Convento da Caloura / Recolhimento da Caloura

IPA.00008092
Portugal, Ilha de São Miguel (Açores), Lagoa, Água de Pau
 
Arquitetura religiosa, maneirista. Recolhimento de planta em U, com capela retangular disposta numa das alas, composta de nave e capela-mor, mais baixa, flanqueada por corredores. A capela possui a fachada principal revestida a azulejos de padrão maneirista, cunhais apilastrados, remate em espaldar recortado com imagem do orago em nicho e é rasgada por portal de verga reta e três janelas superiores. Os panos laterais, correspondentes aos corredores, são rasgados por porta de verga reta e rematam em sineira. No interior, igualmente revestido a azulejos de padrão, possui coro-alto, púlpito no lado do Evangelho, com guarda plena, confessionários embutidos laterais e dois retábulos colaterais de talha dourada. Na capela-mor, o retábulo de talha pintada de vermelho e dourado tem planta reta e um eixo, sendo barroco, de estilo nacional. Recolhimento com planta em U, sendo uma das alas paralela à capela, com as fachadas evoluindo em dois pisos, rasgados por vãos retilíneos. No interior, as várias dependências dispõem-se sequencialmente, sendo acedidas por corredor lateral.
Número IPA Antigo: PT072101010007
 
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Registo

 
Edifício e estrutura  Edifício  Religioso  Convento / Mosteiro  Recolhimento feminino  

