Capela Militar do Bom Jesus / Capela do Bom Jesus

IPA.00006233
Portugal, Viana do Castelo, Valença, União das freguesias de Valença, Cristelo Covo e Arão
 
Capela militar barroca construída no início do séc. 18, com projeto do engenheiro militar Manuel Pinto de Vilalobos, seguindo o esquema geral das igrejas desenhadas por ele. Apresenta planta retangular, composta por nave única e capela-mor, mais baixa e estreita, interiormente coberta em falsa abóbada de berço na nave e em abóbada de caixotões na capela-mor, seguindo as opções tradicionais da região, e iluminada por janelas retangulares de capialço. Possui bom tratamento das cantarias, conciliando na fachada principal, a decorativamente mais rica, elementos da ordem jónica, dórica e toscana. O portal, em arco de volta perfeita, insere-se em estrutura de cantaria convexa, suportando o frontão, de volutas interrompido, ladeado por bolas sobre plintos pouco salientes. No interior, tem coro-alto de madeira, púlpito no lado da Epístola, retábulos colaterais rococós, de corpo reto e um eixo, com nichos sobrepostos no corpo, possivelmente devido a alguma reforma, e retábulo-mor em revivalismo neorococó, apresentando o ático de estrutura pouco comum, conciliando formas de espaldar e de frontão.
Número IPA Antigo: PT011608150014
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Templo  Capela / Ermida  

Descrição

Planta retangular composta por nave única e capela-mor, rectangulares, a última mais baixa e estreita, tendo adossado a S. escada de dois lanços, de acesso ao coro-alto, e sacristia rectangular. Volumes escalonados, com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas na capela e três na sacristia. Fachadas rebocadas e caiadas, com pilastras nos cunhais, de fustes de almofadas côncavas, os da nave e capela-mor com entablamento dórico e sobrepujados por pináculos com remate em esfera, assente em plinto paralelepipédico, percorridas por embasamento de cantaria e terminadas em friso e cornija, com cruzes latinas sobre plintos volutados no remate das empenas. Fachada principal, orientada e terminada em empena, com duplo friso e cornija, coroada pela cruz que assenta em brasão nacional, com coroa fechada, enquadrada por aletas. É rasgada por portal em arco de volta perfeita, assente em capitéis toscanos, enquadrado por estrutura de cantaria, de planta convexa, com duplas pilastras jónicas de cada lado, assentes em plintos almofadados, e suportando entablamento, com friso convexo e frontão de volutas interrompido por janela rectangular, com dupla moldura, encimada por frontão curvo; ladeia-o duas janelas rectangulares, molduradas, encimadas por friso e cornija recta. Fachadas laterais rasgadas por duas janelas rectangulares na nave e outras duas na capela-mor, com capialço; na lateral S. a porta de acesso ao coro tem verga recta moldurada, precedida por escada de dois lanços opostos, com guarda de ferro; sensivelmente a meio da nave, fixa-se ao friso do remate da fachada sineira em ferro; a sacristia possui porta de verga recta virada a S.. Fachada posterior cega. INTERIOR rebocado e caiado, com janelas, apresentando capialço, e portas encimadas por sanefas de talha policromada a bege e dourado. Nave com coro-alto assente em estrutura de madeira de arco abatido, sobre mísula de madeira, com guarda em balaustrada plena em madeira. No sub-coro, tecto de madeira entalhado, com o brasão nacional inserido em cartela recortada, e pia de água benta, no lado da Epístola. No lado do Evangelho, entre as janelas, surge tela, de perfil curvo, pintada com a Descida da Cruz; no lado da Epístola a porta é ladeada por pia de água benta gomada e dispõe-se púlpito de bacia rectangular sobre mísula volutada de pedra, com guarda plena de madeira, entalhada. Presbitério sobrelevado por degrau e delimitado por teia de balaústres planos, integrando no lado do Evangelho confessionário. Pavimento lajeado e cobertura em falsa abóbada de berço, de estuque, sobre cornija. Arco triunfal de volta perfeita, assente em pilastras toscanas, ladeado por dois retábulos colaterais, de talha policroma, de planta recta e um eixo, postos de ângulo. Capela-mor rasgada por portas laterais confrontantes, de verga recta, a do lado do Evangelho entaipada e a do lado oposto de acesso à sacristia. Sobre supedâneo sobrelevado e com acesso por vários degraus centrais, assenta o retábulo-mor em talha policroma, de marmoreados fingidos a verde, rosa, azul e dourado, de planta convexa e um eixo, definido por duas colunas de fuste liso decorado com espira fitomórfica, assentes em plintos paralelepipédicos ornados com motivos fitomórficos em cartelas, e com capitéis coríntios; ao centro, abre-se tribuna de arco contracurvado, envolvido por várias molduras, interiormente decorado por apainelados e albergando trono expositivo de quatro degraus poligonais, encimado por nicho e coberto por apainelados; é ladeado por portas de acesso à tribuna, decoradas com cartelas concheadas e elementos fitomórficos, encimadas por mísulas suportando imaginária, sublinhada por moldura lateral, interiormente pintado com flores e encimado por baldaquino; ático formado por fragmentos de frontão, integrando elementos fitomórficos interligados por molduras e possuindo ao centro cartela recortada com brasão nacional. Altar tipo urna com frontal decorado com motivos recortados e vegetalistas. Sacrário em forma de templete, terminado em cornija contracurvada com acantos, lateralmente ornado de concheados e com cálice na porta. Pavimento lajeado e cobertura em abóbada de berço, com caixotões côncavos, assente em friso e cornija, ritmada por volutas.

