Convento da Graça / Igreja de Santa Maria da Graça

IPA.00006540
Portugal, Santarém, Santarém, União de Freguesias da cidade de Santarém
 
Convento dos Ermitas de Santo Agostinho, que se insere dentro do gótico mendicante. Dada a concepção ainda tradicional da cabeceira (escalonada) por oposição ao carácter mais evoluído da fachada principal, é de presumir que por aí se tenha iniciado a construção (como de resto era habitual). O pórtico inscrito em alfiz e a ornamentação figurativa de alguns capitéis do interior da Igreja têm levado a crítica a inserir a construção na órbita de influência do "ciclo batalhino"; (SERRÃO, 1990) considera-a mesmo uma "imediata ou contemporânea derivação do figurino" da Batalha. No "ciclo batalhino" inscreve-se também o túmulo de D. Pedro de Menezes que pertence à tipologia dos túmulos conjugais de que se conhecem apenas cinco exemplares em Portugal designadamente o de D. João I e D. Filipa de Lencastre e o de D. Duarte e D. Leonor no Mosteiro da Batalha (PT02100401001), o de D. Fernando de Meneses e D. Brites de Andrade na Igreja do Convento de Santa Clara em Vila do Conde (PT01131628004) e o de Pêro Esteves Cogominho e D. Isabel Pinheiro na Igreja da Colegiada de Guimarães (PT01040834007). O túmulo de D.João e de D.Filipa de Lencastre (cujo modelo é provavelmente de inspiração inglesa) é considerado o protótipo do túmulo de D.Pedro de Menezes sendo de salientar as afinidades existentes na arquitectura dos seus baldaquinos; correspondência entre a divisa do defunto e a decoração vegetalista da arca: "Áleo" (aléu, azinheira) evocando a cerimónia de investidura como governador de Ceuta *4.
Número IPA Antigo: PT031416120001
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Convento masculino  Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho - Gracianos

Descrição

Planta longitudinal, orientada, composta; cabeceira mais baixa, tripartida e escalonada com ábside e absidíolos de planta poligonal. Volumes articulados, massas dispostas na vertical. Cobertura diferenciada em telhado de duas águas na nave e transepto, de uma água nas naves laterais. Fachada principal de três panos definidos por contrafortes; pano central de dois registos rasgado por pórtico, de 5 arquivoltas em arco quebrado, inscrito em alfiz, e por grande rosácea; remate em empena angular coroada por cruz de pedra. Fachadas laterais de pano único rasgadas inferiormente, no eixo dos tramos internos, por janelas em arco quebrado, maineladas, e ao nível da nave central por janelas idênticas, abertas no eixo dos pilares; nos topos dos braços do transepto grandes janelões; cabeceira contrafortada, aberta de lumes, cinco na ábside e três por absidíolo. INTERIOR: espaço diferenciado de três naves, de cinco tramos cada, as laterais mais baixas; transepto de dimensões próximas às da nave central; arcos quebrados assentes em pilares cruciformes, capitéis fitomórficos e antropomórficos; arco triunfal encimado por rosácea. Coberturas de madeira nas naves e transepto e de abóbada de cruzaria de ogivas na cabeceira *2. No braço direito do cruzeiro o túmulo de D. Pedro de Menezes e Beatriz Coutinho *3: grande arca quadrangular de calcário assente em oito leões tendo entre as garras despojos humanos e animais; tampa com os jacentes de mãos dadas, cabeças sobre almofadas protegidas individualmemte por grandes baldaquinos e pés assentes em mísulas esculpidas de figurinhas humanas envoltas na vegetação; D. Pedro sopesa montante e traja arnês sob cota de armas com o seu escudo; D. Beatriz segura na mão esquerda o Livro de Horas e veste túnica e capa presa por firmal; frisos decorados com anjinhos, querubins, carrancas e cordas flóricas; arca decorada nas quatro faces por ramos de azinheira envolvendo a divisa "Áleo" que se repete 35 vezes; no frontal direito e nos faciais o brasão de D. Pedro e no frontal oposto os de D. Margarida Sarmento de Miranda, sua primeira mulher, e o de D. Beatriz Coutinho, sua segunda mulher; no frontal direito, sobre o escudo, corre superiormente uma inscrição em caracteres góticos atestando a encomenda do túmulo. À direita deste, em campa rasa, o túmulo de D. Leonor Coutinho, filha de D. Pedro de Menezes e de D. Margarida de Miranda. No absidíolo direito, diante da mesa de altar, a sepultura de Pedro Álvares Cabral em campa rasa: laje rectangular simples gravada de inscrição em caracteres góticos. Dispersas na igreja várias outras sepulturas constituídas por arcas tumulares inseridas em arcossólios, de diversos estilos e épocas, uma delas ricamente lavrada.