Descrição

Planta em U irregular, com a zona aberta virada a O., desenvolvendo-se a N. a igreja. Volumes articulados com coberturas diferenciadas em telhados de duas águas. Fachadas rebocadas e pintadas de branco, por vezes com faixas cinzentas. IGREJA de planta retangular, composta por nave e capela-mor, mais baixa, a primeira flanqueada por corredores laterais, tendo adossado à fachada lateral esquerda sacristia retangular e, obliquamente, corpo retangular. Fachada principal da igreja virada a O., de três panos, definidos por pilastras toscanas coroadas por pináculos piramidais, assentes em plintos paralelepipédicos; o pano central, correspondente à nave, é revestido a azulejos de padrão bícromos azuis sobre fundo branco, e apresenta dois registos separados por friso e cornija, sobre o qual se desenvolve o remate em espaldar recortado, formando volutas laterais e o topo, onde tem elementos vegetalistas estilizado, coroado por cruz latina de braços quadrangulares. Ao centro do espaldar, abre-se nicho em arco peraltado sobre pilastras, decoradas com festões de frutos, interiormente concheado e albergando imagem pétrea, envolvido por frisos verticais sustentando cornija. Sobre a moldura superior do nicho e o remate existe flor-de-liz invertida. No primeiro registo rasga-se portal de verga reta com moldura simples e, no segundo, três janelas retilíneas, com molduras assentes em falsas mísulas e superiormente terminada em cornija encimada por friso e cornija, sendo a central maior e ladeada por dois frisos verticais. Os panos laterais são rebocados e pintados de branco, correspondendo o do lado N. a torre sineira, rasgada superiormente por vão em arco de volta perfeita, albergando sino, e sendo a do S. falsa, com marcação do vão e sino em argamassa, pintada a imitar cantaria. Inferiormente são rasgados por porta de verga reta, a esquerda protegida por porta de madeira com reixas, possuindo num plano recuado uma outra porta de verga reta moldurada, encimada por óculo retangular, em cantaria, recortado para iluminação e arejamento dos corredores laterais da igreja. Fachada lateral esquerda terminada em cornija, possuindo o vão da sineira, albergando sino, ladeado por pilastras coroadas por pináculos e o corredor rasgado por óculo retangular vazado. O corpo oblíquo é rasgado por porta de verga reta, entaipada, entre duas janelas de capialço, a da direita mais pequena. Capela posterior da capela-mor com alguns silhares aparentes e com cunhais apilastrados, coroados por pináculos piramidais. INTERIOR com as paredes da igreja revestidas a azulejos de padrão e os vãos com molduras de cantaria pintadas a marmoreados fingidos. Portal axial ladeado, no lado da Epístola, por pia de água benta oval, exteriormente com toro e gomos. Coro-alto de madeira com guarda em balaustrada, pintada a azul e vermelho, tendo a zona do sub-coro marcado por teia plena, de pau preto, em talha pintada a cor de laranja, com acantos dourados e cartela com coração inflamado atravessado por setas. Nas paredes laterais existe, de cada lado, dois confessionários embutidos, de verga reta, com as portas pintadas de vermelho e motivos decorativos a dourado e, interiormente a marmoreados fingidos e molduras de concheados. No lado do Evangelho dispõe-se o púlpito, de bacia retangular, assente em dois modilhões, com guarda plena de talha policroma, decorada com florão inserido em losango envolvido por motivo lanceolado, sendo acedido por porta de verga reta; esta é encimada por baldaquino de talha, ao nível da cornija da cobertura, decorado com pomba do Espírito Santo inserida em cartela circular. Presbitério marcado por teia de balaústres. Arco triunfal revestido a talha pintada de vermelho, encimado por coroa, ladeado por dois retábulos colaterais de talha, postos de ângulo, com um eixo. Junto aos retábulos, abrem-se portas para os corredores laterais. Sobre cornija, desenvolve-se a cobertura da nave, de madeira e perfil curvo, pintado com frisos fitomórficos e cartelas, a central ampla e recortada, definida por concheados e contendo símbolos marianos e