Forte do Ilhéu, no Molhe da Pontinha

IPA.00005850
Portugal, Ilha da Madeira (Madeira), Funchal, Funchal (Sé)
 
Arquitectura militar maneirista. Forte maneirista do Sécs. 17 e 18, de planta quadrada, carácter simples, mas de muito boa construção, com capela.
Número IPA Antigo: PT062203100018
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Forte    

Descrição

Forte de planta quadrangular com edifícios do corpo da guarda e armazéns laterais, rectangulares, sobre a muralha N.. Massa de volumes horizontais articulados, com parada elevada sobre o edifício a N. sobre o mar e acesso independente correndo O. / E., com corpo novo superior de estrutura metálica (para restaurante) e definindo uma parada baixa e lajeada frente ao mar, com edifício precário em madeira e vidro, totalmente amovível e assente em estrado para não afectar a aparada lajeada. Entrada actual no ângulo NE. por elevador exterior metálico pintado a barro vermelho escuro. A N. fica a antiga entrada, com lanços de escadaria ao longo do penhasco da rocha, com portão intermédio e superior encimado por lápide. O recinto do forte apresenta guaritas a NE. na parada baixa e na superior, bordeada por canhoneiras, com a muralha S. sem merlões, caídos ao mar, restando somente as bases das canhoneiras; pano a E. com vestígios dos antigos mastros de registo do porto, de que ficaram as bases de cantaria e as aduelas de parede. Corpo da guarda e armazens em cantaria aparelhada e semiaparelhada à vista, formando 3 compartimentos, com portas encimadas por janela com molduras em cantaria; interiores com abóbada de meia cana em cantaria aparelhada e rebocada assente em cornija de cantaria pintada. A porta E. apresenta largo lintel de uma peça com incisão decorativa e arco de descarga superior embutido, resumindo-se a janela superior a uma fresta; a porta central, que comunica com a entrada virada a S., apresenta lintel quebrado com chave e importantes aletas nas impostas, sendo a janela superior quadrada e reconstruída; entre este corpo central e o E. existe um importante cunhal embutido, rematado superiormente pelos restos de uma chaminé, indicando acrescento do corpo O.; porta E. com largo lintel e impostas com aletas; corpo recuado em alvenaria rebocada e pintada com escadaria de acesso à esplanada superior e corrimão em cantaria à vista; 2 pisos com janelas e portas com molduras de cantaria. Ao corpo da guarda, adossa-se a E., avançada, capela de planta rectangular, cobertura de 2 águas a telha de meia cana, fachada em alvenaria pintada, com portal central de cantaria colorida de Cabo Girão com arco de volta perfeita, chave, capitéis e bases salientes, lintel de balanço e cantos em ponta de diamante; nos cunhais pilastras em cantaria aparente, com bases relevadas e capitéis ao nível do lintel de balanço do portal; fachada em empena com cimalha de cantaria; fresta de iluminação em cantaria na fachada E..

Acessos

Funchal, Funchal (Sé), Molhe da Pontinha

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 37 077, DG, 1.ª série, n.º 228 de 29 setembro 1948

Enquadramento

Borda d'água. Ergue-se sobre maciço rochoso incluído no molhe do porto do Funchal, sobranceiro ao porto, à cidade e ao mar. Possui a N. entrada em escadaria, hoje incluída no molhe de cais que a envolve, com esplanada para acostagem de navios e furado centralmente, de um lado a outro, para passagem de viaturas.

Descrição Complementar

A antiga porta da fortaleza é em cantaria rija insular com arco de volta perfeita, encimada por lápide em cantaria cinzenta insular com a seguinte legenda: "ESTA FORTALEZA FEZ / O GOVERNADOR E CAPI / TÃO GERAL BERTOLOMEO / UASCONCELOS DA CUNHA DA / PR.a PEDRA Do SIM.to AN.o 1654 / NESTE TEMPO ERA PRO / VEDOR DA FAZENDA FRAN.co DE / ANDRADA ASSISTIA AS DES / PESAS DA FORTIFICASÃO / E AIVDOU Mto ESTA OBRA". A fachada O. do corpo de edifícios, que corresponde ao antiga paiol da guarnição, tem porta e janela com moldura de cantaria e banco exterior com laje de cantaria superior. Do antigo paiol da guarnição ficou o guindaste inglês dos meados do Séc. 19 e a grade de ferro amovível. O centro da parada é marcado por interessante cisterna datada e coberta por grade de ferro com a seguinte inscrição: "ESTA IGREJA E SIS / TERNA FEZ O GOV. E CAPITÃO GERAL / PEDRO DE LIMA NO ANO DE 1687".

