Fortaleza Real de São Filipe

IPA.00007107
Cabo Verde, Ilha Santiago, Ribeira Grande de Santiago, Ribeira Grande de Santiago
 
Arquitectura militar, renascentista. O desenho segue a escola italiana. A ausência de casamatas no sistema defensivo leva a concluir que se está na presença dum traçado já muito amadurecido produto duma evolução fora de Portugal. Forte de defesa composto por um baluarte ao centro voltado a nascente e dois meios baluartes com orelhão nos extremos opostos das cortinas. No interior do Pátio de Armas levantavam-se as construções de apoio ao funcionamento do forte: quartéis, prisões, armazém de munições, a casa do Governador da Praça e a Capela de São Gonçalo. Fortaleza abaluartada para defesa terrestre e comando do sistema de defesa marítimo. O seu desenho e a sua localização é comparável com outras fortalezas construídas no período filipino, projectadas quase sempre por arquitectos italianos, como por exemplo os fortes de: São Tiago da Barra em Viana do Castelo, São Filipe em Setúbal, São João Baptista (antigo São Filipe) em Angra do Heroísmo, Forte do Pico no Funchal e Forte da Aguada em Goa. Nenhum dos fortes mencionados tem uma concepção de funcionamento igual à da fortaleza de São Filipe em Cabo Verde. As condições do terreno forçaram a uma concepção única porque para além da função de cidadela, recinto de segurança e refúgio em caso de ataque, ela comandava o sistema de defesa marítimo, constituindo o elemento chave de uma cadeia de fortificações que se escalonavam ao longo da orla marítima com os fortes de São Lourenço (v. CV009101010013) e São Brás (v. CV009101010014) no lado ocidental da ribeira, e os do Presídio (v. CV009101010010), São Veríssimo (v. CV009101010011), São João dos Cavaleiros (soterrado pelo pavimento de um restaurante construído recentemente) e Santo António (v. CV009101010012) do lado oposto. Esta sucessão de baterias unidas em parte por cortinas de muralha, formava uma frente bastante compacta para asssegurar a eficácia da defesa da costa.
Número IPA Antigo: CV910602000009
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Militar  Fortaleza    

Descrição

Planta poligonal de traçado abaluartado com duas fachadas voltadas à campanha e duas frentes muralhadas com parapeitos de tiro, voltadas à cidade. Tem um baluarte ao centro voltado a nascente e dois meios baluartes com orelhão nos extremos opostos das cortinas. Os outros dois lados do quadrilátero onde se inscreve a fortaleza seguem o andamento do terreno escarpado. Devido às características do traçado tem uma forte imagem volumétrica que não corresponde aos reduzidos "movimentos de terra" feitos para a sua construção. Para o lado das escarpas os muros da fortaleza que limitam o terreiro da praça de armas que está à cota do terrreno natural, fundem em baixo na encosta. Para NO. o muro tem a imagem de um grande paredão. Para SO. tem uma forte expressão que é claramente visível a quem se aproxima por mar. A ausência de casamatas no sistema defensivo leva a concluir que se está na presença dum traçado já muito amadurecido, produto duma evolução fora de Portugal. Duas fachadas principais, sendo a de NE. definida pelo meio baluarte da Poterna, onde se situa a entrada para a fortaleza, com uma porta rectangular em cantaria, de lintel recto, o baluarte de São Gonçalo e respectiva cortina e a SE. definida pelo baluarte de São Gonçalo, meio baluarte de São Benito e respectiva cortina. Duas fachadas secundárias voltadas às ravinas. Articulação interior/exterior desnivelada, apresentando a praça de armas níveis próximos das cotas da achada de São Filipe com desnível em relação à encosta que leva à cidade. INTERIOR: Os terraplenos dos baluartes estão cerca de quatro metros acima da cota do terreno natural da achada que se estende à sua frente. Acede-se a eles por uma rampa destinada a movimentar a artilharia que liga o terreiro da praça de armas directamente com a plataforma de São Gonçalo. Uma escada secundária faz também a ligação da praça de armas com a plataforma de tiro junto ao meio baluarte de São Benito. Este meio baluarte está a cavaleiro duma plataforma, que a um nível interior prolonga a face do meio baluarte até ao ângulo flanqueado no limite da face SE. Uma ampla plataforma de tiro que corre ao longo de toda a frente, é guarnecida com um forte parapeito em que se abrem canhoneiras nos baluartes e frestas de tiro nas cortinas. Os ângulos flanqueados dos dois meios baluartes são guarnecidos de guaritas, de base quadrangular e telhado de quatro águas no extremo N. e base triangular e telhado de três águas no extremo S. da frente abaluartada. As áreas das jazidas arqueológicas encontram-se delimitadas e identificadas, consistindo na residência do Governador, ermida de São Gonçalo (ambas com restos da antiga pavimentação), armazéns de munições e artilharia. Ao centro da praça encontra-se a cisterna, de planta circular e coberta por cúpula com pedra de fecho da abóbada projectada para o exterior. São ainda visíveis restos da canalização. O acesso ao interior da cisterna faz-se através de uma porta que dá para uma escada de um lance, actualmente em madeira, piso em ladrilho e abóbada em tijolo.