inscrição. Na capela-mor o retábulo-mor tem policromia vermelha e dourado, de planta reta e um eixo definido por seis colunas torsas, decoradas com aves e pâmpanos, assentes em altos plintos ornados de acantos e concheados, e de capitéis coríntios, prolongadas no ático em igual número de arquivoltas, unidas no sentido do raio, com pelicano em cartela no fecho; o retábulo é encimado por florões de talha nos ângulos; ao centro abre-se tribuna em arco de volta perfeita, com boca decorada de acantos, interiormente com apainelados pintados de vermelho, e albergando trono de três degraus, ornados de acantos, o inferior inserindo sacrário, e o superior encimado por anjos tenentes sustentando resplendor. A boca da tribuna é fechada por tela com representação da "Descida da Cruz". O sacrário é facetado, tendo nos ângulos pilastras sobrepostas por figuras híbridas de bigode e a porta é decorada com a figura de Cristo redentor. Altar paralelepipédico, em mármore, com cruz inserida em losango. Cobertura de madeira, em masseira, pintada de vermelho, formando apainelados de acantos enrolados dourados, intercalados por florões e losangos dourados relevados. Na capela-mor abrem-se lateralmente duas portas, com portas pintadas, de acesso à sacristia (Evangelho) e ao quarto do arquivo (Epístola). A sacristia é pequena e tem as paredes caiadas de branco; na parede de fundo possui arcaz pintado, encimado por espaldar também pintado, lateralmente com albarradas e frontalmente, entre quarteirões, por motivos florais e drapeados a abrir em boca de cena e lambrequim. O quarto do arquivo possui, à esquerda, um armário embutido, interiormente dividido em dois, com albarradas pintadas nas portas. Inserido em arco sobre pilastras, existe lavabo de espaldar retangular com florão, encimado por depósito em arco, sobrepujado por silhar, e tendo inferiormente dois frisos, o inferior convexo e com torneira; é ladeado por aletas e florões encimados por pináculos relevados. RECOLHIMENTO de planta em U sensivelmente irregular, com uma ala paralela à igreja. Fachadas de dois pisos, com faixa, cunhais, remate e molduras dos vãos sublinhados a cinzento. A fachada virada a E. remata em cornija encimada por platibanda plena e é rasgada por vãos retilíneos, correspondendo a portas e janelas no piso térreo, uma das portas mais larga, e a janelas de peitoril no segundo, ladeadas por vaseiras. INTERIOR com as paredes rebocadas e pintadas de branco. As alas possuem as várias dependências dispostas sequencialmente com acesso por corredor disposto num dos lados, na ala N. dispondo-se a N. e correspondendo ao corredor S. da capela e nas outras alas disposto nas fachadas viradas ao jardim. O corredor E. tem à esquerda dois pequenos nichos, um entre a porta do arquivo e a da escada, e o outro a seguir à última sala desse lado; no extremo S. acede a sala mais ampla, que se julga ter sido a denominada casa grande das visitas. No final do corredor E. - O. existe porta envidraçada que liga ao exterior e aos anexos. Sobre este corredor existe um balcão lajeado, com bailéu, também acedido por escada a partir do jardim. A portaria apresenta arcos frontais e lateralmente portas de ligação à copa, cozinha, frasqueira e outra dependência e à adega e refeitório. A copa, acedida por arco de volta perfeita sobre os pés direitos, tem grande mesa de pedra monolítica e a fonte da antiga cisterna. A cozinha tem lava louça e mesa em pedra, esta encimada por longa prateleira de madeira e com chaminé; o seu pavimento e o do quarto dos suplícios, nas imediações, é em joga. A adega tem longitudinalmente seis arcos sobre impostas. A cerca possui a O. um portão de ferro ladeado por painel de azulejos com oração, à esquerda, e uma pequena fonte encimada por painel de azulejos, à direita. A NE. da ermida e na continuação do caminho existe portal de verga reta, encimado por cruz inscrita com a data de 1731. Grande parte da cerca está ajardinada, possuindo ainda dois tanques com peixes. Próximo da cozinha existe lavandaria, um pequeno quarto de banho e dois duches para apoio na época balnear.

