Edifício Pombalino na Rua dos Sapateiros, n.º 129 a 133

IPA.00025565
Portugal, Lisboa, Lisboa, Santa Maria Maior
 
Edifício residencial multifamiliar e comercial pombalino, integrado nos planos de reconstrução da zona da Baixa, de estrutura em gaiola, com estabelecimento comercial no piso térreo, cinco pisos de habitação e águas-furtadas, com caixa de escada encostada à empena lateral direita. Fachada principal seguindo o esquema de uniformidade e simplificação arquitectónica, devido à necessidade de construir rapidamente, rasgada por vãos rectilíneos e molduras simples a ritmo regular, os dos dois últimos pisos com guarda em ferro, contínua. Implantado numa rua secundária da Baixa, apresenta lote estreito, de pequenas dimensões, apenas com um fogo por piso, com três assoalhadas, uma das quais interior, as outras duas, intercomunicantes, dispostas ao longo da fachada principal, e com cozinha e instalações sanitárias, voltadas a saguão, nas traseiras.
Número IPA Antigo: PT031106481231
 
Registo visualizado 2691 vezes desde 27 Julho de 2011
 
   
   

Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Residencial multifamiliar  Edifício  Edifício residencial e comercial  

Descrição

Planta rectangular, com o lado mais estreito coincidindo com as fachadas principal e posterior, caixa das escadas encostada á empena lateral direita, com escada de lanços paralelos, sem patamares intermédios, de acesso ao fogo único por piso. Massa simples, disposta na vertical, com cobertura em telhado de duas águas. Fachadas rebocadas e pintadas a amarelo, de sete pisos, o térreo de lojas e o último de águas-furtadas. Fachada principal voltada a E., marcada pela abertura, a ritmo regular, de vãos rectilíneos, três por piso, com molduras de cantaria simples. Piso térreo, rasgado por três vãos de porta, os laterais com verga trapezoidal e moldura recta, e o central, em arco abatido, mais largo; o vão lateral direito faculta o acesso aos pisos superiores, de habitação, enquanto os outros dois, a estabelecimento comercial. Os segundos, terceiro e quarto pisos são rasgados por três janelas de peitoril, com caixilharia integrando bandeira. Em plano recuado, desenvolvem-se dois outros pisos, o quinto rasgado por três janelas de sacada e o sexto por uma janela de sacada ladeada por duas de peitoril, com caixilharia em guilhotina, ambos com guarda em ferro contínua assente em cornija de massa, o inferior com papagaios de ferro; o último piso termina em cornija sobreposta por beirado simples. Ao nível do telhado, abrem-se duas trapeiras. Fachada posterior, voltada a O.; o primeiro piso encontra-se tapado por anexo, dos segundo ao quinto pisos a fachada é rasgada por três janelas de peitoril, rectilíneas, de molduras simples, a central ligeiramente maior que as laterais; o último piso, de águas furtadas, possui apenas uma janela, de vão quadrado, inscrita em corpo saliente do telhado. INTERIOR: No piso térreo tem loja de planta rectangular, com uma única dependência, marcada por dois arcos de volta perfeita, dispostos paralelamente á fachada principal, com duas instalações sanitárias independentes, em anexo nas traseiras. Encostado à empena lateral direita, dispõe-se o vestíbulo, rectangular de eixo interior longitudinal, com alto silhar de azulejos de padrão, monocromos azuis sobre fundo branco, pavimento em mármore e tecto plano; em frente, abrem-se dois arcos de volta perfeita, em mármore, com fecho saliente, assentes em pilastras, parcialmente cortadas pelas paredes laterais do vestíbulo, que conduzem, o da esquerda, à loja, e o outro, à escada de acesso aos pisos de habitação; esta tem lanços paralelos e patamares intermédios, o primeiro lanço de escadas em cantaria e os restantes em madeira, com guarda em alvenaria, corrimão em madeira e rodapé de azulejos pintados a preto. Os pisos de habitação têm planta semelhante, excepto o das águas furtadas. O acesso é facultado por duas portas, uma de acesso a sala voltada para a fachada principal, com duas janelas, e, a outra, de acesso a corredor perpendicular à fachada principal que articula e, ao mesmo tempo, autonomiza a área de permanência, disposta ao longo da fachada principal, e a de serviços, nas traseiras; a primeira tem duas salas intercomunicantes, e a segunda, instalações sanitárias e cozinha, esta com duas janelas pequenas e chaminé. Ao centro da planta dos pisos, entre as duas áreas descritas, uma dependência interior abre para a sala principal. Águas furtadas de planta ampla, com duas janelas a abrirem para a Rua dos Douradores (trapeira). As portas são em madeira, de verga recta, com bandeira, os pavimentos em soalho e cerâmico nas instalações sanitárias e os tectos planos, decoradas com estuques, simples, nas salas principais, as quais apresentam, igualmente, vestígios de pinturas murais, com ornatos geométricos, simples; os rodapés são revestidos com azulejos de padrão.

