Convento de Nossa Senhora da Graça / Convento de Clarissas do Torrão / Convento das Freiras

IPA.00010473
Portugal, Setúbal, Alcácer do Sal, Torrão
 
Arquitectura religiosa, manerista, barroca. Convento de freiras clarissas de grande escala, sobriedade construtiva e simplicidade de linhas compositivas, em pleno despojamento decorativo exterior, com empenas simples e fachadas de monumentalidade austera e fria, com um portal de igreja com leves indícios de repertório renascentista. Igreja de espaço unificado, com acentuação do altar-mor antecedido por degraus; nave rectangular coberta por abóbada de berço e vasto coro-alto, com pintura mural de arquitectura fingida enrolamentos de folhagem gorda característicamente barrocas.
Número IPA Antigo: PT041501040047
 
Registo visualizado 948 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Mosteiro feminino  

Descrição

Planta quadrangular, regular, composta pela igreja torre sineira adossada a O., claustro e portaria a S., dependências conventuais, porta do carro e cerca a O., sem coincidência exterior / interior; volumes escalonados, articulados em justaposição, com disposição predominantemente vertical. Cobertura diferenciada em telhados de duas águas sobre a igreja e porta do carro, em domo com pináculo central na torre, de uma água nas dependências conventuais. Igreja de planta rectangular composta por nave única, duas capelas laterais, coro, capela-mor e pequeno corredor que lhe corre paralelo a S.. Fachada principal a N. de 5 corpos, correspondentes à capela-mor, nave, torre sineira e dependências conventuais; remates rectos em cornija e beirado, o da nave com pináculos angulares; corpo da capela-mor reentrante a E., rasgado por duas janelas, a da direita moderna a da esquerda mais pequena e estreita rasgada em capialço; corpo da nave ligeiramente mais elevado que o da capela-mor, rasgado pela porta principal com acesso por plataforma elevada e dois degraus a O.; apresenta molduras de cantaria e verga recta sobreposta de entablamento marmóreo; sobre a porta rasga-se axialmente janela rectangular simples; à esquerda da porta rasga-se portão em chapa de ferro, a que se acede por três degraus que abre para a capela lateral do evangelho; superiormente no extremo O. deste corpo, janela rectangular disposta na horizontal; corpo da torre mais elevado, de planta quadrada, com porta de acesso de molduras rectas e olhais das sineiras, 2 por face, de volta perfeita, parcialmente resguardados por tijoleiras; corpos das dependências conventuais de diferentes alturas, o 1º, adossado à torre sineira, rasgado inferiormente por duas janelas quadradas gradeadas apresentando cada uma, sobre a verga, tabela rectangular esgrafitada; superiormente janelão vertical gradeados; corpo intermédio cego com remate em meia empena. Fachada E. correspondente à cabeceira da igreja e à portaria, o 1º de remate em empena e beiral saliente, rasgado superiormente por pequena fresta axial; o 2º rasgado por porta de acesso. Fachada O. correspondente às dependências conventuais, de corpo único rasgado superiormente por duas janelas rectangulares e no extremo N., desnivelada, vão gradeado; inferiormente porta com acesso por escadaria munida de corpo rasgado por arcada; adossado ao corpo conventual, sensivelmente mais baixo e disposto na transversal, o corpo rectangular da Porta do Carro com entradas confrontantes como exterior e a cerca, em arcada de perfil quebrado. Fachada S. irregular de vários corpos correspondentes às dependências conventuais, torre sineira e igreja, articulados com o claustro; este de planta rectangular, desenvolve-se em dois andares; quadra definida pelos vãos abertos entre pilares atarracados de modinatura toscana, formando galerias sobrepostas, sendo as do andar térreo cobertas por abóbadas de cruzaria quadripartida; neste piso as pilastras assentam em murete que delimita a quadra, com aberturas de passagem ao centro; os pilares dos cantos são de planta cruciforme e os restantes de planta quadrada; num dos muros em ruína que cerram as galerias, uma cruz com calvário em baixo relevo; na ala dos confessionários, a N., sobre o vão de um dos confessionários, vestígio de pintura mural, a