Acessos

Água de Pau, estrada regional

Protecção

Categoria: IIP - Imóvel de Interesse Público, Resolução do Governo Regional dos Açores n.º 79/2008, JORAA, 1.ª série, n.º 103 de 09 de junho 2008

Enquadramento

Peri-urbano, marítimo, isolado. Ergue-se no vale da Caloura, outrora denominado Vale de Cabaços, na proximidade do seu porto, sobre rocha, adaptado ao declive do terreno. Junto ao edifício passa via pública, com passeio separador. A capela tem adro retangular rebaixado relativamente à estrada, acedido por escada de dois lanços, delimitado por muros, interiormente percorrido por bailéu, capeado a cantaria, e com as escadas flanqueadas por canteiros; o adro tem pavimento lajeado com três faixas em joga (calhau rolado), formando desenhos geométricos. A cerca tem acesso a O. por dois portões, o disposto a N. da capela, tendo adossado corpo da garagem construído sobre antigo baluarte, que ainda conserva três canhoneiras com bocas de fogo, que ainda funcionam.

Descrição Complementar

A fachada principal da igreja é revestida a azulejos de padrão bícromos azuis sobre fundo branco (2 x 2/1), com padrão P-9, e com frisos de renda, azuis sobre fundo branco e com apontamentos amarelos F-3; o espaldar do remate integra a meio painéis com albarradas ladeadas de aves. Sob o nicho da fachada principal existe a inscrição "DEZEMBRO 1684". O interior da igreja é revestido a azulejos de padrão azul sobre fundo branco, 2x2/1 (P-25), com cerca de 4,70m de altura (33 azulejos), incluindo oito painéis de 10x8 azulejos, três do lado da Epístola, com albarradas ladeadas de pássaros, diferentes entre si, e um intermédio com 11x8, com a imagem de um ermitão e com a inscrição inferior: "O PE. DIOGO DA MADRE DE DEOS FVNDADOR DA RECOLETA obiit 630". Na zona do coro-alto, subsiste parte de um painel com 10 x 8 azulejos, já sem a zona central, tendo-se colocado alguns sob a janela; entre esses figura um com a data inscrita de "1725". A zona do sub-coro é revestida a azulejos de padrão policromo, 6x6/8 (P-37) e com barra (B-5). Sobre o arco triunfal, surgem integrados no revestimento três painéis, dois com 9x6 e o central com 12x9, com moldura de concheados policromos, figurando São Pedro (Evangelho), São Paulo (Epístola) e uma Sagrada Família, tendo inferiormente a inscrição "MÃII DE DEOS ADUOGADA DOS / PECCADORES, FEITO A INSTANCIA / DO PE. PEDRO DE S. PAULO NO ANNO DE 1779". A meio do arco triunfal existe sepultura com a inscrição "SEPULTURA DO PADRE MANUEL / DA PURIFICAÇÃO / COMPANHEIRO DOS PADRES / DAS FURNAS". E na parte inferior do soalho que está sobre a mesma sepultura encontra-se longa inscrição redigida por Hugo Moreira. A capela-mor apresenta a parede interna do arco triunfal revestida a azulejos de padrão policromo misturados com padrão azul e branco, truncados, com alguns azulejos de friso de renda dupla. Nas paredes laterais tem igualmente azulejos de padrão como os da nave integrando dois painéis figurativos de 11x5, representando São Filipe de Neri (Evangelho) e Santa Teresa (Epístola), devidamente identificados com a inscrição "S. PHILLIPE NERI" e "S. THEREZA", respetivamente. Retábulos colaterais de talha pintada a vermelho e dourado, de um eixo definido por duas pilastras exteriores, ornadas de acantos, e duas colunas interiores, prolongando-se pelo ático. Nas paredes laterais, entre os retábulos e o coro, estão pintados, a preto, citações Bíblicas, cinco de cada lado, de Profetas e Evangelistas. A cobertura da nave possui a cartela central definida por concheados e 16 estrelas, contendo a representação de um sol e uma lua e a inscrição "PULCRA AELECTA / VT LUNA UT SOL, / CONCEPTIO TUA, DEI / GENITRIX VIRGO GAU- / DIUM ANNUNTIAVIT / UNIVERSO MUNDO", que traduzido significa "Formosa eleita como a lua, como o sol, a tua conceção, Virgem Mãe de Deus anunciou uma alegria a todo o mundo". O pavimento da capela-mor integra, do lado do Evangelho, a sepultura do Pe. João da Madre de Deus, em mármore, com a inscrição: "HAEC REQUIES MEA / HIC HABITABO QUO NIAM ELEGIEAM 1714", cuja tradução é "este é o meu repouso, eu habitarei aqui porque o escolhi, 1714" *2. Na verga do portal da última cela da ala O. dos dormitórios, virada ao jardim, existe a inscrição "BARTOLAMEU. DE. / FRIAS. 1688. ABRIL / HOC. OPUS. JUSSIT". O portão da cerca a N. é ladeado por painel de azulejos de Lagoa com a oração de São Francisco: "ORAÇÃO / DE / S. FRANCISCO DE ASSIS / Senhor fazei-me instrumento da / Vossa paz. / Onde haja ódio, consenti que eu / semeie amor; / perdão onde haja injúria; / fé onde haja dúvida; /esperança, onde haja desespero; / luz, onde haja escuridão; / alegria, onde haja tristeza. / Oh DIVINO Mestre! Permite que / eu não procure tanto ser / consolado quanto consolar; / ser compreendido, quanto compreender; / ser amado, quanto amar; / porque é dando que recebemos; / perdoando que somos perdoados. / E é morrendo que nascemos para / a Vida Eterna". À direita o painel de azulejos de Lagoa tem inscrição com versos da autoria de Guilherme Porfírio Cabral: "Esta fontinha é tão linda! / Gostam dela mais ainda, / Porque canta quando chora! / ... / Muita gente diz e jura, / Que deta'água fresca, pura / Já bebeu Nossa Senhora". Na muralha do antigo baluarte existe um painel de azulejos com a seguinte inscrição: "POR TRADIÇÃO VINDA DO SÉCULO XVIII ESCLARECIDA PELOS / DOCUMENTOS, INVENTÁRIOS, CONSTITUIÇÃO DE VÍNCULOS, / GENEALOGIAS, ETC., O ILUSTRE MORGADO E CAPITÃO MÓR DA / VILA DA RIBEIRA GRANDE MANUEL DE SOUSA ESTRELA, DEVIDA-/MENTE AUTORIZADO POR SUA SANTIDADE O PAPA, PARA O QUE / SE DIRIGIU A ROMA, PARA TAL FIM, PROFESSOU NO CONVENTO / DA CALOURA APÓS O FALECIMENTO DE SUA ESPOSA, QUE MUITO / AMAVA, ADOPTANDO O NOME DE FREI MANUEL DO SACRAMENTO. COMO MILITAR QUE TINHA SIDO, ESTE MONGE GUERREIRO / ASSUMIU O COMANDO DESTE FORTE, MANDADO CONSTRUIR POR / SEU FILHO PRIMOGÉNITO PARA DEFESA DO CONVENTO. QUANDO / O MESMO FOI ATACADO POR UMA NAU DE PIRATAS ARGELINOS / QUE, BEM COSIDA COM A COSTA ALAPARDADA, VINHA NA VOLTA / DO PISÃO, SENDO FORTEMENTE ATINGIDA PELAS PEÇAS QUE / O GUARNECIAM PONDO-SE EM FUGA PARA NUNCA MAIS VOLTAR".