Acessos

Rua dos Sapateiros, n.º 129 a 133

Protecção

Incluído na classificação da Lisboa Pombalina (v. IPA.00005966)

Enquadramento

Urbano, flanqueado, integrado no conjunto da Baixa Pombalina (v. PT031106190103), no vale de aluvião entre as colinas do castelo, a E., e a de São Francisco, a O.. Possui adossado a S. e a N. edifícios de cércea semelhante, abrindo a E., para a R. dos Sapateiros. Na fachada posterior, possui um saguão.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Residencial: edifício residencial e comercial

Utilização Actual

Comercial: loja (piso térreo) / Devoluto (pisos de habitação)

Propriedade

Privada: Misericórdia

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTOS: Eugénio dos Santos (1758); João Pedro Barros Falcão de Campos (1989); Falcão Reis (1993). CONSTRUTOR CIVIL: João dos Reis Castela (1936). EMPREITEIRO: Raul José Teixeira Nogueira (1950). ENGENHEIRO CIVIL: Manuel da Maia (1755); Carlos Mardel (1758); Manuel Augusto Gomes (1940); Vítor Manuel Mendes Morais (1989); João Pedro C. N. Marques da Silva (1989).

Cronologia

1755, 1 Novembro - terramoto arrasa grande parte da zona baixa da cidade; no fim do mês, o Eng. Manuel da Maia foi escolhido para proceder à direcção técnica da reconstrução; 29 Novembro - alvará dando condições para que o Ministro da Inspecção de cada bairro procedesse ao levantamento de todas as ruas, praças e edifícios públicos existentes em 31 de Outubro, para elaborar um cadastro de cada um dos bairros da capital; 1755 / 1758, entre - elaboração do projecto-piloto para a reconstrução da Baixa-Chiado; 1755, 4 Dezembro - entrega da Parte Primeira da Dissertação de Manuel da Maia; 30 Dezembro - Sebastião José de Carvalho e Melo proibiu toda e qualquer construção até à definição de um plano; 1756, 31 Março - Parte Terceira do relatório de Manuel da Maia, onde se introduziu as primeiras quatro hipóteses desenhadas para reflexão sobre a reconstrução da cidade baixa; determinava-se que os prédios deviam ser todos de três pisos, o que viria a ser recusado; 1758, 12 Maio - Lei estabeleceu os direitos públicos da edificação por meio de "um plano decoroso, digno da capital" e determinando que os terrenos em que se deviam levantar os edifícios se começassem a entregar; Junho - estabeleceu-se que os prédios teriam uma cércea de quatro pisos com águas-furtadas; Manuel da Maia, lamentando não ter condições físicas para realizar os desenhos, informa ter designado para apurar a planta final e dirigir as obras os Engenheiros Eugénio dos Santos e Carlos Mardel, cabendo a Eugénio dos Santos, arquitecto do Senado, o desenvolvimento das peças principais; os projectos tiveram a convergência e cumplicidade de Sebastião José de Carvalho e Melo e os membros do seu gabinete; 1759, 12 Junho - ordem para entrega dos terrenos das ruas antes chamadas dos Ourives do Ouro, dos Douradores e dos Escudeiros, que seriam integradas na nova rua nobre designada de Augusta; o Marquês de Pombal deu instruções sobre a maneira como os proprietários deveriam tomar posse dos seus terrenos, a fim de iniciar a reedificação da Baixa, começando simultaneamente do Terreiro do Paço para o N. e do Rossio para o S., para maior urgência; 1760 / 1769, entre - pertencia, quanto mais não seja o chão onde viria a ser construído o prédio, à Junta do Comércio; 1769, 6 Março - entre outras medidas legislativas do Marquês de Pombal para acelerar a construção da R. Augusta, surgiu nesta data um decreto que procurava salvaguardar a edificação desta rua em primeiro lugar; 1773, 21 Junho - resolução do Marquês, alterando as disposições do anterior decreto, e estipulando que a Junta do Comércio deveria assumir a edificação dos prédios ainda não iniciados pelos proprietários dos chãos, gerindo depois as Obras Públicas a sua administração, enquanto as vendas não se verificassem; 1790, a partir - data da construção da Rua dos Sapateiros e, provavelmente, do prédio; séc. 19 - provável alteamento do prédio; 1927, 10 Outubro - o prédio pertencia a D. Henriqueta Verdades; 1965 - pertencia a D. Gertrudes Eduarda Verdades de Faria Mantero, casada com Enrique Mantero Belard; 1974, 26 Maio - falecimento de Enrique Mantero Belard que deixa os bens à SCML; 1986 - infiltrações provocaram graves danos no 4.º e 5.º andares; 1989, 21 Fevereiro - a Mesa deliberou concordar com a recuperação do prédio e com a proposta do projecto apresentado pelo arquitecto João Pedro B. Falcão de Campos e Engenheiros Vítor Manuel Mendes Morais e João Pedro C. N. Marques da Silva; 1989, 25 Agosto - a CML indeferiu o projecto de recuperação do imóvel, da autoria do arquitecto João Pedro Barros Falcão de Campos, por o descaracterizar; 1990, 24 Maio - intimidação da CML à SCML para realizar as obras impostas pelo auto de vistoria; 13 Agosto - aprovação do projecto pelo IPPC, que propôs alteração dos vãos da loja, considerados dissonantes; 1992, 26 Novembro - a CML ameaçou tomar posse administrativa do prédio para realizar obras coercivas; 1993, 8 Fevereiro - nova insistência da CML; a SCML respondeu que estava em fase de elaboração um projecto de obras gerais pelo Arq.º Falcão Reis; 1995, 17 Outubro - a CML afirmou que ia incluir o prédio numa empreitada de obras coercivas; o Departamento de Obras da SCML pretendia incluir o projecto no Recria; a CML fez obras no valor de 19.200 contos; 2001, 2 Abril - a CML solicitou o pagamento das obras coercivas realizadas; 2003, 3 Novembro - na sequência de uma vistoria, constatou-se o furto de alguns azulejos da entrada; 2004, 28 Abril - a CML solicitou o pagamento das obras coercivas; era intenção da SCML proceder à alienação do imóvel, o que não foi concretizado.

