Nascido em Lisboa, a 22 de março de 1924, João de Barros e Vasconcelos Esteves viria a frequentar o curso superior de Arquitetura na Escola de Belas Artes de Lisboa, obtendo o diploma de arquiteto no concurso de 1952, com média final de 17 valores.
Em 1952, o recém-formado arquiteto é contratado pela Comissão das Construções Hospitalares (CCH) do Ministério das Obras Públicas (MOP), para a qual projeta, até 1959, os hospitais sub-regionais de Torre de Moncorvo, Sernancelhe e Penela da Beira, a remodelação e ampliação do Hospital de São Marcos, em Braga (novo pavilhão de internamento, bloco operatório, lavandaria e central térmica, 1954-1959) e a remodelação do Hospital de Santa Marta, em Lisboa (serviços de Medicina Torácica). Para a mesma comissão, mas já como profissional liberal, desenvolverá, mais tarde, os projetos do Hospital Regional de Portalegre (hoje Hospital Doutor José Maria Grande) e das respetivas instalações complementares (pavilhões do Hospital de Dia e Psiquiatria, Pessoal, Anatomia Patológica e portaria), entre 1965 e 1974 (remodelado, também com projeto seu em 1994), consolidando uma especialização crescente na arquitetura para os programas hospitalares e assistenciais.
Para a Direção-Geral das Construções Hospitalares (DGCH), organismo sucessor da CCH no MOP, realiza a Escola e Lar de Enfermagem de Portalegre (1969-1972) e o projeto geral do Hospital Regional da Horta (1975-1981. A sua experiência neste domínio prolonga-se nos projetos de ampliação da Escola de Enfermagem de São Vicente de Paulo, em Lisboa (1973-1976), do Centro de Saúde das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, em Fátima (1974-1985), e da Creche e Jardim de Infância da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental, na R. Carlos Mayer n.º 4, em Lisboa (1975).
O ano de 1953 marca o início da relação profissional com os arquitetos Manuel Laginha e Pedro Cid, que se fortalecerá no estabelecimento de um forte vínculo de amizade entre famílias e na partilha de um ateliê comum. Este é também o ano de arranque do grande projeto do conjunto de blocos de habitação na Av. dos Estados Unidos da América, para a Câmara Municipal de Lisboa, desenvolvido com aqueles arquitetos, realizado até 1961 e merecedor do Prémio Municipal de Arquitetura de 1957. Por encomenda da mesma câmara, dirige a partir de 1958 os estudos de reajustamento, loteamento, ajardinamento e projeto de arquitetura dos blocos de habitação na Célula A do novo bairro dos Olivais (Norte), conhecidos como "Tipo Y" e concretizados em 22 unidades ao longo da R. Alferes Barrilaro Ruas, até 1960. Nestes projetos de habitação em grande escala, Vasconcelos Esteves concretiza a experiência teórica desenvolvida, ainda enquanto tirocinante, nos concursos públicos de projetos para bairros económicos, promovidos pela Federação das Caixas de Previdência, nos quais obtivera, em equipa com os arquitetos Pedro Cid e Celestino de Castro, o 3.º prémio, em 1951 e o 1.º prémio, em 1952.