Acessos

Valença, Largo do Bom Jesus

Protecção

Incluído na Zona Especial de Proteção das Fortificações da Praça de Valença do Minho (v. IPA.00003527)

Enquadramento

Urbano, isolado, integração harmónica, sensivelmente ao centro da coroada da fortificação de Valença, circundado por arruamentos que a definem. Fronteiro à fachada principal, desenvolve-se largo retangular, lajeado, no centro do qual se ergue o Monumento a São Teotónio (v. IPA.00008928). Nas proximidades, a sudoeste, no centro de um terreiro designado Campo de Marte, ergue-se o Monumento aos Combatentes da Grande Guerra (v. IPA.00023838) e no limite sudoeste do mesmo terreiro, o paiol, atualmente núcleo museológico militar.

Descrição Complementar

Retábulos colaterais de planta recta e corpo convexo, de um eixo definido por duas pilastras com mísulas que sustentam imaginária e duas colunas de fuste liso decoradas com concheados e cartelas, assentes em plintos galgados, e de capitéis coríntios, sobrepostos, acima do entablamento, por plintos paralelepipédicos, ornados de concheados, e pináculos piramidais; ao centro, abre-se nicho de perfil curvo, de boca sobreposta por concheados e com chave encimada por acantos, integrando um outro nicho mais pequeno, igualmente de perfil curvo, superiormente decorado por concheados e elementos vegetalistas, interiormente pintado e albergando imaginária; o espaço entre os nichos é pintado com flores sobre fundo azul; ático formado por espaldar contracurvado, terminado em cornija com cartela, contendo o monograma AM, sobre o fecho, e integrando ao centro, nicho de perfil abatido encimado por concheados, interiormente pintado com flores e albergando imaginária. Altar paralelepipédico, com frontal contendo sanefa, ambos decorados com cartelas e motivos concheados; encima-o, sacrário em forma de templete, com concheados e tendo na porta custódia.

Utilização Inicial

Religiosa: capela

Utilização Actual

Religiosa: capela

Propriedade

Privada: Igreja Católica

Afectação

Sem afectação

Época Construção

Séc. 17 / 18 / 19

Arquitecto / Construtor / Autor

ENGENHEIRO: Manuel Pinto de Vilalobos (1701).