Dados Técnicos

Estrutura autoportante (de gaiola - estrutura autónoma e modulada de peças de madeira maciça, travadas entre si e capazes de resistir a um abalo sísmico, suportando os pavimentos e cobertura mesmo após a ruína das alvenarias das paredes).

Materiais

Estrutura de gaiola preenchida a alvenaria, rebocada e pintada; pilastra e molduras dos vãos em cantaria calcária; vidros simples; portas e caixilharia de madeira; pavimento cerâmico e de madeira; rodapés e silhares das paredes de chaminés em azulejos, monocromos e policromos; grades de ferro; cobertura de telha.

Bibliografia

MACEDO, Luís Pastor de, A Baixa Pombalina, Lisboa, 1938; FRANÇA, José-Augusto, A Reconstrução de Lisboa e a Arquitectura Pombalina, Lisboa, 1978; Lisboa e o Marquês de Pombal. Exposição Comemorativa do Bicentenário da Morte do Marquês de Pombal, (Catálogo da Exposição), dir. Irisalva Moita, Lisboa, 1982; FRANÇA, José-Augusto, Lisboa Pombalina e o Iluminismo, Lisboa, 1987; FERNANDES, José Manuel, Alguns apontamentos sobre urbanismo alfacinha (da Baixa ao campo Grande, do século XVIII ao século XX), in Lisboa de Frederico Ressano Garcia, 1847 - 1909, (dir. Raquel Henriques da Silva), Lisboa, 1989; MOURA, Carlos, Lisboa Pombalina, Lisboa, 1991; MADUREIRA, Nuno, Cidade: Espaço e quotidiano. Lisboa 1740 - 1830, Lisboa, 1992; VALE, Teresa Leonor, Do Terreiro do Paço à Praça do Comércio, in Monumentos, n.º 1, Lisboa, 1994; SILVA, Vítor Cóias, Um novo modelo (e uma nova visão) do Edifício Pombalino, in Monumentos, n.º 6, Lisboa, 1997; Monumentos, n.º 21, Lisboa, Setembro 2004.

Documentação Gráfica

SCML: DGIP / DGEMN: DSID

Documentação Fotográfica

SCML: DGIP / DGEMN: DSID

Documentação Administrativa

CML: Obra n.º 37054; SCML: DGIP, proc.º 229, DICO proc.º 229

Intervenção Realizada

INQUILINO: 1910 - construção de telheiro destinado a escritório no saguão da loja; 1923 - construção de duas vitrinas na loja do n.º 129 - 131; 1936 - limpezas gerais e reparações na loja do n.º 133, sob responsabilidade do construtor civil João dos Reis Castela; PROPRIETÁRIO: 1939 - reparações interiores no 1.º andar; INQUILINO: 1940 - substituição da porta de madeira por outra em ferro na loja do n.º 129 a 131; PROPRIETÁRIO: 1940 - obras de conservação de toda a fachada, sob direcção técnica de Manuel Augusto Gomes, engenheiro civil, com pintura de cor de grão muito claro; 1941 - reparações do telhado; INQUILINO: 1945 - obras de pinturas interiores e exteriores na loja do n.º 129 a 131; PROPRIETÁRIO: 1950 - obras de limpeza geral do prédio, sob responsabilidade de Raul José Teixeira Nogueira; INQUILINO: 1957 - pintura de exteriores e interiores na loja do n.º 129 - 131; 1964 - pintura de exteriores e interiores na loja do n.º 129 - 131; 1966 - obras de conservação do 1.º andar; PROPRIETÁRIO: 1970 - realização de obras contra o risco de incêndio, intimadas pela Polícia Municipal desde 1968; CML: 1995 / 1996 - obras coercivas.

Observações

Autor e Data

Helena Mantas e João Simões 2007

Actualização

 
 
 
Termos e Condições de Utilização dos Conteúdos SIPA
 
 
Registo| Login