Igreja Paroquial de Algodres / Igreja de Santa Maria Maior

IPA.00001465
Portugal, Guarda, Fornos de Algodres, Algodres
 
Igreja paroquial de fundação românica, de que resta o portal, sucessivamente reconstruída nos séculos 17 e 18, que lhe alteraram a estrutura primitiva e os perfis dos vãos, surgindo os da capela-mor em capialço, revelando-se do séc. 17, e os da nave em arco abatido, setecentistas. É de planta retangular composta por nave, capela-mor mais estreita, com coberturas interiores diferenciadas em falsas abóbadas de berço de madeira, assentes em cornija, tendo sacristia adossada à fachada lateral direita, de volumes escalonados. O interior da nave é escassamente iluminado duas janelas de perfil em arco abatido setecentista, surgindo, na capela-mor, duas frestas confrontantes em capialço, de construção seiscentista. Fachada principal em empena com campanário de três ventanas a truncar o lado direito, sendo rasgado por portal em arco ligeiramente apontado, assente em colunas, o único vestígio da primitiva construção românica; apresenta-se duplamente moldurado, sendo a exterior constituída pelo prolongamento de dois colunelos finos, talvez resultado de uma transformação quinhentista. Distingue-se exteriormente, a existência de uma figura antropomórfica na fachada posterior, de carácter medieval, tradicionalmente denominado como "Algodres". Interior com coro-alto de madeira e púlpito quadrangular com acesso por escadas laterais, no lado do Evangelho. No lado do Evangelho, um retábulo de talha policromada, rococó, de planta recta e um eixo, rematado por frontão interrompido e por espaldar contracurvado, de inspiração borromínica. Arco triunfal de volta perfeita, flanqueado por retábulos colaterais de talha dourada e policromada de estrutura maneirista, seguindo os modelos arquitectónicos de Giacomo Vignola, de três eixos e tabela superior. Ostentam, no frontal, o reaproveitamento de azulejos hispano-mouriscos, de aresta, formando motivos fitomórficos. A cobertura da capela-mor apresenta-se em caixotões pintados com temática hagiográfica, setecentistas, apresentando, algumas figuras, características mais arcaizantes, talvez resultantes de cópia fiel de gravuras antigas. Retábulo-mor de talha dourada de estilo nacional, de planta recta, três eixos e ampla tribuna. Na sacristia, surge, sobre o arcaz, espaldar pintado com um Apostolado completo, de execução seiscentista, com nítido carácter ingénuo e popular, revelando, possivelmente, uma execução de artista local; estas possuem inscrições em latim, constituindo partes do "Credo", com sequência interrompida, revelando que a disposição original das imagens foi trocada.
Número IPA Antigo: PT020905010013
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Igreja paroquial  

Descrição

Planta retangular, composta por nave, capela-mor, mais estreita e ligeiramente mais baixa, e sacristia adossada ao lado direito, de volumes simples, escalonados, de disposição horizontalista, com coincidência entre o exterior e o interior e coberturas diferenciadas de duas águas, na nave e capela-mor, e de três na sacristia. Fachadas em cantaria de granito aparente, em aparelho isódomo, rematadas por cornija e beiral. Fachada principal virada a O., rasgada por portal em arco ligeiramente apontado, de duas arquivoltas, assentes em impostas salientes , a exterior, boleada, sobre pequeno colunelo e as interiores sobre coluna possante, de fuste liso; porta de madeira, de duas folhas almofadadas e com bandeira. A fachada remata a meia empena, sendo o lado esquerdo horizontalizado para assentar campanário triplo, de duas sineiras amplas e sobre as mesmas uma mais pequena, todas de vãos em arco de volta perfeita e com os respectivos sinos, sendo rematada em empena com cruz no vértice *1. Fachada lateral esquerda virada a N., marcada pela escadaria de dois lanços e com guarda metálica, de acesso ao coro-alto, por porta em arco abatido com moldura saliente, e ao campanário. A fachada é rasgada, na nave, por portal de verga recta moldurado e janela em arco abatido, surgindo, na capela-mor, janela em capialço rectangular; ambas as janelas são gradeadas. Fachada lateral direita virada a S., com janela em arco abatido moldurada no volume da nave, sendo a sacristia rasgada por porta dintelada na face E. e por pequena fresta na O.. Fachada posterior cega, em empena, onde surge uma figura esculpida, com enorme chapeirão, o denominado "Algodres". INTERIOR rebocado e pintado de branco, com cobertura em falsa abóbada de berço de madeira assente em cornija, na nave, e pavimento de madeira encerada. Coro-alto de madeira, assente em duas mísulas laterais do mesmo material e em dois colunelos finos de metal, tendo guarda torneada, dividida em duas secções por pequeno pilar; cobertura do sub-coro de madeira encerada e guarda-vento de madeira, possuindo porta central e duas laterais. O portal é ladeado por duas pias de água benta hemisféricas e, no lado da Epístola, surge um confessionário de madeira. No lado do Evangelho, porta de verga recta com moldura de granito acede ao baptistério, rasgado na base da escadaria de acesso à sineira, protegido por grade metálica; ainda desta lado, o púlpito quadrangular com bacia de granito e guarda de madeira torneada, com acesso por escadas do mesmo material no lado direito. No lado da Epístola, oratório de talha policromada com apontamentos dourados, dedicado a Nossa Senhora da Piedade. Arco triunfal de volta perfeita assente em impostas salientes, ladeado por retábulos colaterais de talha dourada, dedicados a Nossa Senhora do Rosário (Evangelho) e Sagrado Coração de Jesus (Epístola). Capela-mor com cobertura em falsa abóbada de berço de madeira, em caixotões pintados com temas hagiográficos, sendo divididos por molduras entalhadas, com florões nos ângulos e assenta em friso e cornija entalhada, com mísulas decoradas por acantos equidistantes. A parede testeira é preenchida por retábulo de talha dourada e policromada de vermelho, de planta recta e três eixos, divididos por quatro colunas torsas, decoradas com pâmpanos, tendo, no central, proeminente, grande tribuna com plinto onde surge a imagem do orago, com intradorso apainelado e pintado de azul com filete dourado; os eixos laterais possuem tábuas pintadas, envolvidas por acantos e com querubim na zona superior; as colunas evoluem em duas arquivoltas torsas, unidas no sentido do raio, com panos decorados por acantos, constituindo o ático. Na base da tribuna, enorme painel ostentando decoração fitomórfica; altar paralelepipédico, sobre o qual assenta sacrário em forma de templete, com profusa decoração de acantos dourados; no sotobanco, surgem duas portas de verga recta de acesso à tribuna. No lado da Epístola, porta de verga recta de acesso à sacristia com lavabo em cantaria e espaldar liso, onde consta a data "1673", encimado por pináculos e cruz latina sobre plinto curvo.