Cronologia

1701 - início da construção da capela, com projecto do engenheiro militar Manuel Pinto de Vilalobos, no centro da coroada sob encomenda régia, como compensação de uma outra que se demoliu na última reedificação dos muros da praça de Valença; benção dos alicerces pelo Arcebispo de Braga D. João de Sousa; 1721 - ainda não estava concluída; depois de pronta, passou a ser administrada pela Colegiada de Santo Estêvão; 1758 - segundo o Pe. Avelino de Almeida nas Memórias Paroquiais, a capela estava em extrema necessidade, não tinha património nem rendas, mas esmolas que alguns devotos fiéis pediam; junto à capela existia um poço, em cantaria, chamado de poço do Bom Jesus; 1760, década - execução de retábulo pelos devotos de Nossa Senhora da Lapa; 1764 - criação da Irmandade Militar de Nossa Senhora do Carmo, devido à devoção do coronel D. João de Sousa, então comandante do Regimento de Infantaria de Valença; 1767, 12 Janeiro - alvará de D. José aprovando os estatutos da Irmandade de Nossa Senhora do Carmo; os cónegos da Colegiada cederam à capela a Irmandade; 1782, 26 Setembro - provisão a favor do juiz e oficiais da Confraria de Nossa Senhora do Carmo, para poderem fazer um novo retábulo do altar-mor da capela do Bom Jesus, onde estava colocada a mesma imagem; 1783, 13 Junho - colocação da imagem da Senhora das Dores pelo Pe. José Barbosa de Vasconcelos, abade de São Miguel de Fontoura, em cumprimento de promessa feita realizada quando doente; séc. 19 - durante a Guerra Peninsular, as imagens de Nossa Senhora do Carmo e a de Santo António, do Regimento de Infantaria de Cascais e do Regimento de Infantaria de Lagos, acompanharam os militares de Valença; 1814, 16 Agosto - terminada a guerra, o regimento regressou a Valença, celebrando-se na capela do Bom Jesus uma festividade com procissão; como prova de agradecimento e grande veneração, o Marechal de Campo Joaquim Pereira d'Eça, doou à imagem três das suas condecorações, que ela ainda ostenta: a cruz de condecoração da Guerra Peninsular, com o número 4, a medalha espanhola da Batalha da Vitória e a da Divisão Auxiliar à Espanha; 1821, 11 Agosto - achavam-se totalmente arruinados os telhados da capela e os da casa da Irmandade; orçamento para o seu conserto no valor de 276$800 rs, mas que não se chegou a realizar; 1828 - com a saída do Regimento nº 21, a administração da capela passou para o Governador da Praça de Valença; 1829, 14 Fevereiro - novo orçamento para as reparações urgentes na capela pelo mestre-de-obras João Pedro Barreto, no valor de 723$175 rs; 18 Fevereiro - ofício do Brigadeiro Intendente Fiscal, Francisco António de Macedo a D. Álvaro da Costa de Sousa de Macedo com parecer desfavorável; 1842 - instalando-se na Coroada o batalhão de Caçadores nº 7, este passou a administrar a Irmandade e a capela; 1846 - com a ida do batalhão para a cidade da Guarda, a capela voltou a ser entregue ao Governador da Praça de Valença; as festividades de Nossa Senhora do Carmo deixam de realizar-se e inicia o declínio da Irmandade; 1865 - o devoto Vitorino António Ferraz de Araújo mandou pintar e dourar a expensas suas o altar-mor e tribuna, encarnar as imagens do padroeiro e de Santo António; deu um relicário em prata para expôr o Santíssimo e cortinas de damasco vermelho para o camarim, arco triunfal e portas da capela; 1902 - a Irmandade estava reduzida a 6 veteranos; 28 Setembro - o Governador promove a celebração dos aniversários dos reis D. Carlos e D. Amélia, juízes honorários e perpétuos da Irmandade e honra a Virgem do Carmo; 1903 - o Governador da Praça de Valença pede para se consertar as lâmpadas da capela e se comprar um oratório por 7.200$00 e 18.500$00, respectivamente; 10 Fevereiro - autorização para dos rendimentos da capela serem aplicadas as quantias de 25.000$00 e 12.500$00 no restauro, pintura e "prateação" de 15 castiçais, 3 cruzes e 8 lanternas pertencentes à capela e à aquisição de um Missal para o serviço de culto na mesma; 1904, 15 Janeiro - o Governador da Praça informa que só agora se concluíra o oratório para a imagem de Nossa Senhora do Carmo e se concertara as 3 lâmpadas da capela, tendo-se gasto 25.700$00; 1905, 5 Outubro - o Ministério da Guerra autoriza o Governador da Praça a comprar uma caldeirinha em prata; 1906, 10 Março - autorização para adquirir um prato e umas galhetas de prata até à importância de 15.160$00 por conta dos fundos da Irmandade, para substituir os que estavam incapazes; 1910, 24 Setembro - Mapa dos Fundos pertencentes à Capela revelando ter 1:400$00 em inscrições de valor nominal, 40$00 em dinheiro mutuado e 17$540 em dinheiro; 14 Outubro - informação de que os fundos da Irmandade da Padroeira militar da Praça de Valença e que estavam sob a responsabilidade do Conselho Administrativo da Praça eram de 1:400$00; 1936, Julho - Guilherme Guerra oferece ao Arquivo Histórico Militar o original dos Estatutos da Irmandade; 1940, 5 Abril - segundo informação do Director do S. O. P. M. na 1ª Região Militar, a maior parte dos prédios militares de Valença, incluindo a Capela do Bom Jesus, encontravam-se desabitados e em ruína acelerada; a capela, com 307,40 m2, confrontava a N. com a Tv. do Bom Jesus, a S. e O. com o prédio militar nº 2/1, o Campo de Marte, antiga parada do quartel do Batalhão de Caçadores nº 7, e a E. com o Lg. do Bom Jesus; 31 Dezembro - avaliação da capela em 21.734$00; 1943, 8 Junho - auto de entrega da Capela ao Ministério das Finanças, encontrando-se em razoável estado de conservação; 1945 - Comissão de Valencianos, representada pelas senhoras Ofélia Benvinda de Oliveira, Mercedes Garção Soares, Idalina Cândida Ferraz da Silva e Maria Cândida Silva, encarrega-se de reunir fundos para restaurar a capela, que ameaçava ruir; 1954, 16 Outubro - segundo artigo publicado no jornal Valenciano, a capela estava encerrada, ao abandono e em riscos de ruína; 1965, Maio - ofício da DGEMN informando estar quase concluída a estátua de São Teotónio para colocar no largo fronteiro à capela, devendo a Câmara construir o plinto; 18 Dezembro - inauguração daestátua de São Teotónio no largo.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em cantaria, com paramentos exteriores e interiores rebocados e pintados; molduras dos vãos, cunhais, frisos e cornijas, cruzes, pia de água benta em cantaria; sineira em ferro; retábulos em talha policroma; coro-alto em madeira; pavimento em lajes graníticas; cobertura da nave em falsa abóbada de estuque e em pedra na capela-mor; portas de madeira; janelas gradeadas e envidraçadas; parapeito de ferro; cobertura exterior em telha cerâmica.

