente são feitos pelos templários com muita largura, altura e fortaleza, todos de cantaria, de cantaria dos palacios que demoliram, cheios de antiquíssimas inscrições que dariam muita luz a Historia do reino. Seu âmbito sera capaz de trezentos moradores por que os templários como gente estranha, desfizeram uma cidade para fazer uma fortaleza". *6 - As escavações realizadas no recreio da escola primária, na frente norte, puseram a descoberto restos da primitiva muralha romana, com um traçado ligeiramente mais avançado e, pela disposição da fundação, talvez aí existisse uma outra torre, elevando o seu número para 14. Aplicando o módulo de 35 m de distância média entre as torres, José Luís Cristóvão considera que, o seu número pode chegar seguramente a 18 (CRISTÓVÃO: 2002, p. 29).

Autor e Data

Paula Noé 2016

Actualização

 
 
 
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