Convento de São Francisco / Convento do Espírito Santo

IPA.00012036
Portugal, Guarda, Gouveia, Gouveia
 
Arquitectura religiosa, maneirista. Convento franciscano masculino, da Via Observante, de planta rectangular simples, composto por igreja e zona conventual, no lado direito, a qual evolui em dois andares e desnvolver-se-ia em torno de um claustro. A igreja é de planta longitudinal, composta por nave, antecedida por galilé aberta, com cobertura em abóbada de aresta, e por capela-mor, possuindo, sobre aquela, um coro-alto pouco desenvolvido. Para a galilé, abrem o portal axial e, no lado direito, o acesso à antiga portaria, ambos de verga recta. A fachada principal remata em empena em cortina, truncada no vértice por cruz, sendo rasgada por duas janelas longilíneas, que centram um nicho, onde se inscreve a imagem do orago. A zona conventual é rasgada regularmente por vãos de verga recta, constituindo janelas de peitoril, algumas de varandim, formando as janelas regrais, e portas de acesso, a maioria de verga recta, surgindo algumas em arco de volta perfeita, que constituiriam o acesso às zonas mais nobres do espaço regral.
Número IPA Antigo: PT020906160072
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem de São Francisco - Franciscanos (Província de Portugal)

Descrição

Planta em L deitado, composta por parte do antigo convento e a igreja amputada pela zona do coro-alto, conformando um pátio na zona posterior, de volumes articulados e coberturas diferenciadas em telhados de duas águas. Fachadas em cantaria de granito aparente, em aparelho isódomo, ostentando vestígios de um antigo reboco, percorridas por embasamento, flanqueadas por cunhais apilastrados e rematadas em friso e cornija. No lado esquerdo, a Igreja com a fachada principal virada a NO., rematada por empena em cortina, truncada superiormente, onde se implanta um plinto paralelepipédico, que sustenta a base de uma urna; sobre os cunhais, alteados relativamente à cobertura da igreja, dois fogareús. Encontra-se dividida em dois registos por friso de cantaria, o inferior rasgado por arco de volta perfeita assente em pilastras toscanas, de acesso à galilé, encimado por dois amplos janelões em arco de volta perfeita, rematado por cornija, que centram um pequeno nicho com o mesmo perfil, assente em cornija, flanqueado por pilastras toscanas e rematadp por uma segunda cornija, de perfil contracurvo. No lado direito, uma das alas do antigo Convento, de dois pisos divididos por friso de cantaria, rasgado em cada um deles por dez janelas de peitoril com molduras de cantaria saliente e as superiores flanqueadas por mísulas do mesmo material, todas rectilíneas, excepto uma do primeiro piso, em arco de volta perfeita, surgindo quatro de maiores dimensões, correspondendo às janelas regrais, que iluminam os corredores internos. O muro ostenta, no lado direito, vestígios de ter possuído um elemento adossado ou dois vãos, entretanto entaipados. Fachada lateral esquerda virada a NE., composta por um arco de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, de acesso à galilé, rasgado por uma janela rectilínea, semelhantes às anteriormente descritas e que iluminava o corredor do coro-alto. Adossada, a torre sineira, com cobertura em coruchéu piramidal, possuindo uma esfera no topo, encontrando-se dividida em dois registos definidos por friso de cantaria, o inferior rasgado por pequenas janelas rectangulares, que iluminam as escadas de acesso às sineiras, estas em número de quatro, implantadas no segundo registo, em arco de volta perfeita, assentes em impostas salientes; a estrutura remata em friso e cornija, tendo nos ângulos plintos que sustentam pequenos pináculos em pinha. Fachada posterior tem, no maior braço do L, três portas no piso inferior, uma de verga recta e duas em arco de volta perfeita, surgindo, ainda, duas janelas rectilíneas, uma delas jacente; no piso superior, surgem seis janelas, três delas de varandim. O braço de menores dimensões e que conformava uma das alas do desaparecido claustro, tem porta de verga recta no piso inferior e uma janela jacente, surgindo, no superior, duas janelas de peitoril. Todas as janelas possuem caixilharias de guilhotina. Fronteiro à fachada, uma pequena casa, de dois pisos, o inferior marcado por janelas de verga recta e o superior por janelas de peitoril, tendo a fachada principal protegida por um alpendre fechado por um muro. A galilé tem abóbada de aresta, pavimento em lajeado de granito e as portas de acesso ao antigo templo e à antiga portaria, no lado direito, ambos de verga recta e com moldura simples, de cantaria. Sobre esta, é visível o coro-alto com falsa abóbada de aresta. INTERIOR não observado. No exterior, uma levada de água dá volta ao convento, passa junto ao portão e vai para a quinta, onde surgem várias vides e uma zona de mata, que corresponderia à da antiga cerca.