sinopia, com motivo de enrolamentos vegetalistas; na quadra, junto à ala N., poço hexagonal. A O. a cerca delimitada a E. e N. respectivamente por várias dependências conventuais e pela Porta do Carro, a O. por muro e a S. por várias construções; na cerca a SE. nora e poço. INTERIOR: igreja com paredes e coberturas de alvenaria rebocada e caiada atingindo algumas a espessura de 1,70m; nave com cobertura em abóbada de canhão, comum também ao coro-alto, sobre sanca definindo dois registos nas paredes laterais; pavimento de lagedo de cantaria; no lado do evangelho rasga-se a porta principal sobreposta de janelão, ambos os vãos de molduras rectas rasgados na espessura do muro; junto ao arco triunfal, duas capelas laterais, afrontadas, com arco de volta perfeita sobre pilastras; ambas apresentam as paredes fundeiras rasgadas por portas simples, a da capela do lado do evangelho de acesso ao exterior e a da epístola de acesso à portaria e claustro. Coro profundo abrindo para a nave por arcada de perfil em asa de cesto, sobreposta de platibanda e parapeito recto; sub-coro com cobertura com cobertura em abóbada de canhão, de perfil em arco abatido, sobre sanca, apresentando vestígios de pinturas murais, encobertos por sucessivas caiações: são visíveis enrolamentos de folhagem, putti e aves, predominando os tons vermelho sinopia e amarelo ocre; no lado do evangelho, no coro-alto rasga-se porta e no sub-coro, janelão cuja verga atinge já o nível da abóbada; na parede fundeira do sub-coro, superiormente, ocupando toda a sua largura, pintura mural tripartida, unida por moldura de acantos a cor amarelo ocre; ao centro representa-se arquitectura fingida, com dois putti sobre peanhas segurando cortinado, amparando medalhão central circular, com molduras volutadas, enquadrando a custódia; esta composição, em tons de vermelho sinopia e amarelo ocre, é enquadrada por arco abatido sobre pilastras pintado a cor cinza; nos painéis laterais enrolamentos de folhagem gorda nos mesmos tons e azul celeste. Arco triunfal de volta perfeita assente em pilastras; do seu lado direito rasga-se porta simples com acesso por degrau elevado a pequeno corredor que corre paralelo à parede da epístola da capela-mor e com ela comunicante; este corredor apresenta cobertura em abóbada e pavimento de lagedo de cantaria. Capela-mor mais estreita e bastante elevada com acesso por 4 degraus; cobertura em abóbada de berço sobre sanca; na parede fundeira pequena janela axial, de capialço; nas paredes laterais vestígios de revestimento azulejar; do lado do Evangelho duas janelas, uma moderna e a outra, mais estreita; entre elas cenotáfio com lápide epigrafada, assente em mísulas; do lado da epístola, junto à parede fundeira, rasga-se vão de molduras rectas em cujo interior se abre angularmente janela, munida de caixilhos e portada de madeira, que abre para corredor que corre paralelo à capela-mor; à direita deste vão rasga-se porta de molduras rectas de acesso ao referido corredor. Portaria com cobertura em abóbada de canhão, de perfil abatido, sobre sanca; a E. rasga-se ao centro porta para o exterior e a N., janela angular aberta para o corredor que corre paralelo à capela-mor e que se rasga no mesmo alinhamento da janela rasgada no lado da epístola da capela-mor; a O. duas janelas e porta de comunicação com o claustro. Torre sineira com acesso por escada de lanços estreitos, diversificados, desenvolvendo-se em caracol; no topo é rasgada nas quatro bandas por par de janelas com guarda-corpo formado por peças vazadas. Dependências conventuais com vestígios de pinturas murais; destaca-se a cozinha (?) com lar, armários rasgados no pano murário para poial (?) e, exteriormente, o que aparenta ser o arranque de uma chaminé grande; no piso superior há uma única sala com tecto de três planos, onde sobressai um nicho com janela superior de iluminação.

Acessos

R. do Poço Mau, R. das Freiras

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, isolado, no perímetro de vila rural, com campos de cultivo ao redor, com a fachada principal frente ao Palácio dos Viscondes do Torrão (v. PT041501040046), e fachada lateral perto da Porta da Rua das Freiras, n.º 8 (v. PT041501040012).

