Capela de São Frutuoso de Montélios / Capela de São Salvador de Montélios

IPA.00001903
Portugal, Braga, Braga, União das freguesias de Real, Dume e Semelhe
 
Capela funerária visigótica e moçárabe, de planta centralizada, em cruz grega, exteriormente rectilínea e interiomente com os braços N., S. e E. semicirculares, e braço O. e cruzeiro quadrangular. Fachadas animadas por arcadas cegas, em arcos de volta perfeita e arcos quebrados. Torre do cruzeiro com banda lombarda em arcos de ferradura alternados com arcos quebrados. No interior, os braços são delimitados por triplas arcadas em ferradura, que originalmente, se estenderiam e percorreriam os braços semicirculares. Coberturas em madeira com travejamento à vista, nos braços e cúpula semiesférica no cruzeiro. A primitiva edificação visigótica segue o modelo bizantino da cruz grega, com torre elevada sobre o cruzeiro, idêntico ao mausoléu de Gala Placídia, em Ravena. Segundo alguns autores, os braços de planta semicircular, triplas arcadas, em ferradura e a presença geometrizante das arcadas cegas e da banda lombarda, denotam a influência moçárabe. Utilização de frisos em calcário de Coimbra, contrastando com o granito, com decoração de rosetas de seis pontas, à semelhança do que acontece na Igreja de São Torcato (v. PT010308650017), em Guimarães *1. No interior a decoração dos capitéis das triplas arcadas é igual ao friso que remata as pilastras do cruzeiro.
Número IPA Antigo: PT010303370014
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta centralizada em cruz grega, exteriormente rectilínea e interiomente com os braços N., S. e E. semicirculares, e braço O. e cruzeiro quadrangular. Volumetria de dominante horizontal, quebrada pela elevação torriforme sobre o cruzeiro. Coberturas em telhados de duas águas nos braços e em quatro águas no cruzeiro. Fachadas em cantaria opus quadratum de granito, com embasamento escalonado, rematadas por cornija sob beiral, precedida por friso em calcário, com decoração de cordas, semicírculos, rosetas de seis pontas e flores de liz. As fachadas dos braços são animadas por arcadas cegas, alternadamente em arco de volta perfeita e arco angular, interrompidas por estreito friso calcário com corda. As fachadas da torre do cruzeiro são percorridas junto à cornija de remate por arcatura lombarda, usando alternadamente duplo arco em ferradura e arco angular, apresentando cada uma das faces pequena janela de iluminação, de duplo arco quebrado, sendo a janela virada a S., mainelada. Fachada principal orientada, adossada à fachada lateral da igreja, com acesso pelo interior da mesma, através de grande arco de volta perfeita, fechado por grade de ferro, com escadaria. Topos dos braços rematados por frontão triangular, apresentando o do braço S., ao centro, porta de verga recta e os dos restantes braços, pequena janela em arco de ferradura. Na face N., do braço E., abre-se arcossólio, onde estariam originalmente os restos mortais de São Frutuoso. INTERIOR com paredes em cantaria aparelhada, com os braços definidos por arcos de volta perfeita, assentes em largas pilastras percorridas superiormente por largo friso com decoração de acantos, com triplas arcadas em ferradura, sendo o arco central de maiores dimensões, assentes em colunas de fuste liso com capitel de decoração igual ao friso das pilastras. Os braços são percorridos a meio da parede por estreito friso de calcário. Cobertura dos braços em madeira, com o travejamento à vista, e do cruzeiro por cúpula semiesférica rebocada e pintada de branco, assente em pendentes que se unem às mísulas dos ângulos. Pavimento em laje de granito com sepulturas com inscrição e pedra de armas.