Acessos

A 200 m a SO. do centro de Gouveia, no caminho para Moimenta da Serra

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Rural, isolado e destacado, situado junto ao Ribeiro de Santa Guilha, com a zona conventual rodeada por ampla cerca parcialmente murada, a alvenaria insonsa, confinando, a NO., com a via pública que lhe passa nas imediações e que liga a Moimenta da Serra. Junto a esta, um amplo portão de acesso à actual Quinta, flanqueado por dois pilares em cantaria, de fustes almofadados, rematados por urnas, fechado por grade metálica, onde se inscreve a data de "1907", provavelmente a da sua execução. Encontra-se envolvido pro terrenos de cultivo e pequenas quintas de produção. À entrada do Convento, surge um terreno de terra batida, com ampla curvatura de acesso ao mesmo, onde se implantam dois bancos corridos acompanhando a sinuosidade.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Agrícola e florestal: quinta

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

ENTALHADORES: Manuel da Silva Gomes (1739), José da Fonseca Ribeiro (1749). IMAGINÁRIO: Manuel Tavares (1739). PEDREIROS: Domingos Lourenço dos Santos, João Lourenço, José Ribeiro e Lucas Bernardo Fontes (1752).

Cronologia

1125 - 1312 - instalação dos franciscanos em Gouveia; 1433 - passa da categoria de Oratório a Convento, por bula do Papa Eugénio IV; construção da cerca e horta, ficando fora da mesma um espaçoso prado, onde se realizava a feira; os Condes de Portalegre e Marqueses de Gouveia davam anualmente um moio de trigo e 12 dúzias de pescados; os Senhores de Povolide e de Castro Verde eram igualmente tributários; Mécia Vasques doou 2 chãos vizinhos; 1479, 25 Janeiro - sepultado na capela-mor D. Fernando de Eça, por ordem de sua filha, D. Catarina, abadessa do Lorvão; a sepultura encontrava-se no lado do Evangelho, num vão da parede, numa arca pequena de pedra branca, atravessada por cima por uma cruz em relevo floreteada *1; no mesmo local, encontravam-se sepultados D. Fernando, D. Garcia e D. João, filhos do anterior; 1515, 29 Maio - chegada das relíquias dos Mártires de Marrocos, ofertadas por D. Catarina, abadessa do Lorvão, que esteve presente no local; a abadessa ofereceu, ainda, 3 alcatifas, uma naveta com 2 castiçais de prata, ornamentos e vestimentas para o altar dos Santos Mártires e um cofre para guardar a paramentaria; ofereceu, ainda, um relógio, órgãos e 3$000 para se executar o coro; fez, ainda, parte da dádiva, olivais no Botão e algumas casas; 1484 - a mesma abadessa, doou moinhos na Ribeira de Gouveia; 1568 - passou de claustral a Observância (Fr. Apolinário da Conceição, 1740); séc. 16, final - o convento tinha 20 celas; séc. 17 / 18 - pedidos de autorização por particulares para utilizar a água da Ribeira da Cerca em períodos de seca, para rega de terrenos agrícolas; séc. 18 - descrição da Capela dos Santos Mártires, com tendo um sacrário contendo relicário "de prata, quasi em forma quadrada, dourado e guarnecido com vinte & hua pedras, todas com gravões de aljofar; e na face dianteira hua vidraça, pela qual se via bem a Reliquia"; 1739, 22 Dezembro - contrato com Manuel da Silva Gomes, de Quintela, Mangualde, para fazer a tribuna do altar-mor, segundo desenho efectuado por Manuel Tavares da Vila de Nogueira, dando-lhe mais três palmos de altura, por 182$400 réis, incluindo as madeiras; 1749, 6 Março - contrato com o entalhador José da Fonseca Ribeiro, de Pinhanços, para fazer os 4 altares laterais por 430$000; 1752, 4 Janeiro - construção do imóvel actual, sendo utilizada pedra proveniente no Monte de Moitas das Aldeias; a obra de pedraria ficou a cargo de José Ribeiro de São Tiago de Poiares, em Barcelos, Domingos Lourenço dos Santos, de Moimenta, Lucas Bernardo Fontes de Gouveia e João Lourenço, de São Tiago do Souto, em Caminha *2; 1772 - na Memória de Frei Manuel de Sá, surge referido que, na capela-mor, se encontrava uma sepultura com uma arca e "As portas, com que se fecha são três arcos sustentados em colunas"; na Capela dos Santos Mártires, 3 sepulturas rasas, talvez correspondentes às de Vasco Fernandes de Gouveia e Rui Vaz Melo, ambos sepultados na igreja em data desconhecida; 1776 - existência de 21 celas, com 16 religiosos moradores, 5 irmãos leigos e 3 donatos; 1779, 18 Novembro - instalação de aulas públicas de ler, escrever e contar; 1785 - tinha 21 celas, com 11 religiosos residentes, 3 coristas, 4 leigos e 3 donatos; 1789 - 18 celas com 11 religiosos residentes, 4 coristas, 10 leigos e 3 donatos; 1794, 25 Março - contrato com José António Ferreira, de Pinhanços, para fazer a capela-mor com pedraria, por 350$000; 1802 - os religiosos ministravam socorro espiritual ao Convento do Vinhó e do Couto; 1804 - o ocnvento tinha 16 religiosos residentes e 4 leigos; a cerca encontrava-se bastante arruinada, sendo necessárias obras; 1813 - o convento tinha 9 residentes, 5 leigos, 2 confessores do Convento do Couto e 2 do de Vinhó; 1820, 4 Abril - é referido que os franceses incendiaram a Igreja de São Julião, decidindo-se restaurar a igreja, com caiação, novo forro e portas, por 244$000; 1826 - o cura coadjutor da Igreja de São Pedro de Povolide era residente no Convento; 1827 - o convento tinha 8 residentes e 1 leigo; 1834 - extinção das ordens religiosas; 15 Agosto - no inventário do imóvel, consta que o convento tinha refeitório, cozinha, livraria, enfermaria com catorze cadeiras de madeira de castanho, e prédios rústicos; na torre tinha três sinos, um grande e duas sinetas; a livraria tinha 167 volumes encadernados, 135 com capas de pergaminho, 95 fragmentos de volumes e 21 pergaminhos; 19 Agosto - o Provedor do Concelho toma posse do Convento e respectivos bens; 21 Agosto - arrematação dos bens móveis que renderam 30$720; 1835, 20 Janeiro - avaliação da cerca do convento em 1:800$000 e a cerca do Quartel do Batalhão por 1:600$000; o convento foi avaliado em 1:600$000 pelos pedreiros locais José Rodrigues e Manuel da Fonseca; 9 Julho - a igreja encontrava-se demasiado longe da vila, pelo que se decide pela sua secularização; 1838, 30 Agosto - decide-se a transferência de um dos altares para a Igreja de São Julião e outro para local seguro não especificado; 1839, 2 Março - posto à venda, excepto um logradouro, incluindo as carvalhas e castanheiros que partiam com o caminho públivo; 12 Março - o convento e a igreja foram comprados por Bernardo Homem de Figueiredo por 2:000$200; 1841, 21 Novembro - notificação de que os sinos foram vendidos; 1842 - entraram na Casa da Moeda 3 cálices, 3 colheres, uma custódia, 3 patenas, 2 píxides e 2 resplendores; 1849, 22 Agosto - falecimento do proprietário, passando a um dos seus sobrinhos, José Homem Machado de Figueiredo Leitão.