Utilização Inicial

Militar: forte

Utilização Actual

Comercial e turística: estabelecimento de restauração

Propriedade

Pública: Regional

Afectação

Secretaria Regional da Economia, Direcção Regional dos Portos

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19 / 20

Arquitecto / Construtor / Autor

Mestre das obras reais Bartolomeu João (1630 - 1654); sargento mor engenheiro Francisco de Alincourt (1770).

Cronologia

1553, 20 Outubro - carta de Diogo Cabral a D. João III a propósito das contínuas vindas de corsários à Madeira e pedindo a construção de uma fortificação no Ilhéu Grande; 1567 - indicação na planta do Funchal de Mateus Fernandes da importância dos Ilhéus e marcação de uma fortaleza em terra firma para obstar a um desembarque nos ilhéus; 1634 a 1636 - primeiras obras no Ilhéu mandadas fazer pelo governador D. João de Menezes; 1651 - pedido dos moradores do Funchal para construção de uma fortaleza no Ilhéu, aproveitando a chegada ao Funchal do governador Bartolomeu Vasconcelos da Cunha; 1652, 10 Fevereiro - autorização régia para a construção com base nas informações do Provedor e do Governador; 1654 - projecto de Bartolomeu João, desenhado na sua "Descripção..."; 1658 - referências à existência de pessoal em permanência no Ilhéu; 1664, 21 Abril - carta do Provedor a descrever as difíceis obras do Ilhéu; 1670, 23 Março - carta do provedor com o andamento das obras do Ilhéu e pedindo autorização para uma verba para lenha e azeite; 1670, 30 Agosto - autorização para o consumo de lenha e azeite na casa da guarda do Ilhéu; 1672, 9 Novembro - o Príncipe despachou favoravelmente a petição; 1682, 27 Outubro - despacho da petição da capela; 1683, 28 Jan. - registo do despacho no Funchal; 1687 - data da inscrição na cisterna de como tinha sido construída com a capela pelo governador Pedro de Lima; 1692 - provimento de capelão privativo para o Ilhéu no padre José de Andrada, com 18$000 réis; 1703, 15 Novembro - patente para o governador Duarte Sodré Pereira determinando-lhe que deveria "dar nova forma ao forte do Ilhéu, em que se amarram as embarcações que vão àquele porto" e meter ali mais 9 peças de artilharia; 1731, 23 Fevereiro - rebentamento de uma das peças de ferro, "que se fez em migalhas", matando um dos artilheiros; 1768, 12 Setembro - entrada do "Endeavour" do almirante James Cook e pertenço engano de salvas no Ilhéu; 1771 - "Projecto de fechar os dois ilhéus" do sargento-mor Francisco de Alincourt; 1772, 29 Julho - nova visita de James Cook; 1799, 14 Outubro - reforma do sistema de salvas; 1802, 25 Janeiro - nova reforma do sistema de salvas para a saída das forças inglesas de ocupação; 1803, 9 Outubro - tempestade provocou importante aluvião, tendo as vagas galgado o Ilhéu afundando uma galera americana que ali estava ancorada; 1845 - início da construção do paiol pelo capitão António Pedro de Azevedo e colocação de um guindaste inglês da firma "Brown, Lenox & Co."; 1850 - instalação de uma estação semafórica na fortaleza; 1901 - recepção à esquadra real; 1940, 26 setembro - publicação de Decreto nº 30 762, no DG, 1.ª série, n.º 225, determinando a classificação do Forte do Ilhéu como Imóvel de Interesse Público; 01 novembro - publicação do Decreto nº 30 838, DG, 1.ª série, n.º 254, suspendendo o decreto n.º 30 762, de 26 de setembro do mesmo ano, relativamente à classificação de imóveis de propriedade particular; 1950 - reformulação das telecomunicações militares com montagem de um andar de serviços na esplanada alta; 1992, 22 Maio - entrega da fortaleza ao Governo Regional para actividades culturais e apresentação do projecto de recuperação feito pela equipa do Arq. José Luís Meneses; 1996, 8 Fevereiro - lançamento de concurso público para um restaurante; 1997 - inauguração de um restaurante panorâmico; 1998, 13 Setembro - atribuição pela CMF no Dia Nacional dos Centros Históricos, comemorado no Funchal, do Prémio de Recuperação de Património à equipa do Arq. José Luís Meneses, responsável pela recuperação do Forte.