Acessos

Real, EN. 201, à saída de Braga em direcção a Ponte de Lima; Lugar da Igreja ou de Montélios

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto nº 33 587, DG, I Série, nº 63 de 27 março 1944 / ZEP, Portaria nº 624/2014, DR, 2.ª série, n.º 143 de 28 julho 2014

Enquadramento

Rural, adossada à fachada lateral E. da Igreja do Convento de São Francisco (v. PT010303370014), situada em plano mais elevado do que esta. O acesso principal é feito através do interior da igreja. Encontra-se rodeada por pequeno adro, fechado por muro gradeado, apenas com acesso através igreja e da capela. A E. situam-se as ruínas das antigas dependências conventuais e em plano mais baixo a Fonte de Santo António (v. PT010303370063). Na proximidade, a SE., calçada antiga, em lajeado de granito, e a O., a Quinta do Lago (v. PT010303370220) e a Escola Primária de Real (v. PT010303370209).

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Religiosa: capela

Utilização Actual

Cultural e recreativa: monumento

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

DRCNorte, Portaria n.º 829/2009, DR, 2.ª série, n.º 163 de 24 agosto 2009

Época Construção

Séc. 09 / 10 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

João de Moura Coutinho e Sousa Lobo (restauro da capela).

Cronologia

C. de 560 - Segundo a tradição, existia naquele local uma villa romana e provávelmente um templo dedicado ao Deus Esculápio; c. de 656 - São Frutuoso, Bispo de Bracara, funda naquele local o Mosteiro de São Salvador, mandando construir a capela, para seu túmulo; na descrição da vida de São Frutuoso, São Valerius menciona que o santo havia fundado um convento "ubi sanctum suum humatum est corpus"; 665 / 666 - morre São Frutuoso; séc. 9 / 10 - reconstrução e redecoração da capela; 883 - segundo documento datado deste ano, a igreja seria consagrada a São Salvador e teria sido construída entre os anos de 656 e 665; séc. 12 - após a Reconquista, com o renascer do ideal neogodo, começa o culto a São Frutuoso; 1102 - o Arcebispo de Santiago de Compostela, D. Diogo Gelmires, leva os restos mortais de São Frutuoso para Compostela; 1523 - o Arcebispo D. Diogo de Sousa funda um convento franciscano da Ordem dos Capuchos da Piedade, junto à Capela de São Frutuoso, destruindo provavelmente, o antigo Mosteiro de São Salvador; 1696 - segundo Frei Manuel de Monforte, na sua Crónica da Província da Piedade, a capela "he em Cruz para todas as partes igual; cujas pontas fazem quatro Capellas, que as paredes fecham em meyo circulo. Huma das Capellas, que podemos chamar o pé da Cruz, serve de entrada onde està a porta; outra que direitamente responde a esta, como cabeça das hastes da Cruz, serve de Capella principal, onde està o Altar mayor; nas outras duas, que ficam nos braços, estam os dous Altares collateraes; & tendo cada huma só dezasete palmos, & meyo de largo, neste tão pequeno espaço tem a Egreja vinte & quatro collunas: quatro naquella primeira entrada da porta, seis em cada Capella collateral, & oito na principal de todas..."; 1728 - por ordem do Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, dá-se início à reconstrução e remodelação da igreja do convento de São Francisco, sendo a Capela de São Frutuoso integrada na igreja e passando a ter acesso principal através do interior desta; é destruida a fachada principal, os baldaquinos internos e respectivas colunas, e são modificados os braços E. e N; 1897 - o Arquitecto Ernesto Korrodi projecta restabelecer a planta original da capela e publica uma pequena nota intítulada "Um Monumento Latino-Bizantino em Portugal"; 1931 - início dos trabalhos de restauro conduzidos por João de Moura Coutinho e Sousa Lobo orientado pela tese de que o monumento teria sido mandado construir por São Frutuoso para sua sepultura no séc. 6, segundo o modelo do mausoléu de Gala Placídia de Ravena; 2009, 20 abril - proposta de definição de Zona Especial de Proteção da DRCNorte; 2009, 15 junho - parecer favorável à definição de Zona Especial de Proteção do Conselho Consultivo do IGESPAR,I.P.; 2015, 28 setembro - Câmara Municipal de Braga aprova em reunião a cedência do convento e da capela anexa de São Frutuoso à Unidade de Arqueologia da Universidade do Minho, por meio de contrato de comodato, que fica encarregada da execução e concretização do projeto de recuperação do imóvel, bem como da criação de um espaço museológico aberto ao público; o projeto é da autoria da arquiteta Maria Manuela Oliveira.