Utilização Inicial

Religiosa: recolhimento

Utilização Actual

Residencial / Religiosa: igreja

Propriedade

Privada: pessoa singular

Afectação

Sem afetação

Época Construção

Séc. 17 / 18

Arquitecto / Construtor / Autor

CARPINTEIRO: António Feliciano de Melo (1940); José da Silva (1970). ELETRICISTA: Manuel Cabral de Madeiros Sardinha (1979). ESCULTOR: Jean Fauger (1684). MESTRE: Guilherme Porfírio Cabral (1940). PEDREIRO: João Jacinto Teves (1979) PINTOR: António Feliciano de Melo (1979; David Rodrigues Arruda (1979).

Cronologia

1440, cerca - segundo Frei Agostinho de Santa Maria no Santuário Mariano, por esta data ter-se-ia construído uma capela a Nossa Senhora da Conceição por um ermitão chamado Joanne Anes; 1515, 28 julho - D. Manuel eleva a povoação de Água de Pau a vila, com meia légua de terra para termo, desmembrando-a de Vila Franca; 1522, cerca - segundo Gaspar Frutuoso, já existia no local do recolhimento uma pequena capela com invocação de Nossa Senhora da Conceição; 1522 - escapa ao cataclismo de Vila Franca do Campo Jorge da Mota, cavaleiro de Avis, que se refugia numa quinta com casas, pomar e capela de São João Baptista; sua filha, Petronilha, muito devota, e sua companheira, Isabel Afonso, natural de Braga ou de Ponte de Lima, vinda para São Miguel com um homem virtuoso Rodrigo Afonso e uma sobrinha, planeiam irem de noite para a ermida de Santa Clara na vila de Ponta Delgada, com as quatro meias irmãs de Petronilha, de 4 a 9 anos; no caminho, avistando a capela da Conceição de Vale de Cabaços, ali ficam; sabendo depois Jorge da Mota que as suas filhas ali estavam, fez tudo para que retornassem a casa, mas elas relutantemente ficaram na ermida por 6 meses; como só havia a ermida e uma pequena sacristia, a Câmara e o povo de Água de Pau construiu a suas expensas uma pequena casa onde as duas mulheres, agora com o nome de Maria de Jesus e Maria dos Anjos, resolveram entrar numa véspera de Páscoa; Maria de Jesus escreve ao pai para autorizar as suas quatro filhas a ingressarem, o que acabou acontecendo; os oficiais da Câmara de Água de Pau pediam esmola ao domingo para o sustento das mulheres; passado um mês, as duas filhas de João de Arruda da Costa, de Vila Franca do Campo, também ali se recolhem e, com o tempo, outras mulheres devotas fazem o mesmo; o 5º capitão donatário da ilha, Rui Gonçalves da Câmara, encarrega-se da casa; obtém bula papal com licença para erecção de mosteiro e para que ele e sua mulher, D. Filipa Coutinho, fossem padroeiros do mesmo; muda-se depois para junto da ermida com a família mandando fazer obras no edifício; 1533,16 julho - breve do papa Clemente VIII determina a fundação do mosteiro de Santo André de Vila Franca do Campo por 40 freiras, onde se incluíam várias de Vale de Cabaços; 1540, 23 abril - abandonam o recolhimento as restantes religiosas para fundar o mosteiro de Nossa Senhora da Esperança, em Ponta Delgada, levando consigo a imagem do Senhor Santo Cristo, que se diz ter sido oferecida pelo papa Paulo III a duas freiras de Vale de Cabaços que foram a Roma solicitar a erecção do mosteiro; séc. 17 - construção da atual capela; 1630 - data inscrita no painel representando o Pe. Diogo da Madre de Deus integrado na parede do lado da Epístola da nave; 1632 - até esta data manteve-se o recolhimento deserto, apenas habitado por um ermitão; agosto - ida dos eremitas das Furnas para Vale de Cabaços; 20 novembro - provisão de D. João Pimenta de Abreu, bispo de Angra e ilhas dos Açores, autorizando os eremitas de Nossa Senhora da Consolação, do Vale das Furnas construíssem casa para habitarem junto à ermida de Nossa Senhora da Conceição, onde já estavam, visto terem sido obrigados a sair do local das Furnas na sequência do terramoto e fogo ocorrido a 2 setembro 1630; 1633 - construção do recolhimento na zona posterior da sacristia e com serventia por ela; com os tabuados e madeiras vindas das Furnas e outros materiais, constroem um corredor e cinco celas onde se acomodaram os irmãos e os dois sacerdotes; da casa do ermitão e outras dependências fizeram a despensa e o refeitório; do lado de fora e contíguo a este, instalaram uma cozinha e uma "necessária", para o lado do mar, fora dos quartos; 1633, 17 novembro - colocação do Santíssimo Sacramento do