Bibliografia

ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de - Alto Minho. Lisboa: 1987, p. 165; ALMEIDA, José Avelino d' - Diccionario abreviado de chorographia, topographia e archeologia das cidades, villas e aldêas de Portugal. Valença: 1866, 3, p. 153-154; CAPELA, José Viriato - Valença nas Memórias Paroquiais de 1758. Valença: 2003; CASTRO, Alberto Pereira de - A Irmandade de Nossa Senhora do Carmo da Praça de Valença. A Capela e os Estatutos. Valença: 1995; NEVES, Manuel Augusto Pinto - Valença - Das origens aos nossos dias. Valença: 1997; NEVES, Manuel Augusto Pinto - Valença - Entre a História e o Sonho. Valença: 2003; NEVES, Manuel Augusto A. Pinto - Valença na História e na Lenda. Valença: 1990, p. 90-91; OLIVEIRA, Eduardo Pires - «O Minho, concelho a concelho (vinte quatro documentos dos séculos XVIII e XIX sobre a arte minhota)». In Mínia. Braga: 2002, nº 10, IIIª série, pp. 242-291; OLIVEIRA, Lopes de - Valença do Minho. Póvoa do Varzim: 1978, p. 170-171; SOROMENHO, Miguel Conceição Silva - Manuel Pinto de Vilalobos da engenharia militar à arquitectura. Dissertação de mestrado em História da Arte Moderna apresentada na Universidade Nova de Lisboa. Lisboa: texto policopiado, 1991.

Documentação Gráfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Fotográfica

DGPC: DGEMN:DSID

Documentação Administrativa

Arquivo Distrital de Braga: Registo Geral, vol. 208, fls. 203v - 204; AHM: Fortaleza de Valença, 3ª Divisão, 9ª Secção, Caixa 11, Doc. 11/13; DIE: Repartição do Património Fortaleza de Valença - Tombo dos Prédios Militares, Prédio nº 1, Concelho de Valença - Tombo do Prédio Militar nº 45

Intervenção Realizada

1829 - obras na capela no valor de 723$175: forro do tecto, colocação de novo soalho em castanho, cobertura, pintura a branco do forro e molduras dos painéis do tecto, e da arquitrave, friso e cornija em cor diferente; reboco das paredes; Governador da Praça de Valença: 1902 - obras de restauro; 1945, Dezembro - início das obras na capela; DGEMN: 1959 - diversas obras de restauro; 1962 / 1963 - obras de restauro da capela; Março - conclusão das obras; 1964 - conclusão das obras da capela; CMV: 1994 - restauro do pavimento, com colocação do lajeado primitivo à vista, substituição do soalho do coro, pintura interior e exterior e reparação do telhado; Comissão Fabriqueira: 1996 - obras de conservação geral; 1998 - restauro dos altares; 1999 - restauro da tela figurando a "Descida da Cruz".

Observações

Autor e Data

Paulo Amaral 1999 / Paula Noé 2005

Actualização

João Almeida (Contribuinte externo) 2018
 
 
 
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