Paisagem de Entre Douro e Minho

IPA.00030534
Portugal, Braga, Braga, Adaúfe
 
Florestas / Pastagens / Rocha nua / Vegetação esparsa / Culturas anuais associadas às culturas permanentes / Tecido urbano descontinuo
Número IPA Antigo: PT010302350186
 
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Registo

 
Paisagem  Grupo de Unidade de Paisagem        

Descrição

CARACTERIZAÇÃO DOS FACTORES ABIÓTICOS. ELEMENTOS GEOMORFOLÓGICOS. RELEVO: O relevo é acidentado, sendo formado por uma sequência de vales encaixados e estreitos, e interflúvios, com variações altimétricas máximas de 800m (originando declives acentuados). Nas serras interiores registam-se altitudes superiores a 1000m destacando-se a Peneda (1373m) e o Gerês (1545m em Nevosa). Existe um elevado contraste orográfico entre a orla costeira, baixa, arenosa e pouco recortada e as altas serras interiores. Esta mudança desenvolve-se numa distância reduzida, podendo deste modo falar-se de um aparente anfiteatro natural. GEOLOGIA: Área maioritariamente constituída por terrenos do Maciço Antigo. As formações mais recentes localizam-se numa estreita faixa litoral e nas zonas baixas dos vales do Minho e Lima, correspondendo sobretudo a formações sedimentares do Quaternário (Pena, Cabral, 1991). Fendas nas rochas consolidadas do Maciço Antigo originam um levantamento persistente, um empolamento epirogénico. Esta área é atravessada por linhas sismo-téctónicas perpendiculares ao eixo de Culminação Ibérica Principal, que acompanham grande parte dos vales paralelos do extremo NW de Portugal: o rio Minho, o Lima, o Cávado, o Ave, o Sousa e o Tâmega e ainda por linhas epicentrais paralelas ao eixo de Culminação Ibérica Principal (Lautensach, Ribeiro, Daveau, 2004). LITOLOGIA: Predominam as rochas eruptivas, sobretudo os granitos calco-alcalinos, com manchas significativas de granitos alcalinos e instrusões de rochas sedimentares xisto-grauváquicas. No litoral, e ao longo do leito dos cursos de água encontram-se importantes formações sedimentares (como o sistema dunar entre a foz do Cávado e a Apúlia). SOLOS: Predominam os solos litólicos, sendo que nas serras de E, são visíveis extensos afloramentos rochosos, conferindo um aspecto mais agreste à paisagem. Junto à costa ocorrem regossolos. É de destacar a presença de aluviossolos nos vales principais, havendo um aproveitamento destas áreas para fins agrícolas. CLIMATOLOGIA: Clima marítimo muito influenciado pela fachada atlântica, pelo relevo vigoroso no interior e também pela latitude. Verificam-se temperaturas amenas, com amplitudes térmicas menos acentuadas no litoral do que no interior, que apresenta já algumas características de clima continental. É a região do país em que se registam os valores mais elevados de precipitação (mais de 100 dias por ano e valores médios anuais entre os 2000 a 3000mm). Contudo, verificam-se algumas assimetrias regionais porque o relevo constitui um entrave à progressão das massas de ar húmidas, que, ao ascenderem, atingem o ponto de saturação (mecanismo de Föhn), originando por isso uma pluviosidade superior nas altas serras do interior. A geada atinge sobretudo as áreas mais montanhosas e mais afastadas do litoral, onde ocorre em cerca de 40 a 50 dias. HIDROGRAFIA: Rede hidrográfica extensa e densa, favorecida pela intensa e regular queda pluviométrica. Os rios, com orientação predominante perpendicular à linha de costa, apresentam leitos apertados e bacias estreitas, correndo em vales encaixados (em V ou em U) a montante, e alargando junto ao litoral, devido à deposição de sedimentos (aluviões). Principais bacias hidrográficas: Minho, Lima, Cávado, Ave e Douro. FRENTE COSTEIRA: Faixa litoral baixa, plana e arenosa, com largura variável. Ao longo da linha de costa encontram-se pequenos estuários como o do Neiva e o do Cávado. Os areais, entre a Foz do Cávado e a Apúlia, foram escavados até próximo do lençol freático e fertilizados com o sargaço recolhido no mar, originando os campos de masseira, onde se pratica a policultura. Esta actividade completava o rendimento dos pescadores. O litoral é densamente ocupado (por vezes de forma caótica), quer com habitação, quer com indústria. CARACTERIZAÇÃO DOS FACTORES BIÓTICOS. FLORA: O facto de ser a zona do país onde ocorrem os valores médios anuais mais elevados de precipitação, a flora é a característica de um clima temperado húmido (zona biogeográfica atlântica), sendo por isso comum encontrar espécies