sacrário de Vale das Furnas, que os religiosos haviam conseguido salvar, no altar de Nossa Senhora da Conceição, após obtenção de licença; ladeando o sacrário, colocaram a imagem de Nossa Senhora da Conceição, da ermida, e a de Nossa Senhora da Consolação, trazida do Vale das Furnas; feitura de dois nichos sobre as credências do altar, para colocação das imagens de São Pedro (Evangelho) e da Madalena (Epístola); noutros nichos mais pequenos e por cima destes, colocaram-se outras imagens e um crucifixo; 1634 - trasladação do corpo do Pe. Diogo da Madre de Deus do Vale das Furnas para o Vale de Cabaços, para uma sepultura na capela-mor; dezembro - abertura da sepultura; consolidação das paredes da ermida, feitura de novos portais, de dois altares colaterais; posteriormente transladaram-se os ossos para uma caixa de pedra que ficou na credência do altar, do lado do Evangelho; 1635 - encontrava-se no retábulo-mor a imagem de Nossa Senhora das Dores; 1650, agosto - o ministro Pe. Manuel da Anunciação encomenda a abertura de cinco sepulturas, incluindo a sua, no presbitério, entre os retábulos colaterais; 1651, 17 fevereiro - morte do Pe. Manuel da Anunciação; anos depois, os seus ossos foram transladados para a credência do altar-mor, do lado da Epístola; 1659, depois - o sacerdote João Roiz Vitória dá dinheiro para ajudar em algumas obras, como aquisição de bancos e estrados, uma custódia de prata, alguns ornamentos, etc; 1664, setembro - visita a recoleta D. Manuel Câmara, conde de Ribeira Grande, 4º governador da ilha de São Miguel, e sua esposa; manda fazer obras na cela do irmão Assunção, dando dinheiro e materiais, acrescentar outra sacristia, o coro-alto, que não possuía, e um novo lanço de dormitórios com quatro celas e, no término deles, um oratório para colocar um Calvário e retiro dos eremitas; talvez seja desta data o revestimento a azulejos policromos do sub-coro; nas oitavas do Natal, a obra do dormitório estava concluída; colocação do sacrário oferecido por D. Manuel da Câmara para substituir o anterior em mau estado; 8 setembro - no dia da festa de Nossa Senhora da Consolação, a sua imagem, que havia sido trazida das Furnas, foi transferida para o altar colateral do Evangelho; 1665, 14 maio - visitação do Dr. Manuel Álvares Cabral; 16 setembro - o mesmo acrescenta aos estatutos que houvesse na congregação o número certo de dez eremitas, dos quais seis sacerdotes, podendo haver o máximo de treze; proíbe receber-se eremitas apenas com licença do ouvidor, sendo necessária a autorização do bispo; 1674, 11 agosto - visita do bispo D. Lourenço de Castro, na sequência da qual manda fazer várias obras; posteriormente, tendo o bispo constatado a falta de sacerdotes na recoleta, houve a notícia de que desejava entregá-la aos franciscanos ou destiná-la a recreação de alguns padres velhos, o que causou grande apreensão; 1684 dezembro - feitura do nicho de pedra da frontaria da igreja por Jean Fauger ou João Faugero, natural da cidade de Agen, França, que vivia num pequeno espaço do recolhimento e onde trabalhava como escultor; 1688 - data do ingresso no recolhimento do capitão Bartlomeu de Frias Coutinho, mandando antes disso construir três quartos no último dormitório da ala O., para neles habitar; 1692, 23 fevereiro - colocação da nova imagem da Virgem no nicho da frontaria, executada por Fauger, e com mármore branco mandado vir de Lisboa pelo seu filho, o Pe. João da Madre de Deus, que ministrava a recoleta *3; o mestre fez ainda colunas, pedestais, imagem de Nossa Senhora da Piedade e São José, peanhas, anjos e serafins; 1693 - data da morte do mestre Fauger, antes de concluir o altar para Nossa Senhora da Consolação; 1695 - feitura dos estrados da capela, cuja metade do valor foi pago pelo Pe. Bartolomeu de Frias Coutinho, o sepulcro do túmulo que se armava no tríduo da semana santa e outras pequenas obras; 1696, 29 setembro - data da aprovação do testamento do Pe. Bartolomeu de Frias Coutinho, o qual deixa ao recolhimento todos os seus livros e 20$000 de esmolas para se fazer uma naveta de prata para o incenso, que condiga com o turíbulo e, se sobrasse, para se acrescentar as cadeias do mesmo; 1704 - o Pe. Ministro e o Pe. João de Passos solicitam ao bispo licença para viverem na recoleta alguns