Dados Técnicos

Estrutura de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria e alvenaria de granito aparente, argamassado e parcialmente rebocado; pilastras, cunhais, cornijas, urnas, imaginária, modinaturas, pavimentos, impostas, mísulas, em cantaria de granito; portas e caxilharias de madeira; janelas com vidro simples; cobertura em telha.

Bibliografia

FERREIRA, Tavares, Antologia Conventual - subsídios para uma monografia do Concelho de Gouveia, Separata da Revista Beira Alta, Viseu, 1952; AMARAL, Abílio Mendes do, Convento do Espírito Santo de Gouveia, Viseu, 1974; GUERRINHA, José, Conhecer Gouveia, Gouveia, 1983; MOTA, Eduardo, Corografia setecentista do concelho de Gouveia, Gouveia, 1992; Dicionário enciclopédico das freguesias, vol. 2, Matosinhos, 1998; ALVES, Alexandre, Artistas e Artífices nas Dioceses de Lamego e Viseu, 3 vols., Viseu, 2001; CD Portugal Século XXI - Guarda, Matosinhos, 2001.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

DGA/TT: Arquivo do Ministério das Finanças (conventos extintos, caixa 2218); BNP - Reservados: Cod. 149 e Cod. 628

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20, 2.ª metade - arranjo das coberturas e repralção de portas, caixilharias e vidraças; restauro do interior.

Observações

*1 - segundo Frei Manuel da Esperança, tinha um epitáfio, com o seguinte teor: "Aqui jaz D. Fernando d'Eça filho do Infante D. João neto d'El-Rei D. Pedro de Portugal, e da Infante D. Inês de Castro sua mulher; e bisneto d'El-Rei D. Afonso de Castela, o que venceu a batalha do Salado. Este D. Fernando foi pai de Catarina, abadessa do Lorvão, que o aqui mandou tresladar na Era do Nascimento de nosso Senhor Jesus Cristo de mil e quatrocentos e setenta e nove anos, aos XXV dias de Janeiro". *2 - eram obrigados a fazer as janelas e portal das celas, porta da Portaria para a cerca, dois arcos de entrada do alpendre da Portaria, 2 portais para a Portaria, duas janelas e nicho da fachada, torre com as frestas, quatro ventanas e pináculos, surgindo mais dois pináculos na fachada, cruz para a empena, remate da torre, relógio e escada de caracol.

Autor e Data

Paula Figueiredo 2008

Actualização

 
 
 
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