Descrição Complementar

INSCRIÇÕES: 1. Inscrição gravada numa lápide rectangular, num campo epigráfico rebaixado enquadrado por moldura e cartela com volutas, apoiada num supdâneo sobre duas mísulas e encimada por uma arquitrave, onde foi gravada uma inscrição em latim, de lados concâvos e encimada por três frontões curvos, rematados por pináculos com esferas, o central maior e com cruz latina. Interstícios preenchidos com betume negro. Calcário rosa.

Utilização Inicial

Religiosa: mosteiro feminino

Utilização Actual

Armazenamento e logística: armazém / Devoluto

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido

Cronologia

1560 - Fundação de um recolhimento de beatas seculares no Torrão, consagrado a Santa Marta por uma D. Brites Pinto; 1599 - a infanta D. Maria, Senhora de Viseu e Torres Vedras, filha última do rei D. Manuel e de sua Mulher D. Leonor, transformou o recolhimento em Mosteiro de Freiras Franciscanas, Manteladas, dando-lhe rendas suficientes para seu sustento, tendo sido consagrado a Nossa Senhora da Graça; 1755 - a edificação sofre danos com o terramoto; 1769, 3 de Julho - assinalada uma escritura de aforamento que relaciona o convento com o dono da Herdade de Simão Vaz de Figueira dos Cavaleiros; também o património do convento constituído por 25 objectos de prata entra nesta data na posse do pároco José Pedro Semedo Dinis; 1834 - extinção das Ordens religiosas, com sequente declínio da edificação; data imprecisa - o convento é comprado em hasta pública por membro da família Mendonça; séc. 20 - a horta do convento é vendida ao Sr. Moreira; são arrancados os azulejos que revestiam parte das paredes da igreja, encontrando-se alguns na Quinta de Santa Marta em Benfica do Ribatejo, Almeirim; foi arrancado o brasão de armas em pedra que existia no topo do arco triunfal da igreja, estando hoje na posse da família Mendonça, de Évora; cobertura do lance de escadas de acesso ao portal da igreja, por uma plataforma de cimento que permitisse o carregamento e descarregamento das sacas de cereal, uma vez que a igreja foi transformada pelo proprietário em celeiro; a igreja foi transformada em sala de projecção de cinema; 1994 - o convento e parte da envolvente entra, por herança, na posse de Joaquim dos Santos Pinto, ficando a horta na posse do Sr. António Maria Farião; foi rasgada uma porta larga na fachada principal da igreja para facilitar a entrada e saída de mobiliário pois a igreja foi transformada em armazém de mobiliário; 1996 - pedido de licenciamento para uma unidade de "Turismo no Espaço Rural" entregue na Direcção Geral de Turismo.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes, estrutura mista

Materiais

Alvenaria: de pedra e cal, de pedra e tijolo, de tijolo; pedra: calcário, mármore, entulho; cerâmica: tijolo maciço, tijolo, tijoleira; vidro simples; metal: ferro fundido, cobre; madeira: vária; pintura mural.

Bibliografia

COSTA, Américo, Dicionário Chorografico, de Portugal Continental e Insular, v. XI, Porto, 1929; FAGULHA, Mário José Fava, TELO, Vera de Lurdes Lourinho Telo, Historial, Recolhas e Memórias da Freguesia de Torrão - (Alentejo), Alcácer do Sal, 2001; Torrão "in" Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, v. XXXII, Lisboa, s.d..

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID*1; Proprietário; Direcção Geral de Turismo

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IANTT; Arquivo Distrital de Évora

Intervenção Realizada

Proprietário: 2000 - arranjo do telhado e outros cuidados de conservação; 2007 - obras de conservação pontuais no claustro.

Observações

*1: A autoria da planta é do arquitecto Pedro da Cunha Paredes (Alcácer do Sal), autor ainda do Estudo-prévio / Memória descritiva, para reconversão do Convento em unidade hoteleira.

Autor e Data

Albertina Belo 2001 / Rosário Gordalina 2007

Actualização

Rosário Gordalina 2007
 
 
 
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