Acessos

Largo Pedro Álvares Cabral (antigo Largo da Graça)

Protecção

Categoria: MN - Monumento Nacional, Decreto de 16-06-1910, DG, 1.ª série, n.º 136 de 23 junho 1910 / ZEP / Zona "non aedificandi", Portaria, DG, 2.ª série, n.º 282, de 04 dezembro 1946 *1

Enquadramento

Urbano. Afrontando a via pública, harmonizado com o casario circundante, de dois e três pisos.

Descrição Complementar

Brasão de D. Pedro de Menezes: no frontal tem por trimbe uma cabeça de cervo esfolada cuja pele serve de paquife; escudo cortado por traços e partido de dois num total de 6 quartéis( I, II, V: dois lobos sotopostos; II, IV, VI: quatro palas sobre o escudete liso). Brasão de D. Beatriz Coutinho: partido com as armas de D. Pedro e cinco estrêlas de cinco pontas; brasão de D. Margarida de Miranda: partido com as armas de D. Pedro e uma aspa e quatro flores-de-lis.

Utilização Inicial

Religiosa: convento masculino

Utilização Actual

Cultural e recreativa: monumento / Educativa: escola profissional

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

DGPC, Decreto-Lei n.º 115/2012, DR, 1.ª série, n.º 102 de 25 maio 2012

Época Construção

Séc. 14 / 15 / 16 / 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

PINTOR: Diogo Teixeira (1603-1606).