Dados Técnicos

Paredes autoportantes e estrutura mista no corpo da guarda e armazens, com aparelho "mistum vittatum" e "vittatum".

Materiais

Cantaria mole e rígida regional aparente, alvenaria de cantaria regional rebocada, madeira, amarrações mistas de tirantes de madeira e de ferro, vidro e telha de meio canudo.

Bibliografia

SARMENTO, Alberto Artur, A Fortaleza do Ilhéu, Fasquias e Ripas da Madeira, Funchal, 1940, pp. 87 a 96; CALDEIRA, Abel, O Funchal no primeiro quartel do século XX, Funchal, 1960; CARITA, Rui, A carta Alincourt dos Ilhéus do Funchal - Séc. XVIII, Diário de Notícias Funchal, 31 Mai. 1981; idem, Paulo Dias de Almeida e a Descrição da ilha da Madeira de 1817, Funchal, 1982; idem, O Regimento de Fortificação de D. Sebastião..., Funchal, 1984; idem, A fortaleza do Ilhéu do Porto do Funchal, Diário de Notícias, 23 Ago. 1992; idem, História da Madeira, 2, 3 e 4º vols., Funchal, 1991, 1992 e 1996; PINTO, António Jorge, Mudanças já em 1995, Radares no Molhe da Pontinha; museu e restaurante no ilhéu, Diário de Notícias, Funchal, 14 Abr. 1994; CARITA, Rui, Arquitectura Militar da Madeira, séculos XV a XVII, tese de doutoramento, 1993, Lisboa / Funchal, 1998; MELIM, Eker, DRAC não recebeu nada e o cimento avança. Forte em obras sem consulta, Prédio classificado nas mãos da Economia, Recuperação do Forte sem parecer da DRAC, Diário de Notícias, 29 Fev. 1996; CARITA, Rui e TRUEVA, José Manuel de Sainz, Itinerário Cultural do Funchal, Funchal, 1998; Dias dos centros Históricos. Forte do Molhe com boa recuperação, Diário de Notícias, Funchal, 14 Set. 1998.