Respondendo a outro programa essencial da prática arquitetónica sua contemporânea, Vasconcelos Esteves vence em 1955, em equipa com o arquiteto Eduardo Hilário e o tirocinante Luís Alçada Baptista, o concurso para o anteprojeto de uma Escola Técnica Elementar a erguer no Porto, promovido pela Junta das Construções para o Ensino Técnico e Secundário do MOP, com a então batizada Escola Clara de Resende, concluída em 1959. Três anos depois, por encomenda da Câmara Municipal de Santarém, o arquiteto desenha a Escola Primária de Salvador, no centro da cidade, pronta a funcionar em 1967. No ateliê que partilha com Manuel Laginha e Pedro Cid assina diversos projetos para habitação multifamiliar de rendimento, de promoção privada. São deste período os projetos de urbanização, edifícios e equipamentos da Quinta da Várzea e do Outeiro, em Palhais, Barreiro (1959-1961, com Pedro Cid), e do conjunto urbano da Rebelva, Carcavelos (1960-1970); bem como inúmeros prédios situados nas “Avenidas Novas" estruturantes e referenciais no tecido urbano da cidade. Ainda no contexto da cidade, mas para o setor dos serviços, é responsável pelos projetos do Hotel D. Carlos na Av. Duque de Loulé n.º 121 (1961-1968), da torre de escritórios e instalações dos CTT, na Av. da República n.º 18 (1970-1975), da sede da Associação dos Empreiteiros e Construtores de Obras Públicas do Sul, na Av. João Crisóstomo n.ºs 51-53 (1980) e da agência do Banco Nacional Ultramarino, em Campo de Ourique. Para esta instituição bancária projeta também as delegações de Faro, Chaves e Almodôvar. O trabalho conjunto de Vasconcelos esteves com Laginha e Cid é igualmente marcado por um número significativo de importantes projetos não realizados, de entre os quais se destacam: o Hotel da Praia Nova (1961-1967) e o Balneário para a Fonte Santa (1962-1965), ambos em Quarteira;os conjuntos urbanos da Quinta da Granja de Cima, em Lisboa (com Pedro Cid e Fernando Torres) e da zona a sul da Av. Nuno Álvares, em Almada (1961)); o Plano de Pormenor da área de Santa Isabel, em Lisboa (com Fausto Simões); os prédios na R. Miguel Pais e na R. Conselheiro Serra e Moura no Barreiro (1962-1968); o Centro Turístico da Guia, Cascais (1963-1973, com Manuel Laginha); o Hotel de 2.ª Classe em Armação de Pêra (1964-1967); e o Conjunto Turístico em Alporchinhos, Lagoa (1965-1976, com Laginha e Fausto Simões).
Em maio de 1959, inicia uma colaboração duradoura com a Sociedade Nacional de Estudos e Financiamento de Empreendimentos Ultramarinos (SONEFE), como responsável pelo Gabinete de Arquitetura da empresa e, a partir de 1963, como consultor da mesma. Nestas funções, desenvolve projetos entre Lisboa, Angola e Moçambique, nomeadamente no âmbito do aproveitamento hidroelétrico do rio Cuanza em Cambambe, Angola — arranjo urbanístico do bairro residencial e das instalações industriais (1960), centro social provisório (1961), edifício do posto de comando da central hidroelétrica (1962-1971), central subterrânea (com o gabinete técnico da Companhia Hidroelétrica do Zêzere), capela e escola primária (1962), cineteatro ao ar livre, posto hospitalar, cooperativa e casa de pessoal (1969), centro social definitivo, escola e conjunto de habitação para trabalhadores (1973). Ainda para Angola projeta a subestação elétrica de Lobito (1959) e o edifício de comando da subestação de Luanda II (1961-1963), ao mesmo tempo que desenvolve, na atual Maputo, Moçambique, os projetos da subestação elétrica (1959), da Central Térmica II (1963-1966, com o arquiteto Manuel Crespo e o gabinete técnico da MAGUE) e do arranjo urbanístico do bairro residencial e das instalações industriais da SONEFE. A especialização atingida no programa das grandes infraestruturas hidroelétricas justifica ainda a consultadoria técnica prestada, entre 1966 e 1973, à Companhia Hidroelétrica do Zêzere para o projeto do aproveitamento do rio Tejo no Fratel, Vila Velha de Ródão (1974). No setor da indústria pesada, participa na equipa de coordenação do projeto de ampliação das instalações da Siderurgia Nacional, no Seixal (1982-1983), não concluído.
Entre 1967-1975, Vasconcelos Esteves experimenta a atividade docente universitária, num primeiro momento (até 1971) como assistente dos cursos superiores de Arquitetura, Pintura e Escultura da ESBAL, num segundo momento como regente do curso superior de Arquitetura da mesma escola (1971-1975). Neste ano regressa à DGCH para dirigir as equipas de projeto então ali criadas, servindo a instituição até 1981, ano em que entra em licença ilimitada.
Enquanto profissional liberal, elabora numerosas propostas para moradias disseminadas por todo o país (Quinta do Lago, Coruche, São Martinho do Porto, Santarém, Atalaia, Amora, Azeitão, Luz de Lagos, Cruz Quebrada, Magoito, Sintra e Mafra) e para empreendimentos residenciais turísticos (Sesimbra, Porto de Mós e Praia das Maçãs).