Cronologia

1376 - os padres Agostinhos fixam-se em Santarém, pedindo o patrocínio da família Meneses; instalam-se nas casas do Mestre Pedro de Lei, pertencentes ao Conde de Ourém, o padre João Torre e três religiosos; doação das casas para fundação de um mosteiro; 1380, 16 abril - lançamento da primeira pedra da nova igreja por D. João Afonso Telo de Menezes, Conde de Ourém, e pela sua mulher, D. Guiomar Vilalobos; séc. 15, 1.º quartel - termina a construção; 1437, cerca - túmulo do neto do fundador D. Pedro de Meneses (governador de Ceuta (1415-1437), 1.º Conde de Vila Real e 2.º de Viana do Alentejo (desde 1424)) e de sua mulher, D. Beatriz Coutinho, mandado edificar por sua filha; 1446, 08 Julho - a Condessa de Ourém, D. Guiomar de Freire Vila Lobos doa aos frades a Quinta da Goxa, em Almeirim; 1532 - fundação da Capela do Senhor dos Passos, na nave lateral S.; 1531 - 1548 - provável desmoronamento das abóbadas das naves e sua substituição por tectos de madeira; 1594 - D. Gil Eanes da Costa e a mulher, Margarida de Noronha, instituem a Capela de São Nicolau Tolentino, no braço N. do transepto; 1603-1606 - pintura do quadro da Capela de Gil Eanes da Costa por Diogo Teixeira; 1609, 26 Março - instituição do Morgado de São Nicolau Tolentino; 1612, 29 Maio - sepultado na Capela de São Nicolau Tolentino D. Gil Eanes da Costa; séc. 17 - 18 - decorações várias nos altares e capelas (pinturas, painéis cerâmicos, retábulos, etc.), substituição das cornijas e cachorros; séc. 18 - colocação da decoração azulejar nas paredes laterais da Capela de Santa Rita; 1725 - trasladação do túmulo de D. Pedro de Meneses da Capela de Santa Rita, situada no topo do cruzeiro do lado da Epístola, para a nave lateral esquerda, no sub-coro; 1755, 01 Novembro - o terramoto provoca estragos nas estruturas murárias e coberturas e consequente reparação; séc. 19 - entaipamento das portas de comunicação entre a ábside e os absidíolos e das frestas aí existentes bem como nas capelas das naves; 1829 - o edifício funciona como cadeia; 1830, 10 Novembro - os frades requerem a retirada dos presos; 1833, 14 Março - o Prior pede para serem transferidos os presos para o Aljube; 1834 - extinção das ordens religiosas; 1847, Novembro - Silvério Alves da Cunha adquire o mosteiro; 1849 - instalação do asilo de Santo António no edifício, legado pelo proprietário; 1865 - medição do edifício pelo Cónego Joaquim Maria Duarte Dias, referindo que a nave tem 35,60m de comprimento e 18,90m de largura, tendo o cruzeiro 32,24m x 7,10m; a capela-mor tem 10,15mx 7,20m, com a altura de 11,92m; a capela-mor tem forma elíptica; 1870, 05 Abril - por Alvará do Governo Civil são aprovados os Estatutos do Asilo; 1882, 06 Agosto - verificação dos ossos de Pedro Álvares Cabral; 1890 - demolição de parte do Convento; 1903, 10 Fevereiro - Portaria determina a exumação das ossadas de Pedro Álvares Cabral, para estudo e observação por parte do médico brasileiro Alberto de Carvalho; 1938, 04 Maio - o Ministro do Interior autoriza o Asilo a receber o legado deixado em testamento por D. Eugénia Maria da Silva Anacoreta; 1940 - cedência do altar de São Nicolau Tolentino para a Igreja de Marvila, por interferência do engenheiro Zeferino Sarmento, depois transferida para a Igreja de Jesus Cristo, do antigo Hospital; remodelação da Capela de Santa Rita com colocação de alguns azulejos na parede fundeira da capela-mor, indo outros para a Igreja Paroquial da Golegã; 1948 - terminam as obras de restauro da DGEMN; 1949 - início da última fase das obras; 1971, 16 Abril - a Secretaria de Estado da Saúde e Assistência autoriza a ampliação do Lar; 29 Abril - a Direcção-Geral de Assistência envia ao Director-Geral dos Serviços de Urbanização de Lisboa um projecto para ampliação do lar; 1983, 21 Novembro - a verba para a reconstrução e ampliação ainda não tinha sido concedida; 1985, 09 Maio - arquivo do projecto de ampliação; 1992, 01 junho - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126; 1998 - colocação da tela de São Nicolau no altar, após restauro; 2009, 24 agosto - o imóvel é afeto à Direção Regional da Cultura de Lisboa e Vale do Tejo, Portaria n.º 829/2009, DR, 2.ª série, n.º 163.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Calcário; aparelho à vista no exterior, rebocado e caiado no interior. Uma cintagem em betão (oculta) consolida as estruturas murárias. Coberturas internas de madeira