Dados Técnicos

Estrutura mista.

Materiais

Estrutura e pavimento em cantaria de granito; frisos e capitéis em Pedra de Ançã; colunas de mármore; porta e estrutura da cobertura em madeira de castanho; cúpula em tijolo de burro; cobertura em telha de canudo.

Bibliografia

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de - «Arte moçárabe e da Reconquista». In História da Arte em Portugal. Lisboa: 1986, vol. 2, pp. 95 - 145; COUTINHO, João de Moura - São Fructuoso, Braga, 1978; FREITAS, Sandra - «Arqueologia da UM passa para convento». In Jornal de Notícias. 30 setembro 2015, p. 30; HAUSCHILD, Theodor - «Arte visigótica». In História da Arte em Portugal. Lisboa: 1986, vol. 1, pp. 149 - 169.

Documentação Gráfica

DGEMN:DSID, DGEMN:DREMN

Documentação Fotográfica

DGEMN:DSID, DGEMN:DREMN

Documentação Administrativa

DGEMN:DSID, DGEMN:DREMN

Intervenção Realizada

DGEMN: 1939 - Reconstrução da cúpula e coberturas; 1941 - assentamento da cobertura; 1958 - reparação da cobertura; reconstrução de paredes, porta e reboco da cúpula; arranjo do adro e diversas obras de conservação; 1961 - reparação do pavimento, consolidação do arco, reconstrução da escada, consolidação da abóbada; 1966 - obras de conservação; 1970 - reparação da cobertura e limpeza do telhados; 1973 - revisão de telhados, reparação, pinturas e arranjo da zona envolvente; 1984 - arranjo do telhado e pinturas; 1987 - trabalhos de conservação.

Observações

*1 - A redescoberta do aspecto geral do monumento que os trabalhos de restauro iniciados em 1931 possibilitaram, veio proporcionar estudos desenvolvidos sobre o edifício destacando-se duas teses principais. A visigotista, segundo a qual teria sido construido entre 656 e 665, ano da morte do santo, constituindo com São Pedro de Balsemão (v. PT011805210004), em Lamego, São Gião (v. PT031011010010), na Nazaré e Vera Cruz de Marmelar (v. PT040709080002), na Vidigueira, uma das quatro construções que subsistem em Portugal representativas da renovação da arquitectura no séc. 7 na Península Ibérica. Esta tese defendida entre outros por Theodor Hauschild, acentua a semelhança volumétrica exterior e a organização arquitectónica com o mausoléu de Gala Placídia, de meados do séc. 5, que, entre outras aproximações estilísticas, lhe garantiriam um nítido aspecto bizantino. Segundo a tese moçárabe, cuja formulação mais recente foi desenvolvida por Carlos Alberto Ferreira de Almeida, o monumento que chegou aos nossos dias bastante transformado, mostra um revivalismo classicizante na sua silhueta, mas parece ter sido construído nos finais do séc. 9 ou inícios do séc. 10, sob múltiplas influências: bizantino-siríacas, carolingias e sobretudo do período emiral árabe. Nessas influências se inscreveria a organização das absides arredondadas no plano interno inseridas num maciço exteriormente quadrangular, o sistema da arcada-grelha de triplice arco, as aberturas, geralmente geminadas, de duplo arquinho ultrapassado, uma das séries de capitéis coríntios, própria de colunas, de pilastras e de frisos, feita em calcário de Coimbra e a solução decorativa que anima pelo exterior as paredes da torre central.

Autor e Data

Isabel Sereno e Paulo Dordio 1994 / Joaquim Gonçalves 2004

Actualização

 
 
 
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