caducifólias como carvalhos, choupos, freixos e ulmeiros. A riqueza florística deste grupo advém dos diferentes habitats que a compõem. Ao longo do rio Minho encontram-se matas ripícolas dominadas por Alnus glutinosa e Salix spp. Importantes manchas de carvalhais galaico-portugueses de carvalho-roble (Quercus robur) e/ou carvalho-negral (Quercus pyrenaica), são das mais extensas e bem conservadas a nível nacional, sendo também de realçar os carvalhais climácicos de carvalho-roble ou os bosques secundários de aveleiras (Corylus avellana), típicos de solos profundos e frescos, das bases das encostas de vales encaixados. Em algumas áreas do Gerês ocorrem Bidoeiro (Betula pubescens), freixo-de-folha-estreita (Fraxinus angustifolium) e teixo (Taxus baccata). No litoral encontram-se, nos sistemas dunares, urzais turfófilos dominados por Erica tetralix e Calluna vulgaris, tojais e urzais-tojais dominados por Ulex europaeus subsp. Latebracteatus (ICN). FAUNA: Da elevada diversidade faunística destaca-se: lobo (Canis lupus), javali (Sus scrofa), corço (Capreolus capreolus L.), lontra (Lutra lutra) e toupeira-de-água (Galemys pyrenaicus); gaivota-argêntea (Larus argentatus); víbora-negra (Vipera seonei) e víbora-cornuda (Vipera latasti); rã-ibérica (Rana iberica) um endemismo ibérico (ICN). CARACTERIZAÇÃO DOS FACTORES ANTRÓPICOS. USO E OCUPAÇÃO DO SOLO: Uso do solo muito diversificado, agricultura intensiva/policultura de regadio nos vales frescos (milho na Primavera/Verão e pastos - e, menos, os Linhares - no Inverno, sendo constante a presença de vinhas altas). Nas terras mais altas, com afloramentos rochosos e terras menos férteis, predomina a bouça: sistemas florestais, tradicionalmente de soutos e carvalhais, hoje de pinheiro e eucalipto e matos. Explorações agrícolas de reduzidas dimensões e muito parceladas. Técnicas muito desenvolvidas de regadio, com pequenas valas alimentadas por nascentes ou minas, nas zonas baixas e de socalcos e com levadas nas encostas. TIPO DE POVOAMENTO: Povoamento disperso, registando-se uma elevada densidade populacional. Desenvolve-se sobretudo no litoral, ao longo dos vales com melhores condições para a prática agrícola (clima mais ameno e solos mais ricos) e junto aos eixos viários. Nas zonas serranas, a ocupação é diferente, sendo menos densa e constituída por aldeias mais compactas, havendo sobreposição de funções habitacionais com produtivas, seja agrícola, florestal, ou industrial ou de armazenagem. Nesta área, as piores condições para a prática agrícola favoreceu o desenvolvimento da pastorícia e da floresta. Os principais aglomerados urbanos têm raízes seculares e assumem uma dimensão média no sistema urbano nacional (por exemplo: Braga, Viana do Castelo, Guimarães). DADOS DEMOGRÁFICOS: Área de elevada dinâmica demográfica, que regista uma pirâmide etária com uma base alargada. Durante os meses de Verão, a população aumenta devido ao regresso de emigrantes e de população que migrou para as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. Os fluxos migratórios foram muito importantes sobretudo nos anos 60 e 70, traduzindo-se na paisagem em novas formas arquitectónicas, como a casa do emigrante. PATRIMÓNIO CULTURAL: A arquitetura tradicional residencial era de dois pisos, o primeiro (loja) reservado aos animais e utensílios agrícolas e o segundo para habitação. Casas maiores (solares) têm anexos, formando um pátio aberto. No fim do séc. 19, início do séc. 20, surgiu um novo tipo de construção, as casas de "brasileiros", construídas por emigrantes regressados do Brasil. Nos anos sessenta do séc. 20, surgiu um novo fluxo de emigração, para países europeus e americanos, provocando alterações na estrutura edificada da região. Grande riqueza e diversidade do património arquitectónico: castelos, praças-fortes (das quais se destaca Valença), fortes, igrejas e conventos, centros históricos importantes (por exemplo Guimarães - PT010308340101, Valença - PT011608150036 e Braga - PT010303070088), solares, capelas e locais de romaria, antas e castros. A tradicional religiosidade da população explica em parte a existência de capelas, ermidas ou santuários em locais ermos como a Nossa Senhora da Peneda. Nas aldeias encontram-se frequentemente os espigueiros (como no Soajo e no Lindoso), estruturas pequenas, edificadas em pedra ou madeira, que servem para armazenamento de cereais. Nas áreas mais serranas encontram-se os fojos, locais onde se apanhavam lobos.