estudantes, a fim de seguirem os exercícios e ofícios que ali se praticavam e para aprenderem latim; foi concedida autorização; 1707, 24 janeiro - visita do bispo D. António Vieira Leitão, deixando uma anal de missas no altar de Nossa Senhora da Consolação, com as três missas do Natal, para as quais destinou 4 moios de foro de trigo fixo, em Água de Pau; fez também novos estatutos, iguais aos que os padres haviam feito nas Furnas em 1619; 1707, cerca - o dormitório e celas da ala E. estavam arruinados e seguros com pontaletes, para não caírem; Domingos Roiz, em troca da permissão para ser recebido como irmão leigo, dá 200$000 para a obra; 1709 - expulsão de Domingos Roiz devido ao seu comportamento indigno, tendo de se devolver 67$470 da verba dada e que ainda não tinham sido gastos; 1725 - data inscrita em azulejos da nave; 1731 - data inscrita na porta da cerca junto ao corpo oblíquo adossado à capela; 1733 - data do lavabo do quarto do arquivo; 1737 - data inscrita em azulejos da nave; Governo dá 300$000 para a construção de uma cisterna, reconstrução de um dormitório, cozinha e mais oficinas; 1760, 22 maio - data da aprovação do testamento do licenciado Adriano da Silva, legando todos os seus bens à recoleta, chamando-lhe de Nossa Senhora das Dores, da Piedade e da Conceição; 1779 - data inscrita sob o painel central sobre o arco triunfal, assinalando a colocação dos painéis figurativos, por ordem do Pe. Pedro Paulo de Vasconcelos, vice-vigário na Matriz de Nossa Senhora dos Anjos, de Água de Pau, e que tomara o nome de Pedro de São Paulo; 1832, 17 maio - decreto assinado em Ponta Delgada pelo então regente D. Pedro e pelo ministro e secretário de Estado dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, José Xavier Mouzinho da Silveira, extinguindo o recolhimento da Caloura e secularizando a igreja, sendo os seus bens e rendimentos incorporados nos próprios nacionais; era então o ministro do recolhimento o Pe. José Bento Rodovalho; 11 julho - auto de supressão do recolhimento e secularização da igreja, mandando proceder de imediato ao inventário dos vasos sagrados, ornamentos e mais alfaias da igreja e do recolhimento; neste constavam: uma custódia de prata, com sua meia lua; uma poma de prata; uma âmbula de prata; dois cálices de prata dourada; dois jogos novos de sacras; um par de galhetas com prato de prata; treze painéis; dez imagens de várias invocações e tamanhos, com resplendores de prata; quatro coroas de prata de vários tamanhos; uma imagem do Santo Cristo; duas estantes de missal; um sino da torre pequena; expulsos os eremitas, ficou a guarda da capela de Nossa Senhora da Conceição à Junta da Paróquia de Nossa Senhora dos Anjos de Água de Pau; 1837, 27 julho - ata da Junta Geral destinando o recolhimento para um lazareto, o que não se chegou a concretizar; 1846, 11 fevereiro - Junta da Paróquia de Nossa Senhora dos Anjos de Água de Pau delibera oficiar José Maria da Silveira, morador na vila de Lagoa, para entregar os ornamentos da ermida e tudo o que pertencesse à mesma; 1849, 21 outubro - a mesma Junta da Paróquia delibera em sessão dar parte ao regedor da paróquia do justo de duas sacras, de um par de galhetas de vidro e da imagem de São Benedito; 1851, 30 março - a Junta da Paróquia decide pedir ao Governador Civil para não ceder a certo pároco a imagem do Senhor da Paciência, da ermida, por ser necessária para o cemitério; 1853, 9 março - Junta da Paróquia decide pedir ao Governador Civil as lajes das cercas inutilizadas do convento para lajear a ermida do cemitério; 17 setembro - autorização para pagar $420 do levantamento das ditas lajes; 1854, 6 junho - venda da ermida, recolhimento e cerca a António Manuel de Medeiros da Costa Canto e Albuquerque, 2º Barão e 1º visconde das Laranjeiras; 1859, 20 fevereiro - autorização do pagamento de 16$570 para guarnição da parte S. da ermida; posteriormente o conjunto passou para o filho do 2º Barão e 1º visconde das Laranjeiras, António d'Albuquerque e depois para a sua filha D. Cecília de Medeiros Albuquerque Jácome Corrêa, casada com Thomaz Ivens Jácome Corrêa; 1940, cerca - feitura do teto da capela-mor igual ao anterior que foi impossível restaurar devido ao seu mau estado; 1946 - data inscrita no painel de azulejos colocado a N. da cerca.