Acessos

Em Algodres, no centro da povoação

Protecção

Inexistente

Enquadramento

Urbano, no centro da povoação, confinando com a via pública e as fachadas lateral esquerda e posterior encontram-se viradas a pequeno largo, comum à Igreja da Misericórdia (v. PT020905010012), onde se implanta o Pelourinho (v. PT020905010001). Encontra-se rodeada por casas de habitação incaracterísticas. Junto à fachada lateral esquerda, surgem várias pedras antigas e vestígios de uma sepultura medieval.

Descrição Complementar

Oratório lateral dedicado a Nossa Senhora da Piedade é de talha policromada a imitar marmoreados rosa e com fundos bege e azuis, de planta recta e um eixo definido por nicho central de perfil rectilíneo, envolvido por moldura encurvada decorada com festões, ladeado por colunas de fuste liso e capitéis coríntios, assentes em consolas, e por pilastras lisas, com fuste decorado por elemento fitomórfico que pende do capitel; sobre a cornija, evolui o remate, em frontão interrompido com espaldar contracurvado sobrepujado por cornija e concha, tendo ao centro resplendor com querubins. Os retábulos colaterais são semelhantes, de talha dourada, planta recta e três eixos definidos por mísula centra, envolvida por moldura em arco de volta perfeita, encimada por pequeno frontão triangular, e duas telas laterais com molduras rectilíneas de carácter vegetalista; exteriormente, remata em duas colunas com o terço inferior decorado com acantos, o superior «por filetes fitomórficos verticalizados e por capitéis coríntios; sobre friso de acantos e cornija, tabela rectangular vertical com tela pintada e aletas recortadas, sendo rematado por frontão de lanços; o banco é decorado por friso de ramadas de acantos; altares paralelepipédicos, decorados com reaproveitamentos de azulejo de aresta com padrões geométricos, ladeados por pilares graníticos. A cobertura da capela-mor possui 28 caixotões, dispostos em sete fiadas de quatro painéis, a central virada para o retábulo-mor, e as restantes com disposição lateralizada; surgem, do lado do Evangelho para a Epístola: Santa Águeda, Santa Catarina, Santa Maria Madalena, São Filipe, São Mateus, São Matias, Santo André, São Tiago Maior, São Pedro, "Santa Ana a ensinar a Virgem a ler", Nossa Senhora da Conceição (?), Cristo Redentor, Virgem da Assunção, São Tiago Menor, São Tomás, São João Evangelista, São Paulo, Santa Inês, São Bartolomeu, São Tiago Menor, São Judas Tadeu, São Francisco, Santo António, São João Baptista e São Domingos. Na sacristia, sobre o arcaz, surge espaldar apainelado com as ilhargas e o fundo pintado, representando um apostolado completo e, ao centro, dois anjos com os símbolos do martírio de Cristo: da esquerda para a direita surgem - São Paulo, Santo André, São Mateus, São Tomás, São Filipe, São Bartolomeu, São Tiago Maior, São Tiago Menor, São João Evangelista, São Simão, São Matias, São Pedro.