Acessos

Rodoviário: IC1, IP1, IP4; Ferroviário: Linha do Norte, Linha do Minho, Linha de Guimarães, Linha do Douro.

Protecção

Inclui o PA - Parque Natural do Litoral Norte (Decreto Regulamentar n.º 6/2005), PP - Paisagem Protegida do Corno do Bico (Decreto Regulamentar n.º 21/99) e a PP - Paisagem Protegida de Lagoas de Bertiandos e S. Pedro d'Arcos (Decreto Regulamentar n.º 19/00), Inclui parcialmente o PNac - Parque Nacional da Peneda Gerês (Decreto-Lei n.º 187/71) / RN2000 - Rede Natura 2000: inclui o SIC - Sítio de Importância Comunitária do Rio do Minho e Rio Lima, SIC - Sítio de Importância Comunitária da Serra d'Arga, SIC - Sítio de Importância Comunitária do Corno do Bico, SIC - Sítio de Importância Comunitária do Litoral Norte, SIC - Sítio de Importância Comunitária do Rio Minho, inclui parcialmente o SIC - Sítio de Importância Comunitária da Serra da Peneda e Gerês, SIC - Sítio de Importância Comunitária de Valongo (Reunião de Conselho de Ministros n.º 142/97); inclui a ZPE - Zona de Proteção Especial dos Estuários do Rio Minho e Coura, inclui parcialmente a ZPE- Zona de Proteção Especial da Serra do Gerês (Decreto-Lei n.º 384-B/99); Centro Histórico de Guimarães (v.PT010308340101)

Enquadramento

NO. de Portugal continental. Delimitada a N. pelo Rio Minho, a O. pelo Oceano Atlântico, a S. pela Área Metropolitana do Porto e Douro e a E. pelos Montes entre Larouco e Marão.

Descrição Complementar

PATRIMÓNIO INTANGÍVEL: São inúmeras as festividades de cariz religioso, que ocorrem sobretudo no Verão, destacando-se as festas de Santa Luzia e da Nossa Senhora da Agonia em Viana do Castelo e ainda a Semana Santa em Braga, e as romarias. Também são comuns as feiras e arraiais minhotos, sendo a feira de Ponte de Lima uma das mais antigas do país. Lendas como a do Galo de Barcelos atingiram divulgação nacional. A produção de cerâmica (louça em barro) é importante, realçando-se dos elementos representados os galos (de Barcelos), as bandas de música e as juntas de bois. Os bordados e as rendas em linho, lã ou estopa fina, assumem relevância, destacando-se os lenços dos namorados. Na área dos têxteis também se destaca a confecção de trajes típicos e de bonecas com traje regional. Durante o Estado Novo, as danças tradicionais (Vira do Minho) foram divulgadas nacional e internacionalmente como características de Portugal. Da gastronomia minhota realça-se o arroz de sarrabulho, enchidos, vinho verde e alguns produtos classificados: "Mel das Terras Altas do Minho" (DOP), "Carne Barrosã" (DOP), "Carne Cachena da Peneda"(DOP) e "Cabrito das Terras Altas do Minho"(IGP) e Vinho Verde "Alvarinho". ORGANIZAÇÃO SOCIAL E MODOS DE VIDA: A actividade agrícola apoiava-se na policultura de regadio (milho, linho, produtos hortícolas), assumindo também um papel importante a vinha (destacando-se a produção de vinho verde). Apesar da abundância de água, existe uma complexa organização das levadas para rega, pois cada consorte tem dias e horas específicos. Os terrenos baldios (sobretudo nas serras) eram geridos comunitariamente. A pecuária era uma actividade tradicional relevante, nomeadamente de gado bovino, para auxiliar o trabalho rural e para a alimentação. Eram característicos desta região os movimentos sazonais de transumância de parte da população serrana entre a habitação de Verão (brandas) e a de Inverno (inverneiras). Actualmente, nas zonas serranas, existe criação de rebanhos de ovelhas e cabras, a par com a de gado bovino nos lameiros e pastos naturais. A proximidade geográfica com a Galiza, separada apenas pelo rio Minho, estimulou desde sempre as relações económicas e culturais, ainda hoje patentes através de movimentos pendulares diários e de múltiplos eventos transfronteiriços. SISTEMA DE VISTAS: Paisagem dominada pela alternância entre vales e montanhas, em que a componente água assume uma posição preponderante na sua modelação, visível não só no relevo, como também na vegetação abundante. Destacam-se alguns miradouros, como o monte de Santa Luzia (em Viana do Castelo), o Bom Jesus e o Sameiro (em Braga), o Monte da Madalena (em Ponte de Lima), o Monte de Faro (em Valença) e a serra de Arga. PERCEPÇÃO DA PAISAGEM: Paisagem que se percepciona como desorganizada e desqualificada. Paisagem rural compartimentada por árvores e videiras em espaldar. No baixo Minho, continuidade entre o urbano e o rural. No alto Minho, nas zonas mais agrestes, ou de serra, há um progressivo despovoamento e algum abandono das terras. É uma paisagem que transmite uma frescura permanente ao longo do ano, devido à verdura dos campos, matas e prados, e à existência de água em abundância. Tempo húmido, verde predominante e relevo acidentado.