Documentação Gráfica

1567 - Planta da Cidade do Funchal de Mateus Fernandes III, cópia no Museu da Cidade do Funchal, original na BN Rio de Janeiro; 1654 - Fortaleza do Ilheo Nossa Senhora da Conceição, que o governador Bertolameu de Vasconcelos mandou fazer, Descrição... de Bartolomeu João, col. Paul Alexander Zino, Funchal; 1771 - esboço preparatório para a Planta dos dois Ilhéus de Francisco de Alincourt, GEAEM, Lisboa (nº. 1309, 2/22A/109); 1771 - Planta dos dois ilheos com seu projeito para os fichar, assinada por Francisco d'Alincourt, sargento-mor de Engenharia, Funchal, 1771, CECA / JIU, Lisboa (nº 18, pasta 34); 1772 - Panorâmica do Funchal de Thomas Hearne, Museu da Cidade do Funchal; 1804 - Planta da Cidade do Funchal do brigadeiro Reinaldo Oudinot, IGC, Lisboa; 1808, 24 Dez. - Plan of Fortifications of Funchal in the Island of Madeira do tenente G. B. Lawrence, col. particular Peter Cossart, Funchal; 1808 - Looe Rock, aguarela assinada Lieut. G. B. Lawrence, col. particular Peter Cossart, Funchal; 1817 - Planta da bateria da Pontinha e Planta do Forte do Ilheo, estampas 11 e 12 da Descrição de Paulo Dias de Almeida, BNL; 1827 - Planta da cidade do Funchal representando as fortificações antigas e os projectos de melhoramento por ordem do Exmo. Sor. D. Manuel de Portugal e Castro, Governador e capitão General desta Ilha de Paulo Dias de Almeida, BSG Lisboa; 1827 - The Loo Rock, gravura colorida de original do reverendo James Bulwer, Views in the Madeiras, Londres, 1827, colecção da casa-museu Dr. Frederico de Freitas, Funchal; 1838 - Planta e perfis do Forte do Ilheo por Tibério Augusto Blanc, Tenente de Engenharia, GEAEM, Lisboa (nºs. 1310, 1311 e 1312, 2/22A/109); 1839 - Planta do ancoradouro do Funchal, cópia de José Conrado Chelmick, GEAEM; 1840 - Funchal from the bay, litografia colorida sobre original de Andrew Picken, ed. Day & Haghe lithrs. of the Queen, Londres, 1840, reedição da DRTM, 1960; 1841 - Forte da Pontinha e Fortaleza do Ilheo, estampas 8º e 9ª do Reconhecimento... de António Pedro de Azevedo, GEAEM; 1843, Mar. - View of the Ilheo or Loo Rock, Pontinha, from the beach, Funchal, Madeira. Sketched by Mrs. John Thomas Austen. March 1843, aguarela de Mrs. John Thomas Austen, álbum do Museu da Quinta das Cruzes, Funchal; 1843, Abr. - Ilheu rock at Pontinha - Funchal / Madeira, aguarela de E. G. Smith, álbum do Museu da Quinta das Cruzes, Funchal (cota 40073-3); 1848 - Planta dos ancoradouros do Funchal e do Porto do Moniz de António Pedro de Azevedo, GEAEM; 1853, Jan. - O Ilhéu do Funchal aguarela ass. por sigla, álbum de G. Smith, Museu da Quinta das Cruzes, Funchal; 1855 - Planta das fortificações da Ilha da Madeira... de António Pedro de Azevedo, GEAEM; 1856 - The Pontinha from the West, original e litografia de Frank Dillon editado in Scketches in the Island of Madeira, Londres, 1856, reedição do Sr. Paul Alexander Zino, 1991; 1860 - Reconhecimento Militar da Ilha da Madeira de António Pedro de Azevedo, GEAEM; 1880(?) - Funchal, litografia da col. J. Selleny, Ed. Viena, L. T. Neuman, col. casa-museu Dr. Frederico de Freitas, Funchal; GR / DRAC, Funchal; IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

Museu Vicentes Photographos e DRAC, Funchal; IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

AN/TT, PRFF, AHU, Madeira e Porto Santo, GEAEM (Arma de Engenharia); IHRU: DGEMN/DSID, Lisboa; AHM, GC, ZMM (Arquivo Morto); GR (Sec. Eq. Social), Funchal

Intervenção Realizada

DGSH: 1957 - Obra de alargamento e prolongamento do molhe e do porto; 1994 - obras de recuperação do Forte dirigidas pelo Arq. João Favila (Res. 29 Set. GR); ZMM: 1982 - demolição do alpendre das transmissões; Atelier do Arqº. José Luís Meneses: 1994 / 1997 - reabilitação para restaurante panorâmico.

Observações

A entrega do Forte pelas autoridades militares ao Governo Regional foi feita para "actividades culturais", pelo que a entrega a uma entidade privada para exploração como restaurante é, no mínimo, estranha. A reabilitação geral levada a efeito pelo Atelier citado foi efectuada com bastante cuidado e o resultado final é francamente bom, sendo hoje um dos locais mais aprazíveis do Funchal. No entanto, o seu não acompanhamento por qualquer entidade da tutela levou a inúmeras notícias na comunicação social e a um franco mau estar entre a DRAC e a própria Presidência do Governo Regional.

Autor e Data

Rui Carita 1998

Actualização

 
 
 
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