Utilização Inicial

Religiosa: igreja paroquial

Utilização Actual

Religiosa: igreja paroquial

Propriedade

Privada: Igreja Católica (Diocese de Viseu)

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 12 (conjectural) / 17 / 18 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Desconhecido.

Cronologia

Séc. 12 - provável data de construção; 1320, 23 maio - bula do Papa João XXII concedendo a D. Dinis, por três anos, para subsídio de guerra contra os mouros, a décima de todas as rendas eclesiásticas do reino, sendo a Igreja de Santa Maria de Algodres taxada em 250 libras; integra o termo de Fornos de Algodres e o bispado de Viseu; séc. 16 - provável remodelação do portal axial; 1574 - a igreja pertence ao padroado real e integra o território da Diocese de Viseu; séc. 17 - obras de remodelação e ampliação do imóvel; 1606 - primeiro registo de óbito; 1607 - primeiros registos de baptismo e casamento; 1673 - data no lavabo da sacristia; 1674 - era vigararia de apresentação real; pertencia à Comenda de Cristo, rendendo 2000 cruzados, 500 almudes de vinho e 50 de azeite; 1682 - execução dos retábulos colaterais, dedicados a Nossa Senhora do Rosário e a Nossa Senhora da Piedade; existia a irmandade de São Pedro; 1703 - retábulo tinha tábuas, sem qualquer outro ornato; visitador ordena que se faça novo retábulo com colunas salomónicas; 1706 - é ordenado pelo visitador a demarcação do adro; 1708 - vigário recebia 40$000; 1712 - o Padre Carvalho da Costa refere que a freguesia tinha 132 vizinhos; 1715 - conclusão da feitura do retábulo e execução da imagem do orago; o primitivo foi colocado numa capela da povoação; 1732 - a côngrua do vigário era de 41$000 réis; pagava 800 réis anuais para o Seminário; 1744 - tecto de caixotões da igreja; abertura de uma fresta; 1750 - o vigário recebia, ainda, 85 alqueires de trigo, 10 de centeio, 20 almudes de vinho e um de azeite; existia uma Irmandade dos Clérigos Pobres de São Pedro; 1758, 19 Maio - nas Memórias Paroquiais, assinadas pelo vigário António Pires Pereira, é referido que a igreja pertencia à Casa do Infantado, tendo por orago Nossa Senhora da Assunção e tinha três altares, o mor, com a imagem do orago, ladeada por São Francisco Xavier e São Pedro; os colaterais eram dedicados a São Sebastião e Nossa Senhora do Rosário; tinha a Irmandade de São Pedro, que é de sacerdotes; o padre tinha 100$000 de rendimento; 1765 - visitador ordena que se construa o actual campanário na fachada principal, com três ventanas, para substituir o pequeno campanário na empena; provável data da edificação do oratório lateral; 1798 - côngrua aumentada para 71$000; participava com $800 para o Seminário; séc. 20 - obras de remodelação no interior; 2002 - substituição do pavimento cerâmico da nave por madeira, por ordem do IPPAR.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante.

Materiais

Granito na estrutura, modinaturas, colunas, sineira, escadas de acesso ao coro-alto, cruzes, bacia do púlpito, pavimento, lavabo da sacristia e pias de água benta; madeira nas portas, coberturas, a da capela-mor em talha dourada, nos retábulos, guarda do púlpito e respectivas escadas de acesso, guarda do coro-alto, guarda-vento, confessionários, pavimento da nave, encerado, arcaz da sacristia e cabeção dos sinos; metal nas colunas que suportam o coro-alto e guarda das escadas que acedem ao mesmo; bronze nos sinos; azulejo de aresta nos frontais do retábulos colaterais; vidro simples nas janelas; telha na cobertura.

Bibliografia

COSTA, P. António Carvalho da, Corografia Portugueza..., 2.ª ed., tomo II, Braga, 1868 [1.ª ed. de 1712]; MARQUES, Mons. Pinheiro, Terras de Algodres (Concelho de Fornos), Fornos de Algodres, 1938; Inventário Colectivo dos Registos Paroquiais, vol. I, Lisboa, 1993; SERRÃO, Joaquim Veríssimo - Livro das Igrejas e Capelas do Padroado dos Reis de Portugal - 1574. Paris: Fundação Calouste Gulbenkian Centro Cultural Português, 1971.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

DGARQ/TT: Dicionário Geográfico - Memórias Paroquiais (vol. 2, n.º 61, fl. 501)

Intervenção Realizada

PROPRIETÁRIO: séc. 20, 2.ª metade - restauro do imóvel, com limpeza das fachadas exteriores, sendo as juntas preenchidas a cimento; com remoção do reboco; restauro dos retábulos com o respectivo douramento; séc. 21 - rebocos e pinturas interiores; colocação de novas coberturas interiores e exteriores e de pavimento de madeira na nave; arranjo da zona envolvente.

Observações

*1 - existia um alpendre coberto de telha e, sobre a empena, pequeno campanário.

Autor e Data

Paula Figueiredo 2004

Actualização

 
 
 
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