Bibliografia

BRAZ, José Campos - Santarém raízes e memórias - páginas da minha agenda. Santarém: Santa Casa da Misericórdia de Santarém, 2000; CHICÓ, Mário Tavares - A Arquitectura Gótica em Portugal. 3.ª ed., Lisboa: Livros Horizonte, 1981; DIAS, Pedro - História da Arte em Portugal - O Gótico. Lisboa: Edições Alfa, S.A., 1986, vol. IV; GONÇALVES, António Augusto - Estatuária Lapidar no Museu Machado de Castro. Coimbra: s.n., 1923; GORDALINA, Rosário - «Simboli e significati di un quattrocentesco sarcofago portoghese». La Nuova Città. Firenze: 1995, n.º 9; GOULÃO, Maria José - «Figuras do Além. A escultura e a tumulária» in História da Arte Portuguesa. Lisboa: 1995; Igreja da Graça - Santarém. Boletim da Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais. Lisboa: Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, 1951, n.º 65-66; Relatório da Actividade do Ministério no ano de 1952. Lisboa: Ministério das Obras Públicas, 1953; RODRIGUES, Martinho Vicente - O "Santíssimo Milagre" de Santarém. Santarém: Real Irmandade do Santíssimo Milagre, 2008; SANTOS, Reinaldo dos - A Escultura em Portugal. Lisboa: Academia Nacional de Belas-Artes, 1950; SARMENTO, Zeferino - História e Monumentos de Santarém. Santarém: Câmara Municipal de Santarém, 1993; SEQUEIRA, Gustavo de Matos - Inventário Artístico de Portugal - Distrito de Santarém. Lisboa: Academia Nacional de Belas-Artes, 1949, vol. III; SERRÃO, Joaquim Veríssimo - Santarém - História e Arte. Santarém: Comissão Distrital de Turismo, 1959; SERRÃO, Vitor - Santarém. Lisboa: Editorial Presença, 1990; VASCONCELOS, Padre Ignácio da Piedade - História de Santarém edificada. Lisboa: s.n., 1740, vol. II, tomo I.

Documentação Gráfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Fotográfica

IHRU: DGEMN/DSID

Documentação Administrativa

IHRU: DGEMN/DSID

Intervenção Realizada

DGEMN: 1947 / 1949 / 1951 - demolição de edifícios de época posterior adjacentes ao corpo da Igreja; demolição da galeria superior da ala N. do claustro e de quaisquer estruturas ou ornamentos considerados não originais (cúpula da capela no braço N. do transepto; coro-alto; revestimento de altares e capelas, etc.); consolidação das estruturas murárias e respectivos alicerces; reconstrução geral dos telhados, cornijas, fenestrações, elementos de suporte; são desta época o apeamento de um altar do absídiolo direito, retábulo e teia da capela de São Miguel, tendo sido transferidos para a Igreja de Moçarria (v. PT031416120137); apeamento de um altar em pedra, de uma capela, e transferido para a Igreja do Hospital da Misericórdia de Santarém (v. PT031416200018); 1983 - beneficiações em vitrais e portas; 1994 - obras de beneficiação na cobertura; 1995 - restauro das pinturas da capela-mor; CMS: 1994 / 1997 - limpeza e consolidação dos azulejos do Painel de Santa Rita.

Observações

*1 - DOF: Igreja de Santo Agostinho da Graça, compreendendo os túmulos designadamente os dos fundadores e de Pedro Álvares Cabral. Restauro e beneficiação das pinturas e talha da nave. *2 - é provável que em tempos a Igreja tivesse cobertura de abóbada nas naves como denunciam os pilares cruciformes de colunas adossadas e, acima dos capitéis, os vestigíos do arranque dos arcos torais; todavia as janelas do clerestório rasgam-se actualmente no eixo dos pilares inviabilizando tal solução. *3 - no túmulo de D. Pedro de Meneses o jacente feminino tem sido identificado pela crítica como sendo o de D. Beatriz Coutinho, D. Margarida de Sarmento Miranda e, erroneamente, como de D. Leonor Coutinho. *4 - na fachada O. da Igreja de Nossa Senhora das Ondas em Tavira ( v. PT05081405024 ) encontram-se duas lápides com a inscrição "ALEO" envolvida por ramos de zambujeiro.

Autor e Data

Rosário Gordalina 1990

Actualização

2010
 
 
 
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