Dados Técnicos

Sistema estrutural de paredes portantes.

Materiais

Estrutura em alvenaria de pedra rebocada e caiada; pilastras, frisos, cornijas, pináculos e outros elementos exteriores em cantaria basáltica da região de Água de Pau e interiores, sobretudo na capela, traquítica, de cor cinzenta clara ou creme (exceção à estrutura do nicho da frontaria que é deste mesmo material; imagem do nicho da frontaria em mármore; portas e caixilharia de madeira; vidros simples; pavimento em lajes de cantaria, em madeira, pinho do Norte, na igreja, tijoleira ou joga; púlpito, guarda do coro e retábulos em talha pitada e dourada; portas dos confessionários e comunicações da capela pintadas; tetos de madeira pintados; cobertura de telha.

Bibliografia

CORRÊA, António de Albuquerque Jácome, O convento da Caloura, Câmara Municipal do concelho de Lagoa, S. Miguel, Açores, 1996; SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria Portuguesa nos Açores e na Madeira, Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian, 1963.

Documentação Gráfica

Documentação Fotográfica

SIPA

Documentação Administrativa

Arquivo Nacional da Torre do Tombo: Arquivo Histórico do Ministério das Finanças, cx. 2266

Intervenção Realizada

1665 - restauro do dormitório velho; 1940, cerca - restauro da capela por Guilherme Porfírio Cabral; aqui trabalhou também o carpinteiro António Feliciano de Melo; 1970, anterior - trabalhos de carpintaria por José da Silva; 1979 - obras de restauro; David Rodrigues Arruda, caiador e pintor, retocou com António Feliciano de Melo o teto da nave no sítio das cabeças dos pregos; aqui trabalho também o pedreiro João Jacinto Teves; electrificação da capela e recolhimento pelo electricista Manuel Cabral de Madeiros Sardinha, de Ponta Delgada.

Observações

EM ESTUDO. *1 - A capela tem invocação de Nossa Senhora da Conceição, ainda que seja vulgarmente conhecida por Nossa Senhora das Dores. Inicialmente nela se comemorava duas festividades, uma a 8 de setembro e a outra a 8 de dezembro em honra de Nossa Senhora da Consolação e de Nossa Senhora da Conceição respectivamente. Com o tempo, a festa de Nossa Senhora da Conceição passou a ser feita na paroquial de Água de Pau (que tinha esta invocação), constando das celebrações no interior da igreja e de uma procissão. Dada a instabilidade do tempo naquela época do ano, nem sempre era possível fazer-se a procissão, razão pela qual os festejos passaram a decorrer a 15 de agosto, em honra de Nossa Senhora dos Anjos. Na ermida do recolhimento, começou então a festejar-se Nossa Senhora das Dores em data móvel e que coincide com o 3.º domingo de setembro. *2 - Este epitáfio não pertence ao Pe. João da Madre de Deus, visto ele ter morrido em março de 1739. Como a primeira inscrição, feita em basalto, estava muito gasta, o Pe. João da Madre de Deus mandou refazê-la num silhar de mármore e embuti-la no basalto que lá se encontrava com restos da antiga inscrição marcando a data de 1714. *3 - A primeira imagem em basalto que esteve no nicho da frontaria foi posteriormente vendida aos padres da companhia de Jesus que, depois de estofada, a colocaram no nicho de uma casa que tinham em Fajã de Cima.

Autor e Data

Paula Noé 2012

Actualização

 
 
 
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