Acessos

Ilha de Santiago, Estrada principal da cidade da Praia, Rua Direita ao Forte

Protecção

Incluído no conjunto da Cidade Velha (v. CV009101010001)

Enquadramento

Sobranceiro à Cidade Velha, no vértice da Achada de São Filipe, à cota de 100 m., domina a cidade que se desenvolve no vale da Ribeira Grande. A sua localização no extremo do planalto coloca-a numa posição de isolamento, conferindo-lhe excelente capacidade de observação sobre o mar, sobre os acessos à cidade e sobre as achadas do Salineiro e São Lourenço que se desenvolvem a poente.

Descrição Complementar

Utilização Inicial

Militar: fortaleza

Utilização Actual

Cultural e recreativa: marco histórico-cultural

Propriedade

Pública: estatal

Afectação

Época Construção

Séc. 16 / 17

Arquitecto / Construtor / Autor

ARQUITECTO: Filippo Terzi (atr.). MESTRE de OBRAS: João Nunes.

Cronologia

1542 - Jorge Varela, em carta ao rei, alertava para a situação e o perigo em que se encontravam devido aos fracos recursos defensivos que dispunham; 1582 - Diogo Flores de Valdez dirige uma carta a Filipe II, relatando a fragilidade da defesa da cidade, propondo para o efeito a construção de fortes e baluartes; 1585 - ataque de Francis Drake à cidade; 1586 - apelo ao rei para que se reforce a defesa da cidade e da ilha. Torna-se necessário fortalecer o porto da Ribeira Grande, recuperando os baluartes existentes e construindo-se um forte no lugar da Achada "que está mais alto que a Cidade e é o caminho que vai deste porto para ela"; c. 1587 - início da construção da Fortaleza Real de São Filipe; 1593 - concluída a edificação da fortaleza, assente sobre uma achada a E. da cidade, num plano muito superior a ela. "Tinha esta fortaleza a E. e W. dois baluartes completos e ao N. e S. meios baluartes. A porta principal da entrada estava no baluarte de E.. Próximo ao meio baluarte do S. ficava a residência do capitão geral e fronteiro a esta a ermida de São Gonçalo. No meio da praça abria-se uma boa cisterna e a SE. desta construiram-se os armazéns da pólvora e munições de guerra. A W. da residência do capitão geral, e no mesmo alinhamento, ficavam os quartéis da guarnição, calabouços e corpo da guarda. Pelo N. e W. fechava a fortaleza um muro de 480 palmos de alto, muro assente sobre uma rocha que domina a cidade" (BARCELLOS, 1899); 1606 - Há na cidade "uma fortaleza de bom tamanho, e bastante provida, e fabricada de boas casas de pedra e cal" (Relação da Costa da Guiné); 1596 - ataque dos ingleses à cidade, fazendo cerco à fortaleza; 1610 - os governadores enviados para o arquipélago referem o mau estado dos baluartes e fortes, bem como da falta de armas portáteis, munições e peças de artilharia; 1614 - o Governador Nicolau de Castilho dá conta de que as fortalezas e os baluartes se acham arruinadíssimos, sendo urgente acudir-lhes; 1619 - carta do Governador D. Francisco de Moura, a D. Filipe II acusando estar a fortaleza muito arruinada, por ser "de pedra e barro" e nesta medida necessitar de grandes reparos, informando sobre a reforma que fez num "lanço de muro da banda do mar";1620 - reclama a Câmara o cumprimento da ordem real pela qual ficavam destinados 600.000 reais para as obras da fortificação da ilha e o envio do arquitecto, que nunca chegara a ir; 1638 - pedido ao Reino de carpinteiros e pedreiros para a reparação das fortificações; Séc. 18 - construção da cisterna durante o reinado de D. João V; 1712 - ataque de Jacques Cassard à cidade; 1718 - as casas da fortaleza encontravam-se destruídas; 1724 - a cidade foi abandonada e as fortalezas acham-se desguarnecidas e sem capacidade de defesa; 1725 - os fortes encontram-se desguarnecidos; 1764 - a fortaleza foi reedificada pelo governador Bartolomeu de Sousa de Brito; 1778 - uma planta desta época indica várias zonas da alcáçova arruinadas, aparecendo em pé apenas a residência do governador e a capela; 1841 - a fortaleza encontrava-se arruinada; 1960 - projeto da autoria de José Luís Amorim (arquiteto da Direção de Serviços de Urbanismo e Habitação - Direção-Geral de Obras Públicas e Comunicações do Ministério do Ultramar) de restauro das muralhas da fortaleza, contemplando a construção de um "abrigo-café"; 1960, década - Luís Benavente tem um plano de intervenção que inclui a construção da casa do governador, casa dos oficiais, a cisterna, rampa de artilharia e a casa da guarnição (esta para utilizar como abrigo da juventude); 1969 /1973 - durante as obras de reabilitação é descoberta a antiga capela, o que teria levado Luís Benavente a refazer todo o projecto das construções no interior; 1994 - prospecções arqueológicas que deixaram a descoberto os muros dos antigos quartéis e a casa do capitão geral