Utilização Inicial

Não aplicável

Utilização Actual

Não aplicável

Propriedade

Não aplicável

Afectação

Não aplicável

Época Construção

Não aplicável

Arquitecto / Construtor / Autor

Não aplicável

Cronologia

1258 - D. Afonso III concede foral a Viana do Castelo; concede foral a Braga; 1908 - Decreto de 1 de Outubro demarca pela primeira vez a "Região dos Vinhos Verdes"; 1938 - Barragem de Guilhofrei (rio Ave); 1945 - Barragem de Andorinhas (rio Ave); 1951 - Barragem de Penide (rio Cávado); 1953 - Barragem de Salamonde (rio Cávado); 1955 - Barragem da Caniçada (rio Cávado); 1956 - Barragem de Paradela (rio Cávado); 1972 - Barragem de Vilarinho das Furnas (rio Homem); 1992 - Barragem do Alto Lindoso (rio Lima); 1993 - Barragem de Touvedo (rio Lima); 1994 - Barragem de Pagade (rio Coura); 2001 - classificação pela UNESCO do Centro Histórico de Guimarães, como Património Mundial.

Dados Técnicos

Não aplicável

Materiais

Não aplicável

Bibliografia

AAVV, Contributos para a Identificação e Caracterização da paisagem em Portugal Continental, vol. 5, Lisboa, 2004. Brito, Raquel Soeiro (coord)., Portugal. Perfil Geográfico, Editorial Estampa, Lisboa, 1994. ICN, Plano Sectorial da Rede Natura 2000, ICN, 2006. Lourenço, Dália (coord.), Áreas Protegidas Litoral Português, Colecção Natureza e Paisagem, ICN, Lisboa, 1998; INAG, Plano Nacional da Água, INAG, 2004 (url: http://www.inag.pt/inag2004/port/a_intervencao/planeamento/pna/pdf_pna_v1/v1_c2_t07.pdf). Lautensach, H., Ribeiro, O., Daveau, S. Geografia de Portugal, Lisboa, João Sá da. Costa, 4 Vol., 1997. RIBEIRO, ORLANDO, Portugal. O Mediterrâneo e o Atlântico, Lisboa: Livraria Sá da Costa, 1986. RIBEIRO, ORLANDO - A Formação de Portugal, ICALP, Ministério da Educação, Lisboa,1987. URL: ICNF (www.icnb.pt), IHRU (www.monumentos.pt ), INAG (www.inag.pt).

Documentação Gráfica

IHRU-SIPA; IA; ICNB; DGOTDU; IGP; IgeoE; EP

Documentação Fotográfica

IHRU-SIPA

Documentação Administrativa

IHRU-SIPA

Intervenção Realizada

Construção de barragens ao longo dos principais rios modificou profundamente a paisagem nestes vales.

Observações

Autor e Data

Luís Marques 2010

Actualização

Luís Marques 2013
 
 
 
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