O percurso do arquiteto no serviço público é retomado em 1986 quando é nomeado, após convite do presidente da Câmara Municipal de Lisboa, coordenador do Gabinete Técnico Local de Alfama para o processo de reabilitação urbana daquele bairro e, a partir de 1990, diretor do Departamento de Reabilitação Urbana da Colina do Castelo (que englobou os gabinetes técnicos locais de Alfama e Mouraria e o Grupo de Trabalho da Colina do Castelo).
Nota sobre o arquivo pessoal e espólio do arquiteto Vasconcelos Esteves:
O trabalho de pré-inventariação já realizado permitiu identificar, de imediato, documentação referente a alguns projetos e obras para entidades públicas assim como para clientes privados, destacando-se empreendimentos como: Hospital Distrital da Horta, Direção-Geral das Construções Hospitalares, 1979; Olivais-Célula A: blocos de habitação-projeto, Câmara Municipal de Lisboa/Gabinete de Estudos de Urbanização, 1960; Projecto do Hospital Regional de Portalegre: hospital de dia e psiquiatria, Comissão das Construções Hospitalares, 1966-1971; Escola de Enfermagem de Portalegre, Ministério da Habitação e Obras Públicas/Direção-Geral das Construções Hospitalares, 1973; Remodelação parcial do Hospital Distrital de Portalegre para instalação de uma nova unidade Cirúrgica Ambulatória e um serviço de Medicina Física e Reabilitação, Direção-Geral das Construções Hospitalares, 1995-1997; Projecto de prédios de habitação para a Av. Estados Unidos da América, 1955; Proposta para a elaboração dos projetos para quatro blocos de habitação na Av. dos Estados Unidos da América (troço Av. Rio de Janeiro-Av. do Aeroporto), 1958; Torre de escritórios e instalações dos CTT, Correios e Telecomunicações de Portugal, Av. da República, n.º 18 e Av. João Crisóstomo, GESTIM — Sociedade de Investimentos e Gestão, 1970-1975; Vários projetos para a empresa SONEFE S.A.R.L. em Angola e Moçambique, 1959-1973; Edifício de habitação no Gaveto da Av. Da República, nº 85 com a Rua Júlio Dinis, requerente Maria del Consuelo Mera Benito Garcia, 1965-1983; Casa Provincial dos Missionários da Consulata, Instalações na Quinta dos Serrões, Olivais Norte, requerente Casa Provincial dos Missionários da Consulata, 1985-1989; Projeto de remodelação de prédio de rendimento na Costa do Castelo, nº 45-47, Lisboa, RENTIFIX — Investimentos Industriais e Administração, SARL, 1973-1978; Projeto do Hotel Dom Carlos no n.º 121 da Av. Duque de Loulé e Estudo de ampliação do Hotel Dom Carlos na Av. Duque de Loulé n.ºs 127-172 na Rua Rodrigo Sampaio, Companhia de Investimentos Hoteleiros Dom Carlos, SARL, 1951-1968; Edifício na Avenida Elias Garcia, n.º 22, 1959-1967; Projeto de uma moradia a construir no Monte de Lemos na Freguesia da Luz, Algarve por Prof. Dr. Reinhhard Purschke / Prof. Manfred Korte, 1984-1987; Unidade hoteleira e aldeamento turístico, localizado na Praia das Maçãs, freguesia de Colares, Sintra, pertença de Consuelo Mera de Benito Garcia e José António Benito Garcia, 1981-1985; Projeto de uma moradia no local de Matos Gaviões, Atalaia, Algarve para Maria da Luz Ferreira Leitão, 1979-1991. O acervo pessoal do arquiteto contempla, ainda, a sua biblioteca, que é constituída por 305 monografias, 562 fascículos de publicações periódicas, 1.180 catálogos, 53 postais e 4 posters. Esta documentação cobre maioritariamente os domínios da Arquitetura, Urbanismo e do Design e foi editada em diversos países europeus.
Em 23 de janeiro de 2007, o arquiteto Vasconcelos Esteves assinou um contrato de comodato com a ex- Direção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, a partir do qual procedeu à entrega de um espólio vastíssimo, constituído dominantemente por desenhos e projetos na área da arquitetura e do espaço urbano, e por muitos outros documentos e fotografias de caráter profissional e biográfico.
O Sistema de Informação para o Património Arquitetónico (SIPA) integra informação relativa ao arquiteto João Vasconcelos Esteves, a qual poderá ser consultada neste site, em “Pesquisar o Inventário do Património Arquitetónico” / “Pesquisa Avançada” [Arq./Const./Autor: Vasconcelos Esteves].