Dados Técnicos

Estrutura autoportante

Materiais

Alvenaria de pedra, basalto, calcário, telha, tijolo de burro, tijolo maciço, cal

Bibliografia

VALDEZ, Francisco Travassos, África Ocidental - Notícias e Considerações, vol. I, Lisboa, 1864; BARCELLOS, Cristiano José de Senna, Subsídios para a História de Cabo Verde e Guiné, vol. VII, Lisboa, 1889 - 1913; RIBEIRO, Orlando, Primórdios da Ocupação das Ilhas de Cabo Verde, Revista da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, T. XXI, 2ª série, nº 1, Lisboa, 1955; BRÁSIO, António, Monumenta Missionária Africana - África Ocidental, Lisboa, 1956 - 1964; ANARAL, Ilídio do, Santiago de Cabo Verde. A Terra e os Homens, Lisboa, 1964; MEDEIROS, Carlos Alberto, Notícia da Cartografia do Arquipélago de Cabo Verde, vol. III, nº 5, Lisboa, 1968; CARREIRA, António, Cabo Verde. Formação e extinção de Uma Sociedade Escravocrata (1460-1878), Lisboa 1972; MOTA, Avelino Teixeira da, Alguns Aspectos da Colonização e do Comércio Marítimo dos Portugueses Na África Ocidental nos séculos XV e XVI, Lisboa, 1976; AZEVEDO, Arq. Paulo de, Preservação do Património Cultural e Arquitectural Histórico de Cabo Verde, Relatório de Missão da UNESCO, (Traduzido do original francês pela Direcção-Geral da Cultura), (texto policopiado), Paris, 1981; PEREIRA, Daniel, Marcos Cronológicos da Cidade Velha, 1988; Oceanos, nº 5, Novembro 1990; História Geral de Cabo Verde, coord. Luís de Albuquerque e Maria Emília Madeira Santos, 2 vols., 1991; FILHO, João Lopes, Musealização da Ribeira Grande em Santiago de Cabo Verde, Islenha, nº 4, Funchal, Janeiro-Junho, 1994; Oceanos, nº 28, Outubro/Dezembro 1996; FREIRE, Verónica dos Reis, Protecção do Património Cultural Construído, Revista de Cultura. Cabo Verde, nº 1, 1997; DIAS, Pedro, "As ilhas africanas. Cidades, edifícios e ornamentos" in História da Arte Portuguesa no Mundo (1415-1822). Espaço do Atlântico, Lisboa, 1998; PIRES, Fernando Jesus Monteiro dos Reis, Da Cidade da Ribeira Grande à Cidade Velha de Cabo Verde - Análise histórico-formal do espaço urbano (séc. 15-18), dissertação de mestrado, Lisboa, 1988; Espaços Urbanos de Cabo Verde. O Tempo das Cidades Porto, Lisboa, 1998.

Documentação Gráfica

GSMC de Cabo Verde; AHU: Cartografia de Cabo Verde, nº 120, 125, 127; ANTT: Arquivo Luís Benavente, caixa 66 pasta 450, 451, 452 e 453, pasta 2084, caixa 105 pasta 672a; Instituto Geográfico do Exército.

Documentação Fotográfica

GSMC de Cabo Verde; IHRU: DGEMN/DSID; Base Aérea nº1 de Sintra.

Documentação Administrativa

GSMC de Cabo Verde; AHM: Cartografia de Cabo Verde, nº 120, 125, 127; ANTT: Arquivo Luís Benavente, caixa 66 pasta 450, 451, 452 e 453, pasta 2084, caixa 105 pasta 672a; Instituto Gegráfico do Exército.

Intervenção Realizada

DGMU: anos 60 - consolidação das ruínas; obras de restauro; AECI: 1999 - obras gerais de consolidação e restauro; intervenção arqueológica, pondo a descoberto os vestígios da cortina de atiradores à frente da muralha.

Observações

Autor e Data

Cecília Matias e Sousa Lobo 2000

Actualização

Tiago Lourenço 2013 (projeto FCT PTDC/AURAQI/104964/2008 "Gabinetes Coloniais de Urbanização: Cultura e Prática Arquitectónica")
 
 
 
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